quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

ALGUMAS VEZES[1]



Miramez

Mas se é útil que o futuro permaneça oculto, por que Deus permite, às vezes, a sua revelação?
‒ É quando esse conhecimento antecipado deve facilitar o cumprimento das coisas, em vez de embaraçá-lo, levando o homem a agir de maneira diferente do que o faria se não o tivesse.
Além disso, muitas vezes é uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode despertar pensamentos que sejam mais ou menos bons: se um homem souber, por exemplo, que obterá uma fortuna com a qual não contava, poderá ser tomado pelo sentimento de cupidez, pela alegria de aumentar os seus gozos terrenos, pelo desejo de a obter mais cedo, desejando a morte daqueles que lhe deve deixar, ou então essa perspectiva despertará nele bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a previsão não se realizar, será outra prova: a da maneira por que suportará a decepção. Mas não deixará por isso de ter o mérito ou o demérito dos pensamentos bons ou maus que a crença na previsão lhe provocou.
Questão 870/O Livro dos Espíritos

Algumas vezes, permite o Senhor que seja revelado o futuro de certas criaturas, quando essa revelação lhes possa ajudar no seu desempenho espiritual. É bom que pensemos nisso, a fim de não conturbarmos nossos corações por falta de revelação espiritual. Elas chegam de acordo com as nossas necessidades em caminho.
A regressão de memória é um fato, no entanto, não se pode efetuá-la indiscriminadamente. A consciência guarda experiências nas suas fibras mais íntimas, de modo a nada poder revelar, quando exigida pela violência que se mistura com a vaidade e o capricho de saber o que não devia, nem se estaria preparado para tal. Pactuar com a vontade, de que a razão e o bom senso não participem, é criar perturbação no próprio destino.
A ação hipnótica ou magnética, que é a mesma coisa, pode levar ao mergulho no passado, por vezes distante, no entanto, esse mergulho pode ser prejudicial, trazendo à tona a lembrança de fatos que não deveríamos recordar, pelo menos por enquanto.
Não deves pensar que, como Espíritos, nós buscamos no passado o que pretendemos. Não, somente vamos até onde podemos suportar o embate de forças contrárias que nós mesmos criamos e guardamos nas dobras da vida. Só os Espíritos puros, almas que já não sentem mais o peso do fardo e o jugo de suas vidas pregressas, é que têm condições de estudar, quando o desejam, as experiências do passado distante, com preparo no coração.
Quando necessário, e se as lições foram bem aprendidas, alguma coisa do passado, não tudo, pode se fazer presente, de modo a servir de estímulo para o trabalho e a vida. Mas, quando esse passado cria mais distúrbios nos caminhos do aprendiz, o mundo espiritual deixa cair no silêncio seus pedidos de regressão da memória, para que ele possa andar melhor. Nem sempre recordamos do passado, mas algumas vezes isso acontece, para o nosso bem, quando há naturalidade e a revelação se opera com Jesus.
A consciência é verdadeiramente um mundo que ainda não foi estudado nem tão pouco compreendido, por faltar ao homem preparo para tal empreendimento espiritual. Compete ao homem do futuro procurar nos vários departamentos da consciência as lições mais sublimadas, onde Deus se encontra mais presente. Certas cartomantes e quiromantes pensam que revelam o passado e o futuro, mas enganam a si mesmas, buscando revelações em aspectos exteriores; entrementes, quando conveniente, os Espíritos superiores podem se servir delas, para revelarem o que for útil a quem as procura. Elas atuam como médiuns, estimulando forças virgens no paciente, para melhor andamento da sua vida, alimentando a esperança.
O próprio Allan Kardec entregou a certa pessoa suas mãos para serem examinadas, quando ela lhe disse que via uma tiara em sua cabeça. A tiara é um símbolo de autoridade moral e religiosa. Ela leu no futuro do codificador algo da sua missão que ela mesma não compreendia.
E ele, com a sua sensibilidade espiritual, pressentiu que significava algo de responsabilidade, pela revelação intima que já possuía da sua grande missão, a de fazer mais claro o cristianismo.
Kardec recebeu essa revelação fora da área em que operava, de quem desconhecia totalmente a Doutrina dos Espíritos, para maior confirmação dos seus trabalhos em favor da humanidade. Essa revelação foi divina, por estimular um missionário que, mesmo se a revelação fosse o contrário, não teria se impressionado com o fato, pelo seu grau evolutivo; no entanto, ajudou e muito, por ter vindo de fonte comum. Devemos, assim, ter condescendência com todos os pontos de sintonia, desde quando somente o bem se encontre na mira, se ajustando com o amor.
Quando recebemos em nosso íntimo certas revelações, elas vêm de Deus e nós sentimos essa procedência. Lembremo-nos de João, no capítulo três, versículo vinte e sete, quando citou João Batista:
Respondeu João: O homem não pode receber cousa alguma se do céu não lhe for dada.
Receber é quando o coração participa com alegria e a consciência aprova. E quando vem do céu, essa inspiração estimula e faz nascer pensamentos nobres e ideias generosas.




[1] Filosofia Espírita – Volume 18 – João Nunes Maia

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