As pessoas não
dominadas pelos prejuízos populares não podem facilmente acreditar nas
aparições que se têm produzido, uma vez que nunca as tenham testemunhado.
Rev. GEORGE STRAHAN
Uma das mais importantes fases
do cepticismo é aquela que nega que em todas as épocas se tenha admitido a
ocasional reaparição dos chamados mortos. Os fantásticos acessórios das
histórias comuns dos Espíritos, como os espectros horrendos, os esqueletos, o tinir
de cadeias, o cheiro do enxofre, as luzes azuis; tudo isso, tem assaz
contribuído para o aparecimento desse moderno cepticismo. As falsas ideias e o
sentimentalismo mórbido no que diz respeito à morte perturbam o nosso
julgamento e mesmo as nossas percepções. Aqueles a quem amamos neste mundo
passam a causar-nos medo quando vão para o outro. Pensamos com terror no seu
reaparecimento; talvez desmaiemos se eles se apresentarem de repente, pois o
terror cega e gera a superstição.
Nos quartos de dormir, no lar
doméstico, nossos filhinhos ouvem contar horríveis histórias de Espíritos,
estremecendo com o que escutam. Isso é um veneno espiritual, fatal à sua
tranquilidade de ânimo e à simples verdade religiosa. Quando falarmos dos
Espíritos aos meninos, convém que o façamos como se falássemos de outra
qualquer coisa natural, que todos seremos também um dia como eles; que só
passamos aqui uma parte da nossa vida, da qual a outra parte se passará noutro
mundo, que ainda não nos é dado ver, porém, que é melhor e mais belo do que
este. Devemos acrescentar que quando estivermos nesse outro mundo, talvez
possamos vir a este e manifestar-nos a alguns amigos que aqui tenhamos deixado,
os quais se julgarão muito felizes, antes de partirem também, por verem aqueles
que os precederam na viagem.
É possível que, nessas
circunstâncias, seus nervos sejam chocados, assim como estremecem os daqueles
que ouvem, pela primeira vez, o retumbar do trovão. Assim elucidados, eles
poderão sem sobressalto, testemunhar outros fenômenos. Quando os homens, no
geral, chegarem a esse estado da alma, as aparições provavelmente se tomarão
mais comuns. Os Espíritos lendo em nossos pensamentos, sem dúvida muitas vezes
se abstêm de se nos manifestarem, percebendo que só são para nós um objeto de terror.
A angústia do espaço e o fato de
em outro trabalho ter-nos tratado, com muito desenvolvimento, o assunto das
manifestações espontâneas, levam-nos a apresentar agora um exemplo somente: uma
narrativa, que podemos comprovar com a citação do nome, lugar e data. É um caso
da numerosa classe conhecida com o nome de aparições de mortos.
No ano de 1862, o Senhor
Bradhurst Schieffelin, da conhecida firma Schieffelin & C., de New York,
graciosamente me remeteu a seguinte nota acompanhada da narrativa:
Manifestação de um
Pai, falecido na Europa, a um filho residente na América
New York, 11 de
junho de 1862.
Caro Senhor: Inclusa
tenho o prazer de remeter-vos uma carta do Rev. Frederick Steins, narrando a
aparição de seu pai. O Senhor Steins é um cavalheiro alemão da maior
respeitabilidade, pastor da Igreja Presbiteriana, da Rua Madison, nesta cidade,
vasta congregação alemã. Essa carta, que podeis apresentar como prova, obtive-a
para dá-la à publicidade, e muito satisfeito ficarei se ela vos for de alguma
utilidade.
O vosso respeitador.
Bradhurst
Schieffelin
New York, 10 de
junho de 1826.
Em obediência ao
vosso pedido, cumpre-me relatar os fatos que se relacionam com a aparição de
meu pai.
A 13 de dezembro de
1847, estando de passeio com meus dois filhos mais velhos pela Rua Grande, em
New York, antes do meio dia e quando muita gente transitava pelas calçadas,
repentinamente apareceu-me a figura perfeita de meu pai. Trazia as roupas
habituais, o gorro e o cachimbo, e, depois de fixar-me com muita atenção, desapareceu
repentinamente.
Fiquei muito
intimidado e imediatamente escrevi para o meu país natal, narrando o
acontecimento. Algum tempo depois recebi carta de um irmão, escrita em
Neukirchen, Prússia Renana, residência da família, informando-me que na manhã
de 13 de dezembro nosso pai havia falecido. No almoço daquele dia, ele de nada
se havia queixado e falara em mim com alguma ansiedade.
Depois, foi passear
pelo pátio e, ao regressar, caiu fulminado por um ataque apoplético.
Em seguida, vim a
saber que quando morreu trazia o mesmo vestuário, o gorro e o cachimbo com que
se me mostrou.
Fr. Steins
O ansioso interesse com que o
pai se exprimiu a cerca do filho ausente, pouco antes de morrer, é, no presente
caso, um incidente digno de nota.
As narrações de casos semelhantes
a este se multiplicam.
Na minha obra Footfalls, apresentei uma assaz notável
exposição, que me foi fornecida por um amigo, o Senhor William Howitt.
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