quarta-feira, 20 de novembro de 2019

APARIÇÕES ESPONTÂNEAS[1]




As pessoas não dominadas pelos prejuízos populares não podem facilmente acreditar nas aparições que se têm produzido, uma vez que nunca as tenham testemunhado.
Rev. GEORGE STRAHAN

Uma das mais importantes fases do cepticismo é aquela que nega que em todas as épocas se tenha admitido a ocasional reaparição dos chamados mortos. Os fantásticos acessórios das histórias comuns dos Espíritos, como os espectros horrendos, os esqueletos, o tinir de cadeias, o cheiro do enxofre, as luzes azuis; tudo isso, tem assaz contribuído para o aparecimento desse moderno cepticismo. As falsas ideias e o sentimentalismo mórbido no que diz respeito à morte perturbam o nosso julgamento e mesmo as nossas percepções. Aqueles a quem amamos neste mundo passam a causar-nos medo quando vão para o outro. Pensamos com terror no seu reaparecimento; talvez desmaiemos se eles se apresentarem de repente, pois o terror cega e gera a superstição.
Nos quartos de dormir, no lar doméstico, nossos filhinhos ouvem contar horríveis histórias de Espíritos, estremecendo com o que escutam. Isso é um veneno espiritual, fatal à sua tranquilidade de ânimo e à simples verdade religiosa. Quando falarmos dos Espíritos aos meninos, convém que o façamos como se falássemos de outra qualquer coisa natural, que todos seremos também um dia como eles; que só passamos aqui uma parte da nossa vida, da qual a outra parte se passará noutro mundo, que ainda não nos é dado ver, porém, que é melhor e mais belo do que este. Devemos acrescentar que quando estivermos nesse outro mundo, talvez possamos vir a este e manifestar-nos a alguns amigos que aqui tenhamos deixado, os quais se julgarão muito felizes, antes de partirem também, por verem aqueles que os precederam na viagem.
É possível que, nessas circunstâncias, seus nervos sejam chocados, assim como estremecem os daqueles que ouvem, pela primeira vez, o retumbar do trovão. Assim elucidados, eles poderão sem sobressalto, testemunhar outros fenômenos. Quando os homens, no geral, chegarem a esse estado da alma, as aparições provavelmente se tomarão mais comuns. Os Espíritos lendo em nossos pensamentos, sem dúvida muitas vezes se abstêm de se nos manifestarem, percebendo que só são para nós um objeto de terror.
A angústia do espaço e o fato de em outro trabalho ter-nos tratado, com muito desenvolvimento, o assunto das manifestações espontâneas, levam-nos a apresentar agora um exemplo somente: uma narrativa, que podemos comprovar com a citação do nome, lugar e data. É um caso da numerosa classe conhecida com o nome de aparições de mortos.
No ano de 1862, o Senhor Bradhurst Schieffelin, da conhecida firma Schieffelin & C., de New York, graciosamente me remeteu a seguinte nota acompanhada da narrativa:

Manifestação de um Pai, falecido na Europa, a um filho residente na América

New York, 11 de junho de 1862.
Caro Senhor: Inclusa tenho o prazer de remeter-vos uma carta do Rev. Frederick Steins, narrando a aparição de seu pai. O Senhor Steins é um cavalheiro alemão da maior respeitabilidade, pastor da Igreja Presbiteriana, da Rua Madison, nesta cidade, vasta congregação alemã. Essa carta, que podeis apresentar como prova, obtive-a para dá-la à publicidade, e muito satisfeito ficarei se ela vos for de alguma utilidade.
O vosso respeitador.
Bradhurst Schieffelin

New York, 10 de junho de 1826.
Em obediência ao vosso pedido, cumpre-me relatar os fatos que se relacionam com a aparição de meu pai.   
A 13 de dezembro de 1847, estando de passeio com meus dois filhos mais velhos pela Rua Grande, em New York, antes do meio dia e quando muita gente transitava pelas calçadas, repentinamente apareceu-me a figura perfeita de meu pai. Trazia as roupas habituais, o gorro e o cachimbo, e, depois de fixar-me com muita atenção, desapareceu repentinamente.
Fiquei muito intimidado e imediatamente escrevi para o meu país natal, narrando o acontecimento. Algum tempo depois recebi carta de um irmão, escrita em Neukirchen, Prússia Renana, residência da família, informando-me que na manhã de 13 de dezembro nosso pai havia falecido. No almoço daquele dia, ele de nada se havia queixado e falara em mim com alguma ansiedade.
Depois, foi passear pelo pátio e, ao regressar, caiu fulminado por um ataque apoplético.
Em seguida, vim a saber que quando morreu trazia o mesmo vestuário, o gorro e o cachimbo com que se me mostrou.
Fr. Steins

O ansioso interesse com que o pai se exprimiu a cerca do filho ausente, pouco antes de morrer, é, no presente caso, um incidente digno de nota.
As narrações de casos semelhantes a este se multiplicam.
Na minha obra Footfalls, apresentei uma assaz notável exposição, que me foi fornecida por um amigo, o Senhor William Howitt.




[1] Região em Litígio – entre este mundo e o outro – Capítulo II - Robert Dale Owen

Nenhum comentário:

Postar um comentário