Márcio Martins da Silva Costa
Era noite de Réveillon e toda a
família havia se reunido no quintal da casa para ver os fogos de artifício.
Entre comes e muitos bebes alguns já tinham ultrapassado o limite da razão,
mostrando-se mais alegres e tontos em relação a outros.
Naquela época, Pedrinho nem
contava oito anos de vida. De pé, à porta da casa que dava acesso ao quintal,
contemplava a alegria dos tios e primos com medo dos fogos barulhentos que
começavam a tomar o céu. Bem atrás de onde estava, havia um pequeno banheiro e
um corredor de acesso à cozinha, onde sua mãe lavava algumas louças acumuladas
do jantar. Naquele pequeno espaço sentia-se seguro.
O pai de Pedrinho era um dos que
tinham bebido além da conta. Nunca tinha soltado um foguete, mas resolveu
insistir com o cunhado que lhe cedesse um dos fogos que ele estava soltando.
Lúcio hesitou, porém não teve jeito. Trocando as pernas, Reinaldo pegou o
rojão, acendeu o pavio, estendeu a mão para cima e fechou os olhos.
O facho de fogo explodiu,
ascendeu um dois metros e, ao invés de subir, desceu em linha reta em direção à
porta da cozinha onde estava Pedrinho. O menino congelou de pavor vendo uma
bola de fogo vindo direto ao encontro de sua barriga.
Foram segundos de desespero de
todos.
Prestes a ocorrer o trágico
impacto, Pedrinho sentiu duas mãos a lhe empurrarem de súbito para o lado. A
chama explodiu dentro do banheiro com tamanha violência que tudo dentro dele
foi queimado. Equilibrando-se do empurrão, o garoto parou em frente à mãe
gélido, suando frio e ofegante.
Ninguém mais quis ver fogos de
artifício naquela noite.
* * *
Sim, um espírito pode nos
empurrar e até mesmo nos bater. Na Revista
Espírita de janeiro de 1860, Kardec publica a evocação de um espírito na
qual lhe é perguntado se é possível que o mesmo desfira um soco sensível ao
encarnado e o mesmo responde de forma afirmativa. Na Revista Espírita do mês seguinte, descreve-se um ocorrido no qual
um proprietário de uma casa considerada como assombrada à época recebe uma
forte bofetada de uma mão invisível ao adentrar em um dos seus aposentos, mesmo
sozinho no local. Além destes, diversos outros relatos publicados em outras
edições da Revista Espírita descrevem interações físicas sensíveis aos
encarnados causadas por espíritos interessados e capazes de realizá-las[2].
No capítulo “Da teoria das
manifestações físicas”, em O Livro dos
Médiuns, Kardec nos esclarece que a interação entre o espírito e a matéria
ocorre por meio de forças fluídicas de natureza desconhecida ainda por nós.
Quando o espírito está encarnado, a sua vontade de atuar sobre o meio físico é
transmitida do espírito ao corpo por meio do períspirito. Quando desencarnado,
a atuação sobre a matéria ocorre por meio da vontade do espírito que leva a uma
interação fluídica com o objeto a ser manipulado[3].
Destaca-se, contudo, que
quaisquer interações somente acontecem se houver a intenção do espirito e ainda
que lhe seja permitido fazê-lo. Do contrário, tais ações não ocorrem1, 2.
Na história de Pedrinho fica
clara a presença de espíritos protetores atuando em benefício de sua
integridade física. Sejam eles nossos anjos da guarda ou espíritos com os quais
nos afinamos pela sintonia de nossas atitudes, sua ação só ocorre com a
permissão da Divina Providência.
Que busquemos sempre trabalhar
no amor e na caridade para que sejamos dignos de ter à nossa volta espíritos
sublimes que sintonizem com as nossas ações. Nossas próprias emanações mentais
e estas presenças de luz manterão distantes espíritos levianos que desejem nos
impressionar fisicamente de maneira afrontosa.
Fonte: Agenda Espírita Brasil
[2] KARDEC, A. Revista Espírita. Jornal de Estudos
Psicológicos, 1860.
[3] KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Cap. IV. 81a ed.
Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.
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