quarta-feira, 22 de maio de 2019

Internet é passado! Saiba como será possível conversar pelo pensamento: o futuro da comunicação[1]



Paulo Henrique de Figueiredo

Muitas das grandes descobertas da ciência tiveram início a partir de um simples fenômeno do cotidiano. Todavia, o olhar atento de um cientista, fugindo do lugar comum, permite ver naquilo a pista de algo maior. Durante séculos, por exemplo, o imã servia a brincadeiras, como mover um barquinho de papel sobre as aguas, numa bacia de ferro. Atualmente, ele move motores, gera energia elétrica, e se pensarmos bem, transformou a vida humana. O mesmo ocorreu com tantos outros achados fundamentais da tecnologia. Nos intriga, porém, como nossa civilização pode ter avançado tanto na compreensão da matéria e nada saber sobre a alma. Quando ela não é negada, como na doutrina materialista, é uma grande desconhecida, como ocorre na psicologia. Isso ocorre porque os psicólogos não estão dando atenção a um desses simples fenômenos do cotidiano que escondem gigantescas descobertas, o sonambulismo.
Ele já foi retratado em desenhos animados e histórias em quadrinhos, o indivíduo dormindo se levanta, com os braços estendidos, e caminha para fora quarto, fugindo dos perigos. E quando acorda leva um susto! Não se dando conta de tudo o que ocorreu. Esse esquecimento justifica porque o sonambulo geralmente fica sabendo de sua condição quando um familiar ou amigo conta, pois ele não se lembra de nada do que faz dormindo.
Palestrando sobre o tema pelo Brasil, tive oportunidade de ouvir interessantes histórias de sonâmbulos. Uma moça aqui de São Paulo, que morava sozinha, contou-me que levantava durante a noite, na cozinha preparava comida, sentava-se à mesa, comia, lavava a louça e voltava para a cama. No dia seguinte, não se lembrava de nada. Começou a notar falta de mantimentos e algumas desordens na cozinha. Foi quando uma amiga dormiu em sua casa e narrou o intrigante fenômeno.
Outro caso foi de um engenheiro do Rio de Janeiro que, durante a noite, dirigia-se até a sala, pegava um livro, e dava conta da leitura por horas. Depois apoiava o marcador na página na qual parou e voltava para a cama.
No século 19, narra Albert de Rochas, um farmacêutico era famoso por levantar-se durante a noite, em estado sonambúlico, sentava-se na escrivaninha, calculava as proporções e fases dos remédios. Depois se dirigia ao laboratório que ficava numa sala de sua casa, e lá ligava as chamas, misturava as substâncias, e preparava os remédios. Depois de deixar tudo em ordem, voltava para a cama e dormia o resto da noite!
Esse fenômeno natural ocorre com milhares de pessoas. Nem todos agem ativamente como os exemplos que demos. Normalmente apenas balbuciam palavras, sentam na cama, andam pelo quarto. Muitos abrem portas e há narrativas de que saem de pijama pela rua. Esse fenômeno não chama a atenção de ninguém além de ser uma particularidade curiosa. Não foi o que ocorreu com o médico Franz Anton Mesmer no século 19. Ele atendia seus pacientes por meio dos passes, tratamento que chamou de Magnetismo Animal, mesmo nome da ciência que desenvolveu. Pois bem, alguns dos pacientes, diante dessa imposição de mãos que podia se transcorrer até por uma hora, caiam em sono. Todavia, entre muitos, para alguns não era uma condição comum. Eles podiam falar, ver, ler e até enxergar o que ocorria à distância além das paredes, mantendo os olhos fechados. Em verdade, todos os sentidos podiam ser aguçados nessa condição especial de sono, que se denominou sonambulismo provocado. Até mesmo o paladar, como comentou Mesmer:
Conheço uma pessoa vivaz cujos nervos são muito irritáveis e que, tendo unicamente na língua esta irritação e conservando sua lucidez, disse-me várias vezes: “Comendo esta pequena crosta de pão, do tamanho da cabeça de um alfinete, parece-me que tenho um grande e saboroso pedaço. Mas, o que há de bem singular, não somente sinto o sabor de um bom pedaço de pão, como sinto separadamente o gosto de todas as partículas que o compõem – a água, a farinha, tudo enfim me produz uma multidão de sensações que não posso expressar e que me dão ideias que se sucedem com rapidez extrema, mas que não são exprimíveis por palavras[2]”.

Esse fenômeno ganhou o nome de sonambulismo provocado, por se trata do mesmo que narramos, só que provocado pelos passes do magnetizador. Nessa condição, explica Mesmer, há uma ligação mental, mediada por um meio material sutil, entre a vontade e o pensamento do magnetizador e o sonambulo. De tal maneira que basta o magnetizador pensar que o sonambulizado responde o age de acordo com o comando. Essa conquista experimental de Mesmer foi fundamental para que esse estado alterado de consciência deixasse de ser uma curiosidade para surpreender a ciência, pois essa ligação, ou rapport como chamou seu descobridor, deu a ele uma condição experimental. Era possível então dialogar com o sonambulo, e conhecer suas incríveis capacidades. Nem todos têm as mesmas capacidades, elas são variáveis, mas os sonâmbulos podem examinar os organismo por dentro, descrever os estados dos órgãos e até propor diagnósticos das doenças que porventura encontre. Foi por isso que os discípulos e futuros pesquisadores da ciência criada por Mesmer criaram consultórios, onde os sonâmbulos examinavam os pacientes, prescreviam tratamentos, e até previam os passos e o momento exato da cura.
No entanto, para explicar adequadamente tal extraordinário fenômeno seria preciso esperar o surgimento do Espiritismo, pelo trabalho de Allan Kardec. Antes mesmo de iniciar as pesquisas que levariam à publicação de O Livro dos Espíritos, Kardec já havia estudado o sonambulismo, em todas as suas fases, por mais de trinta e cinco anos! Os primeiros médiuns franceses que permitiram a pesquisa para essa obra eram antigos sonâmbulos, que passaram a transmitir as palavras e pensamentos dos espíritos superiores em seus ensinamentos. Foi exatamente nessa obra inaugural do Espiritismo, que eles afirmaram:
Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno fisiológico, é uma luz projetada sobre a Psicologia. É nele que se pode estudar a alma, porque é nele que ela se mostra a descoberto.

Ou seja, essa curiosa condição natural, que serve para fazer rir as crianças nos desenhos é o fenômeno chave para o desenvolvimento experimental da psicologia, o que pode representar uma nova era para a ciência. Até hoje, o desenvolvimento tecnológico se deu no campo da matéria, e os resultados foram extraordinários para a humanidade. Basta lembrar do que ocorreu quando se aprendeu a manipular as ondas eletromagnéticas, resultando nas comunicações por satélites, celulares, internet, e tudo o que hoje define a vida moderna. Pois bem, neste terceiro milênio, será a compreensão das capacidades desconhecidas do homem o que irá transformar definitivamente a vida humana! Tudo se dará quando os pesquisadores voltarem a se dedicar a estudar o sonambulismo provocado. Uma educação dos sentidos, a partir das descobertas da capacidade dos sonâmbulos, poderá permitir no futuro a comunicação pelo pensamento, sem barreiras de distância. Não há limites para se imaginar o que poderá ocorrer com essas extraordinárias possibilidades. No entanto, o materialismo não tem meios de permitir avançar nessa fabulosa descoberta. Somente o espiritualismo tem condições teóricas para tanto. E essa busca já teve início nas pesquisas de Kardec, veja só:
Quando o sonâmbulo descreve o que se passa à distância, é evidente que ele o vê, mas não pelos olhos do corpo: vê-se a si mesmo no local, e para lá se sente transportado; lá existe, portanto, qualquer coisa dele, e essa qualquer coisa, não sendo o seu corpo, só pode ser a sua alma ou seu Espírito. Enquanto o homem se extravia nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível, na busca das causas de nossa existência moral, Deus põe diariamente sob os seus olhos e sob as suas mãos os meios mais simples e mais patentes para o estudo da psicologia experimental[3].

Tratamos do sonambulismo provocado, e suas relações com o Magnetismo Animal e o Espiritismo, mais extensamente na obra Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec. Anteriormente tratamos dele em Mesmer – a ciência negada e os textos escondidos.
Fugir da “metafísica abstrata e ininteligível” e percorrer o caminho adequado do estudo científico desse fenômeno: esse será o caminho que tornará a psicologia neste terceiro milênio para a alma o que foi a física e a química para a matéria no segundo. Não se trata de uma profecia, mas um simples raciocínio resultante da análise dos fatos. Quem viver verá!




[2] Paulo Henrique de Figueiredo, “Mesmer – a ciência negada e os textos escondidos”, página 613.
[3] Allan Kardec, O Livro dos Espíritos.

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