Jane Maiolo
“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se
corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” [2].
Em época de grandes avanços
intelectuais, científicos e tecnológicos é possível observar também o avanço
das perturbações sociais como a criminalidade e a violência estampadas na face
da sociedade contemporânea. Estamos vivendo uma grande catarse social:
feminicídios, estupros, intolerâncias, corrupções, atentados, suicídios,
desestruturação da base social, da família e o triste abandono da infância.
A vitimização por homicídio de
jovens de 15 a 29 anos, no país, é fenômeno denunciado ao longo das últimas
décadas, mas que permanece sem a devida resposta em termos de políticas
públicas que efetivamente venham a enfrentar o problema.
Quando crianças e jovens aderem
a pulsão de morte e destruição significa que a vida não é importante!
O homem do século XXI tem cada
vez mais conhecimento e controle sobre o mundo exterior, porém tem se afastado
com a mesma intensidade do seu mundo interior. Aprendemos a dominar algumas
forças da natureza, a construir diques, barragens, abrigos, porém não
conseguimos nos dominar emocionalmente nem tampouco nos conhecer.
Segundo o pediatra e
psicanalista inglês, Donald Winnicott, o ser humano é dotado de uma tendência
inata ao amadurecimento, tendência essa que requer um ambiente facilitador e a
presença constante de um agente suficientemente bom para ajudá-lo a
desenvolver-se na primeira infância, período que se estende aproximadamente até
os seis anos de idade[3].
Os primeiros anos do ser humano
são marcados por intensos processos de desenvolvimento bio-psíquico-emocional.
É uma fase determinante para a capacidade cognitiva e sociabilidade do
indivíduo. As crianças nesta fase precisam de amparo, compreensão, oportunidades
e estímulos, para que possam desenvolver cada uma de suas aptidões, assim como
criar vínculos afetivos, sentimento de pertencimento, autoconfiança,
responsabilidade, dentre outros afetos.
A sociedade de modo geral vem
pagando um preço alto por não compreender o papel e a responsabilidade de cada
um na esfera social e humana. O transtorno mental e os distúrbios de
comportamento se multiplicam, já não sabemos como agir. Para se ensinar na
escola não serão apenas necessários um livro, uma caneta, uma criança e um
professor como assinalava Malala Yousafzai, ativista paquistanesa, mas
precisaremos de apoio de profissionais da área da saúde como neuropediatras,
psicólogos, psicopedagogos, psicanalistas dentre outros.
Nossas crianças estão se
desenvolvendo de maneira frágil sem sentimentos éticos como a empatia, a
compaixão, juízo crítico e capacidade de suportar limites. A instantaneidade do
prazer é estimulada pela insana sociedade contemporânea. Os pais têm medo de
serem “pais”, deixando o posto vazio ou temporariamente fora de área de
serviço, com possibilidade de outros assumirem o papel tão fundamental que é a
educação integral dos filhos. A frustração precisa voltar a fazer parte da
lição de casa, pois dizer “não” é um desafio que precisamos enfrentar com
maturidade. Estabelecer limites é oportunizar para que a criança se adapte à
realidade e aprenda a conviver e a superar os conflitos advindos do seu meio
social em qualquer tempo.
A frustração, a ansiedade, a
raiva, o ódio, a disputa e a privação fazem parte do aprendizado das crianças
tanto quanto o amor, o respeito, a solidariedade e a fraternidade.
A segurança emocional das
crianças e jovens é que está em jogo. Promover e organizar o ambiente familiar
saudável é sem sombra de dúvida a única luz no fim desse túnel chamado
sociedade contemporânea, caso não amadurecermos essa ideia e planejarmos outras
ações continuaremos fragilizados e temerosos pelo amanhã.
A nova geração, preconizada por
Allan Kardec no livro A Gênese
precisa de objetivos claros e limites para se ajustarem ao novo vindouro[4].
A humanidade se transforma, isso
é evidente, porém a influência dos pais e uma educação de qualidade é sempre o
material divino para ascensão de uma Nova Geração[5].
Atentemos a admoestação
carinhosa do Convertido de Damasco: “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que
o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em
dia[6]”.
Fonte: Agenda Cristã Brasil
[2] 2
Coríntios 4:16.
[3] Winnicott, D. W. (1969c).
(1975b). Conceitos contemporâneos de desenvolvimento adolescente
e suas implicações para a educação superior. In O Brincar & a Realidade.
Rio de Janeiro: Imago.
[4] Kardec, Allan. A Gênese. 19ª Edição. SP. LAKE- Capítulo
XVIII.
[5] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro:
Ed. FEB , 2007- questão 208.
[6] 2 Coríntios 4:16-17.
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