Olhando através da esfera cósmica.
Ilustração de "L'atmosphere:
meteorologie populaire", por C. Flammarion (1888).
Ademir Xavier
A Astronomia é considerada uma
ciência muito antiga. O Espiritismo, embora assim conhecido apenas a partir de
meados do Século 19, trata de questões também muito antigas também, que estão
na origem de todas as religiões. Embora longe do reconhecimento 'acadêmico',
inútil para os objetivos do Espiritismo na época presente, ele também
demonstrou seu aspecto científico. Como dois saberes antigos e científicos, é
natural que Espiritismo e Astronomia guardem alguma relação.
De fato, esse relacionamento se
manifestou desde o início com a publicação de um capítulo inteiro em A Gênese, de A. Kardec, dedicado a uma
nova cosmografia. Esse capítulo contém uma dissertação sobre o Universo
assinado por 'Galileu', em uma mensagem psicografada por Camille Flammarion
(1842-1925). No Brasil, destacamos o interesse que o espírita e educador
Eurípedes Barsanulfo (1880-1918) teve quando fundou o Colégio Allan Kardec em
Sacramento/MG, a partir de um curso de Astronomia. E são inúmeras as
referências às 'formações assombrosas' do Universo em muitas mensagens
espíritas.
Conceitualmente, uma via de
interligação entre Espiritismo e Astronomia é o impacto que ambos os
conhecimentos têm sobre nossa compreensão do Universo e do significado da vida
humana nele. A Astronomia não tem interesse em considerações de natureza
filosófica sobre essa posição humana no Universo. Tais conclusões surgem,
porém, naturalmente a partir do conhecimento revelado por ela:
·
O que chamamos de 'Universo' é algo
extraordinariamente grande. Nossa capacidade de entendimento das reais
dimensões do Cosmo é coisa muito limitada. Sua dimensão verdadeira (a julgar
pelo tamanho das incontáveis formações astronômico contido nele) é inconcebível
para a mente humana. Da mesma forma, as
escalas de tempo envolvidas nos fenômenos astronômicos de grande escala são
longas demais para qualquer existência humana.
·
O que podemos ver no Universo é apenas uma
fração ínfima de sua real presença. Como nossos sentidos são limitados,
percebemos muito pouco da enorme gama de 'radiações' ou 'ondas' em grande
escala que são nele produzidos.
·
Para a existência humana (no sentido de sua
presença física na Terra), nosso planeta é um lugar muito especial. As
condições climáticas ou ambientais típicas do Universo jamais propiciariam uma
vida tranquila a qualquer ser vivente. O Universo é, para o corpo humano, um
lugar completamente inóspito.
·
O Universo está estruturado em 'camadas' ou
'dimensões' em escalas que exibem uma complexidade assombrosa. Vemos coisas
complexas no incrivelmente grande, assim como no muito pequeno.
Em suma, a Astronomia confirmou
que nossos sentidos não são apropriados para ver e ouvir o Cosmos. Ela mostrou
ainda que a Terra é, até agora, o único planeta a abrigar o que chamamos 'vida'
do ponto de vista material. Também demonstrou que a enorme amplitude de escala
do Universo implica em inúmeros 'extratos' de fenômenos diferentes, cada uma
deles a existir como um cosmo próprio.
Assim, foram homem e a
Humanidade circunscritos a uma dessas 'camadas' existenciais de um Universo
incrivelmente grande. E, modernamente, há suspeitas de que o que chamamos
'dimensões' do espaço e do tempo sejam apenas variedades geométricas adaptadas
a nossa competência limitada de medição no Universo.
Com tais conclusões, uma
bifurcação de entendimento se apresenta:
1.
Somos as únicas criaturas conscientes em um
Universo enorme, mas completamente vazio, somos menos que espumas a existir por
brevíssimos momentos na vida do Cosmo,
2.
OU não estamos sozinhos, mas diante de um Universo
que revelará fatos ainda mais surpreendentes sobre aquilo que nele pode existir
e ter consciência.
A primeira possibilidade tem
sido explorada em inúmeros documentários e livros de divulgação científica. O
materialismo e ateísmo vigentes têm como certo um Universo vazio, onde a vida
humana vale apenas dentro do círculo estreito de seus interesses transitórios.
As consequências dessa visão limitada são a um Universo frio, amoral e
incriado. Nele não há nenhum papel para Deus que, portanto, não existe.
Entretanto, como nossos sentidos
e compreensão se mostraram muito limitados, parece fazer mais sentido aceitar a
segunda possibilidade. O vazio revelado é fruto de nossa incapacidade em
perceber o todo, pois apenas vislumbramos o Universo por meio de estreitíssima
janela. Seria necessário que a sensibilidade humana transcendesse muito os
sentidos ordinários para que a nós fosse possível visualizar um pouco melhor o Universo.
Não devemos, portanto, nos apressar nas conclusões niilistas.
É nesse ponto que intervêm as
revelações do Espiritismo:
·
A sensibilidade humana é limitada, mas, por meio
da mediunidade, é possível acessar uma grande variedade de fenômenos que também
expandiram nosso conhecimento sobre o Universo;
·
Os sentidos humanos dilatados pela mediunidade
revelaram que não somos as únicas 'consciências' que existem: em torno de nós pulula
um grande contingente de novas formas de vida que existem aparentemente em um
extrato 'não material' do Universo. Essas consciências interagem com os humanos
e influenciam sua vida privada. Quando querem, porém, podem se manifestar
publicamente.
·
Mas, matéria ou 'não matéria' são termos
intercambiáveis: o que chamamos 'matéria' é apenas um tipo de manifestação de
fenômeno adaptado a nossa presente condição ou capacidade sensorial. Em
particular, a Humanidade continua a existir de outras formas (outros extratos).
O homem sobreviverá à morte, entendida agora como rompimento dos laços que
prendem a sua real natureza (o Espírito) àquela camada do Universo onde ele transitoriamente
vive;
·
A vida humana se estende de forma inconcebível,
tanto para trás no tempo, como para frente. O Espírito existirá por tempo
indefinido. Sua existência real se dá, portanto, em uma dessas camadas do
Universo que tangenciam a existência material inúmeras vezes (reencarnações),
mas por breves momentos na escala universal de tempo.
Os estudos da Astronomia e da
Física mostram a convergência entre o macro e o micro: as superestruturas da
escala astronômica se sustentam como imensas formações que têm por base forças
minúsculas e influências recíprocas indetectáveis aos sentidos humanos. Da
mesma forma interagem matéria e espírito para formarem a porção do que é
visível a esse último, numa realidade que se mostra muito limitada para os
sentidos humanos, por enquanto.
Isso foi justamente o que C.
Flammarion representou na ilustração do início deste post. Um indivíduo que sai
de sua vida ordinária, mesquinha, limitada e pequena. Segue além da fronteira
do Universo, não como uma divisa física, mas de dimensão, a do limite imposto
por uma única faixa de vida até então tomada como única existente. O que ele vê
então? Mundos e vidas incontáveis, uma variedade de formas e coisas tão grande
quanto o próprio tamanho e idade do Universo. Nessa nova perspectiva muito
dilatada, tudo lhe parece fazer sentido. As maiores dores e calamidades humanas
nada são, porque a vida humana verdadeira é infinita em continuidade e
significado. A vida na Terra é um momento fugaz, os dramas humanos pequenos
demais diante da verdadeira destinação reservada a ele. E o Universo se revela
então com uma manifestação Divina, organizada de forma inteligente e
absolutamente perfeita.
A imagem do Universo
complementado pelo Espiritismo é assim a de um Cosmos repleto de vida em
múltiplas camadas a se interpenetrarem. O homem nele é Espírito encarnado
brevemente, que deixa seu casulo corpóreo muitíssimas vezes para ascender numa
escala de bondade e conhecimento. A
noção de justiça verdadeira não se aplica apenas à vida transitória que leva
por tão breve tempo. Por isso a ideia de eternidade trazida pelo Espiritismo
permite vislumbrar nosso verdadeiro papel no Universo, que não é mais limitado
no tempo e no espaço. O mais próximo da sensação de deslumbramento que podemos
sentir ao perceber essa realidade futura é quando olhamos para o alto. Para
isso, basta uma noite límpida, sem nuvens...
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