1838 – 1888
Foster recebeu educação em uma
escola pública de sua cidade natal, Salem. Ali, aos quatorze anos de idade, a
sua mediunidade teria se manifestado pela primeira vez, sob a forma de
"raps" (batidas) em sua carteira, durante o horário das aulas. À
noite o jovem era despertado por violentos ruídos nos móveis, que eram
inexplicavelmente deslocados em seu quarto. Pouco tempo depois o fenómeno passou
a repetir-se à luz do dia, escutando-se a movimentação da mobília em aposentos
onde ninguém se encontrava.
Barlett narra que certa vez,
quando se encontrava nos aposentos de Foster, foi por ele acordado às duas
horas da manhã, solicitando: "George, quer fazer o favor de acender o gás?
Eu não posso dormir: o quarto está cheio da família de Adams e parece que estão
escrevendo os seus nomes em mim". Com efeito, o senhor Adams o havia
procurado durante o dia anterior para uma consulta, tendo Foster, através da
vidência, observado que muitos espíritos ficaram em sua companhia. Barlett
conclui o relato afirmando: "E com grande admiração minha, a lista de
nomes da família Adams estava gravada em seu corpo. Contei onze nomes
diferentes: um estava gravado na testa, outros nas costas".
Em outro episódio, descrito pelo
mesmo autor, Foster foi rudemente detido por um braço por dois homens que lhe exigiram
uma demonstração da escrita na pele. Enquanto o seguravam, formaram-se no braço
do médium, em letras redondas e largas, em vermelho-sangue, as palavras
"Two Fools" (dois tolos), seguidas, como de hábito, pelo nome do
espírito comunicante.
Na leitura em amontoado, o
procedimento habitual era o de se pedir aos assistentes que escrevessem os
nomes de seus parentes falecidos em tiras de papel, enquanto o médium saía da
sala, enrolá-las e colocá-las com outras tantos quanto se quisesse em um
amontoado sobre uma mesa. No regresso do médium, os nomes nas tiras eram
soletrados pelos "raps", e Foster entregava os endereços em transe,
fornecendo descrições dos espíritos através de clarividência e de
clariaudiência. Ele alegava que Virgílio, Luís de Camões, Miguel de Cervantes e
muitas outras entidades ilustres estavam entre os seus comunicadores.
Em 1861, Foster visitou a
Grã-Bretanha, e nesse período acrescentou-se a faculdade de materialização às
suas apresentações. A sua primeira sessão teve lugar na casa de William
Wilkinson, editor da revista "Spiritual". Tornou-se amigo do Master
de Lytton, com quem permaneceu em Knebworth. Nomes da literatura da época, como
Charles Dickens, William Makepeace Thackeray, Alfred Tennyson, Robert Chambers
e William Howitt vieram até ele para sessões. John Ashburner, uma autoridade em
magnetismo animal e espiritismo, registou fenômenos invulgares: viu nove mãos
materializadas flutuando ao longo da mesa de jantar e assistiu a uma levitação
do médium e do piano em que ele estava tocando.
Em Janeiro de 1862, a convite de
Thomas P. Barkas, Foster realizou quatro sessões em Newcastle upon Tyne. Em
cada uma delas, participaram dez pessoas. Os seus nomes foram mantidos em um
livro próprio e isoladas do médium. Com essas 40 pessoas os erros na
comunicação, segundo Barkas, não deveriam exceder a três por cento, e isso
normalmente aconteceu com mínima confusão ou polemica.
No entanto, Barkas tinha a
impressão de que, apesar de Foster ser um médium genuíno, ele ocasionalmente,
talvez frequentemente, aumentava os efeitos com truques. Em apoio a esta
premissa, Barkas salienta, no seu "Outlines of Ten Years Investigations
into the Phenomena of Modern Spiritualism" (1862), que os nomes dos
espíritos dos falecidos foram escritos pelo médium de acordo com o soletrado
nos amontoados, os quais por vezes continham erros; as comunicações eram
extraordinariamente similares; a rápida entrada em transe e súbito alívio eram
mais prováveis de serem aparentes do que reais; e a escrita quer fosse obtida diretamente
ou automaticamente, era sempre semelhantes à escrita normal do médium.
Eventualmente as simpatias
voltaram-se contra Foster na Grã-Bretanha. Em 1863, a "Spiritual"
publicou que o seu editor tinha recebido de um Juiz Edmonds tamanhos
"detalhes doentios de sua criminalidade em outro meio que não iria mais
manchar as suas páginas com a sua mediunidade". Foster então simplesmente
abandonou a Grã-Bretanha dirigindo-se à França, onde se apresentou diante de
Napoleão III em Paris. Excursionou em seguida pela Austrália e retornou,
finalmente, a New York.
O autor Epes Sargent registou
experiências pessoais convincentes na leitura em amontoado com Foster, em
"Planchette, or the Despair of Science" (1869). Por outro lado, John
W. Truesdell, em "The Bottom Facts Concerning the Science of
Spiritualism" (1883), descreve uma apresentação em Nova Iorque, em 1872.
Foster segurou o amontoado nas mãos e leu-os com a iluminação contínua de seu
charuto, o fogo sendo mantido no oco de sua mão.
O caso de Charles Foster ilustra
bem a dificuldade de avaliar os fenômenos psíquicos ou as pessoas que os
produzem. Parece provável que Foster tenha sido culpado muitas vezes por
fraude, nomeadamente nos fenômenos como leitura em amontoado, o que é peculiar
a simples truques de mágica. Por outro lado existem fortes testemunhos de
algumas manifestações mediúnicas genuínas.
Foster foi um personagem
sociável, que apreciava tanto consumir bebidas alcoólicas e fumar charutos com
seus companheiros, quanto fazer a transmissão de mensagens dos mortos. O seu
biógrafo, Bartlett, resume as suas observações sobre Foster afirmando:
Ele era
extravagantemente dual. Ele não foi apenas o Dr. Jekyll e Mr. Hyde, mas
representava uma meia-dúzia de diferentes Jekylls e Hydes. Ele era um gênio
desequilibrado, e às vezes, eu deveria dizer, demente. Ele usava a muitos de
seus amigos. Ele parecia indiferente às opiniões dos outros, e, aparentemente,
rendeu-se a todos os desejos.
Alguns dos mais estranhos fenômenos
de Foster, como a dermografia,
parecem ter sido involuntários.
Durante a viagem de Foster à
Inglaterra, em 1861, o Dr. John Ashburner foi chamado à cabeceira do médium por
um de seus companheiros, que afirmou que o mesmo estava próximo à morte.
Ashburner encontrou-o em um estado de estupor alcoólico, em consequência de uma
noite de bebedeira com os amigos. Após ter examinado o médium, ainda em estado
de torpor, o médico narra um fenómeno extraordinário, em seu livro
"Philosophy of Animal Magnetism and Spiritualism" (1867):
De repente as roupas
de cama foram apertadamente enroladas para baixo até à altura da sua virilha. A
sua camisa foi então apertadamente enrolada, como um cordão, expondo à nossa
vista a pele do tórax e do abdomen. Logo ali apareceram, em grandes letras
vermelhas, levantadas sobre a superfície, a palavra 'DESENVOLVIMENTO', que se
estendia a partir da virilha direita para o ombro esquerdo, dividindo a
superfície em dois compartimentos triangulares. Estes foram preenchida com
maços de flores, lembrando flores-de-lis. O fenômeno perdurou por quase dez
minutos, quando a camisa e as roupas de cama foram gentilmente desenrolados e
recolocados como no início.
Em seus últimos anos Foster
tornou-se dependente do álcool. Em 1881, com 48 anos de idade, ele foi levado
para o Danvers Insane Asylum, sofrendo, de acordo com os relatórios, de
alcoolismo avançado e amolecimento do cérebro. Nos quatro últimos anos da sua
vida ele aparentemente viveu uma existência vegetativa sob os cuidados de uma
tia, simplesmente fixando o espaço a maior parte do tempo.
Poucos dias após a sua morte, a
igualmente controversa médium Kate Fox estava praticando a escrita automática
com a sua amiga Sra. Taylor e encontrou a sua mão galvanizada em frenéticas,
incoerente mensagens, assinadas como "Charles Foster, médium".
Bibliografia
ASHBURNER, John. Philosophy of Animal Magnetism and Spiritualism.
Londres, 1867.
BARTLETT, George C.. The Salem Seer. Nova Iorque, 1891.
BROWN, Slater. The Heyday of Spiritualism. Nova Iorque: Hawthorn Books,
1970.
TRUESDELL, John W.. The Bottom Facts Concerning the Science of
Spiritualism. Nova Iorque: G. W.
Carleton, 1883.
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