Em junho de 1853, quando as
mesas girantes e falantes agitavam os salões da Europa, depois de terem
assombrado a América, em missiva a Mme. Swetchine, datada de Flavigny, ele
escreveu:
Vistes girar e
ouvistes falar das mesas? - Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito
simples, mas ouvi e fiz falar.
Elas me disseram
coisas muito admiráveis sobre o passado e o presente. Por mais extraordinário
que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito
vulgar e muito pobre. Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros
para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses
processos, como se fazia mistério da química; a justiça por meio de execuções
terríveis, enterrava essas estranhas práticas na sombra.
Hoje, graças à
liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se
uma fórmula popular. Talvez, também, por essa divulgação Deus queira
proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das
forças materiais, para que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da
mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: o mundo dos corpos e o
mundo dos espíritos.
O missivista era
Jean-Baptiste-Henri Lacordaire, nascido em 12 de maio de 1802, numa cidade
francesa perto de Dijon.
A despeito de seus pais serem
religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda
experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de advogado, na Teologia.
Completando os estudos no
Seminário, na qualidade de professor pôde constatar o relativo descaso dos seus
estudantes pela religião. No intuito de despertar a afeição pública para a
Igreja, como colaborador do jornal L'Avenir, passou a lutar pela liberdade
daquela da assistência e proteção do Estado.
Vigário da famosa Catedral de
Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o
culto.
Em 1839 entrou para a Ordem
Dominicana na França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução
Francesa a tinha largamente subvertido.
Discípulo de Lamennais,
preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a
única possibilidade de salvação do futuro. Cristianismo, por poder dar à
liberdade a sua real dimensão e a liberdade, por poder dar ao Cristianismo os
meios de influência necessários para isto. Insistia que o Estado devia cercear
seu controle sobre a educação, a imprensa, e trabalho de maneira a permitir ao
Cristianismo florescer efetivamente dentro dessas áreas.
Foi Membro da Academia Francesa
e o Codificador inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após a sua
desencarnação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da
correspondência que inicia o presente artigo, comentando:
Sua opinião sobre a
existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido,
geralmente, por todo o mundo, como uma das altas inteligências do século,
parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como
homem de grande senso e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e crer nos
Espíritos.
Em sessão realizada na Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium
"escrevente habitual" Morin, descreveu a presença do espírito do
padre Lacordaire, como "um Espírito de grande reputação terrena, elevado
na escala intelectual dos mundos (...) Espírita antes do Espiritismo
(...)" e concluiu:
Ele pede uma coisa,
não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e
para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos.
Diz que se pede tal inserção é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis
ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos. O segundo
é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos
outras passagens que serão assinaladas, como concordes com os princípios do
Espiritismo.
Mas ele mesmo, Lacordaire,
retornou de Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável
e talentosa contribuição.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos 3 mensagens, ditadas
no Havre e Constantina, todas datadas do ano de 1863, discorrendo sobre "O
bem e mal sofrer" - cap. V, item 18; "O orgulho e a humildade" -
cap. VII, item 11 e "Desprendimento dos bens terrenos" - cap. XVI,
item 14.
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