sábado, 15 de dezembro de 2018

Escândalos: silêncio ou ampla exposição pública?[1]



Marco Milani

            Após a recente denúncia midiática feita por Pedro Bial em seu programa na Rede Globo contra o suposto médium de cura, João de Deus, pululam nas redes sociais mensagens e comentários de pessoas e instituições que se dizem indignadas pelo fato de que muitos órgãos de comunicação estejam relacionando a palavra espírita ou Espiritismo ao tratarem do caso. Tal indignação ampara-se no fato de que João de Deus não poderia ser considerado espírita, uma vez que adota conceitos e práticas estranhas ao Espiritismo, contrariando os valores doutrinários. As manifestações afirmam, basicamente, que qualquer associação do acusado ao Espiritismo é indevida e afronta a imagem dessa doutrina.
            João de Deus promove há décadas serviços supostamente mediúnicos e com fama internacional. Por que será que não houve manifestações massivas daqueles que hoje estão indignados quando o programa Profissão Repórter, da mesma Rede Globo, apresentado em 2015, foi inteiramente dedicado às atividades desse médium e mencionou diversos termos e conceitos típicos do Espiritismo? Toda a reportagem pode ser assistida no seguinte link: http://redeglobo.globo.com/tvanhanguera/noticia/2015/04/profissao-reporter-mostrou-trabalho-do-medium-joao-de-deus.html

            Para muitos daqueles que justificam a ampla divulgação pública da classificação de não-espírita de João de Deus para não se sentirem constrangidos ou envergonhados, pode-se supor que o silêncio tenha sido a opção quando o acusado de assédio seja um dirigente de uma instituição reconhecida como espírita. Assim ocorreu quando o médium Maury Rodrigues da Cruz, diretor presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), em Curitiba/PR, foi acusado de assédio sexual durante a assistência mediúnica, conforme o seguinte link: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2018/08/15/medium-presidente-de-sociedade-espirita-vira-reu-por-estelionato-e-violacao-sexual.ghtml

             Talvez, muitos dos que estão hoje alardeando aos quatro cantos que João de Deus não é espírita, sejam os mesmos que optaram pelo silêncio caridoso no caso de Maury Rodrigues da Cruz.
        O que dizer, ainda, de palestrantes e escritores que também não poderiam ser considerados espíritas, mas frequentam as tribunas e as prateleiras das livrarias de centros espíritas, muitas vezes distorcendo os princípios e valores doutrinários? Deveriam ser denunciados também para o bem da coerência doutrinária ou somente se estiverem envolvidos em alguma situação vexatória pública?
            Conforme encontramos no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, sobre o escândalo em seu sentido vulgar:

“Muitas pessoas se contentam com evitar o escândalo, porque este lhes faria sofrer o orgulho, lhes acarretaria perda de consideração da parte dos homens. Desde que as suas torpezas fiquem ignoradas, é quanto basta para que se lhes conserve em repouso a consciência.
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII, i.12

            Diante de qualquer escândalo, portanto, que possamos refletir se o que queremos é a defesa do próprio orgulho ou, efetivamente, o esclarecimento doutrinário e o incentivo à conduta moral equilibrada.

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