Marco Milani
Após a
recente denúncia midiática feita por Pedro Bial em seu programa na Rede Globo
contra o suposto médium de cura, João de Deus, pululam nas redes sociais
mensagens e comentários de pessoas e instituições que se dizem indignadas pelo
fato de que muitos órgãos de comunicação estejam relacionando a palavra
espírita ou Espiritismo ao tratarem do caso. Tal indignação ampara-se no fato
de que João de Deus não poderia ser considerado espírita, uma vez que adota
conceitos e práticas estranhas ao Espiritismo, contrariando os valores
doutrinários. As manifestações afirmam, basicamente, que qualquer associação do
acusado ao Espiritismo é indevida e afronta a imagem dessa doutrina.
João de
Deus promove há décadas serviços supostamente mediúnicos e com fama
internacional. Por que será que não houve manifestações massivas daqueles que
hoje estão indignados quando o programa Profissão Repórter, da mesma Rede
Globo, apresentado em 2015, foi inteiramente dedicado às atividades desse
médium e mencionou diversos termos e conceitos típicos do Espiritismo? Toda a
reportagem pode ser assistida no seguinte link: http://redeglobo.globo.com/tvanhanguera/noticia/2015/04/profissao-reporter-mostrou-trabalho-do-medium-joao-de-deus.html
Para
muitos daqueles que justificam a ampla divulgação pública da classificação de
não-espírita de João de Deus para não se sentirem constrangidos ou
envergonhados, pode-se supor que o silêncio tenha sido a opção quando o acusado
de assédio seja um dirigente de uma instituição reconhecida como espírita.
Assim ocorreu quando o médium Maury Rodrigues da Cruz, diretor presidente da
Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), em Curitiba/PR, foi acusado
de assédio sexual durante a assistência mediúnica, conforme o seguinte link: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2018/08/15/medium-presidente-de-sociedade-espirita-vira-reu-por-estelionato-e-violacao-sexual.ghtml
Talvez,
muitos dos que estão hoje alardeando aos quatro cantos que João de Deus não é
espírita, sejam os mesmos que optaram pelo silêncio caridoso no caso de Maury
Rodrigues da Cruz.
O que dizer,
ainda, de palestrantes e escritores que também não poderiam ser considerados
espíritas, mas frequentam as tribunas e as prateleiras das livrarias de centros
espíritas, muitas vezes distorcendo os princípios e valores doutrinários?
Deveriam ser denunciados também para o bem da coerência doutrinária ou somente
se estiverem envolvidos em alguma situação vexatória pública?
Conforme
encontramos no livro O Evangelho Segundo
o Espiritismo, de Allan Kardec, sobre o escândalo em seu sentido vulgar:
“Muitas pessoas se contentam com evitar o
escândalo, porque este lhes faria sofrer o orgulho, lhes acarretaria perda de
consideração da parte dos homens. Desde que as suas torpezas fiquem ignoradas,
é quanto basta para que se lhes conserve em repouso a consciência.
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap.
VIII, i.12
Diante de
qualquer escândalo, portanto, que possamos refletir se o que queremos é a
defesa do próprio orgulho ou, efetivamente, o esclarecimento doutrinário e o
incentivo à conduta moral equilibrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário