Alexandre Fonseca[2]
Há pouco mais de um século, o
físico Max Planck tentava compreender a energia irradiada pelo espectro da
radiação térmica, calor que todos os corpos emitem, e chegou a algumas
conclusões que balançaram os princípios da física clássica. Nascia assim a
física ou mecânica quântica, trazendo novos conceitos, como a não-localidade.
Fala-se em física quântica hoje
como algo relacionado à espiritualidade, tentando-se unir conceitos quânticos
com teorias sobre consciência. Por envolver conceitos como os de partícula,
onda, espaços vazios, alguns físicos valendo-se desses novos conceitos começam
a justificar pela nova teoria a existência de uma realidade mais ampla,
apresentando-a como prova da existência da imortalidade, da reencarnação e da
vida após a morte.
Buscando esclarecer o assunto,
em tempos de muitas novidades advindas da "moda" quântica,
entrevistamos o físico Alexandre Fontes da Fonseca.
Ele responde dúvidas básicas de
espíritas e não espíritas sobre esta suposta relação, que se embaraça na falta
de um maior conhecimento, mesmo porque essa descoberta foi realizada após a
vinda da doutrina espírita à Terra, codificada por Allan Kardec, no século 19,
na França.
O que é física
quântica?
Física quântica é o ramo da
física que estuda e descreve o comportamento da matéria em escala microscópica
(atômica e subatômica). Ela se baseia no fato de que trocas de energia entre
sistemas atômicos só podem ocorrer em múltiplos de um determinado valor que é,
então, chamado de quantum, daí o adjetivo "quântico (a)". A energia
do sistema não pode ter qualquer valor, mas apenas valores associados a
determinados "estados físicos". Podemos comparar esses "estados
físicos" a prateleiras de uma estante. Os livros só podem se situar em
alturas dadas por cada prateleira, mas nunca entre uma prateleira e outra.
A Física Quântica, é preciso
enfatizar, é uma teoria da matéria, isto é, desenvolvida para descrever o comportamento
de objetos materiais.
A física quântica é aceita pela ciência?
Sim! A física quântica é um ramo
da física e foi desenvolvida com todo o rigor que a Física determina. Ela é tão
aceita, que é ensinada nos cursos de graduação em Física e, mesmo no ensino
médio, em aulas de química, através dos chamados números quânticos.
Além de prever com certa
precisão as propriedades físicas de um sistema, ela descreve e explica vários
fenômenos que, no começo do século passado, intrigaram os cientistas. Em particular,
o fenômeno de emissão e absorção de radiação eletromagnética por um corpo.
Como assim, "prever com certa
precisão"? A Física não é uma ciência exata?
Uma ciência não é exata por
medir ou prever números com 100% de certeza absoluta para as propriedades
físicas de um sistema. Uma ciência é exata quando é capaz de precisar os
limites de validade de uma medida ou previsão teórica. Em outras palavras, o
que é "exato" é o conhecimento da magnitude dos erros ou imprecisões
em uma medida ou previsão teórica. Para ficar mais claro, vamos dar um exemplo.
Considere a medida do comprimento de um objeto usando uma régua comum. A menor
escala de uma régua comum é o milímetro. Logo, com uma régua comum podemos
medir o comprimento de um objeto com precisão de milímetros. Isso equivale a
dizer que o resultado de uma medida de comprimento do objeto é um determinado
valor, por exemplo, 4 centímetros e 3 milímetros "mais ou menos 1
milímetro" (entre aspas a magnitude do erro, isto é, a medida real do
comprimento do objeto é um valor entre 4 centímetros e 2 milímetros e 4
centímetros e 4 milímetros; com uma régua comum, não se pode precisar que valor
seria dentro desse intervalo, mas apenas que o valor está dentro desse
intervalo). Porém, se usarmos um instrumento chamado paquímetro, a precisão na
medida de comprimento do mesmo objeto é de um milésimo de milímetro, ou seja,
mil vezes melhor do que a precisão de uma medida feita com uma régua comum.
Porém, mesmo o paquímetro não apresenta precisão infinita e por isso é que sempre
se diz que em toda medida experimental há um erro por menor que seja.
Determinar numericamente a magnitude desse erro é um dos papeis da ciência
exata.
No caso da física quântica,
ganhamos uma complicação a mais. Do ponto de vista das teorias clássicas da
física, as limitações na precisão de uma medida são apenas tecnológicas, isto
é, em teoria, nada impediria a determinação de uma medida com erro
infinitamente pequeno. Porém, a teoria quântica apresenta um novo tipo de
limitação na natureza: como toda tentativa de medição de qualquer propriedade
física de um sistema quântico acarreta influência sobre o mesmo, a teoria
quântica prevê que nunca conseguiremos medir com precisão absoluta e ao mesmo
tempo certos pares de propriedades físicas. Exemplo: posição e velocidade de um
elétron. Ou se conhece com boa precisão a posição de um elétron e perde-se
informação sobre a sua velocidade; ou o contrário. Isso é consequência do
chamado Princípio de Incerteza de Heisenberg.
É possível comprovar experimentalmente a
teoria quântica?
Se isso já não tivesse ocorrido,
ela, a física quântica, não seria um ramo da Física! Além de explicar
experimentos fundamentais de interação entre a luz e a matéria realizados no
fim do século 19 e início do século 20, diversos desdobramentos da teoria
quântica têm sido demonstrados experimentalmente até o presente. Exemplos
recentes é a chamada ligação não-local, uma espécie de relação entre partes de
um sistema quântico onde a ação sobre uma parte influencia, de certa forma, a
outra parte, mesmo a distância. Tem também a recente comprovação do chamado
bóson de Higgs, que é uma partícula subatômica que foi prevista teoricamente na
década de 1960 com base no chamado Modelo Padrão da Física de Partículas que é
uma teoria totalmente baseada na física quântica. Importante comentar, também,
que desde o desenvolvimento do transistor, nossa tecnologia em mídias
eletrônicas se deve a aplicações da teoria quântica.
Aproveito sua pergunta para
comentar um detalhe importante. Qualquer nova teoria que surja na Física, mesmo
aquelas que se baseiam em conceitos básicos da física quântica, se não puderem
ser validadas experimentalmente ou através de observações de fenômenos, no
máximo vai ficar de molho por muito tempo. Logo, se na Física isso acontece,
isto é, não é qualquer teoria que use conceitos da física quântica que é
aceita, mais vigilância ainda devemos ter quando se usam esses conceitos na
proposta de teorias espiritualistas.
O que a física
quântica tem a ver com o Espiritismo? Precisamos dela para compreendê-lo?
Não tem nada a ver com o Espiritismo.
Ambas são teorias diferentes, desenvolvidas para descrição de 'objetos' de
estudo distintos. Enquanto a física quântica é uma teoria da matéria, o Espiritismo
é a ciência do espírito.
Para apreender e compreender o Espiritismo
e seus pontos fundamentais em nada precisamos da física quântica ou de outras
teorias modernas da ciência.
Percebe-se um
alvoroçado interesse dos espíritas pela física quântica, muitas vezes para
justificar a existência do espírito. Isso está correto?
Apesar de a intenção ser boa,
isso não está correto! Esse interesse decorre de algumas interpretações
'estranhas' da teoria quântica (isto é, que estão fora do senso comum) que
fazem pensar que os fenômenos espíritas (também considerados fora do senso
comum) devam ter relação direta com essas interpretações. Esse tipo de
extrapolação ou relação superficial entre conceitos da física e do Espiritismo
não é uma prática científica!
O que seriam essas "interpretações
estranhas"? Pode dar um exemplo?
Ao tentar entender o
comportamento quântico das partículas em nível microscópico, surgem
interpretações como: um objeto pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo;
influência da consciência do observador nas medidas experimentais; uma
partícula pode se comportar como uma onda e vice-versa; a existência de
universos paralelos; ligação não-local etc.
Essas interpretações são
estranhas, pois decorrem da tentativa de perceber o comportamento das
partículas microscópicas com as impressões que temos do mundo macroscópico
através dos nossos cinco sentidos. Essa é apenas uma das razões para evitar que
se façam relações superficiais entre conceitos quânticos e conceitos espíritas.
Mas que problemas acarretariam a aceitação
desse tipo de relação entre física quântica e Espiritismo?
A invigilância e a falta de
conhecimento sobre o que é ciência e como ela progride favorecem a abertura de
brechas no movimento espírita para a assimilação de teorias e doutrinas
pseudocientíficas que, por usarem conceitos da física quântica na sua
descrição, encantam as pessoas fazendo-as achar que se tratam de teorias e
doutrinas científicas. Como Kardec, em A Gênese,
propõe que o Espiritismo esteja sempre de acordo com a ciência, alguns
companheiros espíritas um pouco apressados e sem entendimento profissional do
assunto adotam e propagam algumas teorias e práticas místicas só porque elas se
consideram científicas por usarem conceitos da Física. Esquecem-se de que o Espiritismo
orienta que "é melhor repelir dez verdades do que admitir uma só
falsidade" (Erasto, item 230 de O
livro dos médiuns). A vigilância, portanto, com relação a esse tipo de
assunto deve ser mais que redobrada! E tem gente se aproveitando da ignorância
do público leigo para ganhar dinheiro com venda de livros, dvd's, seminários,
documentários, cursos, congressos etc., todos se utilizando o adjetivo
"quântico" sem ter respaldo formal e rigoroso da Física. O movimento
espírita deve se precaver contra isso. Se estudarem a fundo o que é ciência, o
que é Física e, o mais importante, o que é o Espiritismo, muitas dessas
confusões vão deixar de existir.
Para quem, de fato, deseja se
instruir sobre ciência e Espiritismo, sugerimos a leitura de alguns artigos
sobre o assunto.
Você teria um exemplo de teorias e práticas
baseadas na física quântica que mesmo bem intencionadas carecem de bases
científicas?
Sim. Uma dessas teorias, que tem
sido muito divulgada no movimento espírita como demonstração científica de
conceitos como Deus, alma, reencarnação e mediunidade, está contida na obra “Física
da Alma”, de Amit Goswami. Segundo ele, a alma após o desencarne permanece num
estado permanente de sono, que perdura até a próxima encarnação. Para Goswami,
o mundo espiritual não tem graça, por permanecerem os espíritos inconscientes. “Nosso
Lar” e André Luiz não existem no mundo espiritual de Goswami. Vê-se que não
precisa saber de física quântica para perceber o absurdo doutrinário das
teorias de Goswami!
Vou fazer, aqui, apenas uma
referência para o leitor interessado em conhecer mais sobre os problemas com
essa teoria leia o artigo: (uma versão mais completa desta análise foi
publicada na coletânea de trabalhos apresentados no 6º ENLIHPE[3]).
Outra teoria que tem atraído
alguns companheiros espíritas é a chamada apometria. Ela surgiu como uma
técnica de desdobramento destinada a ajudar pessoas com problemas espirituais e
de saúde. Suas obras básicas são apresentadas como totalmente baseadas em
conceitos e equações da física. Porém, essa teoria usa de maneira equivocada os
conceitos da física, faz extrapolações no campo da pesquisa de maneira
inapropriada e define equações sem nenhuma coerência interna ou com relação à
física, não satisfazendo os rigores mínimos de desenvolvimento nessa área. Detalhes e exemplos podem ser lidos em artigo
específico (uma versão mais completa dessa análise será publicada na coletânea
de trabalhos apresentados no 8º ENLIHPE).
Há também uma teoria baseada na
física conhecida e respeitada no movimento espírita. O autor dedicou muitos
anos à pesquisa de fenômenos espíritas e foi uma pessoa muito idealista, além
de fraterna e inteligente, deixando inúmeros amigos e seguidores. Trata-se da “Teoria
Corpuscular do Espírito” ou, mais recente, teoria do “Psi Quântico”, de Hernani
G. Andrade. Hernani propôs uma teoria para a matéria psi similar à teoria
quântica da matéria, propondo que o espírito fosse composto por essa matéria. A
ideia é interessante, porém a forma como as partículas da matéria psi foram
propostas não seguiram metodologia e rigores que se empregam na pesquisa e
desenvolvimento de novas teorias em física. A teoria de Hernani contém erros de
física, além de extrapolar conceitos sem o devido rigor formal usado na física.
Apesar de valer a leitura pelas informações e pela criatividade, o psi quântico
não pode ser considerado uma teoria científica legítima.
O leitor que tiver interesse em
conhecer detalhes de uma análise científica dessas duas teorias de Hernani G.
Andrade pode acessar os artigos específicos sobre o assunto.
Para o Espiritismo,
temos na base de tudo Deus, espírito e matéria. Onde a física quântica se
encaixaria?
A física quântica nada mais é do
que uma criação humana para tentar descrever alguns fenômenos naturais em
escala microscópica. É uma tentativa de entender, utilizando-se uma sofisticada
linguagem matemática, algumas leis naturais válidas para a matéria.
Explique sobre a
"partícula de Deus". Deus não é uno?
Essa questão é mais um dos
"mal entendidos" que decorrem do desconhecimento sobre ciência e como
os cientistas a desenvolvem. Na verdade, o que ocorre é o seguinte. Os físicos
estavam buscando encontrar uma partícula que pudesse explicar as propriedades
de massa de todas as outras, isto é, uma partícula cuja existência demonstraria
(é o que pensam) que não é necessário existir um Deus para explicar a
existência dos vários tipos de partículas subatômicas e algumas de suas
propriedades. Essa partícula foi então apelidada de "partícula de
Deus" e não é nada além do badalado bóson de Higgs.
Alguns companheiros, mais
entusiasmados, acreditaram que a ciência estaria à procura de Deus, o que não é
verdade. O que a ciência busca é descrever os fenômenos naturais. E os
cientistas acreditam que não é necessário a existência de Deus para explicar
esses fenômenos. E ninguém precisa se preocupar, por exemplo, com a descoberta
do bóson de Higgs, pois sempre podemos formular a seguinte questão filosófica:
o que criou o bóson de Higgs? Ou, mesmo, por que a natureza obedece a essas
leis que os cientistas estão descobrindo?
Como analisar hoje o Espiritismo
perante a ciência? Alguma coisa mudou desde Kardec que comprometa o conteúdo da
Codificação?
Em minha opinião, o Espiritismo
não tem nada a temer dos avanços da ciência. Isso pois o Espiritismo tem uma
característica muito sólida que pouca gente tem sabido valorizar: o Espiritismo
é uma doutrina "fenomenológica", isto é, ela tem seus pontos
fundamentais baseados fortemente nos fatos e fenômenos espíritas! Não confundir
isso com o aspecto filosófico do Espiritismo. O Espiritismo é uma doutrina
filosófica que informa e orienta a respeito da realidade espiritual. Porém, as
certezas que temos dos conceitos e princípios fundamentais do Espiritismo não
decorrem unicamente da elaboração mental de Kardec, mas de tudo o que os
Espíritos informaram e do que Kardec inferiu dos próprios fenômenos espíritas.
Em outras palavras, Kardec não formulou hipóteses abstratas para os conceitos
espíritas, mas a partir dos fenômenos e mensagens dos Espírito, ele codificou a
doutrina. Kardec não se preocupou em justificar os fenômenos espíritas com base
em teorias científicas de sua época, mas codificou para nós uma nova ciência,
que trata de um objeto de estudo até então ignorado pelas outras disciplinas
científicas: o espírito.
O caráter "fenomenológico"
e seu valor para o Espiritismo, foi destacado pela primeira vez pelo Prof.
Silvio Chibeni em artigo intitulado "Ciência Espírita", publicado na
Revista Internacional de Espiritismo de março 1991.
Há algum exemplo de
teoria fenomenológica na própria Física?
Na física, temos um exemplo de
teoria fenomenológica que mesmo desconhecida dos leitores está ACIMA da física
quântica! É a teoria chamada Termodinâmica, que é o ramo da Física que lida com
o calor e as causas e efeitos na mudança de temperatura, volume, pressão, e
outras propriedades físicas de sistemas macroscópicos. Ela foi desenvolvida no
século retrasado e é uma teoria fenomenológica por estar diretamente vinculada
aos fenômenos materiais. Por causa dessa ligação com os fatos, a Termodinâmica
possui leis que determinam os limites de validade das teorias modernas da
física (incluindo a teoria quântica). Em outras palavras, a física quântica não
teria valor se contradissesse uma que fosse das leis fundamentais da Termodinâmica.
Transpondo isso para o Espiritismo,
podemos afirmar com segurança que o Espiritismo é que deve ditar os limites de
validade de teorias futuras que irão explicar novos fenômenos espíritas. Isso
pois, o Espiritismo não é uma teoria ou doutrina baseada na imaginação de seu
codificador, mas representa os fenômenos naturais espíritas e as vozes dos bons
Espíritos.
Afinal, existe uma nova física que possibilitaria
outras vias de acesso ao conhecimento, além dos métodos da ciência atual? Que
novidade é essa?
Não existe 'nova Física' que
possibilite outra via de acesso ao conhecimento! "Para coisas novas
precisamos de palavras novas", já dizia Kardec! Quando uma nova via de
acesso ao conhecimento surgir, será preciso dar um nome novo para distingui-la
das vias de acesso conhecidas. Precisará também ser testada e verificada como,
de fato, uma "via de acesso ao conhecimento". Os defensores de uma nova
Física apenas estão pretendendo valorizar conceitos místicos, usando o status
que a Física tem na sociedade. Isso é uma forma moderna de enganar o público
leigo que não conhece Física e não sabe avaliar cientificamente a 'novidade'. É
preciso tomar muito cuidado, lembrando que Kardec sempre apoiou a ciência
formal e não movimentos pseudocientíficos.
A existência de Deus
pode ser comprovada pela ciência?
Boa pergunta! Em minha opinião,
a ciência está distante de comprovar Deus por vários fatores que vão desde os
limites próprios das teorias vigentes até os preconceitos dos cientistas. Mas,
a existência de Deus, para mim, é demonstrável através de uma análise
filosófica das "causas primárias" de todas as coisas como, aliás, bem
propuseram os Espíritos. "A filosofia seria uma investigação das causas e
princípios fundamentais de uma única e mesma realidade", frase contida e
reproduzida do Wikipédia.
O que é a mente para
a física quântica? Matéria ou inteligência?
Para a ciência, a mente é um
subproduto ou fenômeno emergente da complexa rede de neurônios. Nisso, há
teorias que propõem que a mente ou a consciência sejam fenômenos quânticos já
que neurônios e organelas contidas neles são formados por átomos e moléculas.
Até aí tudo bem, isto é, materialistas propondo que a mente seja um fenômeno
quântico é perfeitamente coerente pois a física quântica é uma teoria da
matéria. Nessas teorias, neurônios e organelas dentro deles são propostos possuírem
determinadas propriedades que só são descritas por teorias quânticas e que
essas propriedades é que dariam surgimento à consciência. O problema com essas
teorias é que por serem baseadas na física quântica, a mente ou consciência
deixa de existir quando os neurônios são desfeitos por ocasião da morte. Não
existem propriedades quânticas desvinculadas de objetos materiais! Dizer o
contrário é forçar a aceitação de conceitos não aprovados pela ciência. Para a
ciência a inteligência é, portanto, produto da matéria e acaba com a morte do
corpo.
Com a física quântica, corre-se o risco de se
confundir o que sejam os dois elementos gerais do universo: espírito e matéria?
O risco de confundir-se espírito
e matéria é mais consequência da falta de estudo doutrinário dos espíritas do
que da física quântica. Nada impede que conceitos da física quântica possam
ajudar a descrever as propriedades da matéria que forma os fluidos espirituais.
O que é preciso é, antes de tudo, que os espíritas estudem a fundo a doutrina
espírita, e para aqueles que gostam de Física, que estudem a fundo a Física
para não ficarem na superficialidade dos livros de divulgação científica e
opiniões pessoais, para assim poderem contribuir de modo mais efetivo com o
progresso do conhecimento espírita.
E o que dizer sobre
curas e terapias que se dizem quânticas ? A ciência as reconhece?
Vários autores místicos têm
sugerido a ideia de que curas milagrosas ou por meios alternativos são
quânticas. Porém, isso é mais um exemplo de tentativa de obter-se crédito
científico para um tema que não se sabe ainda explicar em termos científicos.
Não se faz esse tipo de extrapolação em pesquisa séria dentro da área de Física.
Logo, a ciência não reconhece as curas milagrosas como sendo curas quânticas.
Entretanto, podemos dizer com segurança, que a ciência reconhece um tipo de
cura quântica que os místicos até o momento desconhecem. Para a Ciência, é
possível definir cura quântica de maneira rigorosa! É bem simples. Como a
física quântica é a teoria que descreve o comportamento das partículas atômicas
e subatômicas da matéria, e como toda reação química se baseia na interação
entre átomos, a alopatia, que se baseia na reação química de drogas e compostos
diversos com as biomoléculas do nosso corpo, é quântica por natureza! Quando
tomamos um remédio para dor de cabeça, estamos realizando um tratamento
quântico para o resfriado. Quando alguém se trata de câncer através da
quimioterapia, está realizando um tratamento quântico. A aspirina (quem diria?)
é um remédio quântico.
Uma outra questão que gera controvérsias: Como
analisar o fluido cósmico? É da alçada da ciência ou é objeto de estudo
metafísico?
Tudo que Deus criou é passível
de investigação científica. O Fluido Universal (FU) foi definido pelos
Espíritos como elemento primitivo criado por Deus e presente em todo o
universo, constituindo-se na matéria-prima de tudo o que conhecemos como
matéria, inclusive os fluidos espirituais. Sendo assim, o FU é da alçada da
Ciência. Porém, precisamos "dar tempo ao tempo" e aguardar que a
ciência progrida no sentido de reconhecer a existência da alma e, depois, o
mundo espiritual, para então cogitar de estudar as variações da matéria
fluídica que o compõe. Talvez necessitemos de concepções novas para a matéria
que permitam descrever os conceitos que aprendemos no Espiritismo. O Espiritismo
apenas garante que o FU existe. Caberá à ciência descrevê-lo bem como as suas
propriedades.
Note que o espírito, isto é, o
princípio inteligente do universo, também é uma criação de Deus e, portanto, é
também passível de investigação científica, porém através de outros tipos de
métodos, como os que Kardec utilizou. Os Espíritos, assim, são da alçada da
ciência, mas na medida em que consideramos a ciência espírita. Não são da
alçada das diversas disciplinas científicas ortodoxas que por serem materiais,
por definição, não podem investigar o espírito. Só o Espiritismo, que tem todos
os ingredientes filosóficos de uma disciplina científica legítima (ver artigos)
é capaz de investigar de modo científico e completo os fenômenos espíritas. Até
mesmo a Parapsicologia, em que pese a seriedade de seus pesquisadores, não pode
ser considerada ainda uma ciência.
Naturalmente, tudo o que Deus
criou também é um objeto de estudo metafísico, por não podermos nos desvencilhar
da análise filosófica do assunto, a análise da realidade que nos cerca e nos
contém.
Qual a relação da
física quântica com a filosofia?
É papel da filosofia analisar as
possíveis interpretações dos conceitos da física quântica, buscando o
entendimento da realidade essencial das coisas, do universo. Grosso modo, a Física
tem tido sucesso na descrição de 'como' a natureza 'funciona' e não no 'porque'
ela 'funciona' dessa ou daquela maneira.
Não obstante, as dificuldades de
interpretação da teoria quântica levam algumas pessoas a pensar que a física
quântica não passa de uma mera "receita de bolo" para a descrição
quantitativa das propriedades físicas mensuráveis de um sistema físico, não
tendo, portanto, papel de revelar a realidade por trás do mesmo.
Na sua visão, a física quântica vai
identificar a existência do espírito, como inteligência, independente da
matéria?
Não! Não é a física quântica a
origem da inteligência no espírito! O espírito se revela pelo conteúdo de suas
mensagens! E foi assim que o e Espiritismo identificou e comprovou a existência
da alma, sua sobrevivência e a possibilidade de comunicação com os encarnados.
No máximo, a Física um dia irá contribuir no entendimento de como ocorre a
interação entre fluidos espirituais (perispírito, por exemplo) e matéria (corpo
físico).
Devemos combater a tentação de
obter mérito sem o devido aprofundamento no estudo. Espiritismo é uma doutrina
ao mesmo tempo simples e robusta. Simples nos seus propósitos de regeneração da
humanidade através da regeneração de cada um de nós; e robusta nas suas bases
que não são somente científicas, mas também divinas. O Espiritismo é a única
doutrina conhecida na humanidade que tem um duplo caráter de uma revelação: o
caráter divino e o científico (Kardec, item 13 do cap. I de A Gênese). Portanto, saibamos valorizar
o Espiritismo na forma como foi revelado pelos bons Espíritos, pois temos um
compromisso de estudá-lo e compreendê-lo, para então poder ajudá-lo a se
desenvolver dentro dos parâmetros de qualidade e seriedade que o tornarão
conhecido e respeitado por todos.
[1] Entrevista, realizada por Eliana Haddad, publicada em
versão simplificada no jornal Correio Fraterno, edição 452 - julho-agosto/2013.
[2] Participa no Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru,
SP, e da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. É fundador do Jornal de Estudos
Espíritas (JEE), publicação online dedicada com artigos de pesquisa espírita.
[3] ENLIHPE – Encontro da Liga dos Historiadores e
Pesquisadores Espíritas
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