Devaldo Teixeira de Araújo
Há dias tenho pensado sobre
nossas dificuldades em bem compreender e praticar a verdadeira atitude cristã e
também cidadã, em nossa interação social, em face do atual estado de
turbulência por que passamos de um modo geral, em que alguns se revoltam pela indignação
ante as causas e circunstâncias que ocasionaram e motivam tal situação adversa.
Enquanto outros, alheios aos reais e graves problemas que se nos defrontam, se
iludem no marasmo a que se prestam ou até mesmo são induzidos, e se comprazem
como se julgando bastar-se a si mesmo, por puro egocentrismo, muitos
inconscientemente, esquecidos de que somos seres sociais e, como tal,
interdependentes. E, portanto, necessitamos da convivência social, que, quando
em uso consciente de nossas faculdades superiores, compreendemos que não
poderemos viver e sermos felizes isoladamente, jamais.
Por isso, tenho convicção de que
a nossa verdadeira felicidade, em paz de espírito, não pode se dar,
exclusivamente; tal quando, por exemplo, vemos ao nosso redor situações
conflitantes, injustiças e abusos, que ocasionam sofrimentos aos nossos
semelhantes, mesmo que estes não façam parte de nosso convívio direto e até
mesmo estejam noutro patamar social. Por termos a nossa corresponsabilidade
social para com tudo e todos, se não estivermos com nossa consciência ou
faculdades superiores entorpecidas pelo egoísmo das preocupações apenas
imediatistas, na ilusão das vantagens e prazeres exclusivistas, alheios aos
problemas que atingem os nossos semelhantes de todas as esferas.
E percebo que esse estado de
descaso se dá por pura alienação, literalmente, fruto do egoísmo que se nos
acerca de todas as formas e circunstâncias. Por falta da autêntica empatia, ou
seja, dessa capacidade de compreensão dos sentimentos de outrem, de interpretar
os desejos e as necessidades do próximo sem que seja preciso a verbalização; da
habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa (que é, sabidamente, a
melhor forma de se julgar alguém); do envolvimento emocional; enfim, do
verdadeiro sentimento de amor ao próximo. E, por isso, o individualismo nocivo
em detrimento de outrem, que tanto vemos e sentimos em nossa sociedade,
contrariando os exemplares ensinamentos do divino Mestre Jesus, guia e modelo
para a Humanidade.
Nesse contexto, esclareceu-nos o
primoroso Emmanuel: “O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da
Terra, a cujo progresso moral obsta”. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual
todos os verdadeiros crentes devem apontar suas ‘armas’, dirigir suas forças,
sua coragem. Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para
vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto,
empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro
devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de
todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte,
o maior obstáculo à felicidade dos homens.
Jesus vos deu o exemplo da
caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois, quando o primeiro, o Justo, vai
percorrer as santas estações do seu martírio, o outro lava as mãos, dizendo:
Que me importa! …
Expulsai da Terra o
egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de
a Humanidade envergar sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o
elimineis dos vossos corações[2].
O que me faz lembrar e oportuno
repetir o que pensei e escrevi em 2004: “Na raiz de todos os nossos males
encontramos a obscuridade do egoísmo; enquanto em todas as realizações
dignificantes encontramos a luz do Amor”.
Exercitemos, então, a
empatia edificadora em contrapartida ao egoísmo destrutivo!
[2] O Evangelho
Segundo o Espiritismo, c. XI, item 11
– Allan Kardec
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