São Vicente de Paulo - Paris, 1858
Sede bons e caridosos: eis a
chave dos céus, que tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta
máxima: "Amai-vos uns aos outros".
A alma não pode elevar-se às regiões
espirituais senão pelo devotamento ao próximo; não encontra felicidade e
consolação senão nos impulsos da caridade. Sede bons, amparai os nossos irmãos,
extirpai a horrível chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, o caminho da
felicidade eterna deve abrir-se para vós. Aliás, quem dentre vós não sentiu o
coração pulsar, crescer sua alegria interior, ao relato de um belo sacrifício,
de uma obra de pura caridade? Se buscásseis apenas o deleite de uma boa ação,
estaríeis sempre no caminho do progresso espiritual. Exemplos não vos faltam; o
que falta é a boa vontade, sempre rara. Vede a multidão de homens de bem, de
que a vossa história evoca piedosas lembranças.
O Cristo não vos disse tudo o
que se refere a essas virtudes de caridade e amor? Por que deixastes de lado os
seus divinos ensinamentos? Por que fechar os ouvidos às suas divinas palavras,
o coração às suas doces máximas? Eu desejaria que se votasse mais interesse,
mais fé às leituras evangélicas; mas abandona-se esse livro, considerado como
texto quimérico, mensagem cifrada; deixa-se no esquecimento esse código
admirável. Vossos males provêm do abandono voluntário desse resumo das leis
divinas. Lede, pois, essas páginas ardentes sobre a abnegação de Jesus, e
meditai-as.
Homens fortes, armai-vos; homens
fracos, fazei da vossa doçura, da vossa fé, as vossas armas; tende mais
persuasão e mais constância na propagação de vossa doutrina. É apenas um
encorajamento que vimos dar-vos, e é para estimular o vosso zelo e as vossas
virtudes, que Deus permite a nossa manifestação. Mas, se quisésseis, bastaria a
ajuda de Deus e da vossa própria vontade, pois as manifestações espíritas se
produzem somente para os que têm olhos fechados e os corações indóceis.
A caridade é a virtude
fundamental que deve sustentar o edifício das virtudes terrenas; sem ela, as
outras não existiriam. Sem a caridade, nada de esperar uma sorte melhor, nenhum
interesse moral que nos guie; sem a caridade, nada de fé, pois a fé não é mais
do que um raio de luz pura, que faz brilhar uma alma caridosa.
A caridade é a âncora eterna de
salvação em todos os mundos: é a mais pura emanação do Criador; é a Sua própria
virtude, que Ele transmite à criatura. Como pretender desconhecer esta suprema
bondade? Qual seria o coração suficientemente perverso para, assim pensando, sufocar
em si e depois expulsar este sentimento inteiramente divino? Qual seria o filho
bastante mau para revoltar-se com essa doce carícia: a caridade?
Não ousarei falar daquilo que
fiz, porque os Espíritos também têm o pudor de suas obras; mas considero a que
iniciei como uma das que mais devem contribuir para o alívio de vossos semelhantes.
Vejo frequentemente os Espíritos pedirem por missão continuar a minha tarefa; eu
os vejo, minhas doces e queridas irmãs, no seu piedoso e divino ministério; eu
os vejo praticar a virtude que vos recomendo, com toda a alegria que essa
existência de abnegação e sacrifícios proporciona. É uma grande felicidade,
para mim, ver quanto se enobrece o seu caráter, quanto a sua missão é amada e
docemente protegida. Homens de bem, de boa e forte vontade, uni-vos para
continuar amplamente a obra de propagação da caridade. Encontrareis a recompensa
dessa virtude no seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não proporcione
desde a vida presente. Permanecei unidos. Amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos
do Cristo.
Assim seja!
[1] O Evangelho
segundo o Espiritismo – Capítulo XIII –
“Que a Mão Esquerda não saiba o que faz a Direita” – Allan Kardec.
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