segunda-feira, 18 de junho de 2018

Alverico Perón[1]





Enrique Pastor y Bedoya (Alverico Perón foi o pseudônimo que utilizou na sua tarefa espírita) nasceu em Madrid, Espanha, em 29 de Dezembro de 1833. Seu pai, Luis Maria Pastor Cox (1804-1872), era um notável economista que chegou a ser ministro da Fazenda em 1853, durante o governo do General Lersundi. Do mesmo modo que o seu progenitor, Enrique estudou Economia, encaminhando seus passos como funcionário público no Ministério da Fazenda, onde ocupou diversos cargos.
Conheceu o Espiritismo no ano de 1858, dedicando-se de imediato à leitura de tudo o que fora escrito sobre o tema até então. Este precoce conhecimento do Espiritismo ocorreu por intervenção do seu pai, que tendo viajado aos Estados Unidos soube do movimento do Novo Espiritualismo, que desde 1848, após os fenômenos protagonizados pelas irmãs Fox, estava em auge naquele país; iniciou estudos sobre a questão em Cádiz em 1852, frequentando também as reuniões que com esse motivo e com finalidade experimental, ocorriam em Cádiz desde 1854. A partir daquela época, a sua principal ocupação foi o estudo e propaganda da Doutrina Espírita.
Em 1861 publica, como anônimo, no jornal madrileno La Razón, a “Carta de um espírita a D. Francisco de Paula Canalejas”[2], folheto com extratos de O que é Espiritismo, de Allan Kardec, primeiro trabalho sobre a matéria que saiu à luz pública na Espanha[3]. Dela fez-se uma edição em 1865, na Imprensa de Manuel Galiano de Madrid e, três anos mais tarde, O Critério Espírita tornou a reproduzi-la em suas colunas, nos números 1 e 2 da publicação, correspondentes aos meses de Novembro e Dezembro de 1868, respectivamente.
Em 1865 funda a Sociedade Espírita Espanhola, sendo o seu primeiro presidente; essa Sociedade misturou-se com a Sociedade Progresso Espírita de Zaragoza em 1871, quando a maioria dos sócios ativos desta última se estabeleceu em Madrid, instalando-se a nova sociedade na Rua Cervantes.
No mês de janeiro de 1868 funda em propriedade, em Madrid, a revista O Critério, legendada “revista quinzenal científica”, sendo seu primeiro diretor Joaquim Huelves Temprado; a censura, ao princípio, proíbe qualquer alusão ao Espiritismo.
Porém a revolução de 1868 inaugura uma nova era de liberdades públicas na Espanha; dessa forma, no número XVII da publicação, correspondente ao dia 16 de Setembro, é inserido um suplemento com o anúncio da cessação da revista para dar espaço ao lançamento de O Critério Espírita. Com esse novo nome, o primeiro número viu a luz em Novembro desse mesmo ano, figurando como órgão da Sociedade Espírita Espanhola, e mais tarde também do Centro Geral do Espiritismo na Espanha (fundado por Torres Solanot em 1873), e da Sociedade Propagandista do Espiritismo. Desde então, seu diretor passa a ser Alverico Perón, ocupando o cargo até 1870.
Durante os anos de 1867 e 1868, Alverico Perón susteve o movimento espírita, apesar da dura guerra que naquele tempo se travou contra ele na Espanha, contando com a cooperação do pintor Angel Alonso Martinez, do general Juan Montero Gabuti, do brigadeiro D. Joaquim Perez Rozas, do engenheiro de minas Lucas Aldana, de Joaquim Huelves e de muitos outros esforçados e decididos propagandistas, sendo que alguns deles mais tarde não consideraram necessário prosseguir na tarefa.
Alverico Perón foi causador de muitas das conversões às ideias do Espiritismo em pessoas importantes de Madrid naqueles anos, durante os quais fundou vários círculos particulares, onde foram obtidos magníficos resultados de magnetização e grandes demonstrações de êxtase sonambúlico com a intervenção de seu irmão Manuel, um dos melhores médiuns de escrita automática da Sociedade Espírita Espanhola.
Sempre manteve contínua correspondência, e por várias vezes visitou Paris, para conferenciar com Allan Kardec, que o considerava como um dos seus mais ativos e inteligentes discípulos.
Exerceu o cargo de comissário da Fazenda da Espanha em Londres, onde manteve estreita relação com o grande médium Daniel Douglas Home e os principais espíritas ingleses. Teve aqui, também, a oportunidade de revisar as obras de Lady Maria Caithness[4] , escritas naquela capital. Além disso, ele realizou trabalhos de correspondente dos jornais de Madrid A Correspondência da Espanha, O Dia e outros, onde costumava assinar com o pseudônimo “B. de Oya”.
Traduziu numerosos livros ao espanhol: do francês, as obras de Xavier Montepin e o “Resumo da Filosofia Espírita”, de Allan Kardec (Sociedade Espírita Anônima Barcelonesa. Barcelona, 1872); do italiano, “Manual do Magnetizador Prático”, de Regazzoni (Rev. de Estudos Psicológicos. Barcelona, s/d).
Dirigiu A Tribuna dos Economistas (1857 - 1858) e a Revista de Estudos Psicológicos (Barcelona) após José Mª Colavida e o Visconde de Torres Solanot. Foi também redator de A Voz do Século (1868-1869).
Além da já mencionada, escreveu as seguintes obras espíritas: “O Infinito: estudo Espírita” (Rev. de Estudos Psicológicos, Barcelona, estimado em 1899); “A Fórmula do Espiritismo” (Madrid, 1868, folheto dedicado a Allan Kardec); “Miscelânea Espírita” (controvérsias, dissertações, doutrina, experiências, estudos, comunicações mediúnicas, II tomos, Barcelona, estimado em 1899); “Espiritismo ao alcance de todos”; e a novela “O dote de Margarida” (sua última obra, também de conteúdo espírita, Garnier Irmãos, Paris; Barcelona, 1879; e Imprensa de M. Galiano, Madrid, 1891).
Outras obras suas de temática não espírita são: “Um livro a mais”, coleção de vários escritos publicados e inéditos (Madrid, 1861); “A Democracia monárquica” (1881), “Sarasate” (Londres, 1890), e o folheto “Uma brincadeira pesada de Miguel de Cervantes Saavedra: Anedota histórica” (Wertheimer, Lea y Ca., 1872, 24 p.; 17 cm. Coleção: Biblioteca de Ambos os Mundos).
Foi incansável defensor da filosofia espírita, a cujo sucesso contribuiu notavelmente, trabalhando em seu favor quando o tempo e as circunstâncias lhe permitiram fazê-lo; seu lema foi sempre a lei do amor e do dever, e a crença em um ser eterno.
Uma das suas últimas tarefas no seu denodado esforço pela divulgação da Doutrina dos Espíritos foi a fundação em 1896 em Barcelona, do semanário espírita Sócrates, de breve duração. Porém, apesar da sua efêmera vida, circunstância que acreditamos devida ao prematuro falecimento do seu promotor, a revista publicaria durante a sua breve existência uma ótima biblioteca, com interessantes folhetos.
Enrique Pastor y Bedoya, Alverico Perón, desencarnou em 1897; segundo algumas fontes em Madrid; em Huesca, segundo outras.
Fontes: Oscar Garcia Rodriguez - Grupo Espírita de La Palma - Setembro de 2004 (tradução de Tereza da Espanha)





[2] A “Carta” está datada em Madrid em 5 de junho de 1861.
[3] Como antecedentes, dentro da fase pré-espírita do Novo Espiritualismo, é preciso mencionar dois folhetos publicados em Cádiz (1854), e em Gibraltar (1857), ambos referidos a experiências de comunicação com espíritos através da tiptologia, de uma Sociedade radicada em São Fernando, Cádiz.

[4] Lady Maria Caithness, (antes Maria Mariategui), Duquesa de Medina Pomar por casamento com o general Duque de Pomar, autora de “Old Truths in a new life”, “Mystery of the Ages”, “A midnight visit to Holyrood”, foi uma figura popular no Madrid de 1850-1860. Após a morte do Duque de Pomar, estabelece-  se na Inglaterra, onde contrai novo matrimônio com o Duque de Caithness, escocês, que faleceu legando a ela uma imensa fortuna. Antes tinha conhecido o Espiritismo em Madrid, do qual se tornou firme partidária.



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