François Riquier, homem muito
comum, era um velho solteirão avarento, morto em C..., há quatro ou cinco anos,
deixando aos colaterais uma fortuna considerável.
Tinha sido senhorio de uma de
nossas amigas, a Sra. F... Esta senhora o havia esquecido por completo quando
sua filha, ultimamente sujeita a crises de catalepsia, seguidas de sono
magnético espontâneo, viu, durante o sono, o Sr. Riquier, o qual, diz ela,
queria falar com sua mãe.
Alguns dias mais tarde, a filha
da Sra. F..., aliás, boa médium escrevente, tomou do lápis e obteve a
comunicação seguinte, ao final da qual Riquier pôs seu nome e endereço
completo. Não conhecendo tal endereço, a Sra. F. foi verificá-lo e ficou muito surpreendida
ao constatar que a indicação era perfeitamente exata.
Eis a comunicação, que é um novo
exemplo das penas reservadas aos Espíritos culpados. Como ele se manifestara
espontaneamente e exprimira o desejo de falar à Sra. F..., foi-lhe feita esta
pergunta:
Que quereis de nós?
– O meu dinheiro, que aqueles miseráveis tomaram todo,
para repartirem entre si. Venderam minhas fazendas, minhas casas, para dividir
tudo. Dilapidaram meus bens, como se não fossem meus. Fazei-me justiça, porque
eles não me escutam e não quero presenciar tais infâmias. Dizem que eu era usurário
e guardam o meu dinheiro! Por que não me querem devolver, se acham que foi mal
adquirido?
Mas vós estais
morto, homem de Deus! Já não precisais de dinheiro. Pedi a Deus uma nova
existência pobre, a fim de expiardes a avareza desta.
– Não; não poderia viver pobre. Necessito do meu dinheiro
para viver. Aliás, não preciso de outra vida, pois estou vivo agora.
(A pergunta seguinte foi feita com o objetivo de o trazer
à realidade).
Sofreis?
– Oh! Sim; sofro piores torturas que a doença mais cruel,
porquanto é minha alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente no
pensamento a iniquidade de minha vida que, para muitos, foi motivo de
escândalo. Bem sei que sou um miserável, indigno de piedade; mas sofro tanto
que necessito de ajuda para sair deste estado miserável.
Oraremos por vós.
– Obrigado! Rogai para que eu esqueça minhas riquezas
terrestres, sem o que jamais poderia arrepender-me. Adeus e obrigado.
François Riquier
Rue de la Charité, nº
14
Observação – Este
e muitos outros exemplos análogos provam que o Espírito pode conservar, durante
muitos anos, a ideia de que ainda pertence ao mundo corpóreo. Esta ilusão não é
exclusiva dos casos de morte violenta; parece ser a consequência da materialidade
da vida terrena. A persistência do sentimento de tal materialidade, que não
pode ser saciada, é um suplício para o Espírito. Além disso, aí encontramos a
prova de que o Espírito é um ser semelhante ao ser corpóreo, embora fluídico,
porque, para que ainda se julgue neste mundo, continue ou acredite continuar, poder-se-ia
dizer, para consagrar-se aos seus negócios, ser preciso que ele se veja em
forma e num corpo como em vida. Se dele não restasse mais que um sopro, um
vapor, uma centelha, não poderia enganar-se quanto à sua situação. É assim que
o estudo dos Espíritos, mesmo vulgares, vem nos esclarecer quanto ao estado real
do mundo invisível e confirmar as mais importantes verdades.
[1] Revista
Espírita – Agosto/1862 – Allan Kardec
Nenhum comentário:
Postar um comentário