Marco Milani
O comportamento do indivíduo
reflete muitos condicionamentos desenvolvidos em sua própria história. Sob a
perspectiva espírita, sabemos que somos seres imortais vivenciando
oportunidades evolutivas para realizarmos a perfeição relativa de que somos
suscetíveis. Nesse sentido, estamos experimentando situações que nos farão
exercitar a inteligência e desenvolver aspectos morais, permitindo-nos conhecer
a nós mesmos e compreender a realidade em que vivemos, estejamos nós encarnados
ou desencarnados. Também sabemos que naturalmente somos atraídos e atraímos
essas situações, em que nos compete agir conforme a responsabilidade e
conhecimento de cada um.
A Doutrina Espírita nos favorece
a compreensão desse processo evolutivo e representa um avanço para a humanidade
em relação à superação de condicionamentos místicos e irracionais que distorcem
a percepção da realidade. As relações entre os mundos físico e espiritual são
apresentadas com lucidez e clareza que chegam a surpreender aqueles que ainda
apreciam segredos e mistérios típicos das tradições de culturas do passado. O
Espiritismo revoluciona com sua racionalidade e liberta consciências do
pensamento mágico e ilusório. Tal superação, entretanto, exige esforço
individual e não se deve esperar que todos avancem igualmente. O atavismo
manifesto em alguns adeptos que ainda lutam para se desvencilhar de práticas e
posturas que são reconhecidas como ineficazes e sem qualquer validade nas
relações entre encarnados e desencarnados ou mesmo para com Deus é um fato.
A marcha progressista fará com
que todos avancem, mas cada um a seu tempo. Não é por isso, contudo, que o
comportamento atávico deva ser incentivado. Ao contrário, respeitosamente se
deve esclarecer e incentivar essa superação e foi justamente nessa direção que
Kardec e os Espíritos que estruturaram o corpo teórico espírita agiram.
Se por um lado, a proposta
religiosa destacou a necessidade de relevantes padrões éticos, por outro os
condicionamentos resultantes de séculos de adestramento, misticismo e opressão
religiosa ainda se fazem sentidos em boa parte da humanidade. Uma
característica marcante desse comportamento é o temor, submissão e a noção de
troca com o sagrado. Certamente, aqueles que se declaravam representantes de
Deus, Jesus ou de forças ocultas na Terra contribuíram para o apassivamento de
comunidades inteiras e a criação de uma relação de dependência de
intermediários aparentemente iluminados para interceder em nome dos seguidores.
Essa dependência por intermediários ou por práticas supostamente relacionadas
ao Divino e misterioso ainda faz com que muitos tendam a procurar alguém ou uma
instituição para depositar suas esperanças em busca de salvação ou de
suprimento de seus anseios. Adotam o comportamento de ovelhas em busca de um
pastor para lhes guiar e prover.
Especificamente no Brasil, um
país de tradição católica e influência sincrética de diferentes denominações
religiosas, é compreensível que muitos cheguem ao centro espírita expressando o
desejo salvacionista e com forte dependência por intermediários com o
invisível. Quando passam a conhecer e estudar o Espiritismo, deparam-se com uma
lógica inovadora para a maioria, na qual cada um é responsável por sua própria
salvação sem depender da intervenção de qualquer pessoa ou ter que seguir
ritos, interpretar símbolos, contribuir com o dízimo ou adotar práticas
exteriores.
A síndrome de ovelha ainda pode
se manifestar em muitos adeptos espíritas, mas à medida que vão se
conscientizando de que nasceram para ser pastores de si mesmos passam a reduzir
o grau de dependência por supostos condutores de alma e aumentam a
autoconfiança em busca da própria realização espiritual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário