Adriana Machado
É engraçado pensarmos como pode
ser inestimável o vazio que sentimos em nosso ser! Mas, se pensarmos em algumas
de suas utilidades, veremos o quanto ele é especial.
Esse vazio existencial,
normalmente, é produzido, gradativa e inconscientemente, por cada um de nós, em
razão de alguma “perda” que acreditamos ter tido em nossa vida. E essa perda
nos provoca muita dor.
Só perceberemos que algo não
está indo bem se tivermos o hábito de olhar para nós mesmos.
Como é sabido, nós não gostamos
de sofrer, então, agiremos, consciente ou inconscientemente, para que não
sintamos com profundidade qualquer dor.
Quando estamos acostumados a
olhar para dentro de nós, realizamos essa tarefa, racional e conscientemente, nos
dando a chance de buscar em nossas crenças as respostas para não sofrermos
intensamente. Devagar, conseguiremos o nosso intento, porque, sabendo o que nos
incomoda, não sofreremos tanto ou por tanto tempo.
A maioria de nós, entretanto,
não tem o hábito de se analisar rotineiramente, o que pode provocar a vivência
de suas dores de uma forma muito inconsciente e a longo prazo. Se assim é,
quando nos deparamos com a perda de alguém ou algo que nos é caro, sofremos com
intensidade, a mesma com que amamos esse ser ou o seu significado em nossa
vida.
Se acreditarmos que perdendo
alguém ou alguma coisa, ficará em nós esse vazio, representado por um “buraco
em nossa alma”, enquanto não o preenchermos, ele nos atormentará e provocará
uma sensação de solidão que, com o passar do tempo, parecerá insuportável.
Por isso, por ser gradativo e
inconsciente o seu agravamento, acabamos tendo dificuldade de perceber que
usamos subterfúgios defensivos para tapar esse buraco! É aí que começamos a
comer demais, a beber demais, a comprar demais, a falar demais, a nos afastar
demais daqueles que fazem parte da nossa vida.
O problema é que apesar de no
início essas atitudes maquiarem a dor, elas não vão nos salvar da avalanche de
sentimentos que estaremos acumulando, em razão daquele vazio. Com o passar do
tempo elas se tornarão vãs e sem sentido.
Será a partir daí que
conseguiremos enxergar os nossos conflitos interiores, porque nada mais
conseguirá maquiar a dor e a perda sentidas, aí então teremos condições de nos
movimentar para as mudanças que são tão necessárias para o nosso crescimento
como seres divinos.
Vocês já devem estar se
perguntando como o vazio é inestimável para o nosso ser. É simples, se caímos
nessa armadilha de sofrermos diante de algo que perdemos é porque estamos
vivendo a nossa existência baseada em uma mentira. O que é verdadeiramente
nosso, nós não perdemos. Se achamos que perdemos, é porque tínhamos criado uma
verdade deturpada, acreditando que poderíamos manter uma relação equivocada de
propriedade com alguém ou alguma coisa que, na verdade, jamais nos pertenceu e
isso precisava ser, em algum momento, revisto por nós.
O ponto é que, se precisamos
aprender essa lição, mas, passar por essa dor está sendo insuportável, é porque
necessitamos de um tempo para poder senti-la e superá-la. Esse tempo nos foi
dado pela construção desse vazio e pelos efeitos que ele produziu para que, no
tempo certo, pudéssemos fazer tais mudanças.
Se todos nós só nos permitimos
mudanças significativas quando algo nos incomoda, esse vazio será o instrumento
precioso e necessário que adotaremos quando dele precisarmos. E será a partir
dele que daremos passos mais seguros para o nosso crescimento individual e
fortalecimento de nossas crenças nas verdades divinas que nos regem, apesar das
dores sentidas.
Portanto, nosso vazio
existencial será inestimável, enquanto necessitarmos dele.
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