Ângela Maria Telles
“Não ajuntem riquezas aqui na
Terra, onde as traças e a ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e
roubam. Pelo contrário, ajuntem riquezas no Céu, onde as traças e a ferrugem
não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las. Pois onde
estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês[2]”.
O sinal mais característico da
imperfeição é o interesse pessoal, sendo notório de inferioridade o apego às
coisas materiais[3].
Quando o nosso ego domina nossas
ações temos atitudes egoísticas de somente satisfazer nossos desejos e
vontades, sem medir as consequências por essa escolha.
Aprendemos que é necessário nos
desapegarmos, para tanto se faz necessário mantermos a nossa alma livre das
coisas exteriores, procurando nos libertar das paixões, do ódio e de todos os
impulsos que o geram.
Precisamos praticar a abnegação
e o desprendimento de nós mesmos. Desapegar-nos da ideia, da imagem que os
outros têm de nós.
A felicidade consiste em
desapegar-nos das situações e sentimentos que impedem que fechemos ciclos, com
o objetivo de iniciar etapas novas. É importante assegurar de que tenhamos o
cuidado de não ficarmos magoados e, principalmente, não deixarmos mágoas nos
outros.
Não significa que devemos amar
menos ou nos descuidarmos, ao contrário, enquanto o amor liberta e cuida, o
apego aprisiona e sufoca.
O verdadeiro amor é aquele que
liberta, rompendo as algemas do egoísmo, do orgulho e do ressentimento.
A libertação pelo amor, como
afirma o Espírito Joanna de Ângelis, é o luminoso caminho para encontrarmos a
plenitude e praticarmos a caridade. As atitudes de caridade moral,
representadas pelo perdão, pelo sorriso generoso, pela doação de ternura e pela
renúncia aos embustes do nosso ego, são as expressões mais elevadas da caridade[4].
Numa hora como esta, em que
vivemos com tanta violência, desagregação e conflito, que o amor luarize a
nossa saudade! Que o amor pacifique a nossa ansiedade! Que o amor, à semelhança
de um punhal, penetre-nos a alma, rasgando-nos a treva interior e deixando
brilhar a luz da esperança, a fim de que a felicidade seja como uma legítima
fada, cantando um hino de paz dentro de nossas vidas4.
No mundo informatizado em que vivemos, na
atualidade, estamos transferindo o desapego para pessoas. Vivemos um modelo
descartável de relacionamentos. Basta um clique e adicionamos mais um amigo a
uma lista cada vez mais interminável, lista essa que alimenta um ego cada vez mais
poderoso, sustentando curtidas e visualizações.
E nesse mundo condicionado a
cliques, imagens, emoticons, somos
cada vez mais visualizados e aplaudidos, desde que digamos, postemos,
fotografemos o nosso lado luz, tal quais as luzes de um teatro que ao levantar
as cortinas dá-se inicio ao show das ilusões, do efêmero.
Não temos paciência para os
desagradáveis, para aqueles que questionam. Aproximamo-nos e tão rapidamente
nos afastamos, porque é o momento do desapego, do descartável. A estes
respondemos com um novo clique e com a agilidade de dedos de um ilusionista e
apagamos o enfadonho amigo.
“Pertencemos à geração do descartável,
‘desinventamos’ o duradouro”.
Resistência e boa qualidade
tornaram-se palavras sem sentido, o máximo que admitimos é a obsolescência
planejada. Tudo tem prazo de validade, precisa mudar.
Esse “descartismo” contaminou os
sentimentos. Os sentimentos não mudaram, mas agindo como se eles fossem
descartáveis magoamos e oferecemos sofrimento.
Os relacionamentos estão sendo
como conexões, facilmente se ligam e se desligam. Vivemos na cultura da
substituição.
“Tu te tornas eternamente responsável por
aquilo que cativas [5]”.
Cativar significa fazer o outro gostar
de você e implica uma responsabilidade.
Se criamos laços com as pessoas
é para que elas gostem de nós, por isso somos bonzinhos, educados e amáveis.
Usamos esses argumentos para cativar. Sem pensar na responsabilidade que é o
outro gostar de nós e a consequência disso. A consequência de ter uma pessoa
que investiu em você, investiu em sentimentos.
As coisas que vivemos aqui
passam, mas o bem que praticarmos aqui é o que vai embora, que vai conosco, que
nos leva a evoluir. Construímos laços, exatamente, para realizarmos as provas
que vivemos aqui.
Não pensamos muito nas
responsabilidades, porque responsabilidade sufoca. Preferimos viver na
superficialidade dos relacionamentos e não criarmos vínculos.
Às vezes, estamos diante de uma
fonte generosa e continuamos sedentos, porque nos negamos a beber a água pura[6].
Precisamos aprender a amar com
desapego, ampliar o número de nossos afetos, sem a ilusão da posse. Se formos
chamados a nos ausentar, pela desencarnação, continuemos a valorizá-los,
respeitando-os e ajudando-os. Estaremos no caminho do desapego, mas
continuaremos a amá-los, da mesma forma[7].
Que a paz de Jesus esteja com
todos.
Fonte: Agenda Espírita
Brasil
[2] Mateus 6:19-21
[3] O Livro dos
Espíritos – Questão 895
[4] Sexo e Consciência. 1ª ed./ Divaldo Pereira Franco;
Lopes, Luiz Fernando (org.). Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2013.
[5] O Pequeno Príncipe/ Antoine de Saint-Exupéry,
(2001.p.74).
[6] O Despertar do Espírito/ pelo Espírito Joanna de
Ângelis; psicografado por Divaldo Pereira Franco. Salvador, BA; Livraria
Espírita Alvorada, 2000. Cap.7 (Relacionamentos Humanos)
[7] O Voo da Gaivota, cap. Colóquio Interessante, Espírito
Patrícia – psicografia de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário