Adenáuer Marcos Ferraz de
Novaes
Presente nas mais diversas
culturas, a reencarnação desafia o tempo, permanecendo viva na mente e nas
crenças do ser humano. Desde a mais remota antiguidade até os nossos dias, ela
vem sendo a forma mais completa de explicar os diversos e complexos fenômenos
da experiência humana. Sua credibilidade vem de evidências experimentais, de
provas sob rigoroso controle científico. A reencarnação é hoje um fato
cientificamente provado. Com fortes evidências sob o ponto de vista da ciência,
já alcançou a atenção dos institutos de pesquisas das universidades. Não é
difícil demonstrar, através de provas científicas, que a Reencarnação é uma lei
universal e que a evolução humana se processa através dela. Reencarnar é o
retorno a um novo corpo, através de um novo nascimento, via fecundação, da
personalidade individualizada do ser humano. Retornar significa voltar com a
mesma individualidade anterior. Apesar de mudar-se de nome não se passa a ser
outra pessoa. A personalidade anterior se modifica a partir do nascimento, com
um novo ambiente, porém o espírito é o mesmo. Encontramos como sinônimo de
reencarnação o termo palingênese, que significa nascer de novo e o termo
metempsicose, de origem grega, cujo significado aproxima-se do de reencarnação,
porém, ao contrário do conceito espírita, que só admite o retorno a um corpo
humano, aceita também o regredir às formas animais. Os mais antigos livros onde
encontramos a doutrina da reencarnação são os Vedas, de cuja matriz surgiram
grande parte das religiões e sistemas filosóficos da Índia, e que contêm hinos
sagrados cuja origem remonta há muitos anos antes de Cristo. No Egito, as
dinastias mais antigas acreditavam na preexistência da alma, antes do seu
nascimento, assim como na sua pós-existência depois da morte, e nos muitos nascimentos
da alma neste e em outros mundos.
Religiões significativas da
Pérsia, principalmente o Zoroastrismo, na sua forma genérica popular e
dinâmica, seguiam doutrinas contendo a reencarnação, sendo que no Zoroastrismo
(século VII a. C.) há a concepção de uma espécie de justiça cósmica de que as
almas recebiam os seus prêmios ou castigos merecidos nas vidas futuras. Há
registros de que da Pérsia a crença da reencarnação foi levada à Grécia.
A religião ortodoxa Islâmica não
aceita nenhuma doutrina de reencarnação. Apesar disso, algumas escolas
esotéricas dentro do Islamismo – tais como os Sufis e os Drusos, defendem
fortemente a reencarnação. Alguns místicos islâmicos e poetas sufis como Rumi,
Hafiz e outros, defendiam abertamente a reencarnação.
De acordo com Flavius Josephus,
o primeiro historiador judeu do século I d. C., as três escolas antigas de
pensamento e prática da religião judaica – os Saduceus, os Fariseus e os
Essênios – diferenciavam-se acerca do destino da alma após a morte do corpo. Os
Saduceus defendiam que a alma morre juntamente com o corpo. Os Fariseus
mantiveram a imortalidade da alma, o renascimento das almas das pessoas boas
noutros corpos e o castigo eterno das almas dos mais fracos. Os Essênios
aceitavam a imortalidade e rejeitavam a reencarnação. O Velho Testamento contém
passagens (Provérbios 8:22-31; Jeremias 1:4-5 nos quais o autor professa que
teriam existido anteriormente ao nascimento físico, com destaque para Malachias
(4:2-6) que previu o retorno de Elias à Terra).
No Alasca, entre os índios da
tribo Tlingits, é crença geral que os mesmos sinais e cicatrizes podem
reaparecer no corpo do renascido. Entre os Esquimós, há inúmeros casos de
pessoas que se recordam de suas vidas pregressas. Diversas tribos americanas,
dentre elas os Peles-Vermelhas, aceitam a reencarnação. Os Winnibagos creem na
reencarnação. Crença idêntica existe entre os índios Chippeway. Eles estão
certos de que, em seus sonhos, podem reviver acontecimentos de encarnações
passadas.
A principal corrente do Cristianismo
ortodoxo, o Catolicismo, nunca acolheu abertamente a doutrina da reencarnação
nas suas crenças, enquanto pensadores importantes e seitas dinâmicas abraçaram
uma ou outra versão da doutrina dos renascimentos terrestres. Um conselho
Ecumênico importante (o 2º de Constantinopla, em 553 d. C.), de acordo com a
crença comum anatematizou todas as concepções da preexistência da alma e do
renascimento, que faziam parte das teses de Orígenes (185 – 254 d. C.),
excomungado em 232 d. C. por adotar a reencarnação. Um dos expoentes máximos da
Igreja, Clemente de Alexandria (preceptor de Orígenes) aceitava a reencarnação
e, ainda mais, afirmava que São Paulo também professava tal crença.
Nos Diálogos de Platão - Fédon,
Banquete e República a reencarnação é apresentada como um dos ensinos de
Sócrates. Em República, livro X, p. 614 à 620, há o episódio de Er, filho de
Armênio, originário da Panfília, que, após 12 dias de morte aparente,
recupera-se e conta o que viu no mundo dos mortos. Relatou como se dá o retorno
das almas para o renascimento. Anteriormente a Sócrates, pelo menos Pitágoras,
Heráclito e Empédocles expressaram explicitamente ideias de reencarnação. Em
Fedro, Platão atribuiu a Sócrates a doutrina da existência da alma antes de
entrar neste mundo, assim como a sua sobrevivência. A despeito da Filosofia e
em pleno século XX, as investigações sobre o tema tomaram novo impulso. Na
França, com Albert Des Rochas, na Índia com Hamendras Nat Banerjee, nos Estados
Unidos, com Ian Stevenson. Cada um à sua época desenvolvendo diferentes métodos
de pesquisas, a partir de fatos concretos, trouxeram nova luz a respeito da
reencarnação, principalmente introduzindo-a como objeto de investigação
científica. As pesquisas em torno da reencarnação verificam-se em vários campos;
dentre eles tem-se a Regressão de Memória e as Lembranças Espontâneas na
Infância. Entre os estudiosos de regressão de memória destaca-se Albert De
Rochas, Edith Fiore, Denis Kelsey, Morris Netherton, Helen Wambach e Hermínio
Miranda. Todos eles desenvolveram experiências em torno da regressão de memória
com resultados surpreendentes, que extrapolaram os espaços científicos,
penetrando nos consultórios de psicólogos como técnica terapêutica.
Nas pesquisas de Lembranças
Espontâneas na Infância, destacam-se os trabalhos de Ian Stevenson, H. N.
Banerjee e Hernani G. Andrade. São pesquisas de grande credibilidade pelas
características da espontaneidade e da insuspeição em se tratando de crianças.
Há milhares de casos catalogados com a confirmação das informações sobre vidas
passadas que não se resumem a vagas memórias, mas, sim, a dados precisos, com
nomes, datas, locais e detalhes importantes. Em tais pesquisas verificou-se
que, o intervalo de tempo entre uma e outra encarnação pode variar de dias a
séculos.
A necessidade de se estabelecer
um princípio diretor, justo e equânime para justificar a sociedade e suas
complexas relações, coloca a reencarnação como o mecanismo capaz de exercer a
justiça divina e de possibilitar o crescimento da sociedade. Nada poderia
justificar as contingências do existir com a precisão com que a reencarnação o
faz. As dificuldades e conflitos humanos passam pela necessidade de uma
justificativa filosófica e até mesmo do ponto de vista do equilíbrio
energético. A reencarnação é a chave para desvendar os mistérios provocados
pelo vazio do conhecimento parcial que o homem tem sobre si mesmo.
Nem sempre a justiça que se
processa pela via da reencarnação, dá-se imediatamente na encarnação seguinte
do espírito. Os mecanismos educativos podem ocorrer na mesma existência, sem a
necessidade da reencarnação, como também podem se dar após várias encarnações.
O tempo que leva para que o processo educativo se instale, dependerá da
ocorrência de fatores que propiciem o aprendizado do espírito. Às vezes, há a
necessidade de se reunir pessoas várias num processo único, o que poderá levar
séculos ou milênios. Deve-se salientar que ninguém, nenhum ser humano, estará
isento do processo de educação. A reencarnação é mecanismo obrigatório no nível
de evolução em que se encontra a humanidade terrestre. Ninguém está isento
dela. Não há privilégios nem privilegiados.
Reencarnar sem a lembrança do
passado é o mecanismo que possibilita a convivência de contrários e daqueles
que elevaram a paixão ao seu grau máximo. Sem o esquecimento das experiências
anteriores não é profícua a reencarnação. Reencarna-se para aprender, para
educar-se.
Para crescer a partir de novos
elementos, de uma nova oportunidade, num novo ambiente, onde se possa construir
ou reconstruir seu próprio crescimento. Tal esquecimento não significa a perda
do conhecimento adquirido nas existências anteriores. O espírito não involui.
Não se perde o que já se sabe. Esquece-se temporariamente o que não é relevante
para o crescimento do espírito. As qualidades, os defeitos, as emoções, os
amores, os ódios, ficam latentes e participam, de forma subjacente nas relações
do reencarnado, atuando de forma inconsciente.
Muitos espíritos que estiveram
juntos em encarnações anteriores se separam para se reencontrarem mais adiante.
Alguns desafetos quando se veem
se “lembram” do passado. Pode ocorrer que a inimizade retorne. Como também os
afetos quando se reencontram refazem a mesma ligação que tiveram no passado. O
espírito “enxerga” o outro espírito, independente do corpo que tem e do grau de
parentesco que possuem. Alguns espíritos não reencarnam na mesma época que seus
afetos e ficam a velar por eles para que obtenham sucesso naquela encarnação.
Ao libertar-se do corpo, seja durante o sono ou com a morte, o espírito vai aos
poucos retomando sua memória integral.
O retorno através da
reencarnação se dá para o crescimento do espírito. É um processo educativo, e
não punitivo. Encarado dessa forma, não há um número definido de encarnações
para um espírito. Os processos não se dão de forma linear, isto é, não se passa
pelo que se causou a outrem na mesma proporção. As circunstâncias a que um
espírito está sujeito numa encarnação expiatória são sempre atenuadas pela
Misericórdia Divina. A Lei de Causa e Efeito não é “olho por olho dente por
dente”. Não se deve interpretar as doenças e outros sofrimentos senão como
processos educativos. Errou-se no passado porque não se sabia como agir
corretamente. Retorna-se para aprender até não mais se precisar reencarnar.
As ideias inatas, as simpatias e
antipatias gratuitas, os gênios, de alguma forma parecem denunciar uma
experiência anterior. O conhecimento não se produz de forma mágica. A
reencarnação explica tais conhecimentos “inatos”, como oriundos de existências
anteriores. Tudo então é aprendido pelo espírito. Nada lhe é “dado” de graça.
Se no passado alguém adquiriu uma aptidão qualquer, ela hoje se manifestaria de
alguma maneira.
Em muitos casos os reencarnantes
retornam com marcas de nascença. Trazem cicatrizes denunciadoras de
experiências pregressas. Marcas que, quando não são creditadas a fatores
genéticos, reproduzem-se de uma a outra existência por mecanismos psíquicos. As
experiências que produziram as marcas foram de tal forma intensas que gravaram
o corpo físico, denunciando a existência de uma matriz comum onde ficam
“guardadas” as impressões do espírito. Essa matriz é o perispírito. Da mesma
forma que essas marcas, surgem fobias, traumas, que se revelam logo na primeira
infância.
O conceito de reencarnação
transcende ao aspecto da mera crença que está presente nas mais antigas
culturas, tornando-se a base para a compreensão da razão de viver do homem. A
reencarnação não foi concebida como uma teoria para explicar a realidade, mas é
uma realidade que explica e suscita muitas teorias. As relações humanas estão
carregadas das emoções do passado. Impulsos, estímulos, reações emotivas,
atitudes diversas, não são apenas fruto da vontade e do meio ambiente, mas
principalmente das experiências pregressas gravadas no psiquismo.
A personalidade integral, que
sobrevive à morte, já possui experiências diversas em matéria de profissões, de
línguas aprendidas, de tipos de sexo, de classe social, de condição econômica.
O fato, por exemplo, de já ter experienciado viver nos dois tipos de sexo,
concede ao ser humano habilidades para habitar nesse ou naquele corpo, sem que
isso lhe cause qualquer problema quanto à sua relação com o sexo do corpo
escolhido. Uma nova encarnação representa a construção de uma nova
personalidade no novo meio em que se vai renascer. Os traumas e conflitos,
dessa forma, aparecem tendo como uma das causas, talvez a principal, essa
realidade interna, anterior, que contracena com a realidade externa. A solidão
e as repetidas e constantes desilusões afetivas podem ser encaradas como
resultantes de processos educativos, oriundos de experiências mal sucedidas no
passado. O Espiritismo, com Allan Kardec, trouxe de volta a reencarnação como
conhecimento fundamental de sua doutrina. Através do Espiritismo a reencarnação
é analisada sob o ponto de vista sociológico e moral. A doutrina das vidas
sucessivas é o alicerce da evolução. A frase “Nascer, morrer, renascer ainda,
progredir sempre, tal é a lei” resume o significado da reencarnação para o
Espiritismo.
Da obra: Conhecendo o
Espiritismo - L. Neilmoris - Capítulo 6
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