João Senna
O sentimento mais difícil de
entender, o que causa maior perplexidade é a inveja.
O ódio, por exemplo, apesar de
ser inapropriado, ao menos parece ser uma reação ao que não se gosta. Uma
reação imprópria, é verdade, mas uma reação.
Mas e a inveja? Qual a vantagem
real ou imaginária que poderia existir?! Em que poderia nos afetar o sucesso ou
aparente sucesso de alguém cuja vida não nos diz respeito? É o que tentaremos
entender ou pelo menos refletir.
O invejoso não parece ter o
desejo de ter o que temos. Se assim fosse, lutaria para ter ou seria algo que
fosse do seu interesse diário ou pelo menos algo simpático ao invejoso. Mas,
não é isto que ocorre.
Aquele que inveja, inveja
qualquer coisa. Mesmo aquelas que não gosta. Ele inveja a amizade que muitos
têm, mesmo que não se importe muito com os amigos e mesmo que não conheça os
amigos daquele que inveja.
O invejoso inveja que o outro
tenha um carro, mesmo que ele nem saiba dirigir. Ele ficaria feliz se você
perdesse o carro em um acidente ou roubo e ficará mais satisfeito quando souber
que você não tem seguro. O invejoso não admira você, porque admiração é um ato
normal de respeito e acolhimento ao que tem valor.
As pessoas invejam o que poderiam
ser e não são. Ou invejam o que deveriam se esforçar para ser. O invejoso
percebe no sucesso do outro, o fracasso de si mesmo, o que ele poderia ser e
por preguiça ou outro motivo qualquer, não é. Muitos não digerem bem quando a
própria realidade é exposta. A desculpa todos damos a nós mesmos e que é
desfeita diante do que o outro, igual a nós mesmos, conseguiu.
É para o invejoso inadmissível
ver que o outro estudou na mesma escola, com os mesmos professores, na mesma
classe social e conseguiu o que ele não conseguiu. O outro passa em um concurso
e ele nem sequer pensou em fazer um concurso público. Alguém tem o mesmo
salário que o dele, mas não tem dívidas e ainda cuida de dois filhos. Alguém
acorda sorrindo, de bom humor, e o invejoso acorda aborrecido.
O invejoso não se conforma em
invejar apenas coisas específicas, ele tem uma inveja por tudo de bom que
ocorre na vida do outro, sobretudo, se o outro é alguém parecido com ele. Assim
é que o pobre inveja o pobre, o professor inveja outro professor, o infeliz
inveja o menos infeliz.
A inveja é semelhante a um
câncer da alma que dissemina metástases em todos os departamentos da vida. Para
combater a inveja é preciso primeiro que aprendamos a gostar do bem, onde quer
que ele esteja, de qualquer forma que se apresente. Mas, para isto é preciso
sair de si mesmo para encontrar a própria vida, e isto é o contrário do
egoísmo. E o tratamento para o egoísmo, onde a inveja é uma das manifestações,
é o olhar de amor, a atitude fraterna e caridosa para com o outro e para
consigo mesmo.
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