Jorge Hessen -
jorgehessen@gmail.com
Objetivando transmitir uma
mensagem de “alento” e “esperança” a pessoas em desespero, John Edwards, de 61
anos, um ex-dependente de drogas e ex-alcóolatra (sóbrio há mais de duas
décadas) inexplicavelmente se voluntariou deitar em um caixão que foi fechado e
enterrado no terreno de uma igreja de Belfast, na Irlanda do Norte. Obviamente
o ataúde foi especialmente adaptado para que Edwards “sobrevivesse” por três
dias (quando fosse desenterrado) e pudesse transmitir a experiência ao vivo
pelas redes sociais.
No passado Edwards enfrentou
abuso sexual, viveu na rua, recebeu tratamentos para distúrbios mentais,
sobreviveu a várias overdoses e “perdeu” mais de 20 amigos por conta de abuso
de drogas, álcool e suicídios. Sobreviveu a dois cânceres e a um transplante de
fígado após desenvolver hepatite C por causa de uma agulha contaminada.
Há quase 30 anos, após passar
pelo que descreveu como um “incrível encontro com Deus”, Edwards criou vários
centros cristãos de reabilitação e abrigos para moradores de rua. Atualmente se
dedica a aconselhar e orar com pessoas em situações de abandono e desesperança[2].
Em que pese o desígnio
altruístico de John Edwards, é evidente que agiu de forma irracional ao se
permitir enterrar vivo por três dias, visando gritar o brado da “esperança”
para as pessoas em desespero. A rigor, tal manifesto não faz sentido lógico sob
qualquer análise racional. Entretanto, deixando de lado essa insanidade
(sepultar-se vivo), vislumbremos os efeitos positivos da transformação de sua
vida pessoal.
Importa reconhecermos que os
diversos núcleos de reabilitação e abrigos para moradores de rua instituídos
por John são passaportes pujantes para auto conquista da paz espiritual. Nisso
Edwards acertou em cheio, pois embrenhou-se no orbe da solidariedade através do
compartilhamento de um sentimento de identificação em relação ao sofrimento
alheio. Não apenas reconheceu a situação delicada dos moradores de rua, mas
também auxiliou essas pessoas desamparadas.
Sabemos que os males que afligem
a Humanidade são resultantes exclusivamente do egoísmo (ausência de
solidariedade). A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte
geradora de desatinos e paixões desajustantes. A máxima “Fora da Caridade não
há Salvação” [3]
é a bandeira da Doutrina Espírita na luta contra o egoísmo. Nesse sentido, a
solidariedade é a caridade em ação, a caridade consciente, responsável,
atuante, empreendedora.
Os preceitos espíritas
contribuem para o progresso social, deterioram o materialismo, orientam para
que os homens compreendam onde está seu verdadeiro interesse. O Espiritismo
destrói os preconceitos “de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a
grande solidariedade que deve uni-los como irmãos” [4] .
Destarte, segundo os Benfeitores espirituais, “quando o homem praticar a lei de
Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade” [5] .
A recomendação do Cristo de “que
vos ameis uns aos outros como eu vos amei” [6] assegura-nos
o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento
recíproco entre os homens. A solidariedade na vida social é como o ar para o
avião. É imprescindível darmo-nos através do suor da colaboração e do esforço
espontâneo na solidariedade para atender substancialmente as nossas obrigações
primárias à frente do Cristo[7].
Ante as responsabilidades
resultantes da consciência doutrinária que nos impõe a superar a temática de
vulgaridade e imediatismo ante o comportamento humano, em larga maioria, a máxima
da solidariedade apresenta-se como roteiro abençoado de uma ação espírita
consciente, capaz de esclarecer e edificar os corações com a força irresistível
do exemplo.
[2] Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-39191185
acesso em 21-03-2017.
[3] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio
de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. XV.
[4] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro:
Ed. FEB, 2000, pergunta 799.
[5] Idem.
[6] Jo 15.12.
[7] Xavier, Francisco Cândido. “Fonte Viva” ditada pelo
Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992
Nenhum comentário:
Postar um comentário