Joanna de Ângelis
A família, sem qualquer dúvida,
é bastião seguro para a criatura resguardar-se das agressões do mundo exterior,
adquirindo os valiosos e indispensáveis recursos do amadurecimento psicológico,
do conhecimento, da experiência para uma jornada feliz na sociedade.
Nem sempre compreendida,
especialmente nos dias modernos, a família permanece como educandário de
elevado significado para a formação da personalidade e desenvolvimento afetivo,
mediante os quais se torna possível ao espírito encarnado a aquisição da
felicidade.
Animal biopsicossocioespiritual,
o ser humano não pode prescindir da convivência familiar, porque o instinto
gregário que lhe comanda a existência, ido à busca do grupo, qual sucede entre
outros animais que vivem em família, protegendo-se e preparando-a para a
própria independência.
Escarnecida, no entanto, pelo
cinismo filosófico de ocasião, que preconiza a desenfreada corrida pelas
trilhas do prazer insaciável, permanece como organização insuperável para a
construção da sociedade harmônica.
Examinada pela ótica distorcida
daqueles que não experimentaram o convívio saudável no lar, acusam-na de ser
responsável pelos conflitos que os assaltam.
Certamente, em muitas famílias,
os fatores de desequilíbrio são dos indivíduos imaturos ou autoritários que
descarregam os tormentos de que são vítimas, naqueles que, indefesos,
encontram-se sob a sua guarda. Tal comportamento não é responsabilidade da
família, em si mesma, porquanto, ao invés de acusação indevida, seria ideal que
fossem trabalhados os fatores que geram desequilíbrios, corrigindo e orientando
os membros que a constituem.
O lar é o celeiro de bênçãos, no
qual se coletam as informações e a vivência edificante, tornando-se o primeiro
núcleo de socialização da criança, que aí haure as experiências dos ancestrais,
adquirindo os hábitos que deverão nortear a sua caminhada existencial.
Se, por acaso, e isso ocorre,
não são saudáveis os recursos que lhe são dispensáveis, ao abandono ou à mercê
das agressões do mundo em desgoverno, muito mais graves se lhe apresentam as
conjunturas, dando-lhe informações destituídas de significado superior e
levando-a a atitudes agressivas como mecanismo de defesa em razão dos contínuos
enfrentamentos a que se vê constrangida suportar.
No lar, desenvolvem-se a
afetividade, o respeito pelos direitos alheios, o despertamento para os próprios
direitos sem as extravagâncias nem os absurdos de atribuir-se méritos a quem
realmente não os possui.
Esse grupamento familiar, no
entanto, não é resultado casual de encontros apressados no mundo físico,
havendo ocorrido nas esferas espirituais antes do renascimento orgânico, quando
são desenhadas as programações entre os espíritos comprometidos, positiva ou
negativamente, para os ajustamentos necessários ao progresso a que todos se
encontram submetidos.
Analisando-se, portanto, as
necessidades evolutivas, aqueles que se encontram com responsabilidades a
cumprir juntos, constatam a excelência do cometimento que lhes ensejará separação
e crescimento intelecto-moral, em face dos erros transatos[2],
facultando-se a tolerância e o perdão das ofensas como fundamentais para a
aquisição da harmonia.
Nada obstante, quando ocorre a
reencarnação, em face dos impulsos ancestrais que predominam em sua natureza
animal, enquanto aguarda aquele espírito com o qual deverá edificar a família,
compromete-se, por precipitação e indisciplina moral, com o primeiro ser que
defronta e nele desperta os impulsos que favorecem as sensações fortes,
terminando em lamentável fracasso.
Enquanto a sociedade, em geral,
permanecer guindada aos interesses imediatistas, especialmente no que diz
respeito às sensações, a afetividade expressando-se através dos impulsos
malconduzidos, os resultados das uniões sexuais serão sempre frustrantes e
amargos.
Em razão dessa falsa necessidade
de atendimento das funções genésicas, os espíritos desviam-se dos caminhos
anteriormente traçados, conduzidos pelos costumes fesceninos[3],
pela permissividade exagerada, transitando em agonia, buscando, mesmo sem saber
o que desejam...
Não poucas vezes, como
decorrência dessa insânia, ao reencontrar o espírito afim, aquele com o qual houvera
assumido o compromisso de união para a edificação da família, as possibilidades
já não são favoráveis, o que se transforma em maior desconforto, dando lugar a
conflitos tormentosos de efeitos deploráveis.
O excesso de liberdade moral que
viceja na atualidade e as apetitosas ofertas do prazer, facultam experiências
irresponsáveis por falta do necessário amadurecimento psicológico para os
cometimentos sexuais, que se fazem apressados e extravagantes.
Não pensando nas suas consequências,
quando ocorre a concepção de seres não desejados, logo se pensa em recorrer ao
aborto criminoso, em hedionda conduta que deve ser gravemente enfrentada por todos
os cidadãos conscientes da sua condição de humanidade.
É claro que, na estrutura
emocional daquele que assim se comporta, não existe espaço mental nem moral
para a construção do núcleo familiar.
Em face da situação em que se
encontra, surgem as uniões e as separações, cada vez mais perturbadoras, porque
logo passam os apetites vulgares, gerando comportamentos promíscuos, nos quais os
indivíduos ansiosos mais se afligem.
Numa cultura social saudável, os
primeiros relacionamentos afetivos têm por finalidade a vivência do
companheirismo, o desabrochar da amizade, passo inicial para a manifestação do
amor sem perturbação e com caráter duradouro.
O erotismo, porém, que grassa,
não permite aos indivíduos a convivência que lhes faculta o desvelar-se, o
conhecimento, sem a ocorrência dos violentos conúbios[4]
sexuais de efeitos insatisfatórios, que dão lugar a decepções ou levam ao
desbordar das paixões da libido mal direcionada.
Unem-se os solitários egoístas,
preparados para a separação, mediante a cultura da indiferença afetiva, como consequência
da filosofia consumista de que se vive em sociedade, na qual tudo é descartável,
inclusive as afeições humanas. Este comportamento, dizem, para não sofrerem
quando ocorrer a ruptura da frágil união.
Certamente há grandiosas e
inumeráveis exceções, particularmente naqueles espíritos que se permitem
esperar pelo ser que lhes proporcione emoção e alegria de viver,
facultando-lhes a união feliz, coroada pela prole com a qual estão
comprometidos.
O namoro, portanto, é o primeiro
passo no caminho a percorrer afetivamente, quando há o respeito moral recíproco
e o anelo pela convivência benéfica.
Embora seja essencial a união
sexual, o fundamental é o sentimento de amor que pode resistir aos embates do
relacionamento a dois, e depois, com o grupo de espíritos renascidos no corpo
físico, constituindo o santuário doméstico.
Na primeira fase, ocorrem os
fenômenos relacionados às necessidades afetivas sem os impulsos primários, nascidos
no reconhecimento espiritual do outro.
Lentamente, planificam-se as
aspirações e trabalha-se pela sua execução harmônica, o que propicia bem-estar
e alegria com a presença física, sem qualquer tipo de tormento.
Quando, em sentido oposto, o
namoro se transforma em convivência sexual, desaparece o interesse de
permanência, enquanto a afetividade diminui, cedendo lugar ao hábito destituído
de meta procriativa, construção familiar.
A constelação familiar, no
namoro encontra a pedra angular para o futuro alicerce doméstico, que deverá
resistir às tormentas do quotidiano.
Familiares difíceis e gentis
procedem, portanto, da programação anteriormente traçada, que o amor do casal
conseguirá conduzir com sabedoria.
... E quando o problema se
apresentar entre os parceiros, a consciência do dever se encarregará de bem
orientar o comportamento de ambos em favor do êxito do empreendimento familiar.
[1] Constelação
Familiar – Joanna de Ângelis/Divaldo
P. Franco
[2] Passados, pretéritos.
[3] Licencioso; burlesco.
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