terça-feira, 19 de setembro de 2017

Doutrina da Reencarnação Entre os Hindus[1]

(Nota comunicada à Sociedade pelo Sr. Tug...)


Geralmente se pensa que os hindus só admitem a reencarnação como expiação. Segundo eles, a reencarnação só se daria em corpos animais. No entanto, as linhas que se seguem, extraídas da viagem da Sra. Ida Pfeiffer, parecem provar que a tal respeito os indianos têm ideias mais sadias.
Diz a Sra. Pfeiffer: Em geral as meninas ficam noivas com um ano de idade. Se o noivo vem a morrer, ela é considerada viúva, ficando impedida de casar-se. A viuvez é reputada como uma grande infelicidade. Pensam eles que isso se deve à posição das mulheres cuja conduta não foi irrepreensível numa vida anterior.
Malgrado a importância que não se pode recusar a estas últimas palavras, forçoso é reconhecer que entre a metempsicose dos hindus e a doutrina admitida pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas há uma diferença capital. Citemos aqui o que diz Zimmermann sobre a religião hindu, no “Diário de viagem”. (Taschenbuch der Reisen)
O fundo dessa religião é a crença num ser primeiro e supremo, na imortalidade da alma e na recompensa à virtude. O verdadeiro e único Deus se chama Brahm, o qual não deve ser confundido com Brahma, criado por ele. É a verdadeira luz, que é a mesma, eterna, bem-aventurada em todos os tempos e lugares.
Da essência imortal de Brahm emanou a deusa Bhavani, isto é, a Natureza, e uma legião de 1.180 milhões de Espíritos. Entre esses Espíritos há três semideuses ou gênios superiores: Brahma, Vishnu e Shiva, a trindade dos hindus. Durante muito tempo a concórdia e a felicidade reinaram entre os Espíritos. Mais tarde, porém, eclodiu uma revolta entre eles e vários se recusaram a obedecer. Os rebeldes foram precipitados do alto dos céus no abismo das trevas.
Deu-se, então, a metempsicose: cada planta, cada ser foi animado por um anjo decaído. Esta crença explica a bondade dos hindus para com os animais: consideram-nos como seus semelhantes e não querem matar nenhum.
Somos induzidos a crer que não foi senão a ação do tempo que levou tudo quanto existe de bizarro nessa religião, mal compreendida e falseada na boca do povo, a descer à posição de insana charlatanice. Basta indicar os atributos de algumas de suas principais divindades para explicar o estado atual de sua religião.
Eles admitem 333 milhões de divindades inferiores: são as deusas dos elementos, dos fenômenos da Natureza, das artes, das doenças etc.. Além disso, há os bons e os maus gênios: o número dos bons ultrapassa o dos maus em três milhões.
O que é extremamente notável – acrescenta Zimmermann – é que não se encontra, entre os hindus, uma única imagem do Ser Supremo: parece-lhes demasiado grande. Dizem que toda a Terra é o seu templo e o adoram sob todas as formas.
Assim, conforme os hindus, as almas tinham sido criadas felizes e perfeitas e sua decadência resultou de uma rebelião; sua encarnação no corpo de animais é uma punição. Conforme a Doutrina Espírita, as almas foram e ainda são criadas simples e ignorantes; é pelas encarnações sucessivas que chegam, graças a seus esforços e à misericórdia divina, à perfeição que lhes proporcionará a felicidade eterna. Devendo progredir, a alma pode permanecer estacionária durante um período mais ou menos longo, mas não retrograda. O que adquiriu em conhecimento e em moralidade não se perde. Se não avança, também não recua: eis por que não pode voltar a animar os seres inferiores à Humanidade.
Desse modo, a metempsicose dos hindus está fundada sobre o princípio da degradação das almas. A reencarnação, segundo os Espíritos, está fundada no princípio da progressão contínua.
Segundo os hindus, a alma começou pela perfeição para chegar à abjeção; a perfeição é o começo e a abjeção, o resultado. Conforme os Espíritos, a ignorância é o começo; a perfeição, o objetivo e o resultado. Seria supérfluo procurar demonstrar qual dessas duas doutrinas é mais racional e dá uma ideia mais elevada da justiça e da bondade de Deus. É, pois, por completa ignorância de seus princípios que algumas pessoas as confundem.
Tug...




[1] Revista Espírita – Dezembro/1859 – Allan Kardec

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