Madre Teresa de Calcutá (à esquerda), ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1979, visita
Salvador e se encontra com Irmã Dulce — 15/07/1979
Joanna de Ângelis
Amor e espiritualidade são
termos da mesma equação da vida, convidando a criatura à busca de Deus.
Pode-se medir o grau de
espiritualidade de um indivíduo pela sua capacidade de amar.
Quando o seu é um desprendimento
que o leva a pensar antes no seu próximo do que em si mesmo, estabelecendo
diretrizes de felicidade que cumpre com devotamento, distante dos tormentos do
egoísmo e das paixões dissolventes, já é capaz de amar em plenitude. Isso não o
impede de agir com prudência, mantendo-se em equilíbrio diante das
circunstâncias e dos acontecimentos que envolvem o seu sentimento de doação.
Ao mesmo tempo, proporciona-lhe
uma visão realista em torno dos seus deveres de cidadania e de autoburilamento,
por entender que a proposta de ascensão espiritual é destituída de qualquer
limite.
Igualmente descobre as
imperfeições morais que ainda lhe tisnam o caráter, gerando-lhe embaraços que
lhe dificultam mais rápida vitória sobre os empeços da marcha.
Não luta, porém, contra esses
fatores de perturbação, assumindo antes uma postura de compreensão dos limites
que lhe assinalam o ser, buscando amar também a esses atavismos que procedem
das experiências pretéritas e que não foram ainda eliminados.
Sempre que acossado por desejos
inquietadores, não se rebela, devendo procurar substituí-los por sentimentos
opostos, aqueles que edificam e asserenam.
Cônscio do que pode realizar em
benefício próprio, sem qualquer prejuízo para as demais pessoas, investe na
luta de renovação constante, sem traumas nem ansiedades, insistindo sempre na
conquista de mais amplos horizontes emocionais que o afastem das províncias de
sombra e de dor por onde deambulou.
Esse esforço pessoal auxilia-o a
entender os limites em que as pessoas se debatem, sem possibilidades de
autossuperar-se de um para outro momento. A paciência, diante das imperfeições
alheias, dá-lhe resistência para suportá-las quando se lhe apresentam em forma
de hostilidade, de perseguição, de inveja, de competitividade malsã.
O amor instala-se no sentimento
humano, quando se lhe abrem as portas para a entrada, evitando-se os obstáculos
torpes dos interesses pessoais e das lutas de dominação, que tipificam a
agressividade latente e o egoísmo doentio.
Não tendo fronteiras que o
limitem ou o impeçam de avançar sempre, é atuante e compassivo, sempre disposto
a servir e a enriquecer as vidas que se lhe acercam e passam a necessitar do
seu hálito vital.
Em consequência, o amor não tem
passado, reservando-se um intérmino presente, que se manifesta em tempo que já
passou e em oportunidade que virá.
Nunca se permite ser discutido,
pois que o excesso de palavras entorpece-o, enquanto que a ausência total
delas, desvitaliza-o.
Não se assoberba, porque conhece
o campo em que moureja, lúcido e jovial, abrindo os braços à solidariedade,
passo inicial para alcançar a culminância na caridade e no perdão total.
A vigência do amor no mundo
independe de ideologias de natureza política, religiosa, cultural, social.
Medra em todos os segmentos em que se movimentam as criaturas humanas, sendo,
naturalmente, mais emulado quando um ideal arrebatador domina a mente e o
coração do indivíduo. Não obstante, independe de grupo ou de clã, porquanto, se
assim não o fora, expressar-se-ia com o sentido de retribuição na facção de
qualquer natureza onde se instala.
Por isso mesmo, não dissente em
relação àqueles que lhe não compartem o pensamento nem o comportamento, estando
atento a essa sutileza, a fim de poder ser totalmente livre, ganhando espaço e intemporal
idade, com que avança no rumo da imortalidade, que é sua meta esplendorosa.
O amor é o instrumento para que
a sociedade se encontre em patamar avançado de natureza moral, especialmente
quando ultrapassa os níveis primários onde tem início o seu processo de
fixação.
Sem dúvida, portanto, cada um
expressa o amor de conformidade com o estágio de desenvolvimento espiritual em
que se encontra.
Eis por que, variante e
complexo, encontra-se em toda parte no Universo, particularmente na vida
terrena, enlaçando todos os indivíduos no mesmo elã de alegria de viver e de
cooperar em benefício geral.
A conquista da espiritualidade é
assinalada pelos inúmeros passos do amor.
No primitivismo, em que a defesa
do grupo é essencial para a sobrevivência, passando pelos graves combates de
destruição, surgem os passos em favor do intercâmbio social, econômico, moral,
desenvolvendo-se como método de crescimento tribal para tornar-se uma sociedade
mais conforme a fraternidade, na qual o direito substitui a força, superando os
impulsos asselvajados para transformar-se em emoções compensadoras.
Dessa forma, à medida que vão
ficando na retaguarda do processo de desdobramento ético, mais aprimoradas
fazem-se as formas de expressar-se, aproximando o Espírito sedento de plenitude
da Fonte Inexaurível de onde procede.
Quando ainda atado ao
primarismo, apresenta-se como dedicação e posse, carinho e dominação, bondade e
jogo de interesses, devotamento e retribuição, entrega e zelo excessivo.
Possuidor de mil faces,
apresenta-se conforme o período moral que tipifica a criatura, que se sente
invadida pela sua força, e nem sempre sabe decodificar-lhe a excelência,
obrigando-a a submeter-se-lhe quando assume a postura exigente, muitas vezes
perversa, em que se compraz.
Inegavelmente estrutura-se nos
próprios enganos e caprichos, aprendendo a libertar-se de qualquer constrição,
para então espraiar-se sobranceiro e gentil, nada solicitando, nada aguardando,
nada impondo.
O amor é humilde, porque reconhece
a energia de que se constitui, no entanto, não se permite vangloriar pelo poder
de que dispõe, preferindo vencer as resistências suavemente e fixar-se
imperceptivelmente, terminando por dominar o ser.
Amor, portanto, e
espiritualidade, são termos da mesma equação da vida, convidando a criatura à
busca de Deus.
Não deve, porém, o amor ser
buscado com aflição, embora a espiritualidade seja desafiadora e necessite ser
trabalhada com intensidade.
Quando se corre atrás do amor
com ansiedade e sofreguidão, ele provavelmente não será encontrado, porque
sempre será encontrado pacientemente aguardando...
Cada passo que dês em direção à
autoespiritualização, mais próximo sentirás o amor, que te impulsionará a
conquistá-la, não te permitindo deter no que já conseguiste, antes acenando-te
com novos desafios evolutivos.
Renunciarás então aos
dispositivos egoísticos para cresceres com o grupo social no qual te encontras,
enquanto irradiarás as energias da vida em todas as direções, consciente de que
a tua será a decorrência da felicidade daqueles que seguem contigo pelo mesmo
caminho, e que aguardam a tua cooperação, a fim de superarem os impedimentos
que os aturdem.
Na raiz da espiritualidade do
ser encontra-se o amor, e no sublime oceano do amor desenvolvem-se os
compreensíveis impositivos da espiritualização que liberta e sublima.
[1] Garimpo de
Amor - Joanna de Angelis Divaldo
Franco
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