DR. AMÉRICO MARQUES CANHOTO
Quando Sócrates (um dos
precursores da mensagem de Jesus) nos recomendou o conhecimento de nós mesmos,
talvez não imaginasse o alcance atual da proposta. Jesus deixou claro quem
somos nós e a que viemos; bem como o caminho mais fácil para atingir nosso objetivo
maior: a plenitude do amor; após cumprirmos todas as etapas evolutivas, passo a
passo.
A Doutrina dos Espíritos tão bem
formatada por Kardec e depois complementada por vários Espíritos como Emmanuel
e André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, nos trouxe
notícias a respeito de onde nos localizaremos e como viveremos no Plano
Espiritual. O Espiritismo veio agregar novas; mas já pálidas e algumas até
defasadas atribuições ao postulado de Sócrates.
Somos seres em constante
evolução.
Na empreitada do progresso é
preciso responder a algumas questões básicas que o Espiritismo quase elucida
com simplicidade e precisão:
QUEM SOMOS NÓS?
Uma vez definido que somos
espíritos eternos filhos de um mesmo Pai, luz da mesma Luz e sujeitos às mesmas
Leis, direitos e obrigações; e que partimos do mesmo princípio, usando o dom do
livre arbítrio nos definimos como individualidade vida após vida – somos hoje o
que nos fizemos ontem; nós somos nossa própria continuidade.
Estamos destinados à felicidade
e à perfeição progressiva segundo nosso desejo e esforço – em concordância com
as Leis de Trabalho, Amor e Justiça.
O QUE FAZEMOS AQUI?
Reconhecidamente somos seres
imperfeitos, endividados perante nós mesmos e os outros, doentes, insanos. Buscamos
a cura através da Reforma Interior. Mas antes é preciso fazer o diagnóstico.
QUEM SOU EU?
Mesmo na atualidade não há
pessoa mais desconhecida para nós do que nós mesmos. E para piorar; nossa
percepção a respeito da nossa pessoa é deveras deturpada: imaginamos ser uma
criatura que tem pouco a ver conosco. Diagnóstico errado conduz a tratamento
ineficiente e perigoso.
QUAL MINHA TAREFA DE
VIDA?
Todos nós temos um projeto de
vida física consciente ou não. Para algumas pessoas a reencarnação foi compulsória
baseada na Lei de Causa e Efeito com alguns ajustes feitos por Espíritos que
coordenam esses Projetos de Vida. Outros de nós já participamos ativamente do
Projeto de Vida; como nos relata o espírito André Luiz no livro Missionários Da
Luz – psicografia de Francisco C. Xavier – editado pela FEB; no caso de
Segismundo um dos protagonistas em fase de preparo para reencarnação.
Identificar e definir a tarefa
de vida não é tão fácil; mas, com a simples observação e estudo dos
acontecimentos em nossa atual existência é possível uma visão clara.
DIFICULDADES A SEREM
TRANSPOSTAS
Além das íntimas decorrentes da
própria evolução tais como: Preguiça de todos os tipos. Pouca maturidade
psicológica. Há os impedimentos externos, dentre eles:
– O sistema de educação em andamento que leva à formação de
múltiplas personalidades.
– A vida de competição e seus valores egoístas, que nos
deixa sem tempo para olhar para nós mesmos. Estamos sempre vigiando os outros;
na ânsia de ultrapassá-los.
– Boa parte das crenças religiosas que iludem a respeito
do que nos aguarda no pós-morte.
Claro que muitas outras
dificuldades a serem transpostas nos acompanham no dia a dia. A reforma
interior apenas começa de fato a se tornar eficiente quando alinhamos nossa
existência ao conhecimento de quem somos nós e a que cada um de nós veio.
FONTES DO
CONHECIMENTO DE NÓS MESMOS
Para descobrir quem somos basta
apenas boa vontade e humildade. Muitos são os caminhos e as fontes para quem já
busca.
Estudo das ocorrências do dia a
dia. Somos tal e qual uma estação de rádio ou de TV, vinte e quatro horas ao
dia espalhamos ao universo quem somos.
Cada pensamento, sentimento e
atitude têm um padrão vibratório específico. Irradiamos e recebemos de volta;
Lei do Retorno e a de Sintonia.
Quando em desarmonia o que
recebemos de volta recebe o nome de dor, sofrer, pena, castigo, sorte, azar,
destino, Deus quis ou deixou de querer…
Exemplos:
‒ Para o impaciente que se acha o dono do mundo: demora;
complicações. Está sempre rodeado de pessoas mais lerdas; quando próximo de
alguns, sua simples presença trava-lhes o raciocínio.
‒ O orgulhoso recebe a ajuda das humilhações, uma após
outra, vindas de pessoas, situações, acontecimentos.
‒ Para o avarento, o melhor remédio são as perdas.
‒ O ciumento para curar-se não abre mão de todo tipo de
traição – até que entenda que não é dono de nada nem de ninguém; além de sua
própria vida e destino.
‒ O com tendência a mágoa recebe
“coices” até das Madres Teresas da vida.
Enfim, para cada um de nossos
distúrbios de caráter a vida possui o remédio específico.
A análise de cada uma das
ocorrências do cotidiano é um dos aplicativos da dica do Mestre Jesus: Vigia e
ora.
Estudo dos modelos familiares
Ao nascer trazemos inscrito no
DNA físico e espiritual o conjunto de nossas tendências para todas as
ocorrências possíveis durante esta existência; além das características do
esboço da nossa personalidade a serem aprimoradas. Isso é o nosso Projeto de Vida
desta vez.
Quando os pais dizem: Seria tão
bom que as crianças viessem com manual de instrução! ‒ Conforme colocamos em
nosso livro: “A Reforma íntima Começa no Berço” – Ed. EBM –. Nos primeiros anos
da atual existência nosso Espírito está na Vitrine da Vida para quem tiver
olhos de ver e ouvidos de ouvir – basta
atenção e querer.
Nosso progresso nesta existência
depende do meio em que fomos criados e educados; pois às tendências do nosso
espírito soma-se a influência do meio ambiente, em especial a família – maior
oficina no aprendizado da Lei do Amor.
Nos primeiros anos de vida tudo
é subconsciente. Ele funciona como um scanner de computador a captar e absorver
tudo que se passa ao redor; para depois exteriorizar na forma de atitudes,
comportamentos.
O mecanismo se processa através
da energia e padrão vibratório.
Inicialmente os registros são
feitos no DNA espiritual – depois, via centros de força, meridianos de
acupuntura, mitocôndrias, células e órgãos há manifestação no DNA físico. Isso
explica a semelhança física e de comportamento em filhos adotivos.
Em virtude de mesmo quando
adultos levarmos uma vida muito subconsciente, casais de longa data juntos
tornam-se parecidos, como se fossem irmãos, embora fotos antigas mostrem que
não havia semelhança no passado.
Absorvemos qualidades e não qualidades
As posturas e os comportamentos adequados nós temos o dever de
melhorar – a parte inadequada que copiamos deve ser reformada para não repetir
doenças, desvios de comportamentos, problemas e dificuldades que enfrentam ou
enfrentaram nossos modelos familiares ao longo de suas vidas.
Na atualidade, na maioria de
nós, ainda predomina características e comportamentos inadequados; daí, nós
temos mais a reformar do que ajustar, no que copiamos.
Quando analisamos nossos modelos
o intuito deve ser apenas de aprendizado, sem julgamentos ou recriminações.
Quem deve mudar é sempre aquele
que já percebeu a inadequação.
Tentar mudar os outros com
palavras e críticas é falta de respeito. Cada qual apenas reforma aquilo que percebe,
deseja e lhe é possível em cada momento.
Mil palavras não valem uma
atitude; o exemplo longamente trabalhado é quase tudo. Efeito espelho.
Não aceitamos nosso lado
“sombra” da personalidade. Para que nos reconheçamos a vida nos mostra quem
somos nós através dos outros.
Usando o mecanismo da sintonia
atraímos pessoas que são a nossa cara espiritual. As que detestamos; as que não
suportamos ver na frente nos representam.
É a vida nos apontando: Olha
você aí! – Não as aceitamos nem gostamos delas; pela razão de apontarem nosso
lado da personalidade e do caráter mais negado.
Essa fase para que se torne útil
e eficiente no conhecimento de nós mesmos exige um pouco mais de humildade,
inteligência e aceitação; daí deve ser analisada e praticada quando as outras
já estão em treinamento.
Colecionar opiniões sobre nós
As pessoas que imaginamos não
gostar de nós são importantes para que nos conheçamos melhor. Pois, apontam
nossa falta de qualidade pessoal, às vezes, com precisão cirúrgica. Algumas de
nossas características da personalidade e alguns padrões de atitudes que
imaginamos não ser bem aceitas pela sociedade são ignoradas por nós; agimos
como se elas não nos pertencessem.
Somos carentes de afeto; e a
vontade em sermos aceitos pela sociedade nos faz usarmos várias personalidades
no dia a dia que funcionam à maneira de máscaras; essa atitude nos leva a
desperdiçar lições valiosas para progredir.
Na ânsia de sermos amados
distorcemos nossa realidade.
Muitos amigos pelo medo de nos
ofender não costumam dizer o que realmente pensam e sentem a nosso respeito;
daí eles não se tornam muito úteis para a tarefa de conhecimento de nós mesmos.
Análise das doenças
Nossas doenças espelham nossa
condição evolutiva, em especial, as que se repetem. Não há a rigor doenças
físicas; elas se originam no sistema mental, emocional, afetivo; depois se
transferem para o corpo físico, que devolve o processo ao terreno psicológico
através das sensações, fechando o circuito.
A dor e a doença têm uma
linguagem própria e clara para quem desejar ouvir. As de repetição, pela
insistência, são as que se oferecem como recurso pedagógico mais claro.
Cada dificuldade do caráter tem
um órgão alvo no corpo físico; inveja dá um tipo de doença, intolerância outra,
ansiedade outra…
Estudo das Projeções
O que achamos de inadequado no
comportamento e na forma de ser dos outros costuma estar em nós à espreita da
primeira oportunidade de se manifestar.
Medimos os outros com nossa
régua.
Catalogar os impulsos
A força que supera a capacidade
de contenção gerando tendências, pulsos e impulsos, é a realidade da nossa
situação evolutiva.
Nossa mente racional embora
tenha uma importância fundamental no progredir; camufla muitas tendências e
mente demais através das desculpas e justificativas.
Nossos impulsos devem ser
cuidadosamente catalogados, já que podem determinar nossa qualidade de vida
atual, e especialmente a futura. Pois, pela força que trazem em si podem
provocar reações que podem levar séculos para serem ajustadas.
Atenção para processos obsessivos
Muitas vezes, com nossa
permissão através do descuido, nós apresentamos durante largo tempo, posturas e
características que não nos pertencem integralmente.
Nessa ocasião, nós estamos sendo
vítimas da influência de mentes externas através de processo obsessivo.
Com treino podemos perceber com
facilidade o que nos pertence e o que não faz parte de nosso acervo da
personalidade e de comportamentos psicológicos.
Aplicação prática
É vital e urgente ANOTAR TUDO
para que não desperdicemos lições valiosas, especialmente as que envolvem dor e
sofrer. A vida na atualidade exige planejamento para que nossa existência não
entre no rol das falidas.
Não se compare a outras pessoas
– cada um de nós é um universo único.
Metodologia:
‒ Analisar e anotar nossas características apontadas pela
repetição de situações do cotidiano;
‒ Catalogar as observações a respeito dos modelos
familiares;
‒ Avaliar as relacionadas ao efeito espelho;
‒ Estudar as opiniões a nosso respeito;
‒ Procurar compreender os recados das doenças;
‒ Observar as projeções ajuda a perceber o lado negado;
‒ Catalogar os impulsos é da maior importância;
‒ Buscar ajuda para diagnóstico de influências espirituais
e se preciso nos tratamentos de desobsessão e
‒ Um ponto importante é passar tudo pelo crivo da Ética
proposta por Jesus.
Muitas posturas hoje consideradas
normais, pelo fato da maioria apresentar-se dessa forma, nos induzem a pensar
que não é preciso reformá-las. Exemplo: Ansiedade doentia e Medo mórbido
sinalizam problemas psicológicos do espírito e que precisam ser corrigidos –
não com remédios; assim como não há remédio para intolerância, ganância,
inveja…; ansiedade e medo serão corrigidos de forma definitiva apenas pela
atitude de Reforma íntima.
Conclusão.
Conforme nos mostra a Doutrina
Espírita, com critério, estudo e trabalho perseverante, é possível montar o
diagnóstico uma imagem muito mais próxima da realidade evolutiva do nosso
espírito.
Não é necessário que nos
preocupemos de forma exagerada com relação às mudanças – essa atitude gera
culpa e remorso que tendem a travar o progresso – a tendência é que o
conhecimento induza à transformação de forma progressiva e natural.
O conhecimento de nós mesmos
deve ser um trabalho bem humorado, alegre e devemos nos sentir felizes ao
realizá-lo.
Sem conhecimento de nós mesmos
não há Reforma Íntima – Sem diagnóstico preciso e correio não há cura.
A cura não será milagrosa – as
recaídas serão inevitáveis.
Somos seres ainda com pouca
consciência a respeito de quem somos nós e o que fazemos aqui. Mais reagimos a
situações externas do que agimos de forma proativa – inevitável que nos
surpreendamos a pensar, sentir e agir como antes do esforço da mudança.
O que fazer? Recomeçar.
Recomeçar. Recomeçar.