quarta-feira, 31 de maio de 2017

VIDA INTELIGENTE SÓ EXISTE NA TERRA?[1]



Jorge Hessen


Há dois mil anos, Jesus anunciou que “há muitas moradas na Casa do meu Pai”[2].  Presentemente, não é difícil compreendermos que Deus criou Sua Casa (Universo), em cuja morada estão os incontáveis planetas. Astrônomos detectaram atmosfera ao redor de GJ 1132b, um exoplaneta rochoso de um tamanho próximo ao da Terra, o que representa um passo significativo na busca de vida fora do nosso Sistema Solar.
“É a primeira vez que se detecta uma atmosfera ao redor de um planeta com uma massa e um raio semelhantes aos da Terra”, disseram os cientistas, cuja descoberta foi publicada na revista Astronomical Journal[3]. Esta detecção faz do planeta GJ 1132b um alvo prioritário de observações para o telescópio espacial Hubble, o telescópio gigante europeu de Observação Austral (ESO), que está no Chile, assim como para o futuro James Webb Space Telescope, cujo lançamento está previsto para 2018[4].
Há duas décadas, a Astronomia tem registrado a descoberta de centenas de novos planetas, pertencentes a outros sistemas planetários. Na conferência anual da Sociedade Astronômica Norte-Americana, em cada descoberta, envolvendo os planetas de fora do nosso Sistema Solar (exoplanetas), apontam para a mesma conclusão: orbes, como a Terra, são, provavelmente, abundantes, apesar do violento Universo de estrelas explosivas, buracos negros esmagadores e galáxias em colisão.
O Sistema Solar possui 9 planetas com 57 satélites. No total, são 68 corpos celestes. E, para que tenhamos noção de sua insignificância, diante do restante do Universo, “nosso Sistema compõe um minúsculo espaço da pequena da Via Láctea”[5] , ou seja, um aglomerado de, aproximadamente, 100 bilhões de estrelas, com, pelo menos, cem milhões de planetas, que, segundo Carl Seagan, no mínimo, 100 mil deles com vida inteligente e mil com civilizações mais evoluídas que a nossa[6].
Segundo Allan Kardec , “repugna à razão crer que esses inumeráveis globos que circulam no espaço não são senão massas inertes e improdutivas.”[7] A Ciência vem descobrindo, incessantemente, planetas situados em outros sistemas estelares. No campo das pesquisas científicas “o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro, acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”[8]
Aqueles seres, explica o mentor de Chico Xavier: “angustiados e aflitos, que deixavam, atrás de si, todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos, não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia”[9]. Sobre isso Agostinho afirmou no século XIX que “não avançar é recuar, e, se o espirito não se houver firmado bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e mais terríveis provas o aguardam”[10].
Na Revista Espírita de Agosto/1858, publicou um desenho psicopictografado (desenho mediúnico) e assinado pelo Espírito Bernard Palissy, célebre oleiro do século XVI, referente “a uma habitação em Júpiter, que seria a casa de Mozart. Somos também informados de que Cervantes seria vizinho de Mozart e que por lá também viveria Zoroastro”[11].
Em 1938 o Espírito Emmanuel informou que na “Constelação do Cocheiro, cerca de 42 anos luz distante de nós, há o sistema de Capela, de onde milhares de anos atrás alguns milhões de Espíritos rebeldes que lá existiam, foram deportados para o nosso planeta. Aqui aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos, as grandes conquistas do coração, impulsionando simultaneamente o progresso dos seres terrestres”[12].
Na questão 172 de O Livro dos Espíritos, Kardec perguntou: “As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?”, ao que os Espíritos responderam: “Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição”[13].
Sabe-se hoje em dia existirem, pelo Universo observável, pelo menos 10 bilhões de galáxias. Em 1991, em Greenwich, na Inglaterra, o observatório localizou um quasar (possível ninho de galáxias) com a luminosidade correspondente a 1 quatrilhão de sóis [isso mesmo, 1 quatrilhão!].
Acreditar que somente a Terra tenha vida é supor que todo esse imensurável Universo tenha sido criado sem utilidade alguma, e seria uma impossibilidade matemática que num Universo tão inimaginável não se tivesse desenvolvido vida inteligente, senão neste pequeno planeta. Aliás, seria um incompreensível desperdício de espaço.
 


[2] João 14:2.
[5] As últimas observações do telescópio Hubble (em órbita), mostram o número de galáxias conhecidas de 50 milhões.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. Carta de uma morta, ditado pelo Espirito Maria João de Deus, São Paulo: LAKE, 1999.
[7] XAVIER, Francisco Cândido. Novas Mensagens, ditado pelo espírito Humberto de Campos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1940
[8] FLAMMARION Nicolas Camille. Urânia, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1990.
[9] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, perg. 55.
[11] KARDEC, Allan. Na Revista Espírita de Agosto/1858, Brasília: Editora EDICEL, 2002.
[12] XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, RJ: Ed. FEB, 2002.
[13] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 172, RJ: Ed FEB, 2002.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Cartas do Dr. Morhéry sobre a Srta. Désirée Godu[1]


 
Falamos sobre a notável faculdade da Srta. Désirée Godu, como médium curador, e poderíamos ter citado atestados autênticos que temos sob os olhos. Mas eis um testemunho cujo alcance ninguém contestará. Não se trata de um desses certificados liberados um tanto levianamente, mas do resultado de observações sérias de um homem de saber, eminentemente competente para apreciar as coisas sob o duplo ponto de vista da Ciência e do Espiritismo. O Dr. Morhéry nos envia as duas cartas seguintes, cuja reprodução por certo nossos leitores agradecerão:
 
Plessis-Boudet, perto de Loudéac (Côtes-du-Nord).
 Senhor Allan Kardec, “Embora sobrecarregado de ocupações neste momento, como membro correspondente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, devo informar-vos de um acontecimento para mim inesperado e que, sem dúvida, interessa a todos os nossos colegas.
Nos últimos números de vossa Revista elogiastes a Srta. Désirée Godu, de Hennebon. Dissestes que depois de ter sido médium vidente, audiente e escrevente, esta senhorita se havia tornado, desde alguns anos, médium curador. Foi nesta última qualidade que ela se dirigiu a mim, reclamando meu concurso como doutor em Medicina, para provar a eficácia de sua medicação, que poderíamos chamar espírita. A princípio pensei que as ameaças que lhe eram feitas e os obstáculos interpostos à sua prática médica, sem diploma, fossem a única causa de sua determinação; mas ela me disse que o Espírito que a dirige há seis anos havia aconselhado a medida como necessária, do ponto de vista da Doutrina Espírita.
Seja como for, julguei ser de meu dever e do interesse da Humanidade aceitar sua generosa proposta, mas duvidava que ela a realizasse. Sem a conhecer, nem jamais tê-la visto, tinha sabido que essa piedosa jovem não havia querido separar-se de sua família senão numa circunstância excepcional, para cumprir uma missão não menos importante, na idade de dezessete anos. Fiquei, pois, agradavelmente surpreendido ao vê-la chegar em minha casa, conduzida por sua mãe, que deixou no dia seguinte com profunda mágoa; mas essa mágoa era temperada pela coragem da resignação.
Há dez dias a Srta. Godu está no seio de minha família, da qual constitui a alegria, malgrado sua enervante ocupação.
Desde sua chegada, já constatei setenta e cinco casos de observações de doenças diversas, para a maioria das quais os recursos da Medicina haviam falhado. Temos amauroses, oftalmias graves, paralisias antigas e rebeldes a todo tratamento, escrofulosos, herpéticos, cataratas e cânceres avançados. Todos os casos são numerados, a natureza da moléstia por mim constatada, os curativos mencionados, e tudo é ordenado como numa sala clínica destinada a observações.
Ainda não há tempo suficiente para que eu me possa pronunciar de maneira peremptória sobre as curas operadas pela medicação da Srta. Godu. Mas, desde hoje, posso manifestar minha surpresa pelos resultados revulsivos que ela obtém pela aplicação de seus unguentos, cujos efeitos variam ao infinito, por uma causa que eu não poderia explicar dentro das regras ordinárias da Ciência.
Também vi com prazer que ela cortava as febres sem nenhuma preparação de quinina ou de seus extratos, por meio de simples infusões de flores ou de folhas de diversas plantas.
Acompanho com vivo interesse o tratamento de um câncer bastante avançado. Esse câncer, diagnosticado e tratado sem sucesso, como sempre, por vários colegas, é objeto da maior preocupação da Srta. Godu. Não são uma nem duas vezes que ela o pensa, mas a todas as horas. Desejo sinceramente que seus esforços sejam coroados de sucesso e que cure este indigente, que trata com zelo acima de qualquer elogio. Se o conseguir, pode-se naturalmente esperar que logrará outros e, neste caso, prestará um imenso serviço à Humanidade, curando essa terrível e atroz moléstia.
Sei que alguns confrades censurarão e sorrirão da esperança em que me embalo. Mas que me importa, desde que essa esperança se realize! Já me fazem reprimendas por prestar concurso a uma pessoa cuja intenção ninguém contesta, mas cuja aptidão para curar é negada pela maioria, considerando-se que tal aptidão não lhe foi dada pela Faculdade.
A isto responderei: não foi a Faculdade que descobriu a vacina, mas simples pastores; não foi a Faculdade que descobriu a cortiça do Peru, mas os indígenas daquele país. A Faculdade constata os fatos; agrupa-os e classifica-os para formar a preciosa base do ensino, mas não os produz exclusivamente. Alguns tolos – infelizmente há muitos por aqui, como em toda parte – se julgam espirituosos por qualificarem a Srta. Godu de feiticeira. Certamente é uma feiticeira amável e bastante útil, pois não inspira nenhum temor de feitiçaria nem o desejo de sacrificá-la na fogueira.
A outros, que pretendem seja ela instrumento do demônio, responderei sem rodeios: se o demônio vem à Terra curar os incuráveis, abandonados e indigentes, forçoso é concluirmos que finalmente ele se converteu, merecendo, por isso, os nossos agradecimentos. Ora, duvido muito que entre os que assim falam não haja muitos que prefiram ser curados por suas mãos, a morrerem nas mãos de médico. Recebamos, pois, o bem de onde vier e, a não ser com provas autênticas, não atribuamos o seu mérito ao diabo. É mais moral e mais racional atribuir o bem a Deus e lho agradecer; a respeito, penso que minha opinião será partilhada por vós e por todos os meus colegas.
Aliás, que isso se torne ou não uma realidade, sempre resultará algo para a Ciência. Não sou homem de olvidar certos meios empregados, que hoje muito negligenciamos. Diz-se que a Medicina fez imensos progressos. Sim, sem dúvida, para a Ciência, mas não tanto na arte de curar. Apreendemos muito e muito esquecemos. O Espírito humano é como o oceano: não pode abarcar tudo; quando invade uma praia, deixa outra. Voltarei ao assunto e vos porei ao corrente dessa curiosa experiência. Ligo a ela a maior importância; se triunfar, será uma brilhante manifestação contra a qual será impossível lutar, porque nada detém os que sofrem e querem curar-se. Estou decidido a tudo afrontar com esse objetivo, mesmo o ridículo que tanto se teme na França.
Aproveito a oportunidade para vos enviar minha tese inaugural. Se vos derdes ao trabalho de lê-la, compreendereis facilmente quanto eu estava disposto em admitir o Espiritismo.
Esta tese foi defendida quando a Medicina havia caído no mais profundo materialismo. Era um protesto contra essa corrente que nos arrastou para a Medicina orgânica e a farmacologia mineral, de que tanto se abusou. Quanta saúde arruinada pelo uso de substâncias minerais que, em caso de insucesso, aumentam o mal e, no de melhora, muitas vezes deixam traços em nosso organismo!
Aceitai etc.
Morhéry
 
Nova correspondência do Dr. Morhéry sobre a Srta. Désirée Godu
20 de março de 1860.
Senhor,
Em minha última carta anunciei-vos que a Srta. Désirée Godu tinha vindo exercer sua faculdade curadora sob minhas vistas. Hoje venho vos trazer algumas novidades.
Desde 25 de fevereiro, comecei minhas observações sobre um grande número de doentes, quase todos indigentes e impossibilitados de tratamento adequado. Alguns têm doenças pouco importantes. A maioria, porém, é acometida por afecções que resistiram aos meios curativos ordinários. Cataloguei, desde 25 de fevereiro, 152 casos de moléstias muito variadas. Infelizmente, em nossa região, sobretudo os doentes indigentes seguem seus caprichos e não têm paciência para se resignarem a um tratamento contínuo e metódico. Desde que experimentam melhora, julgam-se curados e nada mais fazem. É um fato muitas vezes constatado em minha clientela e que, necessariamente, deveria ocorrer com a Srta. Godu.
Como já vos disse, nada quero prejulgar, nada afirmar, exceto os resultados constatados pela experiência. Mais tarde farei o inventário de minhas observações e constatarei as mais notáveis.
Mas, desde já, posso exprimir a minha admiração por certas curas obtidas fora dos meios ordinários.
Vi curar sem quinino três episódios de febres intermitentes, rebeldes, dos quais um havia resistido a todos os meios por mim empregados.
 A Srta. Godu curou igualmente três panarícios e duas inflamações subaponevróticas da mão, em poucos dias. Fiquei deveras surpreendido.
Posso também constatar a cura, ainda não radical, mas muito avançada, de um de nossos mais inteligentes trabalhadores, Pierre Le Boudec, de Saint-Hervé, surdo há 18 anos; ele ficou tão maravilhado quanto eu, quando, após três dias de tratamento, pôde ouvir o canto dos pássaros e a voz de seus filhos. Vi-o esta manhã; tudo leva a crer numa cura radical dentro em pouco.
Entre nossos doentes, o que mais atrai minha atenção neste momento é um tal Bigot, operário em Saint-Caradec, acometido há dois anos e meio por um câncer do lábio inferior. O câncer chegou ao último grau; o lábio inferior está parcialmente destruído; as gengivas, as glândulas sublinguais e submaxilares estão canceromatosas; o próprio osso maxilar inferior está afetado pela moléstia. Quando se apresentou em minha casa seu estado era desesperador; suas dores eram atrozes; não dormia há seis meses; qualquer operação era impraticável, pois o mal estava muito avançado; a cura me parecia impossível e o declarei com toda franqueza à Srta. Godu, a fim de premuni-la contra uma derrota inevitável. Minha opinião não variou quanto ao prognóstico; não posso acreditar na cura de um câncer tão avançado. Entretanto, devo declarar que, desde o primeiro curativo, o doente experimenta alívio e, a partir de 25 de fevereiro, dorme bem e se alimenta; voltou-lhe a confiança; a ferida mudou de aspecto de modo visível e, se isso continuar, a despeito de minha opinião tão formal, serei obrigado a esperar uma cura. Se realizar-se será o maior fenômeno de cura que se possa constatar. É preciso esperar e ter paciência com o doente. A Srta. Godu tem com ele um cuidado todo especial; por vezes tem feito curativos de meia em meia hora. Esse indigente é o seu favorito.
Quanto a outras coisas, nada tenho a dizer. Poderia edificar-vos sobre os boatos, mexericos e alusões à feitiçaria; mas como a tolice é inerente à Humanidade, não me dou ao trabalho de tentar erradicá-la.
Aceitai etc.
Morhéry
 
Observação – Como se pode ficar convencido pelas duas cartas acima, o Dr. Morhéry não se deixa fascinar pelo entusiasmo; observa as coisas friamente, como homem esclarecido que não se permite ilusões; demonstra inteira boa-fé e, pondo de lado o amor próprio do médico, não teme confessar que a Natureza pode prescindir dele, inspirando a uma jovem sem instrução os meios de curar que ele não encontrou sequer em sua Faculdade, nem em seu próprio cérebro, não se julgando humilhado por isso. Seus conhecimentos de Espiritismo mostram-lhe que a coisa é possível, sem que, por isso, haja derrogação das leis da Natureza; ele a compreende, desde que essa notável faculdade é para ele um simples fenômeno, mais desenvolvido na Srta. Godu que em outros. Pode-se dizer que essa jovem representa, para a arte de curar, o que Joana d’Arc representava para a arte militar. O Dr. Morhéry, esclarecido sobre os dois pontos essenciais – o Espiritismo como fonte e a Medicina ordinária como controle – pondo de lado o amor-próprio e qualquer sentimento pessoal, encontra-se na melhor posição para julgar imparcialmente, e nós cumprimentamos a Srta. Godu pela resolução tomada, de colocar-se sob seu patrocínio. Sem dúvida os leitores nos serão gratos por mantê-los ao corrente das observações que serão feitas ulteriormente.




[1] Revista Espírita – Abril/1860 – Allan Kardec

sábado, 27 de maio de 2017

Os Imigrantes de Capela[1]


 
João Donha - 06/03/2017
 

 Talvez uma das indicações do caráter de religião do Espiritismo seja o grau de passionalidade que atingem as polêmicas entre seus adeptos.
Uma dessas gira em torno das migrações planetárias, mais especificamente de uma “tese” que ousou localizar com exatidão a origem de uma leva de refugiados que teriam aportado em nosso planeta na infância da humanidade (hoje estaríamos da adolescência? ou na decrepitude?).
Sem dúvida, não é digna de ser levada a sério, como se fosse expressão de uma realidade passada, a historinha do Emmanuel (“A Caminho da Luz”) ou as teorizações racistas do Edgard Armond (“Os Exilados de Capela”). Mas, por outro lado, a rápida evolução das pesquisas na questão dos exoplanetas tornam temerária qualquer negação da possibilidade de vida num sistema múltiplo, por mais instável nos pareça.
Há uns três anos, sites espíritas festejavam a opinião de alguns cientistas de que estrelas múltiplas dificilmente gerariam planetas; no entanto, há alguns meses descobriram um planeta no sistema de Alfa Centauri, um sistema triplo de estrelas. E, ainda, há vários sites de divulgação científica que dão conta da possibilidade de existência de uma zona habitável em torno de Capela A e Capela B.
É, realmente, temerária a atitude desses médiuns e espíritos que detalham coisas que o homem ainda não tem condições de verificar. Chega a ser um tiro no escuro. Mas, eles já faziam isto desde os tempos de Kardec, detalhando vida em tudo quanto é pedra do Sistema Solar. Kardec dizia que eram opiniões, teorias sem comprovação, e tal, mas… publicava! Inclusive os desenhos das casas de celebridades! O resultado é que, se ele e seus seguidores mais equilibrados não recebiam como verdade, a maioria dos leitores, esperando apenas um gatilho para suas fantasias, o faziam. Como hoje em dia, no caso dos exilados de Capela. Se alguns acham muito detalhamento sem meios de comprovação para que se acredite, outros já tomam como verdade por ter sido “revelada”.
Daí a responsabilidade na análise. Se faço afirmações considerando “dados positivos” o que não o seja, e, dois ou três anos depois, tais “dados positivos” são enfraquecidos por novas descobertas, eu acabo é reforçando as crenças. O crédulo diz: “Viu, você disse que era impossível, e agora estamos vendo que é possível!” E usa isto para reforçar sua crença.
Voltando ao Sistema Capela, os conhecimentos que hoje vão se acumulando vertiginosamente — graças aos telescópios em órbita, como Hubble, Chandra, Kepler e outros, associados a outros enormes da superfície — e disseminados pelos sites de divulgação científica, nos permitem imaginar um modelo aproximado desse sistema.
Recentemente vi no site da NASA um professor mineiro perguntando ao diretor que coordena os projetos de exoplanetas, e este informava que não houve, até agora, nenhum programa voltado para Capela. Os projetos de busca são caros, envolvem participação de vários cientistas em vários observatórios, são planejados criteriosamente e, claro, acabam cobrindo uma área muito pequena do céu. O homem não atingiu ainda uma época de fartura que lhe permita encontrar planetas em todo canto ou onde queira.
O modelo aproximado seria este: colocamos duas bolas de basquete, a três metros uma da outra, e temos a imagem das duas gigantes amarelas Capela A e B (ou, também, Aa e Ab). Pegamos duas bolinhas de gude (no interior a gente dizia, “de vidro”), colocamos ambas a trinta quilômetros das duas primeiras e, numa distância de cem metros uma da outra — teremos as Capela C e D, duas anãs vermelhas. Segundo ainda sites e publicações de divulgação, há possibilidade de uma zona habitável numa órbita em torno das duas gigantes amarelas, uma outra zona habitável em torno de Capela C, e outra em torno de Capela D. Os cientistas envolvidos nas buscas de exoplanetas ainda não se interessaram em localizar planetas nessas zonas; e, talvez eles nem existam. Não temos elementos, no estágio atual dos conhecimentos, nem para afirmar, nem para negar a existência deles. Por enquanto, temos apenas as pretensões de Emmanuel e Armond, e a ficção de Camile Flammarion compartilhada por Kardec na Revista Espírita.


sexta-feira, 26 de maio de 2017

Por que melindramos?[1]


 
Ermance Dufaux
 

“Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar”.

Um Espírito Protetor (Bordéus. 1863)
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. IX, Item 9

Por que nos ofendemos? Por que temos tanta suscetibilidade em relação a tudo que nos cerca? Quais as razões de encolerizarmos perante fatos desagradáveis?
Eis três perguntas para as quais devemos dirigir nossa meditação, caso queiramos entender o que se passa conosco nos desafios do progresso espiritual.
Iniciemos nossas ponderações conceituando a palavra ofensa. Existe a ofensa por razões naturais, provenientes do instinto de defesa e preservação. Através dessas agressões, recebemos da mente os sinais de alerta para avaliarmos com melhor exatidão e conveniência e o grau de perigo ou importância do que nos cerca.
É natural nos ofendermos com “palavrões” que causam “dores aos ouvidos sensíveis”, é natural nos ofendermos ao ver dois seres humanos se agredirem, é mais que justo que nos ofendamos e tenhamos raiva ao sermos assaltados em uma rua, seria muito natural nos ofendermos quando formos injustamente julgados pelas pessoas que nos conhecem. A ofensa tem sua faceta benéfica, porque não devemos aceitar tudo que acontece à nossa volta passivamente, sem uma reação que nos faça sentir lesados ou ameaçados. O objetivo desse sentimento será sempre o de nos colocar a pensar na elaboração de uma conduta ajustada à natureza das agressões que sofremos.
Contudo, larga diferença vai entre a ofensa natural e o melindre, que é a reação neurótica às ofensas. Melindre é o estado afetivo doente de fragilidade, que dilata a proporção e natureza das agressões que sofremos do meio. Pequenas atitudes ou delicadas situações são motivos suficientes para que o portador do melindre se agaste terrivelmente, fechando-se em corrosivo sistema de mágoa e decepção com os fatos e as pessoas que lhe foram motivo de incômodos e contrariedade. Assim, aumenta a intensidade do fato e desgasta-se afetivamente através de imaginações febris sobre a natureza das ocorrências que lhe afetaram.
Sabemos que a mágoa é o peso energético nascido das ofensas transportadas conosco dia após dia como fosse um “colesterol da alma”, causando-nos males no corpo e no Espírito. Sabemos também que a irritação é como se fosse dura martelada no sistema nervoso, levando-nos ao interesse e perda energética.
Então por que agasalhar semelhantes malefícios quando temos tanto esclarecimento?
Compreendamos algo sobre os mecanismos da ofensa e da cólera para avaliarmos sobre as razões que nos inclinam para essa atitude de desamor, e, fazendo assim, procuremos, igualmente, através do melhor entendimento oferecer a nós próprios o corretivo, para os problemas de melindre e contrariedades do dia a dia.
Primeiramente deixemos claro que na raiz do melindre e da ofensa está o orgulho. Vejamos o que nos diz o codificador a esse respeito: “Julgando-se com direitos superiores, melindre-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta” [2].
O que está por trás da grande maioria das ofensas humanas são as contrariedades, ou seja, tudo aquilo que não acontece como se gostaria que acontecesse. Contrariar para a maioria das criaturas significa ser contra aquilo que se espera, ser nocivo aos planos pessoais, ser prejudicial, ser desvantajoso. Nessa ótica, tudo aquilo que não ofereça alguma vantagem na nossa forma de conceber os benefícios da vida é algo inoportuno, indevido, que não deveria ter ocorrido, gerando reações no mundo íntimo, cujos reflexos poderão ser percebidos de criação de sentimentos de pessimismo, infelicidade, desapontamento, animosidade, tristeza e rancor.
Excetuando alguns casos de educação mal orientada na infância, esse “vício de não ser contrariado” foi adquirido pelo Espírito em suas diversas vilegiaturas reencarnatórias, nas quais teve todos os interesses pessoais atendidos a qualquer preço. É o velho hábito da satisfação plena dos desejos da personalidade que, dispondo de poder e recursos, não hesitou em colher sempre para si mesmo os frutos dos bens divinos que lhe foram confiados nas transatas experiências. Hoje, renasce em condições que limitam suas tendências de saciação egoísta, instaurando um delicadíssimo sistema de “revolta silenciosa” quando não consegue o atendimento de seus interesses, experimentando uma baixa tolerância a frustrações. Essa “revolta” é o movimento interior de repúdio da alma aos novos quadros da vida a que é lançada, nos quais é compelido, pela força das circunstancias, a aprender a obediência aos ditames da Lei Natural, nem sempre afinados com seus gostos e aspirações individuais. Esse é o preço justo que pagamos pelo costume de ser atendido em tudo que queríamos no pretérito, quando deveríamos ter aproveitado as ocasiões de fartura e liberdade para sermos atendidos naquilo que fosse o melhor para todos.
Assim, a alma passa hoje por uma série de pequenas ou grandes situações na vida, se ofendendo e irritando com quase todas, desde que contrarie seus interesses individualistas. Um singelo ato de esquecer um documento ou ainda o simples ato de não ser correspondido num pedido a um familiar, ou mesmo, não ter sido escolhido para assumir a presidência da tarefa espírita, todos são motivos para a irritação, o desgaste e a animosidade, podendo chegar às raias da ofensa, da mágoa e do desequilíbrio. O estado íntimo nesse passo reproduz a nítida sensação de que tudo e todos estão contra sua pessoa, e fatos corriqueiros podem se tornar grandes problemas, enquanto os grandes problemas podem se tornar tragédias lamentáveis...
Os prejuízos desse hábito não cessam com as contrariedades, porque não se consegue improvisar defesas para um condicionamento tão envelhecido de hora para outra. Uma faceta das mais comuns desse “estado de suscetibilidade” aos fatos da vida pode ser verificada na “neurose de controle”, a qual pode ser entendida como a atitude de tentar levar a vida de forma a não permitir nenhuma contrariedade, nenhuma decepção. Essa “neurose” pode ser considerada como uma maneira de se defender do “vício de não ser contrariado”.
Mas não para por aqui essa sequência de expiações na vida íntima. O esforço em controlar tudo para que as coisas aconteçam “a gosto” tem como principal metamorfose a preocupação. Preocupação é o resultado de quem quer ter domínio sobre tudo da sua existência. Surge inesperadamente ou por uma razão plausível, mas é, em muitas ocasiões, o resultado oneroso dessa “necessidade de tomar conta de tudo” para não acontecer o pior, o inesperado.
Classifiquemos com maleabilidade nas conceituações três espécies de dramas que vivem os contrariados:
Contrariado crônico – é aquele que não aceitou o próprio ato de reencarnar, já trazendo impresso na aura o clima de sua insatisfação, que irá refletir em todas as suas realizações. Casos como esse tendem a transtornos de natureza mental.
“Colecionador de problemas” – é aquele que traz, de outras vivências corporais, o vício da satisfação de interesses pessoais e que busca seu ajuste com os atuais quadros de limitação na reencarnação presente, desenvolvendo a preocupação com problemas reais e irreais em razão de tentar um controle sobre-humano nos fatos naturais de existência.
O adulto frustrado – é aquela criança que foi mal orientada, que teve quase todos os seus desejos e escolhas atendidas, criando ausência de limites e baixa resistência à frustração. Foi a criatura impedida pelos pais de se frustrar com os problemas próprios das crianças.
Em qualquer uma das situações citadas, o sentimento de ofensa será parte comum na vida dessas criaturas, podendo suscitar pequena ocorrências de decepção rotineira ou ainda dramas dolorosos da psicopatia, conforme as tendências e valores de cada Espírito. A psicopatologia do futuro verá na contrariedade uma grave doença mental e a etiologia de severos transtornos da alma.
O que importa a todos nós é o ingente trabalho de renovação no campo dos nossos interesses. Afeiçoar-se com mais devoção a aceitar as vicissitudes da vida, com resignação e paciência, fazendo o melhor que pudermos a cada dia em busca da recuperação pessoal, otimismo, ante os revezes, trabalho perante as perdas, confiança e boa convivência com amigos de ideal, serviço de amor ao próximo, instrução consoladora, fé no futuro e boa dose de humildade são as medicações para ofensas e ofendido na doença do melindre.
Ofendermo-nos é impulso natural em vista dos direcionamentos que criamos nas rotas do egoísmo. Contudo, Deus não criou um sistema de punições para seus filhos e nos concede a todo instante o direito de perdoarmos. E, perdoar, acima de tudo, significa aprender a aceitar sua Vontade Sábia e Justa em favor de nossa paz, na construção de dias mais plenos em sintonia com os grandes interesses do Pai.




[1] Reforma Íntima sem Martírio – Wanderley S. de Oliveira
[2] Obras Póstumas, Allan Kardec – Primeira Parte: “O egoísmo e o orgulho”.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

PARÁBOLA DAS VIRGENS PRUDENTES E DAS NÉSCIAS[1]



O Reino de Deus será comparado a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco dentre elas eram néscias e cinco prudentes. As néscias, tomando as suas lâmpadas não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas. Tardando o noivo, toscanejaram todas e adormeceram.
Mas à meia noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí a seu encontro! Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam suas lâmpadas. E disseram as néscias às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando! Porém as prudentes responderam: “Talvez não haja bastante para nós e para vós. Ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós”. Enquanto foram comprá-lo, veio o noivo; e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas e fechou-se a porta.
Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
“Portanto, vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora.”
(Mateus, XXV : 1-13)
 Há virgens e virgens, porque se umas são prudentes, outras são néscias[2].
Esta interessante parábola deixa ver bem claro que o Reino dos Céus não é um pandemônio de sábios e ignorantes, não é um ambiente onde tenham a mesma cotação os prudentes e os tolos.
A instrução espiritual é indispensável, assim como o é a instrução intelectual na vida social.
Os que passam a vida ociosamente, dela sugando o que tem de bom a lhes oferecer para a satisfação de deleites, os néscios, que julgam obter o Reino de Deus, sem estudo, sem esforço, sem trabalho, finalmente aqueles que não fazem provisão de conhecimentos que lhes aumentem a fé, estão sujeitos a verem apagadas as suas candeias, e a perderem a entrada às bodas quando se virem forçados, de um momento para outro, a fazer aquisição de óleo, que representa os conhecimentos que fazem combustão em nossas almas, acendendo em nosso coração a lâmpada sagrada da Fé.
A fé sem conhecimento pode ser comparada a uma candeia mal provida que à meia noite não dá mais luz.
Assim é a fé dogmática, misteriosa, abstrata: na ocasião das provações, das dores, dos sofrimentos, nessa metade da noite por que todos passam, essa fé é semelhante ao morrão que fumega, da torcida que já sugou a última gota de óleo.
A prudência, ao contrário, manda ao homem que seja precavido, que abasteça abundantemente não só a sua candeia, mas também a maior vasilha que puder transportar, com o combustível que se converte em luz para lhe iluminar os passos, o caminho, a estrada por onde tem de seguir, e que assim possa, envolto em claridade, afrontar as trevas da noite inteira e ainda lhe sobre luz para com ela saudar os primeiros raios do Sol nascente.
A prudência manda ao homem que estude, pesquise, examine, raciocine e compreenda.
As virgens, tanto as da primeira condição, como as da segunda, representam a incorruptibilidade, representam todos aqueles que se conservam isentos da corrupção do mundo.
Mas não é bastante resguardar-se da corrupção para se aproximar do Grande Modelo: Jesus, o Cristo.
Assim como sem a candeia bem abastecida de combustível as virgens néscias não puderam ir ao encontro do noivo e entrar com ele nas bodas, assim também sem uma luz que bem esclareça e ainda uma provisão de combustível que faça luz, ninguém pode ir ao encontro do Cristo e penetrar nos umbrais da aliança espiritual, para tomar parte nas bodas, cantando hosanas ao santo nome de Deus.
A necessidade é um entrave que paralisa o espírito, arrojando-o depois na mais densa escuridão.
Não é bastante a virgindade espiritual para a entrada da criatura humana no Reino de Deus, mas é preciso que a mesma seja ligada ao conhecimento, a todo o conhecimento que nos foi dado por Jesus Cristo, nosso Mestre e Irmão Maior.
Não pode haver no Céu um misto de ignorância e de santidade. Toda a santidade é cheia de sabedoria, porque é da sabedoria aliada à santidade que vem a verdadeira Fé e a consequente prática das boas obras.
As virgens néscias, por não terem azeite, não encontraram e nem puderam receber o noivo, assim como não tomaram parte nas bodas, porque suas lâmpadas se apagaram à chegada do noivo.
As virgens prudentes, ao contrário, acompanharam o noivo e com ele entraram nas bodas, porque tinham as suas lâmpadas bem acesas.
A Religião não é crença abstrata. É um conjunto maravilhoso de fatos, de ensinamentos, que se unem, se completam, se harmonizam concretamente.
Só os néscios não a compreendem, porque não abastecem as lâmpadas que lhes iluminariam esse Reino da Verdade, onde as bodas eternas felicitam os espíritos trabalhadores, humildes e prudentes.
A necessidade, é a antítese da prudência; esta não pode existir onde impera aquela.
Necessidade, ignorância, falta de tino, são os maiores entraves à elevação do Espírito para Deus.
A prudência é cheia de sabedoria, de circunspeção, de consideração e de serenidade de espírito. A prudência não obra desordenadamente, mas se afirma pela temperança, pela sensatez e pela discrição.
O inverso se dá com a necessidade. Envolta em trevas, debatendo-se em plena escuridade, não mede as responsabilidades, não prevê consequências, não arrazoa os atos que pratica.
Esta parábola, como dissemos, ensina aos que aspiram o Reino dos Céus, a necessidade da instrução, do cultivo do espírito, do exercício da inteligência e da razão, para a obtenção do conhecimento supremo, que nos guindará à eterna felicidade.
Não basta dizer: Senhor! Senhor! Não basta proferir preces, nem pronunciar orações mais ou menos emocionantes para a porta da felicidade nos seja aberta, preciso, primeiro que tudo, “abastecer as lâmpadas e os vasos”. O mandamento não é só amai-vos, é também instrui-vos.
A sabedoria é o óleo sagrado da instrução. Sem ela não há caminho para o Reino dos Céus, nem entrada para a “Casa de Deus”.
Sendo nossa estadia na Terra um meio de instrução, seremos néscios se descurarmos desse dever para nos entregarmos a labores ou diversões fúteis que nenhum progresso espiritual nos podem proporcionar.
As cinco “virgens prudentes” simbolizam os que leem, estudam, experimentam, investigam, raciocinam, e, procurando compreender a vida, trabalhando pelo seu próprio aperfeiçoamento.
As cinco “virgens néscias” são o símbolo daqueles que sabem tudo o que se passou, menos o que precisam saber: não estudam, enfastiam-se quando se lhes fala de assuntos espirituais; chegam mesmo a dizer que, enquanto estão nesta vida, dela tratarão, reservando o seu trabalho de Espírito para quando se passarem para o Outro Mundo.
Geralmente, são estes que, nos momentos angustiosos, ou quando a “morte” lhes bate à porta, revestem-se de uma “fé” toda fictícia e exclamam: Senhor! Senhor! E como não podem obter o “óleo” de que fala a parábola, pensam poder adquiri-lo com os mercadores, mas ao voltarem encontram “fechada a porta” e ouvem a voz de dentro que lhes diz: “Em verdade, não vos conheço”!
É preciso vigiar: procurar a verdade, onde quer que se encontre. É preciso adquirir conhecimentos, luzes internas que nos fazem ver o Senhor e nos permitem ingressar na sua morada.
A Religião é Luz e Harmonia; assim se apresentou ela aos Discípulos no Cenáculo: em forma de “línguas de fogo e como um vento impetuoso que encheu toda a sala”. E para segui-la é preciso ter olhos e ouvidos.
A necessidade nada sabe, nada compreende, nada conhece, nada pensa.
Só a prudência nos pode guiar no caminho da Vida, aproximando-nos daquele por cujos ditames conseguiremos nossa redenção espiritual.




[1] Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel
[2] Indivíduo que não sabe ou não é muito inteligente;  ignorante;  estúpido;  inepto; que não é sensato ou prudente;  irresponsável.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Um caso extraordinário de reencarnação com informações verificadas: Omm Sety e sua vida no Egito Antigo[1], [2]



Krayher (Fonte: http://www.ancient-code.com) - 08/03/2017

Pela natureza um tanto incrível das afirmações deste caso, embora com a ausência de recursos para verificação segundo os controles e os critérios da ciência atual dos eventos passados, consideramos positivamente a possibilidade deste caso ter sido autêntico na rememoração de fragmentos de uma vida passada. No entanto, devemos também considerar outras explicações como as teorias de dissociação de personalidade, Super ESP[3], telepatia, etc. Explicações que complicam o fenômeno e parecem até mais incríveis do que um caso autêntico de lembrança reencarnatória, que não é tão raro quanto algumas pessoas podem supor. Muitas descobertas arqueológicas foram feitas através dos apontamentos e indicações que as lembranças de Omm Sety forneceram. O conhecimento que ela demonstrava possuir, não estava disponível na literatura nem como hipóteses, e tinha uma riqueza de detalhes e precisão que chocavam.
Os detalhes da vida dessa mulher extraordinária, que intrigou pesquisadores de várias nacionalidades e permitiu se descobrissem achados arqueológicos de peso, confirmam e concordam com a vida espiritual como defendida por muitas doutrinas espiritualistas, entre elas a Doutrina Espírita. É um desafio ao pesquisador espírita ao mesmo tempo em que se mostra um exemplo patente de que vivemos várias vezes.
Milhões de pessoas ao redor do mundo, acreditam firmemente que a reencarnação é real. Curiosamente, existem inúmeros casos em todo o mundo, onde você pode encontrar indivíduos que parecem se lembrar de exatamente quem eles foram em uma “vida passada”. Alguns conseguem fornecer informações tão precisas que somente uma investigação cuidadosa pode confirmar, e confirmam de fato. (Vide os estudos do Dr. Ian Stevenson)
Uma das histórias mais fascinantes sobre reencarnação é a de Dorothy Eady, uma mulher que afirma ter sido amante de um faraó e sacerdotisa da deusa Ísis em sua vida passada, há milhares de anos. Hoje em dia, muitas crianças contam a história de suas “vidas passadas” e, enquanto muitos pais encaram isso como uma imaginação infantil, há algumas histórias que não podem ser facilmente descartadas e entregues a pura fantasia. Este é o caso de Dorothy Eady.
Dorothy nasceu em 1904 em um subúrbio perto de Londres, Reino Unido. Quando ela tinha cerca de três anos de idade, ela sofreu uma queda e feriu sua cabeça gravemente. Ela chegou a ser declarada como morta por seus médicos que não conseguiam reverter seu quadro de coma. Para a surpresa de todos a criança não morreu, acordou, e a partir daquele momento, toda a sua vida se transformou. A moça mudou para sempre; Suas ações não eram as de uma criança normal de três anos, e seus pais logo notaram isso. Em várias ocasiões, a jovem Dorothy exigiu que fosse levada para casa, para o Egito, a milhares de quilômetros dos subúrbios de Londres.
Ela estava convencida de que era capaz de se lembrar da sua vida passada e que havia nascido, em uma vida diferente, através dos mares na terra dos Faraós: o Egito. Dorothy não só se lembrava de quem era, mas contou detalhes incríveis de uma época em que era sacerdotisa egípcia.
De acordo com seus relatos, ela era uma mulher chamada Bentreshyt. Ela afirmar ter vividos e servido na corte do Faraó Sety.
A jovem Dorothy deixou seus pais malucos, e sua mudança radical de comportamento não pôde ser explicada tão facilmente. Em uma ocasião, ao olhar as velhas imagens do templo de Sety I, Dorothy declarou que era lá onde estava sua casa. Ela não conseguia entender por que não havia árvores e jardins ao redor do templo, mas ela estava firmemente convencida de que estava lá sua morada, há milhares de anos atrás.
Em uma ocasião, seus pais levaram a jovem Dorothy para visitar o Museu Britânico em Londres. Ao entrar no museu, o comportamento de Dorothy se tornou ainda mais estranho quando ela correu em direção às múmias do antigo Egito com estátuas de todos os deuses e deusas do Egito Antigo, que a jovem Dorothy começou a beijar incontrolavelmente.
Logo depois, a criança começou a gritar com uma voz que parecia estranha e extremamente antiga, deixando seus pais chocados.
Com a idade de quinze anos, Dorothy já tinha começado a estudar a história do Egito, e é então, quando a jovem teve seu primeiro sonho lúcido com a múmia do faraó Sety I. Este encontro mágico trouxe de volta muitas lembranças de seu passado, e foi então quando ela começou a completar o quebra-cabeça de sua reencarnação.
As lembranças e os sonhos graduais, além do conhecimento sobre o antigo Egito que ela estava pegando, acabaram levando Dorothy a deixar a religião cristã e abraçar a antiga religião politeísta do antigo Egito.
Dorothy tinha a incrível capacidade de aprender símbolos egípcios com facilidade. Ela começou a aprender hieróglifos egípcios no Museu Britânico, e ela surpreendeu seus professores com sua habilidade. Eventualmente, Dorothy explicou que era fácil desde que ela não estava aprendendo uma língua nova, mas estava apenas lembrando uma língua que tinha esquecido.
Em 1932, Dorothy mudou-se para Egito onde viveu com seu marido, Eman Abdel Meguid, um estudante egípcio que tinha conhecido na Inglaterra. Ao chegar ao Egito, Dorothy beijou o chão sabendo que ela estava finalmente em casa, dizendo que vinha ao Egito para ficar.
Eventualmente, Dorothy ficou grávida dando à luz um filho que ela nomeou – não surpreendentemente – Sety. É por isso que Dorothy Eady foi chamada Omm Sety, que traduzindo significa: mãe de Sety. Durante anos, Dorothy se esforçou muito para se lembrar de sua vida passada, montando um quebra-cabeça: A reencarnação de Bentreshyt.
Dorothy descobriu que em sua vida passada ela era uma jovem chamada Bentreshyt, que foi criada no Templo de Sety em Abydos a partir dos três anos. Dorothy relatou ter visitações numerosas de um espírito chamado Hor-Ra, que a ajudou a decifrar os segredos de sua vida passada. Ela foi deixada no templo pelo pai; Um soldado que não podia cuidar da criança depois que sua mãe, uma modesta vendedora de frutas, morreu.
Durante sua vida no templo de Abydos, onde ela se tornou uma sacerdotisa e “virgem consagrada” eventualmente, ela conheceu o deus vivo, Faraó Sety I, e os dois finalmente se apaixonaram. Como amante do Faraó, a jovem Bentreshyt acabou grávida, mas infelizmente, o destino de tal relacionamento não teve um final feliz.
Logo depois que ela descobriu que estava grávida, um sumo sacerdote do templo disse a Bentreshyt que a criança que ela esperava representaria uma grande ofensa contra a deusa Isis e poderia causar muitos problemas ao Faraó, então ela decidiu ou foi instigada a cometer suicídio.
Ao longo do ano, Dorothy ajudou arqueólogos com suas pesquisas, demonstrando que de alguma forma, sua história fascinante, era real. Dorothy mudou-se para Abydos em 1956, onde era conhecida como Omm Sety, e foi lá que ela enfrentou inúmeros desafios que testariam suas histórias e conhecimento. Se Dorothy de fato viveu no Egito há milhares de anos, então ela certamente deve ter se lembrado e conhecido detalhes importantes. Durante uma ocasião, quando Dorothy viajou para o Templo de Sety, o inspetor-chefe do Departamento de Antiguidades que conhecia a história de Omm Sety decidiu testar sua capacidade e conhecimento para descobrir se sua história era verdadeira ou não.
O chefe do Departamento de Antiguidades estava ansioso para ver se ela estava ou não mentindo. Ela foi convidada a ficar perto de uma pintura de parede em quase completa escuridão. Lá, o chefe do departamento de antiguidades lhe disse para identificá-los de acordo com as memórias de sua vida passada. As respostas foram fascinantes.
Curiosamente, as pinturas e as marcas que Dorothy identificou nunca foram vistas por ninguém no mundo. Eles não publicaram em nenhum lugar no Egito para que ninguém pudesse vê-los. Mas não só ela sabia todas as respostas, mas também contou ao chefe do Departamento de Antiguidades coisas que nem sequer haviam descoberto.
Sua história se tornou mais famosa, e ela ajudou com escavações e pesquisas no antigo Egito. Ela traduziu peças de arte extremamente difíceis que nem mesmo os maiores arqueólogos da época conseguiram. Seu conhecimento da antiga língua egípcia ajudou vários arqueólogos que estavam escavando em Abydos.
Muitos pesquisadores consideravam cautelosamente o que Omm Sety anunciava quando se tratava de história antiga egípcia. Um deles é o famoso egiptólogo britânico Kenneth Kitchen. Enquanto Kitchen nunca quis admiti-lo abertamente, existem vários recursos escritos que indicam que ele a ouviu. No entanto, Kenneth Kitchen foi o único. Acontece que Nicholas Reeves também teve surpresas quando ele começou a procurar o “túmulo perdido” da rainha Nefertiti. De acordo com Eady, o túmulo estava localizado no Vale dos Reis.
Curiosamente, de acordo com Eady, o túmulo da Rainha Nefertiti foi descoberto localizado no Vale dos Reis.
 
De acordo com Omm Sety:
– Uma vez perguntei a Sua Majestade onde estava, e ele me contou. Ele disse: “Por que você quer saber?” Eu disse que gostaria de escavá-lo, e ele disse: “Não, você não deve. Nós não queremos que nada mais desta família seja conhecido”. Mas ele me disse onde estava, e eu posso te dizer isso. Está no Vale dos Reis, e está bem perto do túmulo de Tutankhamon. Mas é em um lugar onde ninguém jamais pensaria em procurá-lo”, ela riu. “E aparentemente ainda está intacto” …”
 
Dorothys Garden em Abydos
Todas as manhãs, Dorothy iria ao templo para orar. Durante os aniversários de Isis e Osíris, ela realizou cerimônias alimentícias, trazendo cerveja, vinho e pão, exatamente como foi fazia há milhares de anos.
Durante uma ocasião, Dorothy disse que em sua vida passada, quando ela era Bentreshyt, o Templo de Sety estava cercado por árvores e tinha um belo jardim. Naquela época, os jardins estavam longe de serem verificados. Mas então, um dia, os arqueólogos escavaram algo inédito, um jardim. Mas este não era um jardim comum em algum lugar em Abydos. O jardim foi colocado no mesmo local, onde Dorothy disse que o jardim estava.
Este conhecimento incrível e suas habilidades fascinantes são evidências suficientes para muitas pessoas de que a reencarnação é real.
Os céticos sempre permanecerão cautelosos quando se trata de afirmações desta natureza. No entanto, muitas pessoas no Egito acreditam firmemente que Omm Sety, Dorothy ou Bentreshyt, reencarnaram e viveram durante o reinado do faraó Sety I milhares de anos atrás.
Dorothy morreu em 21 de abril de 1981. Mas ela se assegurou de que, antes de sua morte, os moradores se lembrassem dela, e o fizeram, como uma senhora apaixonada com um conhecimento nunca antes visto de Abydos, do antigo Egito e da antiga língua egípcia. Se os céticos acreditavam nela ou não, é outra história, os moradores certamente o fizeram.
 
Assista ao documentário sobre a história de Omm Sety[4]  (em Inglês)




[3] Percepção Extra Sensorial