João Donha - 06/03/2017
Talvez uma das indicações do caráter de
religião do Espiritismo seja o grau de passionalidade que atingem as polêmicas
entre seus adeptos.
Uma dessas gira em torno das
migrações planetárias, mais especificamente de uma “tese” que ousou localizar
com exatidão a origem de uma leva de refugiados que teriam aportado em nosso
planeta na infância da humanidade (hoje estaríamos da adolescência? ou na
decrepitude?).
Sem dúvida, não é digna de ser
levada a sério, como se fosse expressão de uma realidade passada, a historinha
do Emmanuel (“A Caminho da Luz”) ou as teorizações racistas do Edgard Armond
(“Os Exilados de Capela”). Mas, por outro lado, a rápida evolução das pesquisas
na questão dos exoplanetas tornam temerária qualquer negação da possibilidade
de vida num sistema múltiplo, por mais instável nos pareça.
Há uns três anos, sites
espíritas festejavam a opinião de alguns cientistas de que estrelas múltiplas
dificilmente gerariam planetas; no entanto, há alguns meses descobriram um
planeta no sistema de Alfa Centauri, um sistema triplo de estrelas. E, ainda,
há vários sites de divulgação científica que dão conta da possibilidade de
existência de uma zona habitável em torno de Capela A e Capela B.
É, realmente, temerária a
atitude desses médiuns e espíritos que detalham coisas que o homem ainda não
tem condições de verificar. Chega a ser um tiro no escuro. Mas, eles já faziam
isto desde os tempos de Kardec, detalhando vida em tudo quanto é pedra do
Sistema Solar. Kardec dizia que eram opiniões, teorias sem comprovação, e tal,
mas… publicava! Inclusive os desenhos das casas de celebridades! O resultado é
que, se ele e seus seguidores mais equilibrados não recebiam como verdade, a
maioria dos leitores, esperando apenas um gatilho para suas fantasias, o
faziam. Como hoje em dia, no caso dos exilados de Capela. Se alguns acham muito
detalhamento sem meios de comprovação para que se acredite, outros já tomam
como verdade por ter sido “revelada”.
Daí a responsabilidade na
análise. Se faço afirmações considerando “dados positivos” o que não o seja, e,
dois ou três anos depois, tais “dados positivos” são enfraquecidos por novas
descobertas, eu acabo é reforçando as crenças. O crédulo diz: “Viu, você disse
que era impossível, e agora estamos vendo que é possível!” E usa isto para
reforçar sua crença.
Voltando ao Sistema Capela, os
conhecimentos que hoje vão se acumulando vertiginosamente — graças aos
telescópios em órbita, como Hubble, Chandra, Kepler e outros, associados a
outros enormes da superfície — e disseminados pelos sites de divulgação
científica, nos permitem imaginar um modelo aproximado desse sistema.
Recentemente vi no site da NASA
um professor mineiro perguntando ao diretor que coordena os projetos de
exoplanetas, e este informava que não houve, até agora, nenhum programa voltado
para Capela. Os projetos de busca são caros, envolvem participação de vários
cientistas em vários observatórios, são planejados criteriosamente e, claro,
acabam cobrindo uma área muito pequena do céu. O homem não atingiu ainda uma
época de fartura que lhe permita encontrar planetas em todo canto ou onde
queira.
O modelo aproximado seria este:
colocamos duas bolas de basquete, a três metros uma da outra, e temos a imagem
das duas gigantes amarelas Capela A e B (ou, também, Aa e Ab). Pegamos duas
bolinhas de gude (no interior a gente dizia, “de vidro”), colocamos ambas a
trinta quilômetros das duas primeiras e, numa distância de cem metros uma da
outra — teremos as Capela C e D, duas anãs vermelhas. Segundo ainda sites e
publicações de divulgação, há possibilidade de uma zona habitável numa órbita
em torno das duas gigantes amarelas, uma outra zona habitável em torno de
Capela C, e outra em torno de Capela D. Os cientistas envolvidos nas buscas de
exoplanetas ainda não se interessaram em localizar planetas nessas zonas; e,
talvez eles nem existam. Não temos elementos, no estágio atual dos
conhecimentos, nem para afirmar, nem para negar a existência deles. Por
enquanto, temos apenas as pretensões de Emmanuel e Armond, e a ficção de Camile
Flammarion compartilhada por Kardec na Revista Espírita.
Quem escreveu esse artigo é espírita? ?
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