Frederico Elboni
Um dia, sem aviso prévio, as
pessoas se vão e nos deixam de lembrança suas histórias. Sejam elas as vividas,
ou as sonhadas. E as histórias de quem se foi, é a forma mais gostosa de
eternizar aquela pessoa na gente.
Quando uma pessoa querida se
vai, ela nos deixa uma parte de si. Deixa também um pouco de solidão. E a
solidão, com o tempo se torna amiga.
E assim, descobrimos com as
pessoas que se foram que um belo abraço e um olhar carinhoso sempre se faz
presente, e, que nada verdadeiramente grande se faz sem uma parcela de amor.
Lembro-me como se fosse ontem do
dia em que meu pai partiu. Eu não era lá um filho muito carinhoso, confesso.
Já ele, também sempre foi um
homem de poucas palavras quando o assunto eram os sentimentos. Nos bastávamos
assim.
Um pouco antes de partir,
daquele seu jeito único que mesclava rispidez e sinceridade, ele parou alguns
segundos e começou a divagar comigo. E, entre olhares e choros contidos, me
disse da forma mais sincera possível que no leito de morte nós somos pessoas de
verdade.
Somos, pois conseguimos clarear
os horizontes e sentir a emoção que é vivida naquele instante. Não há outras
preocupações além de viver os últimos instantes que temos.
Ainda criança, olhei para ele um
pouco sem chão e perguntei como iria conseguir me refazer sozinho. E com um
sorriso que pouco havia visto, ele me disse com os olhos cheios de lágrimas
que: “são belas as aves que voam sozinhas”.
A verdade é que um dia, cedo ou
tarde, a dor invade sem pedir licença. Se coloca ao nosso lado, conversa com a
gente e nos diz que não irá embora até conversarmos com ela. A dor engana, cria
ilusão, se faz infinita.
Hoje, sendo uma ave que voa
sozinha, aprendi que o amor de uma pessoa que se foi, na verdade, nunca se vai. Ele fica. Nas histórias, na
saudade e na esperança certeira dela estar sempre torcendo por nós.
Com alguns dias cheios de choro,
e algumas pessoas perdidas, a gente aprende que a vida não passa de uma
oportunidade de encontro. Encontrar quem a gente ama, nos doar inteiramente e
saber que, mesmo não parecendo, isso foi o suficiente.
A saudade sempre grita. Mas a
certeza do coração, diz à ela que um dia a gente irá descobrir que, como dizia
Arthur Schopenhauer, o amor é a compensação da morte.
Então, que a gente consiga
valorizar e compreender mais as pessoas. Pois, todo coração pede, implora, uma
oportunidade de deixar seu amor eterno na gente.
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