Richard Simonetti
A morte, com raras exceções, é
traumatizante. Afinal, o Espírito deixa um veículo de carne ao qual está tão intimamente
associado que se lhe afigura, geralmente, parte indissociável de sua
individualidade (ou toda ela para os materialistas).
Por outro lado, raros estão
preparados para a jornada compulsória, quando deixamos a acanhada ilhota das percepções
físicas rumo ao glorioso continente das realidades espirituais.
Impregnados por interesses e
preocupações materiais, os viajores enfrentam compreensíveis percalços.
Em tal circunstância, tanto o
paciente que enfraquece paulatinamente, quanto os familiares em dolorosa
vigília, podem valer‐se de um recurso infalível: a oração.
Por suas características
eminentemente espiritualizantes, representando um esforço por superar os condicionamentos
da Terra para uma comunhão com o Céu, ela favorece uma "viagem"
tranquila para os que partem.
Os que ficam encontram nela um
lenitivo providencial que ameniza a sensação de perda pessoal, preenchendo o
vazio que se abre em seus corações com a reconfortante presença de Deus, fonte
abençoada de segurança, equilíbrio e serenidade em todas as situações.
Todavia, a eficiência da oração
está subordinada a uma condição essencial: o sentimento.
Se simplesmente repetimos
palavras, em fórmulas verbais, caímos num processo mecânico inócuo. Só o
coração consegue comunicar‐se com Deus, dispensando verbalismo.
O próprio "Pai Nosso",
a sublime oração ensinada por Jesus, não é nenhum recurso mágico, cuja
eficiência esteja subordinada à repetição. Trata‐se de um roteiro relativo à nossa
atitude na oração, iniciando‐se com a orientação de que devemos estar muitos
confiantes, porque Deus é nosso Pai, e termina ensinando que é preciso vencer o
mal que existe em nós com o combate sistemático às tentações.
Destaque‐se aquele incisivo
"seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu", em que
Jesus deixa bem claro que compete a Deus definir o que é melhor para nós.
Em qualquer circunstância,
particularmente na grande transição, se nutrirmos sentimentos de desespero e inconformação,
sairemos do santuário da oração tão perturbados e aflitos como quando entramos.
Quando o desencarnante e seus
familiares controlam as emoções, cultivando, em prece, sentimentos de confiança
e contrição, os técnicos da Espiritualidade encontram facilidade para promover
o desligamento, sem traumas maiores para o que parte, sem desequilíbrios para
os que ficam.
[1] Quem tem medo
da morte? – Richard Simonetti
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