Richard Simonetti
“Só peru morre na véspera!” –
diz o adágio popular, fazendo referência ao fato de que ninguém desencarna
antes que chegue seu dia.
Na realidade, ocorre o
contrário. Poucos cumprem integralmente o tempo que lhes foi concedido. Com
raras exceções, o homem terrestre atravessa a existência pressionando a máquina
física, a comprometer sua estabilidade.
Destruímos o corpo de fora para
dentro com os vícios, a intemperança, a indisciplina...
O álcool, o fumo, o tóxico, os
excessos alimentares, tanto quanto a ausência de exercícios, de cuidados de
higiene e de repouso adequado minam a resistência orgânica ao longo dos anos,
abreviando a vida física.
Destruímos o corpo de dentro
para fora com o cultivo de pensamentos negativos, ideias infelizes, sentimentos
desequilibrantes, envolvendo ciúme, inveja, pessimismo, ódio, rancor,
revolta...
Há indivíduos tão habituados a
reagir com irritação e agressividade, sempre que contrariados, que um dia “implodem”
o coração em enfarte fulminante. Outros “afogam” o sistema imunológico num
dilúvio de mágoas e ressentimentos, depressões e angústias, favorecendo a
evolução de tumores cancerígenos.
Tais circunstâncias fatalmente
implicarão em problemas de adaptação, como ocorre com os suicidas. Embora a
situação dos que desencarnaram prematuramente em virtude de intemperança mental
e física, seja menos constrangedora, já que não pretendiam a morte, ainda assim
responderão pelos prejuízos causados à máquina física, que repercutirão no
perispírito, impondo-lhes penosas impressões.
Como sempre, tais desajustes
refletir-se-ão no novo corpo, quando tornarem à experiência reencarnatória,
originando deficiências e males variados que atuarão por indispensáveis
recursos de reajuste.
Não somos proprietários de nosso
corpo. Usamo-lo em caráter precário, como alguém que alugasse um automóvel para
longa viagem. Há um programa a ser observado, incluindo roteiro, percurso,
duração, manutenção.
Se abusamos dele, acelerando-o
com indisciplinas e tensões, envenenando-o com vícios, esquecendo os lubrificantes
do otimismo e do bom ânimo, fatalmente ver-nos-emos às voltas com graves
problemas mecânicos. Além de interromper a viagem, prejudicando o que fora
planejado, seremos chamados a prestar contas dos danos provocados num veículo
que não é nosso.
No futuro, em nova “viagem”,
provavelmente teremos um “calhambeque” com limitações variadas, a exigir maior
soma de cuidados, impondo-nos benéficas disciplinas.
[1] Quem tem medo
da Morte – Richard Simonetti
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