Henri Sausse
No começo do Grupo Amizade, o
meu amigo, Sr. Laurent de Farget era muito assíduo das nossas reuniões. Uma
noite, quando chegou, perguntou-me:
— Você leu a Revista Espírita
deste mês?
— Não, por quê?
— Porque contém uma comunicação
assinada por George Sand[2],
que nada tem a ver com o estilo desse autor, que é mais do meu agrado do que
muitos outros, parece-se menos com o estilo dele do que um burro com um
bispo! Para o burro vai ser indiferente,
— disse rindo,— mas pouco lisonjeiro para o bispo! — E acrescentou — “Escrevi
ao Sr. Leymarie[3],
para lhe dizer que não compreendia como a revista podia publicar tais
loucuras.”
Na reunião seguinte, de Faget me
diz:
— Você conhece em Lyon uma
médium chamada Marguerite?
- Conheci muito bem na casa do Sr. Finet lá
para 1874, uma médium com esse nome, porém perdi-a de vista a partir de então e
pelo que posso lembrar, sentia-se muito envaidecida pela mediunidade que
possuía e deixou de assistir às reuniões porque as comunicações dela não eram
levadas em conta como ela gostaria que fossem.
– Olhe aqui, então, leia esta resposta ao
assunto da comunicação assinada por George Sand.
Então, li: “Estimado Sr., não
tenho tempo a perder com apreciações como as suas, os Espíritos que me guiam
são elevados demais para se rebaixarem a discutir com pessoas de baixa estofa
como você”.
— O que você acha?
- Acredito que o orgulho sempre é um muito mau
conselheiro.
Levando em conta os resultados
que eram obtidos pelo nosso pequeno grupo de dez pessoas, fomos crescendo e
logo chegamos a ser vinte e depois vinte e cinco, sem saber muito bem com quem
estávamos a tratar. Entre os novos, estava a Sra. G…, que tinha uma instrução
muito básica, porém era boa médium e conseguia excelentes comunicações escritas
com uma ortografia fonética, muito pouco realista. Gostávamos dela, porque seus
ditados eram verdadeiras páginas de literatura e até de eloquência que
surpreendiam e encantavam a nós todos.
Certa noite, sozinho em casa, eu
estava lendo perto do fogão da minha cozinha, e escutei um barulho singular;
parecia o barulho de sucata a se mover dentro de uma saladeira. Pego a lâmpada
na mão e começo a procurar a causa daquele barulho, mas não enxergo nada que
possa me dar noção do que está acontecendo. Continuo na leitura, mas dali a um
instante o mesmo barulho torna a se ouvir. Vou de novo procurar, com mais
atenção, porém sem êxito. Então pensei que talvez fosse um aviso que alguém
está querendo me dar. Se for isso, falei, façam de novo, e a seguir o barulho
voltou a se deixar ouvir pela terceira vez e então escrevo: “Estão te
enganando, não diga nada, porém observe e acabará por descobrir.” — Assinado,
teu avô.
E o mesmo barulho acontece, pela
quarta vez.
No dia seguinte, dia da sessão,
acabava de colocar Luísa em sonambulismo, quando ela me diz: “Seu avô está
perto de você, ele é que veio à sua casa na noite de ontem: observe e verá”.
Não precisei esperar muito. Na
segunda reunião depois dessa, a Sra. G… leu uma comunicação de um lirismo
sublime; porém à medida em que ela ia lendo, um ronrom aparecia no meu cérebro
e quando ela terminou a leitura, pergunto a ela: “quem assina é Chateaubriand?”
— Sim, senhor, justamente. – e
continuou – É o rouxinol, sim. Aprendi este texto na escola, em um livro de
trechos escolhidos em literatura!…
A mulher ficou vermelha como uma
crista de galo e não tornou a aparecer em nossas reuniões. Ela tinha umas
meninas que aprendiam na escola, em um livro, as páginas dos mestres da nossa
língua; quando ajudava as meninas a memorizá-las, ela também as aprendia e
depois as escrevia como podia; no entanto, ela era médium; deu provas sérias
disso depois, mas só para aparentar e atrair lisonjas, ela falsificava uma
faculdade verdadeira e a transformava em uma faculdade simulada.
Lisonjear os médiuns é fazer que se percam, não devemos lisonjeá-los
nunca se não queremos que eles nos enganem, devemos estar sempre alerta.
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