quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Orgulho e Simulação Mediúnica[1]



Henri Sausse


No começo do Grupo Amizade, o meu amigo, Sr. Laurent de Farget era muito assíduo das nossas reuniões. Uma noite, quando chegou, perguntou-me:

— Você leu a Revista Espírita deste mês?

— Não, por quê?

— Porque contém uma comunicação assinada por George Sand[2], que nada tem a ver com o estilo desse autor, que é mais do meu agrado do que muitos outros, parece-se menos com o estilo dele do que um burro com um bispo!  Para o burro vai ser indiferente, — disse rindo,— mas pouco lisonjeiro para o bispo! — E acrescentou — “Escrevi ao Sr. Leymarie[3], para lhe dizer que não compreendia como a revista podia publicar tais loucuras.”

Na reunião seguinte, de Faget me diz:

— Você conhece em Lyon uma médium chamada Marguerite?

-  Conheci muito bem na casa do Sr. Finet lá para 1874, uma médium com esse nome, porém perdi-a de vista a partir de então e pelo que posso lembrar, sentia-se muito envaidecida pela mediunidade que possuía e deixou de assistir às reuniões porque as comunicações dela não eram levadas em conta como ela gostaria que fossem.

 Olhe aqui, então, leia esta resposta ao assunto da comunicação assinada por George Sand.

Então, li: “Estimado Sr., não tenho tempo a perder com apreciações como as suas, os Espíritos que me guiam são elevados demais para se rebaixarem a discutir com pessoas de baixa estofa como você”.

— O que você acha?

-  Acredito que o orgulho sempre é um muito mau conselheiro.

Levando em conta os resultados que eram obtidos pelo nosso pequeno grupo de dez pessoas, fomos crescendo e logo chegamos a ser vinte e depois vinte e cinco, sem saber muito bem com quem estávamos a tratar. Entre os novos, estava a Sra. G…, que tinha uma instrução muito básica, porém era boa médium e conseguia excelentes comunicações escritas com uma ortografia fonética, muito pouco realista. Gostávamos dela, porque seus ditados eram verdadeiras páginas de literatura e até de eloquência que surpreendiam e encantavam a nós todos.

Certa noite, sozinho em casa, eu estava lendo perto do fogão da minha cozinha, e escutei um barulho singular; parecia o barulho de sucata a se mover dentro de uma saladeira. Pego a lâmpada na mão e começo a procurar a causa daquele barulho, mas não enxergo nada que possa me dar noção do que está acontecendo. Continuo na leitura, mas dali a um instante o mesmo barulho torna a se ouvir. Vou de novo procurar, com mais atenção, porém sem êxito. Então pensei que talvez fosse um aviso que alguém está querendo me dar. Se for isso, falei, façam de novo, e a seguir o barulho voltou a se deixar ouvir pela terceira vez e então escrevo: “Estão te enganando, não diga nada, porém observe e acabará por descobrir.” — Assinado, teu avô.

E o mesmo barulho acontece, pela quarta vez.

No dia seguinte, dia da sessão, acabava de colocar Luísa em sonambulismo, quando ela me diz: “Seu avô está perto de você, ele é que veio à sua casa na noite de ontem: observe e verá”.

Não precisei esperar muito. Na segunda reunião depois dessa, a Sra. G… leu uma comunicação de um lirismo sublime; porém à medida em que ela ia lendo, um ronrom aparecia no meu cérebro e quando ela terminou a leitura, pergunto a ela: “quem assina é Chateaubriand?”

— Sim, senhor, justamente. – e continuou – É o rouxinol, sim. Aprendi este texto na escola, em um livro de trechos escolhidos em literatura!…

A mulher ficou vermelha como uma crista de galo e não tornou a aparecer em nossas reuniões. Ela tinha umas meninas que aprendiam na escola, em um livro, as páginas dos mestres da nossa língua; quando ajudava as meninas a memorizá-las, ela também as aprendia e depois as escrevia como podia; no entanto, ela era médium; deu provas sérias disso depois, mas só para aparentar e atrair lisonjas, ela falsificava uma faculdade verdadeira e a transformava em uma faculdade simulada.

Lisonjear os médiuns é fazer que se percam, não devemos lisonjeá-los nunca se não queremos que eles nos enganem, devemos estar sempre alerta.




[2] George Sand. – É o pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin, baronesa de Dudevant, aclamada romancista e memorialista francesa, considerada a maior escritora francesa e uma das precursoras do feminismo.
[3] Pierre Gaëtan-Leymarie

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