Marcos Vinicius de Azevedo
Braga[2]
- Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Caminhamos pela rua e vemos nos
postes, outdoors e filipetas anúncios de prestação de serviços de natureza
mediúnica, nas artes da adivinhação e nos famosos serviços que objetivam a
busca de riqueza ou a volta da pessoa amada, com variantes e promocionais
típicos da mercadologia, na qual se estabelecem prazos para a execução de
serviços e a ação gratuita – denominada caridade, para chamar a atenção do cliente
para o nosso estabelecimento, diante de outros, que ofertam produtos similares.
A série “Médium” (2005-2011),
exibida na TV por assinatura e que tem como protagonista a médium Allison
Dubois, interpretada de forma primorosa pela atriz Patrícia Arquette, é baseada
em uma história real de uma médium que atua como consultora, na resolução de
crimes, situação corriqueira nos Estados Unidos, na qual médiuns utilizam seus
dotes para encontrar pessoas desaparecidas e para auxiliar a polícia,
geralmente de forma remunerada, suprindo o que a ciência forense não consegue
resolver.
Jovens reunidos animam suas
noites com a brincadeira do copo, perturbando e sendo perturbados, em uma visão
frívola da relação com os desencarnados, perguntando sobre amores e o futuro,
se divertindo e servindo de diversão para Espíritos que ainda não despertaram
para a luz. Tudo isso após assistirem aos famosos filmes de terror, fascinados
pelo desconhecido, e ansiosos por sentir a sensação de medo.
Programas televisivos dos nossos
irmãos evangélicos mostram incorporações de Espíritos, em rituais de
exorcismos, com gritos, cantos e muita exaltação, na qual os Espíritos dos
mortos recebem a alcunha de “Espírito Santo” e de “Demônios”, em espetáculos
que misturam conceitos do cristianismo e de cultos afro-brasileiros, atendendo
a demandas diversas, na carência material e espiritual, na espetacularização
das mazelas humanas.
O fenômeno mediúnico aparece aí,
no cotidiano vivo das pessoas, independente de sua filiação religiosa. Estas
manifestações, entre outras, mostram a inserção da mediunidade na sociedade,
seja na adivinhação que remonta à Grécia antiga, na terceirização de favores
espirituais alcunhada de feitiçaria, no apoio à resolução de casos policiais,
ou ainda, em situações mais incomuns, como a previsão do tempo e a busca de
respostas em consultas aos Espíritos.
Assim, relacionam-se Espíritos
encarnados e desencarnados, de formas por vezes bizarras, em consórcios para
finalidades comuns, regidos pela lei de afinidade, em propósitos por vezes nem
tão nobres assim, como nem tão nobre é o moto das ações dos encarnados.
A seara espírita nos brinda com
um paradigma diferente… Na mediunidade com Jesus, naquela que busca associar
planos para produzir o bem em ambas as dimensões, procura-se exercer a
comunicação com o plano espiritual como um ofício na produção do bem, no qual o
propósito elevado comanda as tarefas a serem desempenhadas, para além de
interesses pessoais e da frivolidade.
Na carta consoladora do ente
desencarnado, em prática consagrada por Chico Xavier e exercida por tantos
outros companheiros, encontramos o consolo daqueles que se associam ao
desespero diante do fenômeno da morte.
Na ação curativa, traz-se a
reflexão aos que sofrem as enfermidades sobre as causas de suas dores, e de que
a verdadeira cura deve vir do Espírito; aliviando dores, mas apontando a
necessidade de reformas na criatura.
A mensagem psicografada que
esclarece e orienta, enriquecendo o estudo de grupos e organizações, no
entendimento das verdades da vida do lado de lá, é outra aplicação útil da
mediunidade, no texto que se converte em livros que fortalecem os processos de
estudos e por vezes subsidiam peças teatrais, músicas e filmes, como
instrumentos de reflexão e de avanço espiritual.
E de todos esses arranjos
produtivos, destacaremos um nesse breve artigo. Objeto de estudo do saudoso
Hermínio Miranda, de recente retorno à Pátria espiritual, ele se esclarece na
sua obra magistral, “Diálogo com as sombras – teoria e prática da doutrinação”,
editada pela Federação Espírita Brasileira há quase 40 anos, sobre a prática
das reuniões de atendimento aos Espíritos sofredores.
Hermínio, com a técnica e a
didática que lhe são peculiares, aborda nessa obra a organização e a atuação de
um grupo mediúnico de socorro aos desencarnados, analisando as tipologias e os
papéis dos trabalhadores encarnados e dos atores desencarnados, discorrendo
sobre a estrutura do trabalho e as técnicas de atuação, mesclando a sua
experiência com o estudo das obras basilares sobre o assunto, tendo como
produto final um guia básico para aqueles que se aventuram a atuar nesse tipo
de trabalho.
Entretanto, para além das
questões práticas, o livro apresenta a reunião mediúnica de atendimento aos
desencarnados como um exercício de amor, de vivência evangélica, em situações
reais, nas quais crescem espiritualmente trabalhadores encarnados e
desencarnados, refletindo sobre os valores da vida, a transitoriedade da
reencarnação e o que nos compete nesse exíguo tempo aqui encarnados. Iludidos,
achamos que vamos ali “ajudar os Espíritos”.
As reuniões mediúnicas dessa
natureza apresentam-se como verdadeiras aulas, de forma que o intercâmbio
mediúnico não se prende a mensagens e conteúdos e sim ao aprendizado interativo
nas vitrines vivas que se descerram, sendo Espíritos tão sofredores como nós,
na longa jornada da evolução. A mediunidade ali se apresenta de forma dinâmica,
integrada em equipes de ambos os planos da vida, no trabalho que demanda
Espíritos mais próximos daqueles que ali sofrem, mas que também nos abastece de
luz, em reuniões nas quais, a cada dia, morremos um pouquinho.
No portfólio de arranjos
produtivos para a atuação mediúnica que nos brinda o cotidiano, não nos cabe
criticar ou atacar as manifestações que surgem, nas suas diversas formas e
propósitos, dentro do nível de maturidade de cada agrupamento. Cabe-nos, como
espíritas esclarecidos, valorizar a atividade que contribua com o bem geral,
aquela que forme homens de bem e que ajude a construir o reino de Deus aqui na
Terra, como aplicações úteis dos talentos fornecidos aos médiuns de diversos
matizes.
A mediunidade é um manancial de
esclarecimento, e carece, na sua prática, de orientação e reflexão,
principalmente no que tange aos seus propósitos. Mais do que regras e posturas,
é preciso saber se na prática mediúnica trilhamos o caminho do bem e do
aprendizado, para além de questões do cotidiano. Isso caracteriza a mediunidade
com Jesus e não apenas lembrar-nos de seu nome.
E a reunião mediúnica de
atendimento aos Espíritos sofredores, prática presente em nossas casas
espíritas, deve ser estimulada e fortalecida pelo estudo e pela vivência, como
forma de aplicação dos potenciais mediúnicos em uma dimensão ampla e integrada,
no trabalho em equipes multidimensionais, como um estágio para ocupações que
lutamos arduamente para ter assento em outros planos no futuro, mais por
misericórdia do que por merecimento.