sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Os graves efeitos colaterais do ensinamento dos espíritos[1]



Maria Ribeiro
 

Nesta oportunidade far-se-á algumas observações acerca dos possíveis efeitos causados pelos ensinamentos do Espiritismo, ou o que exatamente estes ensinamentos têm provocado em seus adeptos do ponto de vista social.
Segundo o que os Espíritos disseram a Kardec, a missão do Espiritismo era transformar a humanidade. Disto entende-se que, através dos esclarecimentos que ele encerra, cabe ao homem se conscientizar dos seus reais deveres, a fim de proporcionar ensejo para que o Bem prevaleça. Nestes quase cento e cinquenta anos em que se difundiu na nação brasileira, talvez seja hora de se pensar qual a participação do Espiritismo nos avanços da sociedade.
Não há registro na Codificação que dê conta de que o homem deva ser “catequisado no Espiritismo”, conforme o entendimento de alguns que lançam mão de livros já consagrados no ME[2] para tal fim. Fica pouco claro de que o objetivo seja mesmo que se recorra à reflexão, pois isto parece mais um pretexto para firmar uma linha de pensamento “pré-moldado”, que induz as pessoas a fazerem da hora de estudo uma verdadeira assembleia de autoajuda coletiva. Esclarecer é diferente de moldar opiniões, ao contrário, um homem esclarecido pensa por si mesmo, adquire tal capacidade através das suas experiências, de suas vivências.
A missão de esclarecer a humanidade aguarda homens aptos para implementá-la, lembrando a questão 932 de O Livro dos Espíritos onde os Espíritos, respondendo a Kardec dizem que os maus superam os bons em influência pela fraqueza dos bons, pois “os bons são tímidos”. Esta timidez, evidentemente, diz mais respeito ao comodismo do que propriamente a uma característica de temperamento. O MEB conta com a maioria dos adeptos, num total de menos de três milhões de pessoas declaradamente espíritas. Não se pode quantificar ainda quantos realmente primam pelos estudos livres das raízes febianas, mas sabe-se que seu número embora inexpressivo é muito atuante. Fato é que houve adeptos que cederam às orientações comodistas de Espíritos ignorantes, fazendo surgir uma dissidência que se pode nomear espíritas febianos, e aguardam que a Terra entre na fase de regeneração, doando sopas, roupas, cestas básicas, fazendo a campanha do quilo e cedendo algumas horas no “atendimento fraterno”.
Os Espíritos Codificadores disseram que o primeiro direito do homem é o de viver, portanto, o que se tem feito com a assistência social passa a ser uma obrigação para que se evite o desencarne de alguém por falta do necessário à vida; nada de caridade. Trata-se de uma tentativa de distribuir melhor os bens, ao menos do gênero alimentício. E isto não vai transformar a humanidade, porque o ser humano precisa de instrução, de educação, de lazer. Manter uma pessoa simplesmente alimentada não a torna cidadã, não a torna um ser que pense a vida filosoficamente; o alimento material não fará dela alguém consciente de seu papel no mundo. O Espiritismo guia o homem para as veredas do raciocínio. As religiões apresentam um modelo de raciocínio para que o homem siga. O movimento espírita adotou este método: há uma lista de obras cujas passagens muitos companheiros trazem na ponta da língua. Mas não é a proposta espírita a simples leitura de obras e consequente assimilação de suas máximas – vai mais além: a leitura, o exame crítico, conclusões próprias e atitudes efetivas.
Nada de cartilhas já prontas, pois o Espiritismo rompeu com o comodismo mental, despertou na mente humana sua condição de raciocinar. Neste conjunto de coisas, muitos espíritas acabaram concluindo que as coisas estão como estão por que tem que estar. É como se fosse uma fatalidade, é como se o atual momento histórico porque se passa estivesse de conformidade com os planos do “alto”. Vive-se num mundo onde há pessoas que morrem de fome enquanto um único homem ganha milhões de reais num único mês; enquanto tem gente que vive num castelo com torneiras de ouro. Isto não parece ser um plano do “alto”.
O país presencia denúncias de corrupção há anos, mas os cofres públicos continuam sendo saqueados por um bando de políticos sem escrúpulos e ninguém é punido, além do povo que permanece pagando caros impostos e sofrendo os transtornos de obras que nunca são concluídas. As interpretações de alguns adeptos é de que “não temos nada com isso”, uma forma de manter o analfabetismo político entre as pessoas, de manter as coisas como estão aguardando que os Amigos Espirituais tomem uma providência. Nos últimos dias a nação brasileira iniciou uma série de manifestações o que demonstra uma maturidade muito grande, já que não houve incentivo de nenhum partido político; embora apareceram algumas bandeiras partidárias oportunistas no meio da gente manifestante. Certamente no conjunto da massa manifestante haverá um ou outro adepto espírita, mas infelizmente, não se pode sonhar um movimento deste elaborado ou articulado por grupos de espíritas, pois ainda estamos naquele “deixa pra lá”, “os espíritos estão no controle”, porque é ensinado que “o mal não merece comentário”.
Os espíritas também estão insatisfeitos com a miséria, a corrupção e a violência, mas não se manifestam porque talvez não fica bem para um espírita pintar o rosto e segurar um cartaz com uma destas frases de efeito, agressivas e contundentes, como se tem visto. Os adeptos querem ficar longe de confusão, afinal pregam a caridade, o amor ao próximo, o perdão, a compreensão… e “sendo os políticos nossos irmãos, temos que, antes de julgá-los, julgar a nós mesmos, perceber que eles são espíritos inexperientes, que estão se endividando…” O parentesco divino entre os homens é incontestável, mas o exemplo do Mestre Jesus é claro na ocasião da expulsão dos vendilhões do templo. Aqui o templo é a confiança que o sujeito ganhou de milhares de pessoas e disso se aproveita para tirar vantagens atendendo aos próprios interesses e enriquecendo, enquanto milhões não tem sequer o necessário à sobrevivência… Não se pode agir da forma omissa como se tem feito até agora, por que a omissão gera cumplicidade.
Vive-se numa sociedade que, ao que tudo indica, não está indiferente aos seus problemas, como até recentemente se pensava. Os jovens não estão só nas redes sociais curtindo banalidades. A massa se agita, e os que achavam que a história de cobrar do governo era uma fábula, está de queixo caído. Tudo isto se deve ao amadurecimento natural de uma sociedade cansada das penas impostas por seus maus representantes, e não a nenhuma orientação de qualquer grupo político, religioso ou filosófico. É inevitável o questionamento apontado no início: o que os ensinamentos do Espiritismo tem provocado em seus adeptos? De que maneira tem sido postos em prática? A primeira e mais grave reação contrária aos ensinamentos da Doutrina Espírita é, certamente, a hipocrisia, pois, a pretexto de gentileza, de caridade, de compreensão, acaba-se permitindo que a hipocrisia paire no ambiente. Não se pode achar que tudo está bem quando sabe-se que não está.
Parece uma forma de fugir da luta… ao invés de enfrentá-la e descobrir um jeito de minimizar os efeitos nocivos de uma dificuldade qualquer. O mundo em que os espíritas vivem não é a Terra, não é o Brasil: muitos já estão no “Brasil coração do mundo pátria do Evangelho”, um Brasil-ideal, por assim dizer, na verdade, um Brasil regenerado, onde reina a paz e a harmonia. O problema é que isto é uma inverdade – estamos todos num Brasil-real, material, onde espíritos encarnados tem o péssimo hábito de comer, beber e vestir, no mínimo; onde há homens enganados e enganadores que precisam ser corrigidos; onde há violência e corrupção, que precisam ser vencidas; onde há criminosos que tem que ser punidos. Desencarnar e “ir” para NOSSO LAR é o sonho de toda a maioria adepta febiana, mas não pensam que quando reencarnarem encontrarão um mundo tal como deixaram, afinal nada contribuíram para melhorá-lo.
Parece que os ensinos dos Espíritos Superiores tem dado fruto, socialmente falando, de uma forma subjetiva, uma vez que todo o progresso que se vê deveu-se aos esforços de pessoas que professam outras religiões, ou nenhuma; aos estudiosos e pesquisadores que volta e meia surgem com uma nova forma saudável de viver… aos inventores que buscam apresentar mais conforto e praticidade à vida moderna… aos cientistas com seus descobrimentos de vacinas e medicamentos. Intimamente é que estes ensinos tem maior relevância, e partindo de uma existência à outra é que se evidenciam as mudanças no contexto social. Seguindo este raciocínio, não parece que se deve esperar que ainda nesta geração se vejam grandes coisas realizadas em nome do Espiritismo, precisamente porque seus adeptos ainda se encontram presas de um movimento espírita paralisante. Quando este efeito passar, os adeptos serão mais corajosos, e aí tomarão as rédeas, inclusive da sua própria condução e representatividade na nação brasileira.




[2] Movimento Espírita

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