Tudo seria perfeito se entre os
adeptos houvesse a concordância de que o método kardequiano ainda é a forma
mais segura de se iniciar e prosseguir nos estudos acerca dos postulados
Espíritas.
A exemplo do que aconteceu com
os ensinamentos do Cristo, cujos sentidos foram distorcidos ou alterados, os
ensinamentos dos Espíritos também foram e são vítimas de distorções e
alterações criminosas. Palavras criadas pelas férteis imaginações de homens
ignorantes ou mal intencionados comprometem o entendimento verdadeiro da
Doutrina Espírita, já que nem todos se prestam à investigação particular, ao
estudo por si mesmos, preferindo se deixar guiar pelos que pensam ser os mais
experientes.
A experiência virá com o estudo,
e talvez o primeiro sinal desta será o reconhecimento de que o Espiritismo fala
por si só, não tem porta-voz. Qualquer um que tiver o desejo de estudar o
Espiritismo, basta a leitura das obras kardequianas. Do estudo, certamente,
originará a crítica, inimiga número um da falta de transparência e da falta de
coerência. O Espiritismo não teme a crítica, ao contrário, provoca-a. Os piores
críticos da Doutrina dos Espíritos têm sido seus próprios adeptos que, mal
informados, trazendo uma bagagem inconsistente, de origem não-espírita,
simplista por demais, tornam os ensinos de uma qualidade inferior, não
correspondente com aqueles trazidos pelos Espíritos Codificadores. Tomam-se
aqui as palavras críticos/crítica não no sentido que Kardec faz alusão, aos
detratores, aos que queriam derrubar a doutrina, mas àqueles que a analisam, e,
o que poderia ser feito saudavelmente, acaba por se tornar uma verdadeira
detração, porém feita pelos que deveriam defendê-la. Utilizem-se, entretanto, o
que o nobre mestre lionês argumenta para aqueles, pois cabe com perfeição para
estes: “O verdadeiro crítico deve provar não somente erudição, mas um saber
profundo no que concerne ao objeto que trate, um julgamento sadio, e de uma
imparcialidade a toda prova…”; “O Espiritismo não pode considerar como crítico
sério senão aquele que tiver visto tudo, estudado tudo, aprofundado tudo, com a
paciência e a perseverança de um observador consciencioso…” (Parte I, cap. II,
item 12 e 14 – O Livro dos Médiuns)
Quantos eruditos conta o Espiritismo, mas nas condições já descritas…Quantas
análises torpes tem-se deparado nos jornais, revistas e outros meios de
comunicação intitulados espíritas…Como poderá o adepto defender a doutrina se
ele mesmo lhe é desconhecedor?
Kardec, no capítulo III de O Livro dos Médiuns – Método, diz que o
meio mais seguro de se fazer novos adeptos, obviamente em maior número entre os
espiritualistas, é mesmo, em resumo, o estudo teórico.
Mas como se pretende fazer
prosélitos apelando para as propagandas, para as formas exteriores, quando o
Espiritismo é todo Moral, todo racional? Examinem-se as palavras de Kardec no
referido capítulo, item 32: “O estudo preliminar da teoria tem uma outra
vantagem, qual seja a de mostrar, imediatamente, a grandeza do objetivo e a
importância desta ciência; aquele que se inicia por ver uma mesa girar ou bater
está mais inclinado à zombaria, porque dificilmente imagina que de uma mesa
possa sair uma doutrina regeneradora da humanidade…” Muitos irmãos ignoram até
hoje esta grave missão da Doutrina – regenerar a humanidade. E certamente isso
não se dará com as manifestações dos Espíritos, com prodígios, com curas, ou
com outras invencionices. Kardec continua: ”Nós sempre mencionamos que aqueles
que creem antes de ter visto, porque leram e compreenderam, longe de serem
superficiais, são, ao contrário, os que refletem mais…” O convite é ao
raciocínio, a Doutrina Espírita o exige, senão jamais faria adeptos
conscientes, sensatos, e o poder de fazê-los convictos está na reflexão. “Todo
aquele que reflete, compreende muito bem que se poderia fazer abstração das
manifestações, e que a doutrina não subsistiria menos por isso…”
Infelizmente, grande número de
companheiros vê nos fenômenos a base do Espiritismo. Apesar destes terem aberto
o caminho, sozinhos não tocam aqueles que mais fazem uso da razão. Kardec
aconselha a observação e o estudo da fenomenologia, pois sem ela, obviamente,
estaria o entendimento da ciência espírita feito pela metade. E o desejável é o
todo.
Outro ponto de reflexão é sobre
os noticiários leigos, os programas de tevê de massa, que apresentam pessoas
que se dizem médiuns espíritas, realizando peripécias, adivinhações, recebendo
até mensagens do além, ali, ao vivo. Não se pode duvidar que sejam médiuns,
mas, espíritas, é um pouco demais. O problema é que alguns dos próprios adeptos
se deleitam, pensando que assim grande número de pessoas ficará convencido.
Mais uma vez a mensagem kardequiana é veemente e taxativa: “…é preciso, pois,
observar, esperar os resultados e apanhá-los de passagem; também dissemos
claramente que todo aquele que se gabasse de os obter à vontade, não poderia
ser senão um ignorante ou um impostor: por isso ao Espiritismo verdadeiro não
se porá jamais em espetáculo, e jamais subirá ao palco.” (item 31). O que
ocorre nestas exposições demasiadamente desnecessárias é o uso indevido do
termo Espírita, isto poderia ser considerado falsidade ideológica, que é um
crime previsto na lei. Mas ninguém vai à imprensa leiga tentar desfazer os
equívocos. Filmes são lançados, milhares de pessoas assistem, gostam, saem do
cinema maravilhados com as aventuras ficcionistas e histórias mirabolantes de
personagens os mais curiosos. Uma certa parcela de estudiosos espíritas
reclama, censura, mas nada faz para reverter o que se pode considerar já um
processo irreversível. O ideal seria se se encontrasse um meio de revelar ao
grande público a história real da Doutrina, como ocorreram e ocorrem os fatos,
tudo baseado nas obras da Codificação. Pois, ainda muitos são movidos pelo
interesse de ver retratadas fantasias que aquele tipo de obra desenvolve muito
bem; e não imaginam a real grandeza do Espiritismo e nem dos fenômenos que este
explica irretocavelmente.
Kardec teceu uma recomendação,
ordenando as obras que deveriam se suceder na leitura e estudo de quem
pretendesse obter o conhecimento doutrinário. Assim, no item 35, ele prescreve
4 títulos, a saber: O que é o Espiritismo,
O Livro dos Espíritos, neste ele
ajunta: “contém a doutrina completa, ditada pelos próprios Espíritos, com toda
a sua filosofia e todas as suas consequências morais”; O Livro dos médiuns, complemento de O Livro dos Espíritos; A Revista Espírita.
Se O Livro dos Espíritos contém a doutrina completa, há uma
desnecessidade de os adeptos recorrerem a outras obras. Ou não!? Só que mais
adiante, ele prossegue: “Aqueles que querem tudo conhecer numa ciência devem
necessariamente ler tudo o que está escrito sobre a matéria, ou, pelo menos, as
coisas principais, e não se limitar a um só autor; devem mesmo ler o pró e o
contra, as críticas como também as apologias, iniciar-se nos diferentes
sistemas a fim de poder julgar pela comparação. Sob esse aspecto, não
preconizamos nem criticamos nenhuma obra, nem queremos influir em nada sobre a
opinião que se pode delas formar; trazendo nossa pedra ao edifício,
colocamo-nos nas fileiras: não nos cabe ser juiz e parte, e não temos a
pretensão ridícula de sermos os únicos dispensadores da luz; cabe ao leitor
apartar o bom do mau, o verdadeiro do falso.”
As obras Espíritas mais os
volumes da Revista Espírita devem ser considerados como ”as coisas principais”
a que ele se referiu, em relação ao conhecimento do Espiritismo.
Este Espírito que animou a doce
personagem do Sr. Rivail é de tamanha grandeza que é impossível citá-lo sem
experimentar uma emoção diferente! Ele diz: “e não se limitar a um só
autor”. Ele recomenda que os adeptos
exerçam a liberdade de pesquisa por si mesmos, sem estacionarem somente no
trabalho que ele, Kardec, realizou; e que reflitam e tirem suas próprias
conclusões. Kardec, certamente, pensava em homens realmente sem preconceitos e
abertos. Esta recomendação não só é útil, como necessária. Os homens
inteligentes pensam por si mesmos, mas baseados na lógica e na sensatez.
Hoje sabe-se que os que
estudaram Kardec estão aptos a lerem outras obras; mas fatalmente, o mestre
francês será sempre requisitado – está-se sempre retornando a Kardec, pois,
após seguir sua recomendação de ler tudo e todos, a decepção dá lugar a
nostalgia Kardequiana…
Obviamente não se pode esperar
que todos tenham por ele a mesma emoção nem a mesma saudade, porque encontraram
em suas palavras dificuldades que foram e ainda são resolvidas com fórmulas,
ritos e outras anedotas.
Importantíssima abordagem de tema que precisa ser efetivamente considerado à prática dos Estudos Espíritas. Peço permissão - citando a fonte e autoria - para divulgá-lo entre meus pares, pois ratifico totalmente o conteúdo desse texto com minhas convicções. São "conversas" como essa, creio, que pode levar-nos ao equilíbrio e norteamento de nossas posturas em face do conhecimento da Doutrina Espírita. Gratidão.
ResponderExcluirFique a vontade. Pode compartilhar.
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