quarta-feira, 21 de setembro de 2016

INCESTO E SEXUALIDADE DIANTE DOS MITOS E A REALIDADE[1]



Jorge Hessen


Conta a mitologia grega que Jocasta foi filha de Menocenes e mulher de Laio, rei de Tebas, com quem teve um filho, Édipo. Pela previsão do oráculo, Édipo quando crescesse seria um perigo para a vida de Laio. Abandonado, Édipo foi deixado pelo pai numa floresta para morrer. Sendo salvo por um pastor, acaba por cumprir o que lhe estava destinado. Já adulto, numa viagem, mata Laio, o seu pai, e desposa Jocasta, a sua mãe, sem, no entanto, saber de quem se tratam. Quando da consulta do oráculo, por ocasião de uma peste, Jocasta e Édipo descobrem que são mãe e filho. Ela suicida-se e ele fura os próprios olhos por ter estado cego e não ter reconhecido a própria mãe. Édipo e Jocasta tiveram 4 filhos, Antígona, Ismênia, Etéocles e Polinice.
Ao ensejo, reproduzo aqui uma real e delirante história anunciada pelo jornal inglês Daily Mail e que vem provocando controvérsia na mídia internacional por tocar no assunto muito penoso: o incesto [2] . No caso específico, uma autêntica história de “amor” proibido entre Monica Mares, uma mãe de 36 anos e Caleb Paterson, seu filho que ela ofereceu para adoção quando bebê e só tornou a ver recentemente, após 18 anos.
Monica Mares e Caleb Paterson, podem pegar pena de 18 meses de prisão se forem condenados por prática de incesto em julgamento no Novo México (Estados Unidos). Ambos afirmaram que brigarão pelo direito de manter o relacionamento e que “arriscarão tudo” por esse objetivo. Monica afiançou ao jornal que Caleb é o amor da sua vida e não quer perdê-lo. Proferiu que nada pode separá-los e que se for presa, cumprirá a pena e, ao sair da prisão, vai mudar-se para um estado que aceite a união [3]. Monica reviu o filho, após a doação, quando ele tinha 18 anos, foi no dia de Natal de 2014, logo após trocarem mensagens pelo Facebook. Depressa, eles se apaixonaram e tiveram contatos íntimos. Os dois passaram a viver juntos e hoje um dos filhos pequenos de Monica chama Caleb de pai. Recentemente a polícia foi chamada quando uma pessoa, após uma briga de vizinhos, decidiu denunciá-los.
Eles foram acusados de incesto, soltos após pagamento de fiança e aguardam julgamento. Segundo os advogados do “casal”, o resultado do caso, se for favorável pode abrir um precedente legal nos Estados Unidos. O casal afirmou que, se preciso, pretende recorrer à Suprema Corte americana para ficar juntos [4]. Em alguns países, mormente os islâmicos, a pena de morte é prescrita para os casos de incesto.
A aberração da prática sexual, quando somente visa a satisfação egoística , imediata e desvairada, cede lugar a patologias graves como a pedofilia, o incesto, o masoquismo, o sadismo, a necrofilia, a prostituição, a pederastia e a outras anomalias psicológicas e psiquiátricas que rebaixam o ser humano.
A obscuridade da consciência medieval e as torturas íntimas camufladas de muitos teólogos mediévicos apontaram que a sexualidade se tratava de uma função “impura”, “suja” e “repreensível”, como se Deus houvesse escolhido um meio funesto para a reprodução da vida na Terra. Atualmente muitos seres humanos sofrem diversos tipos de aflições morais, amiúde derivadas da má condução da sexualidade e dos antigos temores que deram lugar a mitos ,ignorância e fobias. Em face disso, merece que seja examinada a nobreza da prática sexual , porquanto ela a matriz da continuidade da vida biológica.
Historicamente o incesto e a endogamia não se restringiram às tradicionais monarquias europeias. Exemplos são encontrados no Egito antigo, onde havia casamentos entre irmãos. No Pamir era normal o faraó casar-se com suas irmãs para manter o poder entre eles. Cleópatra casou-se com dois irmãos consanguíneos. Em Roma, ocorriam enlaces entre primos, caso de Nero e Claudia Octavia. O imperador Calígula era amante das suas 3 irmãs. Há indícios de que os incas na América do Sul também casavam irmãos e irmãs.
Naturalmente perante as leis humanas e de civilidade é preciso manter a observância às normas e regras, que nos diferem dos seres irracionais. Ora, do ponto de vista biológico, a sexualidade é uma sublime seiva para manter a vida em padrões de estabilização e de encanto, proporcionando, quando o seu uso é ético e equilibrado, contentamento e completude nos relacionamentos.
Doutrinariamente discorrendo sobre o assunto recordemos que há espíritos que ainda não conseguiram superar as viciações sexuais do passado que entorpecem a consciência. Há os casos obsessivos gravíssimos. Citamos aqui o caso do personagem Cláudio narrado por André Luiz no livro Sexo e Destino [5]. Cláudio concretizou uma relação incestuosa com a própria filha Marita, recebendo influência direta dos obsessores.
Observemos que pela lei da pluralidade das existências muitos pais e filhos, irmãs e irmãos, primos e primas, os tios e tias etc., etc., etc., podem ter sido “amantes” nas vidas passadas. Alguns não superaram essa experiência e, sendo assim, não conseguem ainda modificar a posição psíquica e emocional que ocupam na atual existência. Por vezes culminam por praticarem o vil incesto que representa invariavelmente um arrepiador estacionamento moral do espírito reencarnado.
Conta Emmanuel que no fundo da personalidade paterna ou do maternal coração, “descansam os remanescentes de grandes afeições, às vezes desequilibradas e menos felizes, trazidos de outras estâncias, nos domínios da reencarnação”. A libido ou o instinto sexual na forma de energia psíquica, tendente à conservação da vida, permanece.
Os pequeninos, porém, recém-vindos da amnésia natural que a reencarnação lhes impõe, não conseguem esconder as próprias disposições no campo das preferências. E surgem neles, de inopino quase sempre, as inclinações descontroladas, nos caprichos com que se mostram, exigindo especial atenção de pai ou mãe a revelarem, de modo claro para que rumo se lhes dirigem os laços mais fortes.
Geralmente, com muitas exceções, aliás, as filhas se voltam para os pais e os filhos para as mães, patenteando a natureza das ligações havidas em existências passadas e prenunciando a obra de desvinculação [ante a lei da natureza] que se executará, inevitável, no futuro próximo [6].
Deus não extermina as paixões dos homens, mas fá-las evoluir, convertendo-as pela dor em sagrados patrimônios da alma, competindo às criaturas dominar o coração, guiar os impulsos, orientar as tendências, na evolução sublime dos seus sentimentos.
Recorramos às reflexões do nobre Espírito Emmanuel – “diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, coloquemo-nos, em pensamento, no lugar dos acusados, analisando as nossas tendências mais íntimas e, após verificarmos se estamos em condições de censurar alguém, escutemos no âmago da consciência, o apelo inolvidável do Cristo: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” [7].




[2] Comunhão sexual entre pessoas consanguíneas ou afins nos graus interditos pela ética cristã.
[3] Incesto é considerado crime em cinquenta estados americanos, mas a pena varia de lugar a lugar.
[5] Xavier, Francisco Cândido. Sexo e Destino, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1999.
[6] Xavier, Francisco Cândido. Vida e sexo, Cap. 15, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000.
[7] Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.

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