Jorge Hessen
Conta a mitologia grega que
Jocasta foi filha de Menocenes e mulher de Laio, rei de Tebas, com quem teve um
filho, Édipo. Pela previsão do oráculo, Édipo quando crescesse seria um perigo
para a vida de Laio. Abandonado, Édipo foi deixado pelo pai numa floresta para
morrer. Sendo salvo por um pastor, acaba por cumprir o que lhe estava
destinado. Já adulto, numa viagem, mata Laio, o seu pai, e desposa Jocasta, a
sua mãe, sem, no entanto, saber de quem se tratam. Quando da consulta do
oráculo, por ocasião de uma peste, Jocasta e Édipo descobrem que são mãe e
filho. Ela suicida-se e ele fura os próprios olhos por ter estado cego e não
ter reconhecido a própria mãe. Édipo e Jocasta tiveram 4 filhos, Antígona,
Ismênia, Etéocles e Polinice.
Ao ensejo, reproduzo aqui uma
real e delirante história anunciada pelo jornal inglês Daily Mail e que vem
provocando controvérsia na mídia internacional por tocar no assunto muito
penoso: o incesto [2] .
No caso específico, uma autêntica história de “amor” proibido entre Monica
Mares, uma mãe de 36 anos e Caleb Paterson, seu filho que ela ofereceu para
adoção quando bebê e só tornou a ver recentemente, após 18 anos.
Monica Mares e Caleb Paterson,
podem pegar pena de 18 meses de prisão se forem condenados por prática de incesto
em julgamento no Novo México (Estados Unidos). Ambos afirmaram que brigarão
pelo direito de manter o relacionamento e que “arriscarão tudo” por esse
objetivo. Monica afiançou ao jornal que Caleb é o amor da sua vida e não quer
perdê-lo. Proferiu que nada pode separá-los e que se for presa, cumprirá a pena
e, ao sair da prisão, vai mudar-se para um estado que aceite a união [3].
Monica reviu o filho, após a doação, quando ele tinha 18 anos, foi no dia de
Natal de 2014, logo após trocarem mensagens pelo Facebook. Depressa, eles se
apaixonaram e tiveram contatos íntimos. Os dois passaram a viver juntos e hoje
um dos filhos pequenos de Monica chama Caleb de pai. Recentemente a polícia foi
chamada quando uma pessoa, após uma briga de vizinhos, decidiu denunciá-los.
Eles foram acusados de incesto,
soltos após pagamento de fiança e aguardam julgamento. Segundo os advogados do
“casal”, o resultado do caso, se for favorável pode abrir um precedente legal
nos Estados Unidos. O casal afirmou que, se preciso, pretende recorrer à
Suprema Corte americana para ficar juntos [4].
Em alguns países, mormente os islâmicos, a pena de morte é prescrita para os
casos de incesto.
A aberração da prática sexual,
quando somente visa a satisfação egoística , imediata e desvairada, cede lugar
a patologias graves como a pedofilia, o incesto, o masoquismo, o sadismo, a
necrofilia, a prostituição, a pederastia e a outras anomalias psicológicas e
psiquiátricas que rebaixam o ser humano.
A obscuridade da consciência
medieval e as torturas íntimas camufladas de muitos teólogos mediévicos
apontaram que a sexualidade se tratava de uma função “impura”, “suja” e
“repreensível”, como se Deus houvesse escolhido um meio funesto para a
reprodução da vida na Terra. Atualmente muitos seres humanos sofrem diversos
tipos de aflições morais, amiúde derivadas da má condução da sexualidade e dos
antigos temores que deram lugar a mitos ,ignorância e fobias. Em face disso,
merece que seja examinada a nobreza da prática sexual , porquanto ela a matriz
da continuidade da vida biológica.
Historicamente o incesto e a
endogamia não se restringiram às tradicionais monarquias europeias. Exemplos
são encontrados no Egito antigo, onde havia casamentos entre irmãos. No Pamir
era normal o faraó casar-se com suas irmãs para manter o poder entre eles.
Cleópatra casou-se com dois irmãos consanguíneos. Em Roma, ocorriam enlaces
entre primos, caso de Nero e Claudia Octavia. O imperador Calígula era amante
das suas 3 irmãs. Há indícios de que os incas na América do Sul também casavam
irmãos e irmãs.
Naturalmente perante as leis
humanas e de civilidade é preciso manter a observância às normas e regras, que
nos diferem dos seres irracionais. Ora, do ponto de vista biológico, a
sexualidade é uma sublime seiva para manter a vida em padrões de estabilização
e de encanto, proporcionando, quando o seu uso é ético e equilibrado,
contentamento e completude nos relacionamentos.
Doutrinariamente discorrendo
sobre o assunto recordemos que há espíritos que ainda não conseguiram superar
as viciações sexuais do passado que entorpecem a consciência. Há os casos
obsessivos gravíssimos. Citamos aqui o caso do personagem Cláudio narrado por
André Luiz no livro Sexo e Destino [5].
Cláudio concretizou uma relação incestuosa com a própria filha Marita,
recebendo influência direta dos obsessores.
Observemos que pela lei da
pluralidade das existências muitos pais e filhos, irmãs e irmãos, primos e
primas, os tios e tias etc., etc., etc., podem ter sido “amantes” nas vidas
passadas. Alguns não superaram essa experiência e, sendo assim, não conseguem
ainda modificar a posição psíquica e emocional que ocupam na atual existência.
Por vezes culminam por praticarem o vil incesto que representa invariavelmente
um arrepiador estacionamento moral do espírito reencarnado.
Conta Emmanuel que no fundo da
personalidade paterna ou do maternal coração, “descansam os remanescentes de
grandes afeições, às vezes desequilibradas e menos felizes, trazidos de outras
estâncias, nos domínios da reencarnação”. A libido ou o instinto sexual na
forma de energia psíquica, tendente à conservação da vida, permanece.
Os pequeninos, porém,
recém-vindos da amnésia natural que a reencarnação lhes impõe, não conseguem
esconder as próprias disposições no campo das preferências. E surgem neles, de
inopino quase sempre, as inclinações descontroladas, nos caprichos com que se
mostram, exigindo especial atenção de pai ou mãe a revelarem, de modo claro
para que rumo se lhes dirigem os laços mais fortes.
Geralmente, com muitas exceções,
aliás, as filhas se voltam para os pais e os filhos para as mães, patenteando a
natureza das ligações havidas em existências passadas e prenunciando a obra de
desvinculação [ante a lei da natureza] que se executará, inevitável, no futuro
próximo [6].
Deus não extermina as paixões
dos homens, mas fá-las evoluir, convertendo-as pela dor em sagrados patrimônios
da alma, competindo às criaturas dominar o coração, guiar os impulsos, orientar
as tendências, na evolução sublime dos seus sentimentos.
Recorramos às reflexões do nobre
Espírito Emmanuel – “diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo,
seja com quem for e como for, coloquemo-nos, em pensamento, no lugar dos
acusados, analisando as nossas tendências mais íntimas e, após verificarmos se
estamos em condições de censurar alguém, escutemos no âmago da consciência, o
apelo inolvidável do Cristo: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” [7].
[2] Comunhão sexual entre pessoas consanguíneas ou afins
nos graus interditos pela ética cristã.
[3] Incesto é considerado crime em cinquenta estados
americanos, mas a pena varia de lugar a lugar.
[5] Xavier, Francisco Cândido. Sexo e Destino, ditado pelo
Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1999.
[6] Xavier, Francisco Cândido. Vida e sexo, Cap. 15, Rio
de Janeiro: Ed. FEB, 2000.
[7] Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Rio de
Janeiro: Ed. FEB, 2001.
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