quinta-feira, 7 de julho de 2016

VAMOS TODOS PARA O UMBRAL?[1]



 
Marcus De Mario é Escritor, Educador e Consultor

 Muitos espíritas acreditam que todos os homens e mulheres, após a desencarnação, deverão passar pelo Umbral, região espiritual caracterizada pelo sofrimento. Será isso verdade? Como nem sempre as afirmações possuem base doutrinária segura, vamos neste estudo tentar melhor compreender o processo da volta ao mundo espiritual. E para isso nada melhor do que iniciar com Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, trazendo para nossas reflexões o capítulo 3 da 2ª parte de O Livro dos Espíritos, “Retorno da Vida Corpórea à Vida Espiritual”.
Logo no início, a partir da questão 149, ficamos sabendo que a morte nada mais é do que o retorno da Alma ao mundo espiritual, onde ela mantém a sua individualidade e faz sua identificação através do perispírito, ou corpo espiritual. Na questão 150 b os benfeitores espirituais da humanidade ensinam que levamos de volta o desejo de ir para um mundo melhor, e quanto mais pura for a Alma mais ela estará desligada das coisas materiais. Essa informação já provoca um questionamento: se o indivíduo, homem ou mulher, que é a Alma imortal, teve uma existência dedicada ao bem e vivendo com simplicidade, levando consigo a aspiração de conseguir elevação espiritual por isso, por que haveria de passar, mesmo que por um minuto, nas zonas umbralinas?
Na questão 154 ficamos sabendo que a Alma nada sofre no momento da separação do corpo, pois o processo é gradual.
Comentando esse processo, na questão 155, temos a seguinte explicação de Kardec:
Durante a vida o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material ou perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse envoltório, que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. A observação prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os indivíduos.
Para uns é bastante rápido e pode dizer-se que o momento da morte é também o da libertação, que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até mesmo meses, o que não implica a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno à vida, mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado, a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e quando a morte chega é quase instantânea.
Lembremos que Allan Kardec muito observou e estudou sobre a realidade da vida após a morte, e suas pesquisas sempre tiveram o critério do método científico, nada aceitando que não explicasse os fatos e não estivesse de acordo com a universalidade do ensino dos Espíritos (ou Almas). Com esses critérios ele esclarece que aquele/a que viveu no campo moral, utilizando a inteligência para o bem, mantendo elevação de pensamento, já mesmo no corpo inicia seu desprendimento, lançando-se à dimensão espiritual com naturalidade e rapidez. Então, voltamos a indagar: por que uma pessoa do bem, uma pessoa altruísta, que domina a si mesmo, teria que passar pelo Umbral após a morte do corpo?
Será que Chico Xavier, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Francisco de Assis, Bezerra de Menezes, Gandhi e tantos outros benfeitores encarnados, homens e mulheres que semearam o bem e o amor, que combateram em si mesmos os vícios e foram campeões de virtudes, ao desencarnarem, tiveram que passar pelo Umbral? Se a resposta for positiva, outra indagação: e a justiça divina, onde fica? Então nossos esforços em sermos melhores, mais moralizados e espiritualizados não nos isenta de sofrer, mesmo que pouco, na volta à condição plena de Espírito? A razão nos diz que não pode ser assim, que a lei é de evolução, e que os atos de caridade nos dão os méritos necessários para sermos recebidos como vencedores de nós mesmos e do mundo. Deus não poderia ser injusto para com seus filhos que, famosos ou não, cumpriram integralmente com suas missões de melhorar a si mesmos e ao mundo.
Reproduzamos agora a questão 160: “O Espírito encontra imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele? – Sim, segundo a afeição que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos, e o ajudam a libertar-se das faixas da matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista durante a passagem pela Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados”.
Tudo está mergulhado no amor, e a misericórdia, bondade e justiça divinas não poderiam funcionar diferente: os que nos amam nos aguardam e recebem do outro lado da vida. Afeições cultivadas ao longo da existência terrena granjeiam para nós sólidas amizades, outras tantas afeições que vão nos amparar, motivo pelo qual podemos perguntar: Se temos tantos que nos amam, que nos querem o bem, que nos são gratos, e eles podendo (e podem) interceder a nosso favor, por que deveríamos primeiro sofrer, para só depois podermos conviver com eles?
 
Perturbação espiritual
O que confunde muitos espíritas de pouco estudo, é o item, no mesmo capítulo de O Livro dos Espíritos, sobre a “Perturbação Espírita”. Entretanto, a leitura atenta das duas primeiras questões já nos esclarece, não deixando margem a qualquer dúvida:
163. Deixando o corpo, a alma tem imediata consciência de si mesma?
– Consciência imediata não é o termo: ela fica perturbada por algum tempo.
164. Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo?
– Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria.
Perturbação espiritual no após morte não significa passar pelo Umbral, e sim aquele momento, de maior ou menor tempo, de maior ou menor intensidade, de readquiri a própria consciência, o que vai depender da elevação moral/espiritual da pessoa (Espírito), do seu maior ou menor grau de apego à matéria. Temos, nesse sentido, o testemunho de milhares de depoimentos dos Espíritos através da mediunidade, onde muitos declaram que não se lembram do que lhes aconteceu, mas apenas que caíram em sono mais ou menos profundo, vindo a despertar num posto de socorro ou colônia espiritual, já atendidos e amparados.
Bem, de tudo o que pudemos refletir, podemos concluir que nem todo Espírito, após a desencarnação, tem que passar, necessariamente, pelo Umbral. Todos teremos, de forma mais leve ou não, a perturbação espiritual, mas aquele que pratica o bem e ama o próximo, readquire sua consciência de forma quase imediata, sendo recebido pelos seus amigos e familiares, todos em júbilo, por poderem compartilhar com ele as benesses da lei divina, que reconhece o justo do injusto, o bom do mau, como só poderia acontecer em face da razão e da lógica.
 
 
Fonte: Orientação Espírita




Um comentário:

  1. Corroborando com as diretrizes do texto e trazendo os conhecimentos que a mediunidade do Chico nos permitiu, podemos recordar as palavras de Lísias para André Luiz. O livro é Nosso Lar e o capítulo é O Umbral.
    *O Umbral funciona como como uma região destinada a esgotamento de resíduos mentais... há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados apenas por leis vibratórias.*
    O que nos chama a atenção e causa até mesmo um frio na alma, no entanto, é a relação que ele faz entre o Umbral e o nosso dia a dia como encarnados. Diz ele: * O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamento dos encarnados... e é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. *
    Não é só a relação pensamento a pensamento dentro do mesmo plano que nos deve preocupar, mas, sim a relação entre planos diferentes. A afinidade gera influenciação nos dois sentidos. Nossa experiência na carne serve para reeducarmos nossos sentimentos, emoções, causa primeira dos erros. Acreditando estar o Umbral longe de nossa presença, relaxamos a vigilância e sintonizamos com as vibrações desequilibradas, sentindo as influências, mas, infelizmente, influenciando também. Nesse sentido, são claras as afirmações de Lísias: * O Umbral começa na crosta terrestre *.

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