Luiz Gonzaga Pinheiro
Sempre se disse que a
mediunidade é um dom de Deus, uma graça, um favor divino. Por que, então, não é
um privilégio dos homens de bem? E por que há criaturas indignas que a possuem
no mais alto grau e a empregam no mau sentido?
Todas as nossas faculdades são
favores que devemos agradecer a Deus, pois há criaturas que não as possuem.
Podias perguntar por que Deus concede boa visão a malfeitores, destreza aos
larápios, eloquência aos que só a utilizam para o mal. Acontece o mesmo com a
mediunidade. Criaturas indignas a possuem porque dela necessitam mais que as
outras, para se melhorarem.
Bem tolo é o que assim pensar,
ou ousar fazer da mediunidade objeto de suas satisfações pessoais.
A mediunidade indica, quase
sempre, pesados títulos a resgatar, através das moedas do esforço e do
aprimoramento colocadas a favor do próximo, quando o devedor se exime das
angustiantes promissórias que o chumbam à retaguarda.
Admitir a mediunidade por outro
prisma é resvalar no orgulho, tropeçar na vaidade e cair no fracasso.
É sabido que Deus fornece aos
devedores valorosos empréstimos, que, aceitos e cultivados, representam a chave
das algemas com as quais se imantam. A doença representa, não raro, a visita de
Deus aos nossos sítios ou a resposta a nossos pedidos de saúde espiritual.
A dor física ou moral, criação
nossa, há de sempre retornar aos nossos caminhos, no serviço de terraplenagem
para rumos mais altos. A mediunidade representa a oportunidade santa para um
acerto de contas com a vida, ocasião em que deve funcionar como um buril nas
mãos hábeis do escultor.
Necessário é que se entenda que
não há privilégios na lei divina. Recebe-se o que foi doado. A vida traz de
volta aquilo que se lhe oferta. Considerar o médium como um predestinado,
privilegiado ou santo, é desconsiderar a justiça divina, que pugna pela
equidade.
Devemos, antes de tudo, entender
o médium como aquele que tenta resgatar uma hipoteca de avultada quantia, razão
pela qual necessita de apoio e compreensão. Tecer-lhe elogios, antecipar-lhe os
primeiros lugares, buscá-lo em consultas vulgares é colocar-lhe graxa aos pés.
Diante do companheiro que usa a
intermediação com o invisível, destacando os interesses mundanos ou pessoais,
há de se lamentar o desvio da função, o tempo desperdiçado, o agravamento da
dívida. Ninguém que mercadeje os talentos divinos fica sem a resposta da dor.
E a resposta da dor é a que
todos conhecemos pelas nossas incoerências e desvios nas propriedades da alma.
Bons e maus médiuns existem nas incontáveis atividades humanas. Todavia,
resgata-se o mal praticado pelo bem operado, o ódio curtido pelo amor vivido, o
trabalho negado pelo esforço dobrado. Mediunidade não é privilégio. Privilégio
é trabalhar e sofrer por amor a Jesus Cristo, como afirma o iluminado mentor
Emmanuel.
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