Espírito Hammed[2]
“Mágoa não elaborada se volta contra o
interior da criatura, alojando-se em determinado órgão e produzindo
somatizações, notadamente, na formação de displasias e tumores.”
Ao afirmarmos: “Ninguém nunca
conseguirá me magoar”, não queremos dizer que não damos o devido valor aos
nossos sentimentos, que não nos importamos com o mundo e que não valorizamos as
criaturas com quem convivemos.
Querer “não sentir dor”, pode
dessensibilizar as comportas dos nossos mais significativos sentimentos,
inclusive atingindo de forma generalizada, nossa capacidade de amar. Muitas
vezes, queremos representar que possuímos uma segurança absoluta quando, na
realidade, todos nós somos vulneráveis de alguma forma. Nosso estilo de vida,
em muitas ocasiões, é ilógico e neurótico.
O “querer viver” uma existência
inteira desprovida de decepções e ingratidão, com aceitação e consideração
incondicionais, é desastrosamente irreal.
É profundamente irracional
nutrir a crença de que nunca seremos traídos e de que sempre seremos amados e
entendidos plenamente por todos. Portanto, não podemos passar uma vida inteira
ocultando de nós mesmos que nunca ficaremos magoados. Devemos, sim, admitir a
mágoa quando ela realmente existir, para que possamos resolver nossos conflitos
e desarranjos comportamentais.
A maneira decisiva de atingirmos
o equilíbrio interior, é aceitarmos nossas emoções e sentimentos como realmente
eles se apresentam, pois, deixando de ignorá-los, passaremos a nos adaptar
firmemente à realidade dos fatos e dos acontecimentos que estamos vivenciando.
O que não pode ser visto, não pode ser mudado.
Os mecanismos inconscientes dos
quais nos utilizamos para nos enganar são em grande parte imperceptíveis,
principalmente àqueles que não iniciaram ainda a autodescoberta do mundo
interior, através do auto-aprimoramento espiritual. Ignorar o sentimento de
mágoa pode, muitas vezes, parecer um simples esquecimento natural, mas também
poderá ser visto como atividade psicológica para afastar de nosso dia-a-dia,
detalhes desagradáveis que não queremos admitir. Para não tomarmos consciência
de que ficamos magoados, simplesmente não notamos uma série quase infinita de
fatos e feitos que demonstrariam, de forma segura, o ofensor e a intenção da
ofensa.
O ato de ignorar é uma defesa
que apaga somente uma parte do ocorrido, deixando consciente apenas aquilo que
nos interessa no momento. O fato de criarmos o hábito de desviar a atenção como
forma de dispersar a dor da agressão e de isso funcionar muito bem em
determinados momentos expressivos de nossa vida, mantendo a mágoa dissimulada,
poderá se tornar um estilo comportamental inadequado, pois distorce a realidade
de nossos relacionamentos.
Mágoa não elaborada se volta
contra o interior da criatura, alojando-se em determinado órgão, tornando-o
doente. Mágoa se transforma com o tempo em rancor, exterminando gradativamente
nosso interesse pela vida e desajustando-nos quanto a seu significado maior.
A mágoa é um sentimento de
frustração no qual a emoção está sob relativo controle da razão. Ou do
ressentimento, quando a emoção sobrepuja a razão. Ou ainda, do ódio e da
vingança, quando a emoção e a razão já desencadeiam ação e atitude.
As interpretações emocionais da
frustração, dependendo da intensidade e da frequência com que são geradas,
produzem somatizações, notadamente, na formação de displasias e tumores. Muitos
portadores de câncer, por exemplo, são pessoas no mínimo magoadas, e esse
sentimento gera por indução ou imantação, um campo energético adequado ao
desenvolvimento da doença.
Assim não se formam expectativas
nem frustrações seguidas de mágoas, ressentimentos, ódio e vingança, que sempre
acabam em somatizações. Sentimentos não morrem. Podemos enterrá-los, mas mesmo
assim continuarão conosco. Se não forem admitidos, não serão compreendidos e,
consequentemente, estarão desvirtuando a nossa visão do óbvio e do mundo
objetivo.
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