Jorge Hessen[2]
A palavra “coma” advém do termo grego koma, que significa “estado de dormir”,
mas estar em coma não é o mesmo que estar dormindo. Alguns pacientes em estado
comatoso podem sair do problema depois de algum tempo. Porém, há uma grande
diferença entre estar em coma e estar em estado vegetativo. Este último é um
tipo de coma em que o paciente, quando desperto ou quando dorme, não reage aos
estímulos. Há vários conceitos e muitas incertezas sobre esses estados de
inconsciência. Sabe-se, porém, que as taxas de sobrevivência ao coma são de,
até, 50%, e pouco menos de 10% saem do coma e conseguem uma recuperação
completa. Os pesquisadores acreditam que a consciência depende da constante
transmissão de sinais químicos do tronco cerebral e tálamo para o cérebro.
Essas áreas estão conectadas por caminhos neurais chamados Substância Reticular
Ativada. Qualquer interrupção nessas mensagens pode colocar a pessoa em um
estado alterado de consciência.
Em dezembro de 1999, uma
enfermeira estava arrumando os lençóis da cama quando a paciente White Bull,
repentinamente, sentou-se e exclamou: “Não faça isso!”, fato, esse, que foi uma
grande surpresa para a família. Bull ficou em coma por 16 anos e os médicos haviam
dito aos familiares que ela jamais voltaria ao estado de consciência. Outra
ocorrência surpreendente aconteceu, há cinco anos, com o bombeiro Donald
Herbert. Ele teve queimaduras graves, em 1995, quando o teto de um prédio em
chamas desabou sobre seu corpo. Herbert ficou em coma por 10 anos e, quando os
médicos lhe prescreveram drogas, normalmente usadas para tratar mal de
Parkinson, depressão e problemas de déficit de atenção, Donald acordou e falou
com sua família por 14 horas sem parar.
Em um noticiário recente, temos
informação sobre o caso Rom Houben, que foi vítima de um acidente de carro, em
1983, aos 20 anos, e diagnosticado o estado vegetativo do paciente. Um
especialista, porém, usando um tomógrafo, que não estava disponível nos anos
80, afirma ter descoberto que Rom sofria de um tipo de enclausuramento psíquico
ou “síndrome de prisão”, em que a pessoa não consegue falar ou se mover,
todavia pode pensar. O médico, então, disponibilizou um equipamento e o
paciente começou a se comunicar, ajudado por uma terapeuta [3]. Com o dedo esticado, Rom digita, com
surpreendente rapidez, em um computador de tela sensível ao toque, relatando
sobre como se sentia “sozinho, solitário e frustrado”, nos 23 anos em que ficou
preso a um corpo paralisado. Para os descrentes, as respostas de Houben parecem
artificiais para alguém com danos tão profundos e que passou décadas sem se
comunicar. Porém, a equipe médica, que cuida de Houben, atesta que realizou
testes especiais para comprovar que a comunicação do paciente, de fato, está
ocorrendo.
O corpo físico de uma pessoa em
coma não é capaz de perceber os estímulos internos e externos e de reagir,
fisicamente, a esses estímulos apreendidos. Mas, espiritualmente, o indivíduo é
capaz de perceber o que acontece em seu redor. Em verdade, quando o corpo entra
em um estado neurofisiológico alterado (“estados alterados de consciência”),
como o sono físico, o sonambulismo, o êxtase, o coma etc., o perispírito tem
possibilidade de expandir-se, e o Espírito se liberta, parcialmente, do corpo
em repouso, embora ainda ligado, a esse, por um “laço” fluídico, sem o qual
desencarnaria.
A Doutrina Espírita explica que
o homem é constituído de três partes: o corpo físico, que possui automatismos
biológicos dirigidos pela mente; o Espírito, centro da inteligência,
indestrutível, que sobrevive à morte do corpo, libertando-se e retornando à
vida espiritual, para voltar à vida material em uma nova reencarnação; e,
finalmente, o perispírito, laço de união entre o Espírito e a matéria, corpo
fluídico semi-material (energético) que “reveste” o Espírito e permite a
ligação, deste, com o corpo.
Na Codificação, não encontramos
farta referência sobre o coma, propriamente dito. Contudo, podemos compreender
o que se passa com o Espírito no estado comatoso, refletindo as lições dos
Benfeitores Espirituais, consoante explica O
Livro dos Espíritos sobre “estado de letargia e morte aparente [4].”
Para Kardec, “a letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda
momentânea da sensibilidade e do movimento (…)”. Portanto, se no sono e na
letargia a alma não fica presa ao corpo, a
fortiori[5]
não ficará presa no coma, até porque “(…) o Espírito jamais fica inativo” [6]
.
No entanto, há pacientes, em
estado de coma, que muitas vezes ficam presentes no local onde seus corpos
ficam paralisados, presenciando o que ocorre ao seu redor ou em qualquer lugar,
à semelhança do que confirma o caso Rom Houben. Se familiares, amigos ou
médicos conversarem com o paciente, podem ter a certeza de que ele terá
condições de ouvir e ver, sem, contudo, ter a capacidade de dar a resposta
“física”. Pode, até, surgir, normalmente, em sonhos, pois quem está aprisionado
na cama é o corpo e não o Espírito. Portanto, o Espírito não fica preso o tempo
todo ao corpo doente, pois, neste, só funciona a vida vegetativa e, nesse
estado, o corpo só precisa do Espírito para mantê-lo vivo; o Espírito, somente
“preso ao corpo” ficaria inativo, sem condições instrumentais para evoluir. Por
isso, sabemos que, no coma, o Espírito poderá estar em outras dimensões, sem
estar adstrito ao corpo, em situação semelhante ao de uma pessoa dormindo.
A miopia médica, para as
questões espirituais, tem atrasado os avanços necessários para o tratamento
integral do ser humano. A causa para alguém passar muito tempo em estado de
coma, embora com profunda consciência na intimidade do ser, e compreendendo a
Lei Divina como perfeita, é certo que essa experiência deva servir de resgate
de débitos morais contraídos em outras vidas, ante a justiça do princípio da
reencarnação.
Ver neste blog:
Por dentro da mente em
estado vegetativo, publicado em 13/06/2015
[3] Linda Wouters é a terapeuta e afirmou à Associated
Press que pode senti-lo guiar sua mão com uma pressão sutil vinda de seus
dedos, e que inclusive percebe sua negativa quando digita uma letra errada.
[4] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro:
Ed. FEB, 2001, questões 422/424.
[5] A fortiori (pronuncia-se a forcióri) é o início de uma expressão
latina - a fortiori ratione - que significa "por causa de uma razão mais
forte", ou seja, "com muito mais razão", "com mais
razão".
[6] idem, questão 401.
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