Jane Maiolo [2]
Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos
separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras
autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro. (Romanos 8:
38,39)
A sociedade atual experimenta
uma instabilidade generalizada em face de um panorama de incertezas que se
projeta no horizonte. Aqueles que concebem apenas a unicidade da experiência
física deparam-se com a necessidade de prosseguir vivendo sem se afligirem com
os obstáculos da caminhada, repensando meios de conquistarem a felicidade
fugitiva.
As pessoas, cientes que a vida
física é uma experiência do espírito imortal, devem buscar as lições
norteadoras do bem, cônscios da tutela do Cristo, a fim de buscarem a renovação
dos valores essenciais nas vastas experiências nas quais todos estamos
incursos. Vivemos tempos céleres, rápidos, tempestuosos. Tempos já vividos
dantes, histórias que se repetem, lições abortadas e novos recomeços.
A cultura do “carpe diem” ,
muito difundida e tão pouco refletida , nos estimula as mais intensas emoções
da matéria. Vivemos um período alucinante por sensações imediatas, onde os
pensamentos desorganizam, os sentimentos se confundem e as emoções extrapolam.
A rigor, “carpe diem” significa uma experiência psicoemocional imediatista e
sem preocupações com o amanhã. É desfrutar a vida e os prazeres do momento em
que se “vive”. Esta expressão tem o objetivo de lembrar que a vida é breve e
efêmera e por isso, cada instante deve ser “vivido” apoteoticamente, por
conseguinte, esse conceito é largamente aceito pelo materialista (sensualista)
, que carece entorpecer os sentidos a fim de suportar os açoites das expiações
e provações e as lágrimas desconfortantes.
Entretanto, somos
espiritualistas e paradoxalmente acreditamos que devemos aproveitar ao máximo o
“aqui e agora” a fim de que o nosso amanhã seja um tanto mais proveitoso rumo
ao nosso aperfeiçoamento moral.
Lamentavelmente a sociedade humana, ainda descompromissada com os
valores do espírito imortal, promove essa cultura que arrasta as criaturas
primárias para as experiências não aconselháveis. Haja vista a infinidade de
festas “open bar” oferecidas aos jovens, a puerilidade dos relacionamentos e a
imaturidade que encontramos nos fúnebres cenários da sociedade contemporânea.
Uma humanidade acriançada que
ambiciona tão-somente o sedutor prazer da vida, deixando o dever para mais além
do fugitivo imaginário. Estamos cada vez mais envoltos num clima de
egocentrismo , isolamento e retraimento social, não obstante contíguo à
multidão. Alguns experimentam a obscuridade moral a ponto de descobrir nos
relacionamentos virtuais a válvula de escape para aliviar o turbilhão das suas
carências e desditas afetivas.
Entretanto, o alerta para essas
realidades é a sensação subjetiva de estar isolado e não ter para quem se
expandir, falar, prantear, se regozijar, ou buscar dividir as emoções . São
duas faces de uma mesma moeda. Em alguns períodos vivemos intensamente as
experiências e em outros nos abatemos completamente no isolamento.
O “carpe diem” descomedido pode até
mesmo nos dar a impressão de estarmos vivendo intensamente o momento, porém ,
importa refletir quais são os valores que temos granjeado nessa competição
alucinada pela satisfação instantânea.
O apóstolo da gentilidade diria:
“Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a
morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais;
nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo.
Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é
nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor” [3].
Considerando que fomos criados
por uma Inteligência Suprema é importante que passamos nos sentir parte da
divindade. Conectando-nos a Deus. O pensamento ilusório de que somos
autossuficientes tem gerado uma série de conflitos emocionais, promovendo um
sentimento de incompetência, fracasso existencial e incompletude. Em verdade
são sentimentos conectados a apreciações que denunciam a incondicional ausência
de valores morais que nos permita maior aproximação de Deus.
A aflição de viver e o eterno
recomeço para a busca da vida venturosa são segmentos do processo de construção
do ser na forja do tempo. Após milênios de experiências malogradas e enriquecedoras
desponta para todos a capacidade de desenvolver as perenes potências
espirituais.
Entendemos que a
neuroplasticidade (plasticidade neural) , definida como a capacidade do sistema
nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de
experiência, e a mesma, pode ser concebida e avaliada a partir de uma
perspectiva estrutural , na configuração sináptica [4]
ou funcional , na modificação do comportamento.
Sob o comando do espírito
consciente de suas necessidades evolutivas, através do impulso da vontade e
determinação, ocorre a modificação estrutural física e perispiritual. A
neuroplasticidade nasce de uma necessidade da mente humana em buscar saídas
assertivas. Somos seres cognitivos e não existem limites para nossas criações.
A legitimidade das nossas buscas obrigará nossas estruturas fisiopsíquicas a
encontrar caminhos que darão novo significado à vida.
Nada no mundo nos afastará do
amor de Deus, nem a ilusão, nem solidão, nem a penumbra das emoções e nem o
“carpe diem” exagerado. Tenhamos a certeza que o Amor do Criador é patrimônio
que também nos pertence, por direito inalienável. Se preciso for utilizaremos
de todos os recursos divinos para nos moldar a essa excelsa herança.
[2] Professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e
pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales.
Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do
Evangelho de Jesus. Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo
Espírita. janemaiolo@bol.com.br
[3] Romanos 8: 38 - 39
[4] Algo que cria um novo caminho ou alternativa em sua
vida ou de outrem, bom ou ruim. Geralmente precisa de tratamento psicológico ou
químico para ser alterado ou ainda mudança de atitude séria por parte de quem o
enfrenta.
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