André Luiz[2]
Depois de um século de
mediunidade, à luz da Doutrina Espírita, com inequívocas provas da
sobrevivência, nas quais a abnegação dos Mensageiros Divinos e a tolerância de
muitos sensitivos foram colocadas à prova, temo-la, ainda hoje, incompreendida
e ridicularizada.
Os intelectuais, vinculados ao
ateísmo prático, desprezam-na até agora, enquanto os cientistas que a
experimentam se recolhem, quase todos, aos palanques da Metapsíquica,
observando-a com reserva. Junto deles, porém, os espíritas sustentam-lhe a
bandeira de trabalho e revelação, conscientes de sua presença e significado
perante a vida. Tachados, muitas vezes, de fanáticos, prosseguem eles, à feição
de pioneiros, desbravando, sofrendo, ajudando e construindo, atentos aos
princípios enfocados por Allan Kardec em sua codificação basilar.
Alguém disse que “os espíritas
pretenderam misturar, no Espiritismo, ciência e religião, o que resultou em
grande prejuízo para a sua parte científica”. E acentuou que “um historiador,
ao analisar as ordenações de Carlos Magno, não pensa em Além-Túmulo; que um
fisiologista, assinalando as contrações musculares de uma rã não fala em esfera
ultraterrestres; e que um químico, ao dosar o azoto da lecitina, não se deixa
impressionar por nenhuma fraseologia da sobrevivência humana”, acrescentando
que, “em Metapsíquica, é necessário proceder de igual modo, abstendo-se o
pesquisador de sonhar com mundos etéreos ou emanações anímicas, de maneira a
permanecer no terra-a-terra, acima de qualquer teoria, para somente indagar,
muito humildemente, se tal ou tal fenômeno é verdadeiro, sem o propósito de
desvendar os mistérios de nossas vidas pregressas ou vindouras”.
Os espírita, contudo, apesar do
respeito que consagram à pesquisa dos sábios, não podem abdicar do senso
religioso que lhes define o trabalho. Julgam lícito reverenciá-los,
aproveitando-lhes estudos e equações, qual nos conduzimos nestas páginas[3]
, tanto quanto eles mesmos, os sábios, lhes homenageiam o esforço,
utilizando-lhes o campo de atividade para experimentos e anotações.
Consideram os espíritas, que o
historiador, o fisiologista e o químico podem não pensar em Além-Túmulo, mas
não conseguem avançar desprovidos de senso moral, porquanto o historiador, sem
dignidade, é veículo de imprudência; o fisiologista, sem respeito para consigo
próprio, quase sempre se transforma em carrasco da vida humana, e o químico,
desalmado, facilmente se converte em agente da morte.
Se caminham atentos à mensagem
das Esferas Espirituais, isso não quer dizer se enquistem na visão de “mundos
etéreos”, para enternecimento beatífico e esterilizante, mas para se fazerem
elementos úteis na edificação do mundo melhor. Se analisam as emanações anímicas
é porque desejam cooperar no aperfeiçoamento da vida espiritual no Planeta,
assim como na solução dos problemas do destino e da dor, junto da Humanidade,
de modo a se esvaziarem penitenciarias e hospícios, e, se algo procuram, acima
do “terra-a-terra”, esse algo é a educação de si mesmos, através do bem puro
aos semelhantes, com o que aspiram, sem pretensão, a orientar o fenômeno a
serviço dos homens, para que o fenômeno não se reduza a simples curiosidade da
inteligência.
Quanto mais investiga a Natureza,
mais se convence o homem de que vive num reino de ondas transfiguradas em luz,
eletricidade, calor ou matéria, segundo o padrão vibratório em que se exprimam.
Existem, no entanto, outras
manifestações da luz, da eletricidade, do calor e da matéria, desconhecidas nas
faixas da evolução humana, das quais, por enquanto, somente poderemos recolher
informações pelas vias do espírito.
Prevenindo qualquer observação
da critica construtiva, lealmente declaramos haver recorrido a diversos
trabalhos de divulgação científica do mundo contemporâneo para tornar a
substância espírita deste livro mais seguramente compreendida pela generalidade
dos leitores, como quem se utiliza da estrada de todos para atingir a meta em
vista, sem maiores dificuldades para os companheiros de excursão. Aliás, quanto
aos apontamentos científicos humanos, é preciso reconhecer-lhes o caráter
passageiro, no que se refere à definição e nomenclatura, atentos à
circunstância de que a experimentação constante induz os cientistas de um
século a considerar, muitas vezes, como superado o trabalho dos cientistas que
os precederam.
Assim, as notas dessa natureza,
neste volume, tomadas naturalmente ao acervo de informações e deduções dos
estudiosos da atualidade terrestre, valem aqui por vestimenta necessária, mas
transitória, da explicação espírita da mediunidade, que é, no presente livro, o
corpo de ideias a ser apresentado.
Não podemos esquecer a obrigação
de cultuar a mediunidade e acrisolá-la, aparelhando-nos com os recursos
precisos ao conhecimento de nós meninos.
A Parapsicologia nas
Universidades e o estudo dos mecanismos do cérebro e do sonho, do magnetismo e
do pensamento nas instituições ligadas à Psiquiatria e às ciências mentais,
embora dirigidos noutros rumos, chegarão igualmente à verdade, mas, antes que
se integrem conscientemente no plano da redenção humana, burilemos, por nossa
vez, a mediunidade, à luz da Doutrina Espírita, que revive a Doutrina de Jesus,
no reconhecimento de que não basta a observação dos fatos em si, mas também que
se fazem indispensáveis a disciplina e a iluminação dos ingredientes morais que
os constituem, a fim de que se tornem fatores de aprimoramento e felicidade, a
benefício da criatura em trânsito para a realidade maior.
ANDRÉ LUIZ
Uberaba, 11-8-59
[2]
Mecanismos
da Mediunidade – Francisco C. Xavier
[3] A convite do Espírito André Luiz, os médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira receberam os textos deste livro em noites de
quintas e terças-feiras, na cidade de Uberaba, Estado de Minas Gerais. O
prefácio de Emmanuel e os capítulos pares foram recebidos pelo médium Francisco
Cândido Xavier, e o prefácio de André Luiz e os capítulos ímpares foram
recebidos pelo médium Waldo Vieira. — (Nota dos médiuns.)
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