Jorge Hessen[2]
- 28/dezembro/2015
Define o dicionarista a
“solidão” como um estado de quem se sente ou está só. Para os psicólogos a
solidão é uma “moléstia astuciosa”, que nenhum instrumento médico consegue
identificar, o que resulta, quase sempre, em determinados reflexos
comportamentais, a saber: isolamento, inabalável esmorecimento, irreprimível
indisposição, tristeza sem causa, baixa autoestima.
O psicólogo John Cachopo, após
seis anos de estudos com 2 mil pessoas, afirma que os solitários correm mais
risco de falecer do que os outros. É que a solidão eleva a pressão arterial,
logo, aumenta também os riscos de infartos e derrames. Além disso, o isolamento
enfraquece o sistema imunológico e piora a qualidade do sono.
Não ignoramos que hoje em dia
muitas pessoas moram sozinhas e levam uma vida relativamente serena. Não se
pode dizer que são pessoas “doentes” se as mesmas se sintam bem nessa
circunstância. Até porque a sensação de isolamento pode estar presente em
qualquer lugar ou situação, como numa festa com os amigos, no trabalho e até
mesmo dentro de casa com a própria família.
Experimenta-se atualmente a
sediciosa sensação de insulamento na multidão. Indivíduos estão cercados por
pessoas em ônibus, metrôs, aviões, estádios, avenidas, ruas e, contudo, nessa
avalanche de gente avultam os solitários na multidão. E quanto mais são
cercados de pessoas, de barulho, de tarefas, mais se agrava a sensação de que
estão sozinhos. Parece algo contraditório. Será a “tal solidão” a ausência de
companhia? Consistiria em uma fuga da civilização?
Há os que defendem que solidão
seja a arte do encontro com o vazio existencial. Esse vazio é de mão dupla. Uma
é a da existência, da busca de um significado metafísico; a outra é a da
ausência, da perda de algo importante. A liberdade é uma descoberta solitária,
e por isso muitos tentam evitá-la. Garantem tais estudiosos que a solidão é boa
e que ficar sozinho não é vergonhoso. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas,
de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força
pessoal. Na solidão o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só
podem ser encontradas dentro dele mesmo.
Realmente há quem use a
prodigiosa solidão como tempo de inspiração, análise e programação. Quando
fazemos silêncio exterior, damos vazão ao mundo interno, intenso e palpitante.
Há tanta gente mergulhada em alaridos indigestos, dominada por conversas
maledicentes ou pelo estrondo de risadas burlescas; há tanta gente rodeada de
pessoas, mas com a alma amargurada, oprimida, oca. Lembremos que tudo tem o seu
tempo determinado, conforme narra o Eclesiastes.
“Há tempo de nascer e tempo de
morrer; tempo de plantar, tempo de colher, tempo de chorar e tempo de sorrir;
tempo de falar e tempo de silenciar também”.[3]
Então, por que temer a frutífera
solidão? Se a vida nos oferece ocasiões de solidão, saibamos abrigá-la como um
tesouro. Aproveitemos cada instante para meditações.
Obviamente o “isolamento
absoluto” é contrário à lei da Natureza. Somos seres sociais e, por instinto,
buscamos a sociedade e devemos concorrer para o seu progresso, auxiliando-nos
mutuamente. Completamente isolados não dispomos de todas as faculdades. No
isolamento incondicional ficamos brutalizados e morremos. Por essas razões é importante
caracterizar as distintas solidões – aquela que significa fuga deliberada do
convívio social daquela outra que nos abastece a alma.
A solidão com o serviço aos
semelhantes gera a grandeza. A rocha que sustenta a planície costuma viver
isolada, e o Sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho. Emmanuel ensina
que “Jesus escalou o Calvário, de cruz aos ombros feridos e ninguém o seguiu na
morte afrontosa, à exceção de dois malfeitores, constrangidos à punição, em
obediência à justiça”.[4]
Não esperemos pelos outros na
marcha de sacrifício e engrandecimento. “E não olvidemos que, pelo ministério
da redenção que exerceu para todas as criaturas, o Divino Amigo dos Homens não
somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado…”.[5]
[2] Servidor Publico Federal, residente em Brasília,
palestrante, escritor, articulista em diversos jornais e sites, com textos
publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Imortal,
Revista Internacional do Espiritismo, entre outros e além de Conselheiro da
Revista Eletrônica O Consolador.
[3] Eclesiastes 3:1-8
[4] Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva , ditado pelo
Espírito Emmanuel, cap. 70, RJ: Ed. FEB, 1999
[5] Idem
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