Alexandre Fontes da Fonseca -
10/12/2015
Uma das questões de maior
interesse no movimento espírita diz respeito à evocação direta de Espíritos em
reuniões mediúnicas. Kardec abre o capítulo XXV, “Das Evocações”, de O Livro dos Médiuns (LM) [2]
, dizendo que:
“Os Espíritos podem comunicar-se
espontaneamente, ou acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação. Pensam algumas pessoas que todos devem
abster-se de evocar tal ou tal Espírito e ser preferível que se espere
aquele que queira comunicar-se. Fundam-se em que, chamando determinado
Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que
aquele que vem espontaneamente, (...), melhor prova a sua identidade,(...). Em nossa opinião, isso é um erro:
primeiramente, porque há sempre em torno de nós Espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem
senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta última razão, não chamar a nenhum em particular é abrir a
porta a todos os que queiram entrar. (...) A chamada direta de determinado
Espírito constitui um laço entre ele e nós; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos
intrusos. Sem uma chamada direta, um Espírito nenhum motivo terá muitas
vezes para vir confabular conosco, a
menos que seja o nosso Espírito familiar.” (item 269, grifos em negritos,
meus).
Essas palavras de Kardec, a
primeira vista, fazem supor que seria imprescindível evocar determinados
Espíritos em uma reunião mediúnica. Porém, um estudo mais atento do Cap. XXV do
LM, permite perceber que a ideia não é bem essa. Ainda no item 269 Kardec diz:
“Cada uma destas duas maneiras de operar tem suas vantagens e nenhuma desvantagem haveria, senão na exclusão absoluta de uma delas.”
(grifos em negrito, meus).
Kardec, então, considera que há
“vantagens”, isto é, benefícios nas duas formas de operar a reunião mediúnica:
em que há, e em que não há evocação. E complementa dizendo que “nenhuma
desvantagem haveria” a menos que houvesse “exclusão
absoluta de uma delas” (grifamos), isto é, que se fizesse reuniões onde não
se faz nenhum tipo de evocação ou, o contrário, onde se recebe, apenas,
comunicações de Espíritos evocados diretamente. Ainda neste item, Kardec complementa:
“As comunicações espontâneas inconveniente
nenhum apresentam, quando se está senhor dos Espíritos e certo de não deixar que os maus tomem a dianteira. (...) O exame escrupuloso, que temos aconselhado,
é, aliás, uma garantia contra as comunicações más. Nas reuniões regulares, naquelas, sobretudo, em que
se faz um trabalho continuado, há
sempre Espíritos habituais que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por
estarem prevenidos, em virtude mesmo da regularidade
das sessões.” (grifos em negrito, meus).
Kardec deixa, então, claro que
quando seguimos a recomendação de fazer um “exame
escrupuloso”, isto é, uma análise profunda das comunicações recebidas, não
há inconveniente algum em aguardar por comunicações espontâneas numa reunião
mediúnica. E acrescenta que nas “reuniões
regulares”, isto é, naquelas que ocorrem com frequência regular, “Espíritos habituais” estão sempre
presentes.
Alguns companheiros têm usado esses
comentários de Kardec para criticar a forma como os centros espíritas, em sua
maioria, orientam e realizam as reuniões espíritas. Alegam, respeitosamente,
que fazer evocações nas reuniões mediúnicas é exemplo de Kardec. Mas, será que
realmente as reuniões mediúnicas dos centros espíritas estão ocorrendo de modo
errado ou incompleto? Nosso propósito, aqui, é mostrar que, na verdade, os centros espíritas estão agindo
corretamente e de acordo com essas e outras orientações de Kardec e dos
bons Espíritos na Codificação. Para isso, analisemos, as citações de Kardec,
acima destacadas.
Primeiro: Kardec está
certo quando diz que é um erro não evocarmos os Espíritos em nossas reuniões
mediúnicas. Mas quem disse que a evocação não é feita em todas as
reuniões mediúnicas comuns das casas espíritas? Quando um companheiro do
grupo mediúnico eleva o pensamento em preces para rogar ajuda, inspiração e
amparo dos bons Espíritos para a reunião que se inicia, está fazendo uma evocação direta aos bons Espíritos!
Jesus não disse: “onde quer que se
encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei.”
(MATEUS, XVIII, 20)? Se os membros do grupo estão em sintonia com aquele que,
em voz alta, faz a prece, então Jesus será representado na reunião por bons
Espíritos (ver o item 5 do capítulo XXVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo
(ESE) [3]).
Não é necessário nem correto evocar essa ou aquela entidade conhecida, pois
sabemos que nem sempre um determinado Espírito pode nos atender (Cap. XXV do
LM), e porque quando desejamos a presença e assistência de bons Espíritos, não
importa o nome, nem a personalidade que foi conhecida quando encarnado, mas sim
se detém conhecimento e bondade suficientes para nos conduzir ao progresso.
Além disso, embora não constitua uma evocação direta, quando, em preces,
rogamos ajuda para encarnados ou desencarnados, de certa forma estamos fazendo
um tipo de evocação, isto é, estamos demonstrando em pensamento, e com
respeito, que algumas pessoas são importantes para nós e desejamos que elas
sejam ajudadas.
Segundo: Kardec está
certo quando diz que a reunião mediúnica ideal é aquela em que se combina
evocação com comunicações espontâneas. Quem disse que isso não ocorre nas reuniões mediúnicas comuns das casas espíritas?
As evocações são feitas no momento da prece e nas vibrações pelos necessitados,
enquanto que as comunicações espontâneas ocorrem ao longo da reunião. Como
explica Kardec no capítulo XXV do LM, nem sempre os Espíritos com quem
desejamos nos comunicar tem condições de atender nosso chamado. Logo, ao mesmo
tempo que, em preces, rogamos ajuda para os Espíritos que sabemos estarem
necessitados, deixamos para os bons Espíritos a escolha daqueles que estão em
melhores condições de receberem os benefícios da comunicação mediúnica e do
diálogo fraterno. Isso se chama organização
para melhor servir, o que é condição necessária para a prática eficiente da
caridade. No fundo, se analisarmos bem, não se pode nem chamar isso de
comunicações espontâneas porque não será
qualquer um que irá se comunicar, mas só aqueles que os bons Espíritos sabem
que podem ser beneficiados através da reunião mediúnica. Para nós encarnados,
parece que as comunicações são espontâneas, mas não o são na realidade. Tudo
atende a organização e preparo prévios da espiritualidade.
Terceiro: as reuniões
mediúnicas no movimento espírita são periódicas, isto é, ocorrem com frequência
regular, geralmente semanal. Logo, nessas reuniões, há a presença de bons
Espíritos habituais.
Em quarto lugar, não há com o que se preocupar com eventuais
comunicações espontâneas porque os bons grupos mediúnicos realizam
fidedignamente a recomendação espírita de realizar um “exame escrupuloso” das comunicações já que, segundo Kardec, essa é
“uma garantia contra as comunicações más”.
Portanto, o movimento espírita
já segue as orientações de Kardec no tocante às reuniões mediúnicas,
comunicações com os Espíritos e, inclusive, evocações. É graças a essa conduta
que os centros espíritas podem oferecer ajuda eficiente na realização de
comunicações mediúnicas com Espíritos maus. A esse respeito, no item 278 do LM,
Kardec diz:
“Uma questão importante se apresenta aqui, a de saber se há ou não inconveniente em evocar maus
Espíritos. Isto depende do fim que se tenha em vista e do ascendente que se
possa exercer sobre eles. O
inconveniente é nulo, quando são chamados com um fim sério, qual o de os
instruir e melhorar; é, ao contrário, muito grande, quando chamados por
mera curiosidade ou por divertimento, ou, ainda quando quem os chama se põe na
dependência deles, pedindo-lhes um serviço qualquer.” (Grifos em negrito,
meus).
Aqui vemos o quinto requisito satisfeito pelos grupos mediúnicos dos centros
espíritas em todo o país. Os grupos mediúnicos de desobsessão ocorrem com o fim
único e sério de “instruir e melhorar”
os Espíritos necessitados de orientação, equilíbrio e paz. A evocação, no caso
dos grupos de desobsessão, ocorre quando lembramos na prece inicial, de pessoas
que estejam sofrendo influências negativas de certos Espíritos, de Espíritos
que saibamos estarem sofrendo e influenciando algumas pessoas, ou quando
pedimos aos bons Espíritos que sejamos úteis para ajudar aqueles Espíritos maus
que, na análise deles, estão em condições de receberem ajuda através do grupo.
Com base nas explicações acima,
podemos entender a recomendação de Emmanuel na obra O Consolador [4],
questão 369:
“369 – É aconselhável a evocação direta de determinados Espíritos”?
- Não somos dos que aconselham a
evocação direta e pessoal, em caso algum. Se essa evocação é passível de
êxito, sua exequibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Daí a
necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no complexo dos fenômenos
espiríticos, a solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O
estudioso bem-intencionado, portanto, deve
pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que
a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de
acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do
seu coração. Podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação
direta, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no
seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidade de méritos ainda distantes da esfera de atividade dos
aprendizes comuns.” (Grifos em negrito, meus).
Ninguém é proibido de, em
pensamento, pedir ajuda para determinado Espírito, rogar notícias de algum
familiar ou amigo desencarnado, ou desejar orientação deste ou daquele mentor
espiritual. Mas, a Doutrina Espírita esclarece que: i) nem sempre os Espíritos
podem atender à evocação (questões 2, 3, 4 e 9 do item 282 do LM); ii) podem
simplesmente não desejar atendê-las (questões 10 e 22 do item 282 do LM); e
iii) outros Espíritos podem se fazer passar pelos que foram evocados (questões
23 e 26 do item 282 e questão 36a do item 283 do LM). Assim, pensando nos
nobres objetivos de uma reunião mediúnica, a abstenção de se evocar, exigir ou
esperar pela comunicação de determinado Espírito resguarda o grupo de possíveis
mistificações. Em nota à questão 36a do item 283 do LM, Kardec diz: “Os Espíritos levianos se aproveitam sempre
da inexperiência dos interrogantes;
guardam-se, porém, de dirigir-se aos que eles sabem bastante esclarecidos para
lhes descobrir as imposturas e que não lhes dariam crédito aos contos.”
(Grifos em negrito, meus). Isso mostra que a preocupação de Emmanuel é mais do
que justa. Como o centro espírita contém a presença de companheiros experientes
na tarefa mediúnica, as razões acima mostram, também, porque é mais seguro que
se pratique a mediunidade no ambiente das casas espíritas, e não nos lares ou
em outros locais.
Em conclusão, vemos que as reuniões
mediúnicas que ocorrem nos centros espíritas, estão em pleno acordo com as
orientações do Espiritismo. Se engana quem pensa que não ocorrem evocações nas
reuniões mediúnicas ordinárias no movimento espírita.
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