Jorge Hessen – 05/02/2016
Nos períodos de folia os
carnavalescos surgem de todos os lados na busca do nutrimento de suas
devassidões. Para tais são longas as estações de dias e noites para as
preparações do delírio demente dos três dias de miragens. Os incautos esfolam
as finanças familiares para experimentar o encanto efêmero de curtir dias de
completa paranoia. Adolescentes e marmanjos se abandonam nas arapucas pegajosas
das drogas lícitas e ilícitas. Não compreendem que bandos de malfeitores do
além (obsessores) igualmente colonizam as avenidas das escolas de samba num
lúgubre show de bizarrices. Celerados das escuridões espirituais se acoplam aos
bobalhões fantasiados pelos condutores invisíveis do pensamento, em face dos
entulhos concupiscentes que trazem no mundo íntimo.
Sobrevém uma permuta vibratória
em todos e em tudo. Os espíritos das brumas umbralinas se conectam aos escravos
de momo descuidados, desvirtuando-os a devassidões deprimentes e jeitos
grotescos de deploráveis implicações morais. Tramas tétricas são armadas no
além-tumba e levadas a efeito nessas oportunidades em que momo impera dominador
sobre as pessoas que se consentem despenhar na festa medonha.
Enquanto olhos embaciados dos
foliões abrangem o fulgor dos refletores e das fantasias brilhantes
(inspirações ridículas impostas pelos malfeitores habitantes das províncias
lamacentas do além-túmulo), nas avenidas onde percorrem carros alegóricos (que,
pasmem! Já até transportou a efígie do Chico Xavier sob aplausos de omissos
líderes espíritas), a visão dos espíritos observa o recinto espiritual envolto
em carregadas e sombrias nuvens cunhadas pelas oscilações de baixo teor mental.
Os três dias de folia, assim,
poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos
um pouco nisso: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento?
Cultura? É de se perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por
uns dias de desvario grupal?
Quando se pretende alcançar essa
alegria, através do prazer desregrado e dos excessos de toda ordem, o resultado
é a insatisfação íntima, o vazio interior provocado pelo desequilíbrio moral e
espiritual. Portanto, não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de
integração sócio racial, poderia se tornar um acontecimento compreensível, até
porque não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Porém, para os
espíritas merece reflexão a advertência de André Luiz: “Afastar-se de festas
lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as
que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações
exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança”. [2]
A efervescência momesca é
episódio que satura, em si, a carga da barbárie e do primitivismo que ainda
reina entre nós, os encarnados, distinguidos pelas paixões do prazer violento.
Costuma ser chamado de folia, que vem do francês folle, que significa loucura
ou extravagância.
Nos dias conturbados de hoje,
sabe-se que “(…) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a
noite brigados (cenas de ciúme etc.); que, desses mesmos dez casais,
posteriormente, seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três
para os homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas
(homens e mulheres) no carnaval, pelo menos sete se submetem espontaneamente a
coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecente
etc. Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido na Grande Festa,
quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da orgia e
depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora
do seu normal (…)” [3].
O Espírito Emmanuel adverte: “Ao
lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as
crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis
que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as
fartas contribuições para que os salões se enfeitem” [4].
Como proferi supra, nesse
panorama, os obsessores “influenciam os incautos que se deixam arrastar pelas
paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do
ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os
gozos e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e
contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram” [5].
Portanto, além da companhia de
encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de seres invisíveis,
recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que
nos encontremos. As tendências ao transtorno comportamental de cada um, e a
correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são qual imã que atrai os
espíritos desequilibrados e fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em
suma, não existiriam se vivêssemos no firme propósito de educar as paixões
instintivas que nos animalizam.
Será racional fechar as portas
dos centros espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar o procedimento das
reuniões? Existem alguns centros que fecham suas portas nos feriados do
carnaval por vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos
recursos espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar
para ser atendida após as “cinzas”, uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia
de feriado momesco?
Os foliões crônicos declaram que
o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto,
no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se
observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica.
Aparecem após os funestos três dias as gravidezes indesejadas e a consequente
proliferação de assassinatos de intrusos bebês nos ventres, incidem acidentes
automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios, aumento do
consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o
aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente
transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente,
certas almas desavisadas e imprevidentes.
O carnaval edifica o nosso
Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas
de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa
integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente alegria e
transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda
vivemos pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante
lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou
entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de
alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.
Não vemos, por fim, outro caminho
que não seja o da “abstinência sincera dos folguedos”, do controle das
sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de
feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo; o entrosamento com os
familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela
frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o
descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e
estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.
Somente poderemos garantir a vitória do
Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos
mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por
Jesus Cristo.
[2] Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito
André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 “Perante As Fórmulas Sociais”.
[3] São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa… De
enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev. 1983.
[4] Xavier, Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem
ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB
fevereiro/1987.
[5] Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro:
cap. V, edição da FEB, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário