Sabemos que tudo vibra e irradia
no Universo porque tudo é força, luz e vida. Penetra a Natureza, em seus
menores átomos, uma energia infinita – origem de todos os fenômenos.
Identicamente, cada Espírito, livre ou encarnado, possui, conforme o seu grau
de adiantamento e de pureza, uma irradiação cada vez mais rápida, intensa,
luminosa.
A lei das atrações e
correspondências rege todas as coisas; as vibrações, atraindo vibrações
similares, aproximam e vinculam as almas, os corações, os pensamentos.
Nossos maus desejos e
concupiscências criam em torno de nós uma atmosfera fluídica impura, propícia à
ação das influências da mesma ordem, ao passo que as nobres aspirações atraem
as salutares vibrações, as irradiações das esferas superiores.
Tal é o princípio da evolução;
reside na capacidade, que possui o indivíduo, de assimilar as forças
misteriosas da Natureza, para se elevar, mediante o seu auxílio, e ascender
gradualmente até à causa das causas, à fonte inexaurível de que procede toda a
vida.
A escala ascensional comporta
planos sucessivos e superpostos; em cada um deles os seres são dotados do mesmo
estado vibratório, de meios análogos de percepção que lhes permitem
reconhecer-se mutuamente, ao passo que se lhes conservam invisíveis e muitas
vezes mesmo incognoscíveis os seres dos planos superiores, em consequência de
seu estado vibratório mais acelerado e de suas condições de vida mais sutis e
mais perfeitas.
É o que aos Espíritos acontece,
entre si, conforme seus diferentes graus de purificação, e a nós mesmos em
relação a eles. Assim, porém, como se pode ampliar o campo da visão humana com
o auxílio dos instrumentos de óptica, também se pode aumentar ou reduzir a soma
das vibrações, de sorte que atinjam um estado intermédio em que os modos de
existência de dois planos distintos se combinem e entrem em correspondência.
Para comunicar conosco deverá o
Espírito amortecer a intensidade de suas vibrações, ao mesmo tempo em que
ativará as nossas. Nisso o pode o homem voluntariamente auxiliar; o ponto a
atingir constitui para ele o estado de mediunidade.
Sabemos que a mediunidade, no
maior número de suas aplicações, é a propriedade que têm alguns dentre nós de
se exteriorizar em graus diversos, de se desprender do envoltório carnal e
imprimir mais amplitude a suas vibrações psíquicas. Por seu lado, o Espírito
libertado pela morte se impregna de matéria sutil e atenua suas radiações
próprias, a fim de entrar em uníssono com o médium.
Aqui se fazem necessários uns
algarismos explicativos. Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de
1.000 por segundo as vibrações normais do cérebro humano. No estado de
“transe”, ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior
intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o
Espírito, livre no espaço, vibra à razão de 2.000 no mesmo lapso de tempo,
ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número a 1.500.
Os dois organismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer-se relações,
e o ditado do Espírito será percebido e transmitido pelo médium em transe
sonambúlico.
É essa harmonização das ondas
vibratórias que imprime às vezes ao fenômeno das incorporações tamanha precisão
e nitidez. Nos outros estados de mediunidade o pensamento do Espírito se poderá
igualmente comunicar por vibrações correspondentes, posto que menos intensas
que as vibrações iniciais, do mesmo modo que uma nota musical se repete, de
oitava em oitava, desde a clave mais alta a mais baixa da vibração harmônica.
*
No homem, a inteligência e o
desenvolvimento do cérebro se acham em íntima correlação; uma não se pode
manifestar sem o outro. À medida que o ser se eleva na escala humana, do mais
selvagem ao mais civilizado, a fronte avulta, o crânio se amplia, ao mesmo
tempo em que se expande a inteligência. Quando o desenvolvimento exterior
atinge o apogeu, o pensamento aumenta a energia interna do cérebro,
multiplicando as linhas, cavando sulcos; desenha estrias, inúmeras
circunvoluções; forma protuberâncias. Faz do cérebro um mundo maravilhoso e
complicado, a tal ponto que o exame desse órgão, ainda vibrante das impressões
da vida que acaba de escapar-se, é um dos mais atraentes espetáculos para o
fisiologista.
Temos nisso uma prova de que o
pensamento trabalha e afeiçoa o cérebro, e de que há íntima relação entre eles.
Um é o admirável instrumento, o teclado, que o outro dedilha, fazendo-o
desferir todas as harmonias da inteligência e do sentimento.
Como, porém, se exerce a ação do
pensamento sobre a matéria cerebral? Pelo movimento. O pensamento imprime às
moléculas do cérebro movimentos vibratórios de variada intensidade.
Vimos que tudo na Natureza se
resume em vibrações, perceptíveis para nós enquanto estão em harmonia com o
nosso próprio organismo, mas que nos escapam desde que são muito rápidas ou
demasiado lentas. Nossa capacidade de visão e de audição é limitadíssima; mas,
além do limite que nos traça, as forças da Natureza continuam a vibrar com
vertiginosa rapidez, sem que percebamos coisa alguma.
Pois bem: exatamente como os
sons e a luz, os sentimentos e os pensamentos se exprimem por vibrações, que se
propagam pelo espaço com intensidades diferentes.
Os pensamentos de cólera e de
ódio, as eternas súplicas de amor, o lamento do desgraçado, os gritos de paixão,
os impulsos de entusiasmo, vão, pela imensidade a fora, referindo a todos a
história de cada um e a história da Humanidade. As vibrações de cérebros
pensantes, de homens ou de Espíritos, se cruzam e entrecruzam ao infinito, sem
jamais se confundirem. Em torno de nós, por toda à parte, na atmosfera, rolam e
passam, como torrentes incessantes, fluxos de ideias, ondas de pensamentos, que
impressionam os sensitivos e são muitas vezes causa de perturbação e erro nas
manifestações.
Dizemos: homens ou Espíritos.
Com efeito, o que o cérebro humano emite sob forma de vibrações, o cérebro
fluídico do Espírito projeta sob forma de ondas mais extensas, de radiações que
vibram com mais largo e poderoso ritmo, por isso que as moléculas fluídicas,
mais flexíveis, mais maleáveis que os átomos do cérebro físico, obedecem melhor
à ação da vontade.
Entretanto esses cérebros,
humanos e espirituais, encerram as mesmas energias. Ao passo que, porém, em
nosso cérebro mortal essas energias dormitam ou vibram debilmente, nos Espíritos
atingem o máximo de intensidade. Uma comparação nos fará melhor apreender esse
fenômeno.
Encontra Ch. Drawbarn
essa comparação em um bloco de gelo, em que se acham contidas em estado latente
todas as potencialidades que mantêm unidos os cristais de que ele se compõe.
Submetido esse bloco à ação do calor, desprendem-se forças, que irão crescendo
até que, transformado o gelo para o estado de vapor, tenha ele readquirido e
manifestado todas as energias que encerra. Poder-se-ia comparar o nosso cérebro
a esse bloco de gelo, debilmente vibratório sob a ação restrita do calor, ao
passo que o do Espírito será o vapor tornado invisível, porque vibra e irradia
com demasiada rapidez para que possa ser percebido pelos nossos sentidos.
A diferença dos estados se complica
com a variedade das impressões. Sob a influência dos sentimentos que os animam,
desde a calma do estudo às tempestades da paixão, as almas e os cérebros vibram
em graus diversos, obedecendo a velocidades diferentes; a harmonia não se pode
estabelecer entre eles senão quando se igualam suas ondas vibratórias, como
acontece com os diapasões idênticos ou com as placas telefônicas. Um cérebro de
lentas e débeis excitações não se pode harmonizar com outros cujos átomos são
animados de um movimento vertiginoso.
Nas comunicações espíritas a
dificuldade, portanto, consiste em harmonizar vibrações e pensamentos
diferentes. É na combinação das forças psíquicas e dos pensamentos entre os
médiuns e os experimentadores, de um lado, e entre estes e os Espíritos, do
outro, que reside inteiramente à lei das manifestações.
São favoráveis as condições de
experimentação quando o médium e os assistentes constituem um grupo harmônico,
isto é, quando pensam e vibram em uníssono. No caso contrário, os pensamentos
emitidos e as forças exteriorizadas se embaraçam e anulam reciprocamente. O
médium, em meio dessas correntes contrárias, experimenta uma opressão, um
mal-estar indefinível; sente-se mesmo, às vezes, como que paralisado,
sucumbido. Será necessária uma poderosa intervenção oculta para produzir o
mínimo fenômeno.
Mesmo quando é completa a
harmonia entre as forças emanadas dos assistentes, e os pensamentos convergem
para um objetivo único, uma outra dificuldade se apresenta. Pode essa união de
forças e vontade ser suficiente para provocar efeitos físicos e mesmo fenômenos
intelectuais, que vão logo sendo atribuídos à intervenção de personalidades
invisíveis. É prudente e de bom aviso só admitir, por conseguinte, essa
intervenção, quando estabelecida por fatos rigorosos.
*
Muitas pessoas se admiram e
ficam hesitantes às primeiras dificuldades que encontram em suas tentativas de
comunicar com os Espíritos. E perguntam por que é tão rara, tão pouco
concludente a intervenção destes, e por que não está a Humanidade inteira familiarizada
com um fato de tal magnitude.
Outras, prosseguindo as
investigações, obtêm provas satisfatórias e tornam-se adeptas convictas.
Entretanto, objetam ainda que os seres amados que têm no Espaço, parentes e
amigos falecidos, apesar de seus veementes desejos e reiteradas solicitações,
nunca lhes deram o menor testemunho de sua presença, e esse insucesso lhes
deixa uns restos de dúvida, de desagradável incerteza. Era esse o sentimento
que o próprio Sr. Flammarion exprimia numa publicação recente.
Ora, todo experimentador
esclarecido facilmente a si mesmo explicará a razão de tais malogros. Vosso
desejo de comunicar com determinado Espírito e igual desejo da parte deste não
bastam só por si; é preciso que ainda outras condições se reúnam, determinadas pela
lei das vibrações.
Vosso amigo invisível escuta os
chamados que lhe dirigis e procura responder-vos.
Sabe que, para comunicar
convosco, é preciso que vosso cérebro físico e o cérebro fluídico dele vibrem
em uníssono. Aí surge uma primeira dificuldade. Seu pensamento irradia com
demasiada velocidade para que o possais perceber. Será, pois, o seu primeiro
cuidado imprimir às suas vibrações um movimento mais lento. Para isso um estudo
mais ou menos prolongado se tornará preciso, variando as probabilidades de
êxito conforme as aptidões e experiências do operador. Se falha a tentativa,
toda comunicação direta se torna impossível, e ele terá que confiar a um
Espírito mais poderoso ou mais hábil a transmissão de seus ditados. É o que frequentemente
acontece nas manifestações. Supondes receber o pensamento direto de vosso
amigo, e, entretanto, ele não vos chega senão graças ao auxílio de um
intermediário espiritual. Daí certas inexatidões ou obscuridades, atribuíveis
ao transmissor, que vos deixam perplexo, ao passo que a comunicação, em seu
conjunto, apresenta todos os caracteres de autenticidade.
Na hipótese de que vosso amigo
do outro mundo disponha dos poderes necessários, ser-lhe-á preciso procurar um
médium cujo cérebro, por seus movimentos vibratórios, seja suscetível de se
harmonizar com o seu. Há, porém, tão grande variedade entre os cérebros como
entre as vozes ou as fisionomias; identidade absoluta não existe. O Espírito
será forçado a contentar-se com o instrumento menos impróprio ao resultado que
se propõe. Achado esse instrumento, aplicar-se-á a lhe desenvolver as
qualidades receptivas. Poderá conseguir o desejado êxito em pouco tempo;
algumas vezes, porém, serão necessários meses, anos, para conduzir o médium ao
requerido grau de sensitividade.
Ou bem podeis ser vós mesmos
esse médium, esse sensitivo. Se tendes consciência de vossas faculdades, se vos
prestais à ação do Espírito, alcançareis decerto o fim que ele atingir. Para
isso se requerem, ao mesmo tempo, paciência, perseverança, continuidade, regularidade
de esforços. Possuireis acaso essas qualidades? Vossa força de vontade será
sempre igual e inquebrantável? Se procedeis de modo incoerente, hoje com ardor,
amanhã tíbio, de tal jeito que as vibrações do vosso cérebro variem em
consideráveis proporções, não tereis de vos admirar da diferença e mesmo da
nulidade dos resultados.
Pode acontecer que, sentindo-se impotente
para ativar em grau suficiente, no estado de vigília, as vibrações do vosso
cérebro, recorra o vosso amigo invisível ao “transe” e, pelo sono, vos procure
tornar inconsciente. Então vosso perispírito se exterioriza; suas irradiações
aumentam, se dilatam; a transmissão se faz possível; exprimis o pensamento do
Espírito. Ao despertardes, contudo, não conservareis lembrança alguma do ocorrido,
e pelos outros é que sabereis o que tiverem proferido vossos lábios.
Todos esses fenômenos são
regidos por leis rigorosas; quaisquer que sejam vossas faculdades, vossos
desejos, se não podeis satisfazer as suas exigências, vossos pais e amigos
falecidos, todas as legiões invisíveis, debalde agiriam sobre vós. Ocorre,
todavia, encontrardes desconhecidos, homens ou mulheres, que o acaso parece
colocar em vosso caminho. Nada sabem dessas coisas. A ciência do além-túmulo
pode ser para eles letra morta; entretanto, possuem um organismo que vibra harmonicamente
com o pensamento de vossos parentes, de vosso irmão ou mãe, e por seu
intermédio podem estes convosco entreter colóquios expansivos.
Poderei, a título de exemplo,
citar o seguinte fato: meu pai, falecido havia quinze anos, nunca se tinha
podido comunicar, no seio do grupo cujos trabalhos muito tempo dirigi, por
nenhum dos médiuns que aí se haviam sucedido. Apenas um deles o tinha podido
entrever como vaga e indistinta sombra. Perdera eu toda a esperança de
conversar com ele, quando uma noite, em Marselha, por ocasião de uma visita de
despedida feita a uma família amiga, chega uma senhora, que não aparecia há
mais de um ano, e, trocados os cumprimentos habituais, toma lugar ao nosso
lado. Em meio de nossa conversação ela cai num sono espontâneo, e, com grande
surpresa minha, o Espírito de meu pai, que ela jamais havia conhecido, se manifesta
por seu intermédio, dá-me as mais irrecusáveis provas de identidade e, numa
enternecida efusão, descreve as sensações, as emoções que experimentara desde o
momento da separação.
*
Do conjunto dos estudos sobre as
vibrações harmônicas dos cérebros uma comprovação resulta: é que, pela
orientação e persistência de nossos pensamentos, podemos modificar as
influências que nos rodeiam e entrar em relação com inteligências e forças
similares. Esse fato não é unicamente exato a respeito dos sensitivos e dos
médiuns; também se dá com todo ser pensante. As influencias do Além podem
irradiar sobre nós, sem que haja comunicação consciente com os seres que o
povoam. Não é necessário acreditar na existência do mundo dos Espíritos e querer
conhece-lo, para lhe experimentar os efeitos. A lei das atrações é inelutável; tudo
no homem lhe está submetido. Por isso a censura que dirigem aos espíritas, acusando-os
de atrair exclusivamente, em virtude de suas práticas, as forças maléficas do
Universo, é insubsistente diante dos fatos.
Depende do homem receber as mais
diversas inspirações, desde as sublimes às mais grosseiras. O nosso estado mental
é como uma brecha por onde amigos ou inimigos podem penetrar em nós. Os
sensuais atraem Espíritos sensuais que se associam a seus atos e desejos e lhes
aumentam a intensidade; os criminosos atraem violentos que os impelem cada vez
mais longe na prática do mal. O inventor é auxiliado por investigadores do
Além. O orador tem a percepção de imagens, que fixará em arroubos de eloquência
próprios a emocionar as multidões. O pensador, o músico, o poeta receberão as
vibrações das esferas em que o verdadeiro e o belo constituem um objeto de
culto; almas superiores e poderosas lhes transfundirão as opulências da
inspiração, o sopro divino que acaricia as frontes sonhadoras e produz as
maravilhas do gênio, do talento.
Assim, de um ao outro plano,
responde o Espírito às solicitações do Espírito. Todos os planos espirituais se
ligam entre si. Os instintos de ódio, de depravação e crueldade atraem os
Espíritos do abismo. A frivolidade atrai os Espíritos levianos; mas a prece do
homem de bem, a súplica por ele dirigida aos Espíritos celestes se eleva e
repercute nota a nota, na gama ascensional, até às mais elevadas esferas, ao
mesmo tempo em que das regiões profundas do Infinito descem sobre ele as ondas
vibratórias, os eflúvios do pensamento eterno, que o penetram de uma corrente
de vida e de energia. O Universo inteiro vibra sob o pensamento de Deus.