Orson Peter Carrara
Perguntamos: o que fazem os
espíritos?
A palavra erraticidade, na linguagem espírita, significa o estado de
espíritos ainda com necessidade de reencarnação ou retorno à Terra. O
Codificador abordou a questão com muita propriedade na Revista Espírita. Está
na edição de abril de 1859 (ano II, vol. 4, edição da Editora Edicel, tradução
de Júlio Abreu Filho) em Editorial com o título Quadro da Vida Espírita,
respondendo possíveis questionamentos sobre atividades no mundo espiritual, que
transcrevemos parcialmente: (...) São eles mesmos que no-lo respondem, como
foram os próprios a dar as explicações que acabamos de transmitir, de vez que
nada disto é fruto de nossa imaginação; não se trata de um sistema saído de
nosso cérebro: julgamos pelo que vimos e ouvimos. (...) Seria erro pensar que a
vida espírita seja uma vida ociosa. Ao contrário, ela é essencialmente ativa e
todos nos falam de suas ocupações. (...) Entre os que já atingiram certo grau
de desenvolvimento, uns velam pela realização dos desígnios de Deus nos grandes
destinos do Universo; dirigem a marcha dos acontecimentos e concorrem ao
progresso de cada mundo. Outros tomam os indivíduos sob sua proteção,
constituindo-se seus gênios tutelares e anjos de guarda (...).
Alguns encarnam-se em mundos inferiores, para neles realizarem missões
de progresso; (...). Se se considerar o número infinito de mundos que povoam o
universo e o número incalculável de seres que os habitam, compreender-se-á que
os Espíritos têm muito com que se ocupar. (...) ninguém pensa numa ociosidade
eterna, que seria um verdadeiro suplício. (...) Descendo na hierarquia,
encontramos Espíritos menos elevados, menos depurados e, conseguintemente,
menos esclarecidos; nem por isso são menos bons e, numa esfera de atividade
mais restrita, desempenham funções análogas. (...)
Vem a seguir a multidão de Espíritos vulgares, mais ou menos bons, mais
ou menos maus, que pululam em torno de nós. Estes se elevam pouco a pouco acima
da humanidade, cujas nuanças representam, e, como que refletem, pois que têm
todos os vícios e virtudes dessa humanidade. Em muitos deles encontramos os
gostos, ideias e inclinações que possuíam em vida. (...)
Pode, pois, dizer-se que todos aspiram o aperfeiçoamento, porque todos
compreendem que é este o único meio de sair da inferioridade. Instruir-se,
esclarecer-se – eis a sua grande preocupação e eles se sentem felizes quando
podem a isto acrescentar pequenas missões de confiança, que os elevam aos seus
próprios olhos. (...) Também eles têm as suas assembleias (...).
Falam-nos, veem e observam aquilo que se passa; participam de nossas
reuniões (...), escutam as nossas conversas (...). Vem a seguir a escória do
mundo espírita, constituída de todos os Espíritos impuros, cuja preocupação
única é o mal. Sofrem e desejariam que todos sofressem como eles. (...)
investem contra os homens, atacando aos que lhes parecem mais fracos. Excitar
as paixões ruins, insuflar a discórdia, separar os amigos, provocar rixas,
pavonear o orgulho dos ambiciosos (...), espalhar o erro e a mentira, numa
palavra, desviar do bem, tais são os seus pensamentos dominantes (...)”.
Tudo muito natural na sequência da vida humana. A morte apenas liberta
a alma do corpo. Cabe ao espírito promover o próprio progresso. Não há saltos.
O esforço deverá partir de si mesmo.
Sugerimos ao leitor
consultar as questões 149 a 165 e 223 a 329 de O Livro dos Espíritos para
conhecer mais sobre os espíritos e a vida espiritual. A verdade, porém, é que
nunca há interrupção na atividade dos espíritos. Estejam encarnados ou
desencarnados, sempre haverá o que fazer, o que aprender... Isto é da Lei
Divina, que estabeleceu o trabalho como ferramenta do aperfeiçoamento a que
estamos todos destinados.
[1]
Matéria originariamente publicada no jornal O Clarim,
edição de novembro de 2005 - http://gecasadocaminhosv.blogspot.com.br/2015/04/espiritos-na-erraticidade-orson-peter.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
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