José Passini[2]
- passinijose@yahoo.com.br
“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”
As palavras de Paulo –
inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos
– deveriam servir de alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de
obras de origem mediúnica.
A literatura mediúnica tem
aumentado de maneira assustadora. Diariamente, aparecem novos médiuns, novos
livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas
de conteúdo duvidoso se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos
novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame
criterioso daquilo que leem.
Muitos desses livros se originam
de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio espírita como
arautos de novas revelações capazes de encantarem leitores menos preparados,
aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame
lúcido, capaz de os levar a conclusões esclarecedoras.
Muitas pessoas que conheceram
recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne
e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de médiuns como
Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José Raul
Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem
vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados –
sejam novas revelações.
Bezerra de Menezes, Emmanuel,
André Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e tantos
outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo sério,
objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em linguagem
nobre. Esses Espíritos conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade
e a admiração do público espírita pelo conteúdo de seus escritos, na forma de
mensagens ou de livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um
estudo sereno e criterioso do seu conteúdo.
Nos dias que correm,
infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já
conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas,
não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis.
Sabendo-se que nomes pouco importam aos
Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os benfeitores que se
notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam de continuar usando
seus nomes em mensagens transmitidas através de outros médiuns? Se o importante
é servir à causa do Bem, por que essa continuidade na identificação, tão
pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a impessoalidade do
trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco da mensagem se
revele, sem estar escorado num nome conhecido? Por que não deixar que a
mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se em nomes
respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo
superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma?
Por que essa ânsia insofreável
de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido – dos
Espíritos? Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra de
Kardec? Será que o público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda a
produção mediúnica produzida até agora?
Ao dizer isso não se está
afirmando que a fase de produção mediúnica está encerrada. Sabe-se que a
Doutrina é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não
regressiva, pois há obras que estão muito abaixo daquilo que se publicou até
hoje, para não dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas.
Infelizmente, os periódicos
espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que estão sendo
comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina.
Impera, no meio espírita, um
sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se analise uma
obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns ávidos de
notoriedade à publicação dessa verdadeira avalancha de obras, que vão desde
aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis.
Nesse particular, é justo se
chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros, sejam
livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto ao que
é dado a público em nome do Espiritismo. O dirigente – ou o grupo responsável
pela direção de uma casa espírita – responderá perante o Alto, sem a menor
dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o que se divulga em
nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro ou simplesmente num
folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis pelas associações
intituladas “clube do livro”.
[2] José Passini é natural de Nova Itapirema,
interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de
Fora. Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por
Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o
Espiritismo pode ser comparado a um farol que ilumina seus caminhos. “Ele me
faz assumir, cada vez mais, a minha condição de espírito imortal,
temporariamente encarnado, isto é, conscientizando-me da minha cidadania
espiritual”. Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da
Universidade Federal de Juiz de Fora. Formação: Licenciatura em Letras,
Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Linguística
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