André Ariovaldo
São inúmeras as obras espíritas
que falam sobre a existência de animais no mundo espírita, revelando detalhes
da sua ação e interação com os Espíritos, assim como ocorre aqui na Terra. É
comum encontrarmos em livros espíritas informações sobre a presença de animais
como pássaros, cães, gatos e peixes habitando colônias espirituais como a
famosa Nosso Lar, por exemplo, ditado
pelo Espírito André Luiz. A finalidade deste artigo não é a de combater
sistemas ou pretender mudar pontos de vista. Leia nosso texto como uma simples
análise do assunto, tendo como base única os livros de Allan Kardec.
O que nos ensina Allan
Kardec acerca deste assunto?
Não há maior autoridade em
Espiritismo do que Allan Kardec, ao menos em nossa forma de entender. Para
muitos, Kardec é hoje apenas um nome bonito; um escorão no qual se apoiam
pessoas sistemáticas que procuram impor suas próprias ideias e formas pessoais
de ver e compreender as coisas; quando suas ideias não são fortes o bastante
para resistirem à lógica espírita apresentada pelo Codificador, estes mesmos
companheiros passam a afirmar que o Espiritismo é progressista e que Allan
Kardec não disse tudo. Sinceramente não acreditamos nisso e vemos Allan Kardec
mais que atual, estando à frente de nossa época. O estudo sério e aprofundado
do Espiritismo e livre de preconceitos pessoais ajuda-nos a identificar a
profundidade do ensinamento dos Espíritos e nos faz ver as coisas sob um ponto
de vista mais elevado.
O que ensina Allan
Kardec sobre os animais após a morte? Sabemos que os animais tem um princípio
espiritual que sobrevive à morte do corpo, mas esse princípio é igual ao nosso?
Assim como os Espíritos humanos, o espírito do animal mantém sua atividade após
a morte física?
Em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXV, Allan Kardec, conversando com
os Espíritos a respeito de evocações, pergunta-lhes se é possível evocar o
espírito de um animal, e a resposta dada pelo Espírito é surpreendente. Vejamos
abaixo:
O LIVRO DOS MÉDIUNS, Cap. XXV, item 283, Pergunta 36
36. Podemos evocar o
espírito de um animal?
R – Depois da morte do animal, o princípio inteligente que
havia nele, fica em estado latente; este princípio é imediatamente utilizado
por certos espíritos encarregados deste cuidado para animar de novo seres nos
quais continua a obra de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há
espíritos de animais errantes, mas somente Espíritos humanos. Isto responde à
sua pergunta.
Quando estudamos este assunto
com atenção, despertou-nos uma realidade nova acerca da presença ativa de
animais no mundo dos Espíritos. Se o princípio que o habitava fica em estado
latente, equivale a dizer que não há atividade animal no mundo espírita, pelo
menos não segundo Allan Kardec e São Luís que foi quem respondeu a esta
pergunta. Prosseguindo:
36ª. Como é então que
algumas pessoas, tendo evocado animais, obtiveram resposta?
R – Evoquem um rochedo e ele lhes responderá. Há sempre uma
multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra para tudo.
Como é possível observar, as
respostas de São Luís são muito claras e afirmativas quando diz não haver
espíritos de animais na erraticidade. Isso realmente muda tudo. Como já o
comentamos acima, lemos em muitos livros espíritas, mesmo de autores
consagrados, sobre a existência de animais no mundo espírita. André Luiz
comenta em suas obras sobre a presença de animais em colônias espirituais, como
pássaros, peixes, cães entre outros. Não dizemos com isso que André Luiz e
mesmo Chico Xavier estão errados, mas a intenção deste estudo é compreender
como devemos interpretar essa lição, seguindo a base do Espiritismo que é Allan
Kardec.
De nossa parte, perante esse
assunto, afirmamos que adotamos o ensino de Allan Kardec a respeito e pedimos
gentilmente aos companheiros que não concordam, admitindo que existam animais
em atividade no mundo espírita, que nos demonstrem, através de Allan Kardec (e
ninguém mais) que estamos equivocados; que nos apresentem uma informação que
seja tão clara quanto essa que São Luís ditou, provando, por A + B,
utilizando-se única e exclusivamente das obras da Codificação e da Revista Espírita, que existem animais no
mundo dos Espíritos. Teremos o prazer de adotar a informação, se ela nos for
trazida seguindo este critério. Aliás, deixamos isto aqui como um desafio a
você.
Animais tem alma?
Possuem um princípio inteligente?
Vamos recorrer ao O Livro
dos Espíritos, nas questões 597ª. a 600ª.:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS – OS ANIMAIS E O HOMEM
597ª. Pois se os
animais têm uma inteligência que lhes dá certa liberdade de ação, há neles um
princípio independente da matéria?
R – Sim, e que sobrevive ao corpo.
Aqui, como é claro notar, os
Espíritos afirmam a Kardec que o espírito do animal existe e que sobrevive ao
corpo. Prosseguindo:
597ª. Esse princípio é
uma alma semelhante ao homem?
R – É também uma alma, se o quiserdes; isto depende do
sentido que se toma essa palavra (ver em O
Livro dos Espíritos – Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita – Alma,
Princípio Vital e Fluido Vital); mas é inferior à do homem. Há, entre a alma
dos homens e dos animais, tanta distância, quanto entre a alma dos homens e
Deus.
598ª. A alma dos
animais conserva após a morte, sua individualidade e a consciência de si mesma?
R – Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si
mesma. A vida inteligente permanece em estado latente.
Novamente vemos os Espíritos
afirmando que a vida inteligente do animal, após a morte, fica em estado
latente. É o que vimos acima, na afirmação de O Livro dos Médiuns: “depois da morte do animal, o princípio
inteligente que havia nele, fica em estado latente”. Ora, se o estado de vida é
latente, não há atividade; se não há atividade, não há espíritos errantes de
animais no mundo espiritual.
599ª. A alma dos
Animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar?
R – Não; ela não tem o livre-arbítrio.
600ª. A alma do
animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante, como a do homem, após a
morte?
R – Fica numa espécie de erraticidade, pois não esta unida a
um corpo, mas não é um espírito errante. O espírito errante é um ser que pensa
e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a
consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do espírito. O
Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos espíritos incumbidos
disso, e utilizado quase imediatamente: não dispõe de tempo para se por em
relação com outras criaturas.
Nas respostas acima, observamos
algo importante a ser comentado: a consciência do eu. É esta consciência que dá
ao Espírito humano a superioridade sobre o espírito do animal. O animal não é
dotado desta consciência; com isso, seus atos não são nem bons nem maus e é por
esse motivo que não precisam de intervalos entre as encarnações, pois esse
intervalo ou erraticidade tem por finalidade ajudar o Espírito a medir a
consequência dos seus atos, para que ele possa projetar novas existências onde
dará continuidade em seu roteiro evolutivo, através de novas provas e
expiações. O animal não possui esta característica, ou seja, não tem o que
expiar nem o que provar. Desse modo, não tem necessidade de permanecer errante,
reencarnando logo em seguida à sua morte precedente.
É o que nos ensinam os Espíritos
na Revista Espírita, Agosto de 1861,
dizendo: “Os homens estão sempre dispostos a tudo exagerar; uns – e não falo
aqui dos materialistas – recusam uma alma aos animais, e outros querem lhes dar
uma, por assim dizer, semelhante à nossa”.
Animais e
erraticidade
Como observamos na questão 600ª.,
o Espírito diz para Allan Kardec que o animal fica numa espécie de
erraticidade. Com base nesta informação, muitos tentam encontrar argumentações
sobre a presença dos animais, afirmando que para eles não há o estado errante,
por serem animais, mas que nem por isso deixam de interagir com os Espíritos
humanos na vida espírita. Bem, independente do que possamos compreender por
erraticidade e embora possa, sob esse ponto, levantarem-se discussões, o mesmo
não se dá em relação às informações que os Espíritos trazem a Kardec, dizendo
que “o princípio que habita o animal fica em estado latente após a morte” ou
ainda “não dispõe de tempo para se por em relação com outras criaturas”. Aqui
há afirmação, de tal modo que não podemos alegar dupla interpretação.
Ficam em uma espécie de
erraticidade, pois que o princípio continua e é imortal, mas não é o mesmo que
dizer que esse princípio fica em atividade, que é o que lemos constantemente em
inúmeras obras espíritas. Além do que, o termo erraticidade utilizado pelos
Espíritos para responder a essa pergunta de Allan Kardec, foi utilizado por
comparação, pois que Kardec utiliza-se do termo para elaborar a pergunta. Vemos
aí uma questão acadêmica.
Para complementar ainda mais,
acrescentaremos abaixo alguns trechos da Revista
Espírita, o primeiro é de Junho de 1860, onde Allan Kardec obtém uma
dissertação sobre os animais, ditada pelo Espírito Charlet, que traz
importantes informações sobre o espírito dos animais e sobre sua relação com os
homens. Após a dissertação, Allan Kardec faz uma análise de cada tópico, e na
análise do tópico III, número 11, faz a seguinte pergunta ao espírito:
11ª. Falais de
recompensas para os animais que sofrem maus-tratos e dizeis que é de toda
justiça que haja compensação para eles. Parece, de acordo com isso, que admitis
no animal a consciência do eu após a morte, com a recordação do seu passado.
Isso é contrário ao que nos foi dito. Se as coisas se passassem como dizeis,
resultaria que no mundo espiritual haveria Espíritos de animais. Assim, não
haveria razão para não existirem o das ostras. Podeis dizer se vedes em torno
de vós Espíritos de cães, gatos, cavalos ou elefantes, como vedes espíritos
humanos?
R – A alma dos animais – tendes perfeitamente razão – não se
reconhece após a morte do corpo; é um conjunto confuso de germes que podem
passar para o corpo de tal ou qual animal, conforme o desenvolvimento
adquirido. Não é individualizada. Direi, todavia, que em certos animais, entre
muitos mesmo, há individualidade.
Mais uma vez, novas e claras afirmações de que não há
espíritos de animais na erraticidade. De que esses seres, não se relacionam
após a morte do corpo físico, por entrarem em estado latente. E mesmo que não
entrassem em estado latente, devemos levar em consideração que a constituição
fluídica dos animais é incompatível com a dos Espíritos humanos, como podemos
verificar nos estudos relacionados à mediunidade nos animais, contido em O Livro dos Médiuns e também na Revista Espírita de 1861, onde um
senhor, que era magnetizador, ao magnetizar o seu cão, o matou. Os Espíritos
dizem que isso ocorreu, pois “inundando-o de um fluido haurido numa essência
superior à essência especial de sua natureza, esmagou-o e agiu sobre ele”.
Notemos essas considerações de
Allan Kardec: “Se as coisas se passassem como dizeis, resultaria que no mundo
espiritual haveria espíritos de animais”.
O termo “se as coisas se
passassem”, prova uma afirmação contrária, ou seja, que não se passa dessa
forma, mas de outra. “Assim, não haveria razão para que não existirem o das
ostras”.
Notem a intensidade dessa frase!
Ela nos faz pensar da seguinte forma: Se existissem animais como cães, gatos,
pássaros ou cavalos no mundo espírita, também deveria haver pernilongos,
ostras, mariscos, moscas, pois todos são formas de vida do reino animal que
mantém seu principio após a morte. Falaremos um tanto mais disso logo a seguir,
mas antes vejamos ainda a resposta dada por Charlet à argumentação de Kardec: “A
alma dos animais – tendes perfeitamente razão – não se reconhece após a morte
do corpo”.
Ainda na Revista Espírita, Julho de 1861, quando Kardec trata sobre “As
visões do Sr. O.”, observamos a seguinte afirmação: “Sabe-se que não há
Espíritos de animais errantes no mundo invisível, e que, consequentemente, não
pode haver aparições de animais, salvo caso em que um Espírito fizesse nascer
uma aparência desse gênero com um objetivo determinado, o que não seria sempre
senão uma aparência, e não o Espírito real de tal ou tal animal”.
Poderíamos mesmo terminar aqui o
artigo, pois para os espíritas que estudam e compreendem o Espiritismo segundo
a Codificação, acreditamos que tais informações sejam suficientes para formar
uma opinião, entretanto existem ainda algumas questões que gostaríamos de
debater a respeito.
Como ficam as obras
que afirmam a existência de animais no mundo dos espíritos?
Sobre as obras que dizem haver
espíritos de animais, podemos dar duas opiniões que serão suficientes para
expressar o nosso pensamento.
A primeira é a da ilusão,
conforme já o citamos no comentário deixado por um Espírito a Allan Kardec que
diz “Os homens estão sempre dispostos a tudo exagerar; uns – e não falo aqui
dos materialistas – recusam uma alma aos animais, e outros querem lhes dar uma,
por assim dizer, semelhante à nossa”. Observe que só se falam de animais como
cães, gatos, passarinhos peixes, enfim, animais convenientes que mexem com as
emoções e o amor do ser-humano. Animais peçonhentos ou repugnantes, como
moscas, tarântulas, ratazanas, lesmas, jararacas entre outros, muito raramente
são citados (se o são) e quando são, citam que estão em regiões sombrias.
Naturalmente não veríamos uma ratazana, uma barata voadora ou uma jararaca em
Nosso Lar, mas é possível no Umbral, ou seja, como o bicho é repugnante para
nós, o colocamos em uma região infeliz; se for um bicho dócil, então ele merece
estar em um lugar de paz. Fantasias.
Nosso Lar então é uma
fantasia?
Não ousamos pensar assim.
Possivelmente exista e se existir e se houverem animais por lá, como é citado
na obra, a conclusão que podemos tirar a respeito é a da projeção, que forma
nossa segunda e última opinião.
Essas formas de animais que são
relatados nos livros podem ser uma projeção feita pelos Espíritos. Segundo os
Espíritos, na Gênese de Allan Kardec,
no capítulo XIV, dos Fluidos, “o pensamento é para os Espíritos o que a mão é
para o homem”. Assim, plasmariam formas animais para enriquecer a natureza ao
redor, assim como plasmam as flores e árvores – pois que também não existem
almas das árvores e flores na espiritualidade – o que explicaria o porquê de só
existirem animais convenientes.
Se há cães e gatos, onde estão
os rinocerontes ou os crustáceos?
Espírito de
Crustáceos
Um pensamento que sempre
utilizamos quando falamos deste assunto é relacionado à justiça de Deus. Se
houverem animais no mundo dos Espíritos, deverá haver todos e não somente
alguns, como diz Allan Kardec ao Espírito Charlet: “senão, não haverá razão
para não existirem o das ostras”. Ou tem, ou não tem. Se tiver, então haveremos
de concordar que, no mundo espírita, existem oceanos, pois para onde iriam as
baleias, os crustáceos e peixes que habitam as profundezas, os golfinhos, os
peixes em geral; precisaremos concordar também que devem existir pântanos para
acolher os crocodilos, aligátores e todos os animais que habitam estas regiões;
mangues, para os caranguejos e todos os outros habitats naturais dos animais que
vemos sobre a Terra. Perguntamos ainda porque não lemos a respeito de
hipopótamos, lontras, ornitorrincos, gambás, animais exóticos etc.? Fica aqui
nossa indagação.
Mais uma vez pedimos a gentileza
para aqueles que não concordam com esta teoria, que nos apresentem outra, mais
lógica, mais racional e que seja capaz de resolver todas as coisas,
utilizando-se das obras da Codificação. Se acreditar que outra obra é capaz de
responder com maior autoridade, sinta-se a vontade para expor a teoria, mas é
imprescindível que, qualquer que seja a teoria apresentada, seja ela capaz de
responder a todas as perguntas e de resolver todos os problemas acima
apresentados, assim como o fez com muita autoridade a teoria espírita exposta
por Allan Kardec e pelos Espíritos que o assistiram.
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