segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Animais na erraticidade: há espíritos de animais no mundo espiritual?[1]



André Ariovaldo

São inúmeras as obras espíritas que falam sobre a existência de animais no mundo espírita, revelando detalhes da sua ação e interação com os Espíritos, assim como ocorre aqui na Terra. É comum encontrarmos em livros espíritas informações sobre a presença de animais como pássaros, cães, gatos e peixes habitando colônias espirituais como a famosa Nosso Lar, por exemplo, ditado pelo Espírito André Luiz. A finalidade deste artigo não é a de combater sistemas ou pretender mudar pontos de vista. Leia nosso texto como uma simples análise do assunto, tendo como base única os livros de Allan Kardec.
O que nos ensina Allan Kardec acerca deste assunto?
Não há maior autoridade em Espiritismo do que Allan Kardec, ao menos em nossa forma de entender. Para muitos, Kardec é hoje apenas um nome bonito; um escorão no qual se apoiam pessoas sistemáticas que procuram impor suas próprias ideias e formas pessoais de ver e compreender as coisas; quando suas ideias não são fortes o bastante para resistirem à lógica espírita apresentada pelo Codificador, estes mesmos companheiros passam a afirmar que o Espiritismo é progressista e que Allan Kardec não disse tudo. Sinceramente não acreditamos nisso e vemos Allan Kardec mais que atual, estando à frente de nossa época. O estudo sério e aprofundado do Espiritismo e livre de preconceitos pessoais ajuda-nos a identificar a profundidade do ensinamento dos Espíritos e nos faz ver as coisas sob um ponto de vista mais elevado.
O que ensina Allan Kardec sobre os animais após a morte? Sabemos que os animais tem um princípio espiritual que sobrevive à morte do corpo, mas esse princípio é igual ao nosso? Assim como os Espíritos humanos, o espírito do animal mantém sua atividade após a morte física?
Em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXV, Allan Kardec, conversando com os Espíritos a respeito de evocações, pergunta-lhes se é possível evocar o espírito de um animal, e a resposta dada pelo Espírito é surpreendente. Vejamos abaixo:

O LIVRO DOS MÉDIUNS, Cap. XXV, item 283, Pergunta 36
36. Podemos evocar o espírito de um animal?
R – Depois da morte do animal, o princípio inteligente que havia nele, fica em estado latente; este princípio é imediatamente utilizado por certos espíritos encarregados deste cuidado para animar de novo seres nos quais continua a obra de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há espíritos de animais errantes, mas somente Espíritos humanos. Isto responde à sua pergunta.
Quando estudamos este assunto com atenção, despertou-nos uma realidade nova acerca da presença ativa de animais no mundo dos Espíritos. Se o princípio que o habitava fica em estado latente, equivale a dizer que não há atividade animal no mundo espírita, pelo menos não segundo Allan Kardec e São Luís que foi quem respondeu a esta pergunta. Prosseguindo:

36ª. Como é então que algumas pessoas, tendo evocado animais, obtiveram resposta?
R – Evoquem um rochedo e ele lhes responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra para tudo.
Como é possível observar, as respostas de São Luís são muito claras e afirmativas quando diz não haver espíritos de animais na erraticidade. Isso realmente muda tudo. Como já o comentamos acima, lemos em muitos livros espíritas, mesmo de autores consagrados, sobre a existência de animais no mundo espírita. André Luiz comenta em suas obras sobre a presença de animais em colônias espirituais, como pássaros, peixes, cães entre outros. Não dizemos com isso que André Luiz e mesmo Chico Xavier estão errados, mas a intenção deste estudo é compreender como devemos interpretar essa lição, seguindo a base do Espiritismo que é Allan Kardec.
De nossa parte, perante esse assunto, afirmamos que adotamos o ensino de Allan Kardec a respeito e pedimos gentilmente aos companheiros que não concordam, admitindo que existam animais em atividade no mundo espírita, que nos demonstrem, através de Allan Kardec (e ninguém mais) que estamos equivocados; que nos apresentem uma informação que seja tão clara quanto essa que São Luís ditou, provando, por A + B, utilizando-se única e exclusivamente das obras da Codificação e da Revista Espírita, que existem animais no mundo dos Espíritos. Teremos o prazer de adotar a informação, se ela nos for trazida seguindo este critério. Aliás, deixamos isto aqui como um desafio a você.
Animais tem alma? Possuem um princípio inteligente?
Vamos recorrer ao O Livro dos Espíritos, nas questões 597ª. a 600ª.:

O LIVRO DOS ESPÍRITOS – OS ANIMAIS E O HOMEM

597ª. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
R – Sim, e que sobrevive ao corpo.
Aqui, como é claro notar, os Espíritos afirmam a Kardec que o espírito do animal existe e que sobrevive ao corpo. Prosseguindo:
597ª. Esse princípio é uma alma semelhante ao homem?
R – É também uma alma, se o quiserdes; isto depende do sentido que se toma essa palavra (ver em O Livro dos Espíritos – Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita – Alma, Princípio Vital e Fluido Vital); mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos homens e dos animais, tanta distância, quanto entre a alma dos homens e Deus.
598ª. A alma dos animais conserva após a morte, sua individualidade e a consciência de si mesma?
R – Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente.
Novamente vemos os Espíritos afirmando que a vida inteligente do animal, após a morte, fica em estado latente. É o que vimos acima, na afirmação de O Livro dos Médiuns: “depois da morte do animal, o princípio inteligente que havia nele, fica em estado latente”. Ora, se o estado de vida é latente, não há atividade; se não há atividade, não há espíritos errantes de animais no mundo espiritual.
599ª. A alma dos Animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar?
R – Não; ela não tem o livre-arbítrio.

600ª. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante, como a do homem, após a morte?
R – Fica numa espécie de erraticidade, pois não esta unida a um corpo, mas não é um espírito errante. O espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos espíritos incumbidos disso, e utilizado quase imediatamente: não dispõe de tempo para se por em relação com outras criaturas.
Nas respostas acima, observamos algo importante a ser comentado: a consciência do eu. É esta consciência que dá ao Espírito humano a superioridade sobre o espírito do animal. O animal não é dotado desta consciência; com isso, seus atos não são nem bons nem maus e é por esse motivo que não precisam de intervalos entre as encarnações, pois esse intervalo ou erraticidade tem por finalidade ajudar o Espírito a medir a consequência dos seus atos, para que ele possa projetar novas existências onde dará continuidade em seu roteiro evolutivo, através de novas provas e expiações. O animal não possui esta característica, ou seja, não tem o que expiar nem o que provar. Desse modo, não tem necessidade de permanecer errante, reencarnando logo em seguida à sua morte precedente.
É o que nos ensinam os Espíritos na Revista Espírita, Agosto de 1861, dizendo: “Os homens estão sempre dispostos a tudo exagerar; uns – e não falo aqui dos materialistas – recusam uma alma aos animais, e outros querem lhes dar uma, por assim dizer, semelhante à nossa”.

Animais e erraticidade
Como observamos na questão 600ª., o Espírito diz para Allan Kardec que o animal fica numa espécie de erraticidade. Com base nesta informação, muitos tentam encontrar argumentações sobre a presença dos animais, afirmando que para eles não há o estado errante, por serem animais, mas que nem por isso deixam de interagir com os Espíritos humanos na vida espírita. Bem, independente do que possamos compreender por erraticidade e embora possa, sob esse ponto, levantarem-se discussões, o mesmo não se dá em relação às informações que os Espíritos trazem a Kardec, dizendo que “o princípio que habita o animal fica em estado latente após a morte” ou ainda “não dispõe de tempo para se por em relação com outras criaturas”. Aqui há afirmação, de tal modo que não podemos alegar dupla interpretação.
Ficam em uma espécie de erraticidade, pois que o princípio continua e é imortal, mas não é o mesmo que dizer que esse princípio fica em atividade, que é o que lemos constantemente em inúmeras obras espíritas. Além do que, o termo erraticidade utilizado pelos Espíritos para responder a essa pergunta de Allan Kardec, foi utilizado por comparação, pois que Kardec utiliza-se do termo para elaborar a pergunta. Vemos aí uma questão acadêmica.
Para complementar ainda mais, acrescentaremos abaixo alguns trechos da Revista Espírita, o primeiro é de Junho de 1860, onde Allan Kardec obtém uma dissertação sobre os animais, ditada pelo Espírito Charlet, que traz importantes informações sobre o espírito dos animais e sobre sua relação com os homens. Após a dissertação, Allan Kardec faz uma análise de cada tópico, e na análise do tópico III, número 11, faz a seguinte pergunta ao espírito:
11ª. Falais de recompensas para os animais que sofrem maus-tratos e dizeis que é de toda justiça que haja compensação para eles. Parece, de acordo com isso, que admitis no animal a consciência do eu após a morte, com a recordação do seu passado. Isso é contrário ao que nos foi dito. Se as coisas se passassem como dizeis, resultaria que no mundo espiritual haveria Espíritos de animais. Assim, não haveria razão para não existirem o das ostras. Podeis dizer se vedes em torno de vós Espíritos de cães, gatos, cavalos ou elefantes, como vedes espíritos humanos?
R – A alma dos animais – tendes perfeitamente razão – não se reconhece após a morte do corpo; é um conjunto confuso de germes que podem passar para o corpo de tal ou qual animal, conforme o desenvolvimento adquirido. Não é individualizada. Direi, todavia, que em certos animais, entre muitos mesmo, há individualidade.
Mais uma vez, novas e claras afirmações de que não há espíritos de animais na erraticidade. De que esses seres, não se relacionam após a morte do corpo físico, por entrarem em estado latente. E mesmo que não entrassem em estado latente, devemos levar em consideração que a constituição fluídica dos animais é incompatível com a dos Espíritos humanos, como podemos verificar nos estudos relacionados à mediunidade nos animais, contido em O Livro dos Médiuns e também na Revista Espírita de 1861, onde um senhor, que era magnetizador, ao magnetizar o seu cão, o matou. Os Espíritos dizem que isso ocorreu, pois “inundando-o de um fluido haurido numa essência superior à essência especial de sua natureza, esmagou-o e agiu sobre ele”.
Notemos essas considerações de Allan Kardec: “Se as coisas se passassem como dizeis, resultaria que no mundo espiritual haveria espíritos de animais”.
O termo “se as coisas se passassem”, prova uma afirmação contrária, ou seja, que não se passa dessa forma, mas de outra. “Assim, não haveria razão para que não existirem o das ostras”.
Notem a intensidade dessa frase! Ela nos faz pensar da seguinte forma: Se existissem animais como cães, gatos, pássaros ou cavalos no mundo espírita, também deveria haver pernilongos, ostras, mariscos, moscas, pois todos são formas de vida do reino animal que mantém seu principio após a morte. Falaremos um tanto mais disso logo a seguir, mas antes vejamos ainda a resposta dada por Charlet à argumentação de Kardec: “A alma dos animais – tendes perfeitamente razão – não se reconhece após a morte do corpo”.
Ainda na Revista Espírita, Julho de 1861, quando Kardec trata sobre “As visões do Sr. O.”, observamos a seguinte afirmação: “Sabe-se que não há Espíritos de animais errantes no mundo invisível, e que, consequentemente, não pode haver aparições de animais, salvo caso em que um Espírito fizesse nascer uma aparência desse gênero com um objetivo determinado, o que não seria sempre senão uma aparência, e não o Espírito real de tal ou tal animal”.
Poderíamos mesmo terminar aqui o artigo, pois para os espíritas que estudam e compreendem o Espiritismo segundo a Codificação, acreditamos que tais informações sejam suficientes para formar uma opinião, entretanto existem ainda algumas questões que gostaríamos de debater a respeito.
Como ficam as obras que afirmam a existência de animais no mundo dos espíritos?
Sobre as obras que dizem haver espíritos de animais, podemos dar duas opiniões que serão suficientes para expressar o nosso pensamento.
A primeira é a da ilusão, conforme já o citamos no comentário deixado por um Espírito a Allan Kardec que diz “Os homens estão sempre dispostos a tudo exagerar; uns – e não falo aqui dos materialistas – recusam uma alma aos animais, e outros querem lhes dar uma, por assim dizer, semelhante à nossa”. Observe que só se falam de animais como cães, gatos, passarinhos peixes, enfim, animais convenientes que mexem com as emoções e o amor do ser-humano. Animais peçonhentos ou repugnantes, como moscas, tarântulas, ratazanas, lesmas, jararacas entre outros, muito raramente são citados (se o são) e quando são, citam que estão em regiões sombrias. Naturalmente não veríamos uma ratazana, uma barata voadora ou uma jararaca em Nosso Lar, mas é possível no Umbral, ou seja, como o bicho é repugnante para nós, o colocamos em uma região infeliz; se for um bicho dócil, então ele merece estar em um lugar de paz. Fantasias.
Nosso Lar então é uma fantasia?
Não ousamos pensar assim. Possivelmente exista e se existir e se houverem animais por lá, como é citado na obra, a conclusão que podemos tirar a respeito é a da projeção, que forma nossa segunda e última opinião.
Essas formas de animais que são relatados nos livros podem ser uma projeção feita pelos Espíritos. Segundo os Espíritos, na Gênese de Allan Kardec, no capítulo XIV, dos Fluidos, “o pensamento é para os Espíritos o que a mão é para o homem”. Assim, plasmariam formas animais para enriquecer a natureza ao redor, assim como plasmam as flores e árvores – pois que também não existem almas das árvores e flores na espiritualidade – o que explicaria o porquê de só existirem animais convenientes.
Se há cães e gatos, onde estão os rinocerontes ou os crustáceos?

Espírito de Crustáceos
Um pensamento que sempre utilizamos quando falamos deste assunto é relacionado à justiça de Deus. Se houverem animais no mundo dos Espíritos, deverá haver todos e não somente alguns, como diz Allan Kardec ao Espírito Charlet: “senão, não haverá razão para não existirem o das ostras”. Ou tem, ou não tem. Se tiver, então haveremos de concordar que, no mundo espírita, existem oceanos, pois para onde iriam as baleias, os crustáceos e peixes que habitam as profundezas, os golfinhos, os peixes em geral; precisaremos concordar também que devem existir pântanos para acolher os crocodilos, aligátores e todos os animais que habitam estas regiões; mangues, para os caranguejos e todos os outros habitats naturais dos animais que vemos sobre a Terra. Perguntamos ainda porque não lemos a respeito de hipopótamos, lontras, ornitorrincos, gambás, animais exóticos etc.? Fica aqui nossa indagação.
Mais uma vez pedimos a gentileza para aqueles que não concordam com esta teoria, que nos apresentem outra, mais lógica, mais racional e que seja capaz de resolver todas as coisas, utilizando-se das obras da Codificação. Se acreditar que outra obra é capaz de responder com maior autoridade, sinta-se a vontade para expor a teoria, mas é imprescindível que, qualquer que seja a teoria apresentada, seja ela capaz de responder a todas as perguntas e de resolver todos os problemas acima apresentados, assim como o fez com muita autoridade a teoria espírita exposta por Allan Kardec e pelos Espíritos que o assistiram.

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