segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O conselho de Emmanuel para Chico Xavier: disciplina, disciplina e disciplina[1]




No início da atividade mediúnica de Chico Xavier, Emmanuel lhe perguntou se ele estava realmente disposto a dedicar-se à tarefa que lhe era atribuída. Emmanuel falava em trinta livros, só pra começar – no total, foram mais de quatrocentos…
 Chico temia não estar à altura do compromisso. Também receava ser abandonado pelos bons espíritos. Emmanuel lhe garantiu que isso não aconteceria, desde que ele se dedicasse ao trabalho, ao estudo e ao esforço no Bem. Emmanuel propôs a Chico três pontos cruciais para o bom desempenho da tarefa. O primeiro, disciplina; o segundo, disciplina; e o terceiro, disciplina.
 Acredito que o principal motivo de reencarnarmos, em nosso estágio evolutivo, é para adquirir disciplina. Poderíamos dizer, como muitos gostam, que estamos aqui para aprender a amar, e é verdade. Mas o amor que normalmente dizemos sentir está ainda muito longe do amor verdadeiro, incondicional. E para que saibamos, um dia, como é esse amor, precisamos disciplinar os nossos sentimentos, até isso a que hoje chamamos de amor, e que é, realmente, um esboço do amor verdadeiro.
 Antes que alguém pense em citar o amor de mãe como exemplo de amor incondicional, é bom lembrar que fazer vontades, atender a todos os caprichos e passar a mão na cabeça dos erros dos filhos não tem nada a ver com amor incondicional. Amor requer disciplina de sentimentos, e para isso é preciso dizer não muitas vezes.

 Aprenda a dizer não
 Algumas pessoas conseguem se sobressair mesmo sem disciplina. São exceções, que chamam a atenção por algum talento extraordinário, quase sempre com prazo de validade. Vencer sem disciplina é antinatural, é contra as regras do jogo da Vida. No Universo tudo é disciplina, na Natureza tudo é disciplina. Como seres dotados de livre-arbítrio, podemos viver muito tempo driblando as regras. Se a estrada da disciplina é uma reta, podemos fazer curvas e desvios, podemos inventar atalhos e estacionar indefinidamente. Mas andar fora da estrada reta tem um preço. Esse preço é a dor. Sempre que desviamos do caminho reto das Leis de Deus, que disciplinam a nossa vida, somos surpreendidos pela dor.

 Espiritismo e a dor
 A única alternativa viável é o caminho reto, que é a disciplina.
 Recebo queixas de todos os tipos. Desde coisas banais até os casos mais complexos. De todos os que se queixam e pedem orientação percebo como característica básica a falta de disciplina. A começar pelo pensamento.

 Espiritismo e a importância do pensamento
 O começo de tudo é o pensamento. O que determina o modo como vivemos é o nosso padrão de pensamentos. Há pessoas que vivem com medo de tudo, mas não deixam de assistir  aos noticiários sangrentos da televisão e de procurar tragédias e notícias macabras na internet. Alimentam a sua mente com banhos de sangue, estupros, assassinatos, desgraças de todo tipo, e não entendem por que têm pesadelos e vivem amedrontadas. Ou, então, consomem quilos de pornografia na internet e não entendem por que são infelizes no casamento ou porque os seus relacionamentos não dão certo, ou porque sua vida sexual não é satisfatória.

 Espiritismo e os relacionamentos amorosos
 Há os que percebem que precisam mudar, notam que alguma coisa está errada, mas não se dão conta de que a única maneira de abandonar os maus hábitos é adquirindo bons hábitos. O velhos hábitos devem ser substituídos! E para isso é preciso disciplina. É preciso agir!

 Somos escravos dos nossos hábitos
 Não sou médico, e sempre que escrevo sobre algo que requereria algum conhecimento específico, cinco ou seis criticozinhos me atacam. Mas não precisa ser médico pra saber que grande parte, ou a quase totalidade dos casos de depressão derivam da falta de ação. E muitos deles seriam facilmente superados com ação. Ação, atividade, produtividade, utilidade, vida!
 É impressionante o número de pessoas querendo esclarecimento acerca de determinados assuntos que, no entanto, não se animam a ler, a estudar. Inúmeras pessoas sentem os reflexos da mediunidade que não foi estudada e desenvolvida, sabem disso, sofrem com isso, mas não de dão ao trabalho de ler meia dúzia de livros, de participar de um grupo de estudos no centro espírita, de adquirir novos costumes. Tem gente que tem preguiça até de orar!

 Reforma íntima e a preguiça
 É preciso ação, e ação disciplinada. É só uma questão de hábito. É só acreditar que depois de algum esforço inicial, mesmo que sem muita vontade, tudo começa a fluir naturalmente, tudo começa a ficar mais fácil, e os novos hábitos vão se tornando prazerosos. Os que se decidem a seguir a disciplina não se arrependem. De vez em quando algum deles me comunica os seus sucessos, os seus progressos, e é muito reconfortante ver que nem tudo está perdido…

domingo, 30 de agosto de 2015

Vampirismo Espiritual[1]





Leandro Martins - Revista Espiritismo

1 - Cansaço, baixa imunidade às doenças, falta de equilíbrio e concentração, bem como excesso de irritabilidade podem ser indícios de uma perda energética provocada pelo vampirismo.
Quando a Doutrina Espírita se refere aos vampiros, não fala de seres mitológicos com dentes agudos, adaptados para sugar o sangue das pessoas saudáveis, mas sim, de encarnados e desencarnados, que, desrespeitando as leis de Deus, se munem de sentimentos de vingança contra desafetos do passado, ou mesmo de sentimento oportunista e passam a viver à custa de energia vital de outrem.
Há também aqueles seres que embora tenham deixado o corpo físico, continuam ainda vivendo os prazeres obscuros da carne e dos vícios como o fumo e as drogas, bem como os desregramentos da bebida e do sexo, entre outros e que por se encontrarem impossibilitados de satisfazerem seus prazeres, induzem outras pessoas encarnadas a fazê-lo, e delas captam os fluidos, sentindo-se assim os mesmos prazeres produzidos pelo ato.

2 - Espíritos vampirizadores
O termo vampiro é usado analogamente para definir o ato do espírito que suga intencionalmente as energias do outro, em alusão à figura mítica de Drácula que hipnotizava suas vítimas e lhes sugava o sangue até a morte. No mundo espiritual encontram-se figuras distintas deste ser, mas que atuam de forma muito parecida com as artimanhas do conhecido ser das trevas do folclore.
Há espíritos que sugam as energias sutis de seus hospedeiros a ponto de lhes causar sérios danos à saúde física e psicológica, uma vez que, além de lhes enfraquecer as forças, lhes envolvem em formas mentais grosseiras, que os martirizam mentalmente levando-os, às vezes, a casos de loucura. André Luiz chamou este processo de infecção fluídica, tão grave é o dano causado à vítima.

3 - Seres alienados
Ao desencarnar, o homem leva consigo todos os seus vícios e necessidades. Dependendo de sua nova situação no mundo dos espíritos e, principalmente da região onde habita, é muito comum que sinta as mesmas necessidades que tinha quando encarnado. Como não tem meios para desfrutar dos prazeres da vida corpórea, e sem condições de suprimir esta necessidade em sua nova condição na erraticidade, ele busca apoio naqueles encarnados que podem lhe oferecer formas para a satisfação destas vontades.
Temos aí o sugador de forças vitais, que se aproxima de um encarnado que detém as mesmas necessidades que as suas, induzindo-o a prática em excesso dos vícios em comum. Podemos citar os viciados no campo sexual, das drogas, do jogo, e até nas práticas mais comuns do dia a dia, mas que em excesso, oferecem sérios prejuízos, como o caso da alimentação, como mostram os ensinamentos do espírito André Luiz nos livros da Coleção Mundo Espiritual (FEB).
Encarnados se alimentam e bebem em excesso, o fazem por si e por outros espíritos, e quando em comportamento sexual vicioso, expõem sua vida íntima e privada a uma série de experiências no campo sexual.

4 - Os monstros
Narra a literatura espírita que, no plano espiritual, há entidades que pela ignorância e atraso moral, além de subjugar suas vítimas encarnadas e até mesmo desencarnadas, mantêm pela chamada ideoplastia seu perispírito em formas monstruosas. Sentem-se bem sendo temidos e reconhecidos pela forma que se apresentam e, normalmente agem em bandos visando intimidar os outros espíritos que encontram pela frente.
Ambientes terrenos onde impera o vício e a imoralidade são roteiros preferidos destes espíritos, uma vez que lá encontram por afinidade suas presas com maior facilidade. Segundo o Espírito Miramez pela psicografia de João Nunes Maia, na série de livros que trata da Vida Espiritual (Editora Fonte Viva), bem como pelos livros de André Luiz, os matadouros de animais estão repletos destas criaturas que sugam a energia do animal abatido, saciando dos seus instintos ferozes com os fluidos da presa.
Velórios e cemitérios cujos enterros não contam com a proteção fluídica da prece e a presença de espíritos nobres, podem também ficar vulneráveis à presença destas criaturas, que aproveitam para colher os resquícios de fluidos vitais dos recém-desencarnados.

5 - Vítimas do ódio
Espíritos que mantém desavenças enquanto encarnados, também no plano espiritual, continuam nutrindo o mesmo ódio por seus inimigos. Sentindo-se em vantagem, travam forte perseguição a seus desafetos, aproximando-se deles e, muitas vezes, induzindo-os a tomar atitudes que os prejudiquem como a prática de vícios, o excesso físico, além da escravidão psíquica. Os Centros Espíritas tem por função serem abrigos ao viajor que bate à porta em busca do auxílio para os males do corpo físico ou da alma.
Entre os males da alma, é na Casa Espírita que aquele que, sentindo a pressão da cobrança de uma entidade espiritual vingativa, encontra a proteção e o entendimento necessários ao resgate dessa dívida cármica. Em reunião mediúnica privativa, este espírito será lembrado das palavras do Nazareno que ensinou a perdoar o mal que nos fazem, e que esta dívida cármica será sim quitada com a moeda da ação caridosa em favor de alguém e sem espera de recompensas que não seja outra senão a da alegria na prática do bem.
Envolvido em uma psicosfera de amor e oração, este cobrador do além sentirá o envolvimento de sentimentos de paz e bondade que o estimulará a desistir do intento de vingança e a compreender que o perdão liberta quem perdoa e não quem é perdoado.

6 - Vampiros encarnados
Não podemos deixar de falar da obsessão dos encarnados aos desencarnados. É o que acontece devido ao apego aos entes queridos. Ao desencarnar o homem passa a habitar um mundo desconhecido do plano físico, porém, há laços afetivos que não se rompem. O pensamento daquele que fica aqui atravessa as barreiras físicas chegando à alma daquele que está do outro lado da existência.
Se o pensamento do encarnado for de inconformismo e desespero, isto poderá causar desequilíbrios ao desencarnado que poderá sentir a necessidade de voltar a viver junto a seus entes queridos; e infelizmente é esta atitude que muitos tomam ao ouvir os chamados incessantes de seus entes queridos encarnados.
Mas a presença do espírito normalmente se torna um problema, pois ele passa a dividir o espaço com os encarnados e a tirar deles, mesmo involuntariamente, seus fluidos vitais e, pela ligação psíquica, podem passar sua insegurança emocional. Assim ambos, encarnados e desencarnados, são prejudicados.
Há também o exercício irresponsável da mediunidade, quando espíritos são praticamente escravizados por médiuns que os usam para a satisfação de prazeres pessoais e a manutenção de sua vaidade medianímica, como ensina André Luiz no livro “Nos Domínios da Mediunidade”.
“Desencarnados são mais vampirizados que vampirizadores. Fascinados pelas requisições dos médiuns que lhe prestigiam a obra infeliz, seguem-lhes os passos, como aprendizes no encalço dos mentores aos quais se devotam”.
Fala também do futuro destes irmãos envolvidos no processo de simbiose mental: “Na hipótese de não se reajustarem no bem, tão logo desencarnem o dirigente deste grupo e os instrumentos medianímicos que lhe copiam as atitudes, serão eles surpreendidos pelas entidades que escravizaram, a lhes reclamarem orientação e socorro”.

7 - Proteção
A forma de fugir desta influência é seguir as orientações da Espiritualidade que recomenda a vigilância e a mudança de hábitos. Ninguém pode nos forçar a fazer aquilo que não desejamos desde que tenhamos forças para resistir, conforme ensina o saudoso escritor Herculano Pires:
”Vivendo no plano extrafísico, os vampiros agem sobre nós por indução mental e afetiva. Induzem-nos a fazer o que desejam e que não podem fazer por si mesmos. Quanto mais os obedecemos, mais submissos nos tornamos”.
É preciso ter força para ignorar e resistir às más orientações, perdoar seus inimigos. Além de melhorar sua condição espiritual, você ainda convida os seus obsessores a seguirem seus passos em direção ao bem.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O que o suor revela sobre nossas emoções[1]




Em 1934, um médico britânico chamado B. A. McSwiney lamentou a colegas o fato de poucos profissionais da área se interessarem em pesquisar a composição química da transpiração humana. Em vez disso, se concentravam apenas nos mecanismos de resfriamento do corpo por meio da evaporação do suor pela pele.
Mas McSwiney sabia que o fenômeno tinha mais do que essa finalidade e que substâncias presentes no organismo também eram perdidas no processo.
Algumas delas nós não gostaríamos de perder, como os cloretos. Essas moléculas, formadas por átomos de cloro ligados aos de sódio para formar sais, são fundamentais para manter o equilíbrio do pH interno do corpo, regulando o movimento dos fluidos para dentro e fora das células e transmitindo impulsos através dos tecidos nervosos.
É normal que alguns cloretos sejam eliminados na transpiração, mas há casos em que uma pessoa pode perdê-los em excesso.
Quando somos submetidos a situações prolongadas de calor, sabemos que é preciso tomar bastante água para se manter hidratado. Mas o excesso de líquidos, aliado à sudorese, pode levar a sintomas de intoxicação por água – isso significa que o corpo não consegue repor os cloretos perdidos no suor com a mesma velocidade.
Na transpiração ainda está presente a ureia, um subproduto do organismo que também é eliminado na urina. Cientistas estimam que um adulto perca entre 600 e 700 mililitros de líquidos diariamente através do suor – 7% da eliminação diária de ureia.
Mas o suor ainda contém amônia, proteínas, açúcares, potássio e bicarbonato. Isso sem falar em vestígios de metais, como zinco, cobre, ferro, níquel, cádmio, chumbo e manganês. A transpiração é um importante mecanismo de excreção desses metais.
O suor deixa o corpo através de dois tipos de glândulas. As glândulas sudoríparas apócrinas são encontradas nas axilas, narinas, mamilos, orelhas e partes dos genitais. Já as glândulas sudoríparas écrinas são muito mais comuns – milhões delas estão distribuídas pelo corpo humano, exceto nos lábios e nos genitais.
Quando o organismo e a pele se aquecem demais, os termoreceptores enviam uma mensagem ao cérebro. Ali, o hipotálamo – um pequeno amontoado de células que controla a fome, a sede, o sono e a temperatura corporal – manda uma mensagem para as glândulas sudoríparas, que começam a produzir o suor.
Também existe um terceiro tipo de glândula sudorípara, descoberto apenas em 1987, as chamadas glândulas apoécrinas. Para os cientistas, elas são écrinas que de alguma maneira se modificaram na puberdade.

Ferramenta de comunicação
Mas nem tudo o que transborda em nosso suor é químico em sua natureza. Muita gente já experimentou a sensação de transpirar ao comer algo picante. Outras pessoas conhecem o que é suar por medo, vergonha, ansiedade ou dor.
Não é à toa que as palmas das mãos, a testa e as solas dos pés são normalmente associados à transpiração emocional: é nessas regiões que as glândulas écrinas estão mais concentradas – até 700 delas por centímetro quadrado de pele (as costas, em comparação, têm 64 glândulas por centímetro quadrado).
Cientistas descobriram que o suor induzido por emoções é uma importante ferramenta de comunicação. Na realidade, os odores que detectamos na transpiração podem nos dizer muito sobre o que outros estão sentindo.
Em uma experiência, um grupo de psicólogos da Universidade de Utrecht, na Holanda, coletou amostras de suor de dez homens enquanto eles assistiam a vídeos que evocavam sensações de medo (trechos do filme O Iluminado, de Stanley Kubrick) ou nojo (trechos da série Jackass, da MTV).
Em seguida, os pesquisadores pediram para 36 mulheres dizerem se podiam detectar alguma "pista" emocional nas amostras de suor.
Resultado: quando expostas às amostras de "suor de medo", as mulheres também demonstraram medo em seus rostos, enquanto fizeram expressão de nojo quando expostas ao suor oriundo daquela sensação.
Para os cientistas, isso sugere que o suor pode ser um meio eficiente de transmitir um estado emocional de uma pessoa para outra.

Anterior à linguagem
Padrões semelhantes foram observados em outros experimentos. Em 2006, psicólogos da Universidade Rice, nos Estados Unidos, descobriram que as pessoas expostas a amostras de suor de doadores que sentiam medo se saíam melhor em alguns testes de inteligência do que quando as amostras não continham suor.
O sinal de medo provavelmente as tornou mais alertas em relação a seu entorno.
Em 2012, psicólogos e psiquiatras da State University de Nova York extraíram o suor das camisetas de 64 doadores. Metade deles tinha acabado de saltar de paraquedas pela primeira vez, enquanto a outra metade fez exercícios extenuantes.
Quem cheirou o suor dos paraquedistas ficou alerta diante de rostos com expressão irritada, mas também diante de rostos com expressões neutras e ambíguas. O grupo que sentiu o odor da outra metade de voluntários ficou mais alerta apenas ao ver rostos irritados, o que é esperado em qualquer circunstância.
Para os cientistas, foi uma demonstração do que chamaram de vigilância: o suor induzido pela queda livre induziu os participantes a ficarem atentos a qualquer possível "pista social", o que talvez não ocorreria em outra situação.
Outro experimento realizado por psicólogos e neurocientistas alemães com homens ansiosos fez mulheres que sentiram o suor deles tomarem decisões mais arriscadas em um jogo de computador formulado para avaliar esse comportamento.
Nenhum desses estudos indica se as pessoas perceberam que o suor de outras alterou seu próprio comportamento, mas eles sugerem que, ao menos em alguns casos, a transpiração pode comunicar informações importantes sobre nosso estado mental. As pesquisas também indicam que usamos essas informações para entender melhor nosso entorno.
Talvez isso não seja uma surpresa. Nossa espécie pode ser adaptada para a comunicação verbal e linguística, mas a linguagem verbal é uma ferramenta relativamente nova para nós.
Parece razoável imaginar que nossos ancestrais tiravam partido dessas informações olfativas e nos transmitiram essa habilidade.
De fato, somos melhores em identificar emoções em humanos virtuais em uma tela de computador quando a animação os mostra transpirando.
E não só isso: a transpiração parece permitir que as pessoas percebam a intensidade de uma determinada emoção. O suor não é apenas um sinal olfativo, mas também visual.
No fim, o suor é mais do que simplesmente o ar-condicionado do corpo. Ele pode também ser uma sonda emocional, usada para anunciar nossos mais íntimos sentimentos às pessoas ao nosso redor.

Sintonia


O CÉU ESTRELADO[1]




Um livro grandioso, dissemos, está aberto aos nossos olhos, e todo observador paciente pode ler nele a palavra do enigma, o segredo da vida eterna.
Aí se vê que uma Vontade dispôs a ordem majestosa em que se agitam todos os destinos, se movem todas as existências, palpitam todos os corações.
Ó Alma! Aprende primeira a suprema lição que desce dos espaços sobre as frontes apreensivas. O Sol está escondido no horizonte; seus alvores de púrpura tingem ainda o céu; luz serena indica que, além, um astro se velou aos nossos olhos. A noite estende acima de nossas cabeças seu zimbório constelado de estrelas.
Nosso pensamento se recolhe e procura o segredo das coisas. Voltemo-nos para o Oriente. A Via Láctea expande qual imensa fita, suas miríades de estrelas, tão aconchegadas, tão longínquas, que parecem formar uma contínua massa. Por toda parte, á medida que a noite se torna mais densas outras estrelas aparecem, outros planetas se acendem qual se fossem lâmpadas suspensas no santuário divino. Através das profundezas insondáveis, esses mundos permutam os seus raios de prata; impressionam-nos, à distância, e nos falam uma linguagem muda.
Eles não brilham todos com o mesmo fulgor: a potente Sírius não se pode comparar à longínqua Capela.
Suas vibrações gastaram séculos a chegar até o nosso olhar, e cada um de seus raios vale por um cântico, uma verdadeira melodia de luz, uma voz penetrante. Esses cânticos se resumem assim: “Nós também somos focos de vida, de sofrimento, de evolução. Almas, aos milhares, cumprem, em nós, destinos semelhantes aos vossos”.
Entretanto, todos não têm a mesma linguagem, porque uns são moradas de paz e de felicidade, e outros, mundos de luta, de expiação, de reparação pela dor. Uns parecem dizer: Eu te conheci, Alma humana, Alma terrestre; eu te conheci e hei de te tornar a ver! Eu te abriguei em meu seio outrora, e tu voltarás a mim. Eu te espero, para, por tua vez, guiares os seres que se agitam em minha superfície!
E depois, mais longe ainda, essa estrela que parece perdida no fundo dos abismos do céu e cuja luz trêmula é apenas perceptível, essa estrela nos dirá: Eu sei que tu passarás pelas terras que formam meu cortejo, e que eu inundo com os meus raios; eu sei que tu aí sofrerás e te tornarás melhor. Apressa a tua ascensão. Eu serei e sou já para contigo uma Vera amiga, porque até mim chegou o teu apelo, tua interrogação, tua prece a Deus.
Assim, todas as estrelas nos cantam seu poema de vida e amor, todas nos fazem ouvir uma evocação poderosa do passado ou do futuro. Elas são as “moradas” de nosso Pai, os estádios, os marcos soberbos das estrelas do Infinito, e nós aí passaremos, aí viveremos todos para entrar um dia na luz eterna e divina.
Espaços e mundos! Que maravilhas nos reservais? Imensidades sidéreas, profundezas sem limites, dais a impressão da majestade divina. Em vós, por toda parte e sempre, está à harmonia, o esplendor, a beleza! Diante de vós, todos os orgulhos caem, todas as vanglórias se desvanecem. Aqui, percorrendo suas órbitas imensas, estão astros de fogo perto dos qual o nosso Sol não é mais que simples facho. Cada um deles arrasta em seu séquito um imponente cortejo de esferas que são outros tantos teatros da evolução. Ali, e assim na Terra, seres sensíveis vivem, amam, choram. Suas provações e suas lutas comuns criam entre si laços de afeto que crescerão pouco a pouco. E assim que as Almas começam a sentir os primeiros eflúvios desse amor que Deus quer dar a conhecer todos. Mais longe, no insondável abismo, movem-se mundos maravilhosos, habitados por Almas puras, que conheceram o sofrimento, o sacrifício, e chegaram aos cimos da perfeição; Almas que contemplam Deus em sua glória, e vão, sem jamais cansar, de astro em astro, de sistema em sistema, levar os apelos divinos.
Todas essas estrelas parecem sorrir, qual se fosse amigas esquecidas. Seus mistérios nos atraem. Sentimos que é a herança que Deus nos reserva. Mais tarde, nos séculos futuros, conheceremos essas maravilhas que nosso pensamento apenas toca. Percorreremos esse Infinito que a palavra não pode descrever em uma linguagem limitada.
Há, sem dúvida, nessa ascensão, degraus que não podemos contar tão numerosos são; mas nossos guias nos ajudarão a subi-los, ensinando-nos a soletrar as letras de ouro e de fogo, a divina linguagem da luz e do amor. Então o tempo não terá mais medida para nós. As distâncias não mais existirão. Não pensaremos mais nos caminhos obscuros, tortuosos, escarpados, que seguimos no passado, e aspiraremos às alegrias serenas dos seres que nos tiverem precedido e que traçam, por meio de jorros de luz, nosso caminho sem fim. Os mundos em que houvermos vivido terão passado; não serão mais que poeira e detritos; mas nós guardaremos a deliciosa impressão das venturas colhidas em suas superfícies, das efusões do coração que começaram a unir-nos a outras Almas irmãs. Conservaremos a muito cara e dolorosa lembrança dos males partilhados, e não seremos mais separados daqueles que tivermos amado, porque os laços são entre as Almas os mesmos que entre as estrelas. Através dos séculos e dos lugares celestes, subiremos juntos para Deus, o grande foco de amor que atrai todas as criaturas!


[1] O Grande Enigma – Léon Denis

terça-feira, 25 de agosto de 2015

De volta à vida: médicos querem testar técnica de ressuscitação em humanos[1]



 
Imagine um dia em que será possível trazer os mortos de volta à vida? Loucura? Não para dois médicos norte-americanos e muitas pessoas que já “encomendam” o congelamento de seus corpos quando a hora da morte chegar.
De acordo com um artigo de David Robson da BBC Future, Peter Rhee, da Universidade do Arizona, e Samuel Tisherman, da Universidade de Maryland, uniram seus esforços nesse objetivo de “ressuscitar” os humanos. Mas, antes, é claro, já realizaram testes que envolvem uma técnica radical em animais.
O procedimento envolve a drenagem de todo o sangue do corpo do paciente seguido de um resfriamento de cerca de 20 graus abaixo a temperatura normal do corpo. Feito isso, assim que o problema do paciente é resolvido, o sangue é bombeado de volta e o corpo é reaquecido lentamente. Ao atingir 30 graus Celsius, o coração volta a bater e com o aquecimento progressivo vai se tornando mais estável.
Mas como foram os testes em animais? Será que as cobaias se recuperaram bem? De acordo com o que Samuel Tisherman falou à BBC, surpreendentemente, os animais em seus experimentos demonstraram muito poucos efeitos nocivos quando acordaram. "Eles ficaram um pouco grogues ao acordar, mas no dia seguinte já estavam bem", disse o médico.

Novo desafio
A ideia, proposta pelos médicos já em meados de 2014, é agora realizar os testes em humanos. Apesar de ter sido há alguns meses, as informações dessa futura experiência voltaram à tona nas manchetes dos sites científicos nas últimas semanas.
Na época em que mostraram os resultados dos testes em animais, os dois médicos anunciaram que estavam prontos para começar os testes em pessoas, mais precisamente em vítimas de armas de fogo em Pittsburgh, na Pensilvânia, o que causou certa polêmica e exageros por parte da imprensa.
Porém, o médico Tisherman sempre tentou se manter cauteloso. Segundo David Robson, da BBC Future, em conversa com o especialista, ele tomou cuidado ao usar o termo “animação suspensa”, que é o que os jornais divulgaram na época.
"Minha preocupação não é que seja inexata. O problema é que quando as pessoas pensam no termo, elas pensam sobre os viajantes do espaço que são congelados e acordados em Júpiter, ou em Han Solo de Star Wars", disse ele, comparando com ficção científica. Ele afirma que esse tipo de percepção não ajuda, pois o projeto é baseado em um trabalho experimental que é estudado de forma séria e disciplinada.
Apesar de Samuel Tisherman ser mais contido e centrado, seu companheiro de trabalho, o médico Peter Rhee, já é mais ousado nas declarações e usa o termo que seu colega prefere manter sob cuidado. Segundo a BBC Future, ele diz que não descartaria a animação suspensa em longo prazo, em um futuro distante. "O que estamos fazendo é começar parte dessa experiência."

Ressuscitação
O foco de Tisherman é o ponto em que os médicos acreditam que a reanimação já é uma causa perdida, e, mesmo assim, algumas pessoas ainda conseguem voltar à vida de forma notável.
Em dezembro passado, um artigo na revista Resuscitation causou um rebuliço, sugerindo que 50% dos médicos de emergência pesquisados têm testemunhado os apelidados “fenômenos de Lázaro”, em que o coração de um paciente começou a bater novamente, por si só, depois que os médicos já tinham perdido as esperanças de reanimação.
Mas há que se reconhecer que o ato de “reiniciar” o coração é apenas metade da batalha dos médicos nessas situações, pois a falta de oxigênio após uma parada cardíaca pode causar sérios danos aos órgãos vitais do corpo, especialmente ao cérebro. Isso porque, a cada minuto que passa sem oxigênio para os órgãos, eles começam a morrer e se deteriorar.
Mas é aí que entra a chamada “hipotermia terapêutica”, termo cunhado pelo antigo mentor de Tisherman, Peter Safar, que realizou experiências de resfriamento do corpo, que era geralmente feita com compressas de gelo, deixando a temperatura corporal em torno de 33 graus.
Com isso, as células passam a trabalhar de forma mais lenta, reduzindo seu metabolismo e danos que poderiam ser causados pela falta de oxigenação. Combinando o resfriamento com máquinas que podem assumir o trabalho da circulação, além do bombeamento de oxigênio, isso ajudou a abrir uma nova perspectiva entre a parada cardíaca e a morte cerebral.
De acordo com a BBC Future, um hospital no Texas (EUA) informou recentemente que um homem de quarenta anos de idade tinha sobrevivido, com sua mente intacta, depois de três horas e meia de parada cardiorrespiratória. Mas como isso é possível? Segundo a BBC, seu tratamento envolveu uma rotação constante de estudantes de medicina, enfermeiros e médicos que se revezaram para realizar as compressões torácicas.
Scott Taylor Bassett, um dos médicos presentes, disse que esses casos são raros, mas eles ficaram motivados a continuar, porque o paciente recuperou a consciência durante a massagem torácica, apesar do fato de que seu coração ainda não estava funcionando. "Durante as compressões ele falava conosco, mostrando que ele estava neurologicamente intacto. Eu nunca havia visto isso antes", disse Bassett.

Ganhando tempo
Apesar de fascinante, esse tipo de reanimação em longo prazo é praticamente impossível para pacientes com lesão por trauma, como ferimentos a bala ou acidentes de carro, pois isso exige uma ação rápida.
É por esta razão que Tisherman anseia pelo projeto de resfriar o corpo do paciente a cerca de 10 a 15 graus, dando aos médicos uma boa janela de tempo (de cerca de duas ou mais horas) para realizarem procedimentos cirúrgicos.
Talvez o mais surpreendente de todo esse processo seja a ação da equipe de drenar o sangue do corpo e substituí-lo por soro fisiológico gelado. Isso é explicado de forma que, como o metabolismo do corpo foi interrompido com a morte, o sangue não é necessário para manter as células vivas, e uma solução salina é a maneira mais rápida para resfriar o paciente.
Rhee, Tisherman e suas equipes passaram duas décadas construindo uma carteira substancial de evidências para provar que o procedimento é seguro e eficaz. Muitos dos experimentos envolveram porcos com ferimentos quase fatais. Mas as experiências conseguiram reverter o quadro de vários deles: “É a coisa mais incrível de testemunhar quando o coração volta a bater", disse Rhee.
O mais incrível é que os animais não sofreram nenhum tipo de dano de cerebral, segundo os testes realizados após o resfriamento e procedimentos cirúrgicos necessários. Por exemplo, antes do procedimento, os pesquisadores treinaram alguns dos porcos para abrir um recipiente de uma determinada cor, onde uma maçã estava escondida. Depois de terem sido ressuscitados, a maioria dos animais lembrava onde ir buscar a fruta.
Apesar das várias evidências, os testes em humanos ainda não foram totalmente aprovados e os médicos vêm enfrentando muitos obstáculos para que isso aconteça. Exceto no caso dos feridos à bala em Pittsburgh.
O hospital local recebe um ou dois pacientes desse tipo por mês, o que significa que alguns já foram tratados com a técnica desde o início do projeto, embora ainda seja muito cedo para Tisherman falar sobre os resultados. E, você, leitor, o que acha desse tipo de intervenção para trazer os recém-mortos de volta à vida? Apoia ou não?