terça-feira, 28 de julho de 2015

Primeiro roubo em 50 anos causa comoção em vilarejo britânico[1]





Canna é uma pequena ilha de apenas 7 km de extensão na Escócia onde vivem cerca de 20 pessoas. Um lugar bastante tranquilo, que foi abalado por um roubo na última semana.
O incidente aconteceu em uma loja gerenciada por voluntários que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros utensílios. Doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, e a loja foi revirada pelos ladrões.
Parece pouco, mas o roubo chocou os moradores de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia 50 anos.
No Facebook, a Comunidade de Desenvolvimento da Ilha de Canna disse estar "extremamente decepcionada" com o incidente.
A loja ficava destrancada durante a noite para que pescadores pudessem utilizar o wi-fi local e comprar itens de primeira necessidade enquanto descansavam no píer até o dia seguinte. O pagamento era feito na "caixa da honestidade": eles deixavam o dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que haviam comprado.
No entanto, após o roubo, os responsáveis pela loja já estão pensando em trancá-la durante as madrugadas.
A polícia escocesa afirmou que quer falar com todas as pessoas que atracaram no píer durante o final de semana.

Raridade
Um porta-voz da polícia local disse que o incidente deve ter acontecido entre 20h da sexta-feira e 8h do sábado.
"Vários itens foram roubados, incluindo os chapéus artesanais de lã, confeitos e produtos de higiene pessoal. Um inquérito foi instaurado e vamos começar a ouvir moradores e outras pessoas que passaram pelo píer entre os dias do incidente."
A última vez que um roubo foi registrado em Canna foi na década de 1960, quando uma placa de madeira esculpida na igreja local foi levada. O caso nunca foi resolvido, e a placa nunca foi encontrada. A polícia escocesa não tem registros computadorizados para confirmar o caso.
Desde então, houve um pequeno incidente em 2008, quando um policial assumiu ter cometido duas agressões e uma "violação de paz" naquele ano. Fora isso, nenhum roubo, assalto ou qualquer coisa parecida aconteceu em Canna até a última semana.
A gerente da loja, Julie McCabe, disse ao jornal Aberdeen Press and Jounal que o incidente provocou comoção na comunidade. "Eu cheguei e percebi que muitas coisas não estavam lá. Todos os doces tinham sumido. Estou chocada, não sei como alguém pode fazer isso com a nossa comunidade", afirmou.
"Estamos pensando em colocar câmeras, mas não queremos fazer isso porque vai contra toda a ideia de honestidade que temos aqui. Quando você vive em uma pequena ilha, você precisa confiar no seu vizinho e em todas as pessoas que circulam ali."
A instituição National Trust for Scotland, responsável pela ilha, também se manifestou sobre a situação. "Sentimos muito por esse incidente na loja de Canna, onde a comunidade se esforça bastante para manter o negócio. Felizmente, incidentes como esse são extremamente raros, e Canna é um lugar muito seguro."

A HONESTIDADE NÃO NECESSITA DE ELOGIOS – É OBRIGAÇÃO HUMANA
Jorge Hessen[2]* comenta

Não experimento qualquer regozijo quando leio as notícias sobre pessoas que são festejadas por atos de honestidade. Isso significa que ser honesto é ser exceção numa maioria desonesta. Despertou-nos a atenção um recente roubo ocorrido em Canna, uma pequena ilha da Escócia. O imprevisto ocorreu em uma loja gerenciada pelos próprios fregueses, que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros utensílios. Produtos como doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, sendo a loja revirada pelos ladrões. Parece coisa pequenina para nós brasileiros, mas o roubo assombrou os residentes de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia meio século.
A loja permanece aberta em tempo integral e o pagamento da compra dos produtos é feito na “boa fé” ou "caixa da honestidade": os fregueses deixam o dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que compraram. Se confrontarmos a realidade do Brasil, seja na educação, na saúde, na ética, na honestidade com outros países sérios, surgem desculpas sempre esfarrapadas quais: o Brasil é “especial”, é a “pátria do Evangelho”(!??...), é continental, tem uma história “mística” etc... A cantilena é incansavelmente repetida.
Não obstante saibamos que o Brasil como território é um paraíso, um lugar formoso; de uma natureza exuberantemente cativante, com rios, cachoeiras, florestas, ilhas e mares de nos fazem suspirar. Mas, inventamos “trocentas” desculpas para nossos déficits e barbáries morais. Em face disso, é urgente uma insurreição moral, entronização do cultivo da honestidade, destruição do status do embuste, o fim da vulgaridade inebriante, notadamente a que tange para a degeneração ética através de permissões para a pilhagem, a falcatrua, a corrupção em todos os covis institucionais do País.
Acredite se puder, mas recentemente decifrei uma “pesquisa” garantindo que os brasileiros, na sua maioria, são “honestos”. Isso mesmo, honestos! Seria cômico se não fosse trágico tal resultado. É risível confiar em tal “pesquisa”! Os questionários abordavam circunstâncias como não devolver o troco recebido a maior, sonegar imposto de renda, estacionar na vaga destinada a idosos e deficientes físicos, apossar-se de canetas, lápis, borrachas, elásticos e envelopes da empresa ou órgão público onde trabalha, ficar com o dinheiro de uma carteira achada na rua, “furar” a fila no embarque do ônibus, exceder o limite de velocidade ou avançar o sinal de trânsito, usar cópia ilegal de softwares de computador, dirigir quando bebeu acima do limite permitido etc, etc, etc, etc, etc...
Tal “pesquisa” realizada no “Coração do mundo”(!?) concluiu que os brasileiros são mais honestos que os europeus submetidos à mesma “pesquisa”. É óbvio que tal “pesquisa” no Brasil não é a radiografia da realidade: os brasileiros, com as justas ressalvas, são capazes de múltiplos atos desonestos. Ora, num país em que ainda impera a chamada “Lei de Gerson” em que o fim é obter vantagem, o meio utilizado não faz diferença. As respostas dos “entrevistados” atestam um fato inquietante que além de desonestos os “entrevistados” são ao mesmo tempo mentirosos.
Impossível negar que a grande maioria dos brasileiros praticam os pequenos atos de desonestidade contidas nas perguntas da “pesquisa”, porém, raros são capazes de admitir que o cometeriam. Diante de tantas evidências, seria justo hastearmos a bandeira de um povo incorruptível?... E como transformar essa conjuntura? É elementar, meu caro Watson!, diria Sherlock Home, é necessário que assumamos a consciência de que não somos sinônimo de reputação “NOTA DEZ”, em seguida, cultivarmos as transformações necessárias em nossa índole comportamental. Desonestidade é, especialmente, desrespeito pelo próximo e todo ato desonesto provoca algum tipo de prejuízo à sociedade.
No país em que o valor máximo da vida pode ser depositado em instituições financeiras, onde o sensualismo e o culto ao corpo físico substituíram os valores do espírito, onde a honestidade é desmoralizada sem piedade pelo indesejável “jeitinho”, continuaremos bem longe da harmonia social. Apesar disso, é preciso confiar no futuro. Importa assumirmos sincera confiança nos homens que vivem nestas plagas abençoadas e no porvir edificarmos os alicerces do edifício do Evangelho de Jesus na Pátria do “Cruzeiro do Sul”.
Tudo no Universo encontra-se em constante metamorfose e aprimoramento, por isso o progresso é uma das finalidades da vida. Na natureza não ocorrem saltos. Algumas etapas devem ser percorridas para ser possível atingir-se a fase subsequente. Tais conquistas não são obras do acaso e nem brotam de um momento para o outro. Todavia, a honestidade é justamente uma das primeiras virtudes a serem conquistadas por quem deseja a paz e a felicidade na sociedade.
Ser honesto implica confirmar fidelidade em todos os aspectos da existência. O homem honesto realiza as tarefas que lhe cabem, com ou sem testemunhas e aplausos, até porque, ao agir honestamente, ninguém faz mais do que a obrigação.


[1] Notícia publicada na BBC Brasil, em 17 de junho de 2015.
[2] Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.

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