Canna é uma pequena ilha de
apenas 7 km de extensão na Escócia onde vivem cerca de 20 pessoas. Um lugar
bastante tranquilo, que foi abalado por um roubo na última semana.
O incidente aconteceu em uma
loja gerenciada por voluntários que vendia comidas, produtos de higiene pessoal
e outros utensílios. Doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, e
a loja foi revirada pelos ladrões.
Parece pouco, mas o roubo chocou
os moradores de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia 50
anos.
No Facebook, a Comunidade de
Desenvolvimento da Ilha de Canna disse estar "extremamente
decepcionada" com o incidente.
A loja ficava destrancada
durante a noite para que pescadores pudessem utilizar o wi-fi local e comprar
itens de primeira necessidade enquanto descansavam no píer até o dia seguinte.
O pagamento era feito na "caixa da honestidade": eles deixavam o
dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que haviam comprado.
No entanto, após o roubo, os
responsáveis pela loja já estão pensando em trancá-la durante as madrugadas.
A polícia escocesa afirmou que
quer falar com todas as pessoas que atracaram no píer durante o final de
semana.
Raridade
Um porta-voz da polícia local
disse que o incidente deve ter acontecido entre 20h da sexta-feira e 8h do
sábado.
"Vários itens foram
roubados, incluindo os chapéus artesanais de lã, confeitos e produtos de
higiene pessoal. Um inquérito foi instaurado e vamos começar a ouvir moradores
e outras pessoas que passaram pelo píer entre os dias do incidente."
A última vez que um roubo foi
registrado em Canna foi na década de 1960, quando uma placa de madeira
esculpida na igreja local foi levada. O caso nunca foi resolvido, e a placa
nunca foi encontrada. A polícia escocesa não tem registros computadorizados
para confirmar o caso.
Desde então, houve um pequeno
incidente em 2008, quando um policial assumiu ter cometido duas agressões e uma
"violação de paz" naquele ano. Fora isso, nenhum roubo, assalto ou
qualquer coisa parecida aconteceu em Canna até a última semana.
A gerente da loja, Julie McCabe,
disse ao jornal Aberdeen Press and Jounal que o incidente provocou comoção na
comunidade. "Eu cheguei e percebi que muitas coisas não estavam lá. Todos
os doces tinham sumido. Estou chocada, não sei como alguém pode fazer isso com
a nossa comunidade", afirmou.
"Estamos pensando em
colocar câmeras, mas não queremos fazer isso porque vai contra toda a ideia de
honestidade que temos aqui. Quando você vive em uma pequena ilha, você precisa
confiar no seu vizinho e em todas as pessoas que circulam ali."
A instituição National Trust for
Scotland, responsável pela ilha, também se manifestou sobre a situação.
"Sentimos muito por esse incidente na loja de Canna, onde a comunidade se
esforça bastante para manter o negócio. Felizmente, incidentes como esse são
extremamente raros, e Canna é um lugar muito seguro."
A HONESTIDADE NÃO NECESSITA DE ELOGIOS – É OBRIGAÇÃO HUMANA
Jorge Hessen[2]*
comenta
Não experimento qualquer regozijo
quando leio as notícias sobre pessoas que são festejadas por atos de
honestidade. Isso significa que ser honesto é ser exceção numa maioria
desonesta. Despertou-nos a atenção um recente roubo ocorrido em Canna, uma
pequena ilha da Escócia. O imprevisto ocorreu em uma loja gerenciada pelos
próprios fregueses, que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros
utensílios. Produtos como doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram
roubados, sendo a loja revirada pelos ladrões. Parece coisa pequenina para nós
brasileiros, mas o roubo assombrou os residentes de Canna, que não viam nada
parecido acontecer por ali havia meio século.
A loja permanece aberta em tempo
integral e o pagamento da compra dos produtos é feito na “boa fé” ou
"caixa da honestidade": os fregueses deixam o dinheiro junto com um
bilhete descrevendo o que compraram. Se confrontarmos a realidade do Brasil,
seja na educação, na saúde, na ética, na honestidade com outros países sérios,
surgem desculpas sempre esfarrapadas quais: o Brasil é “especial”, é a “pátria
do Evangelho”(!??...), é continental, tem uma história “mística” etc... A
cantilena é incansavelmente repetida.
Não obstante saibamos que o
Brasil como território é um paraíso, um lugar formoso; de uma natureza
exuberantemente cativante, com rios, cachoeiras, florestas, ilhas e mares de
nos fazem suspirar. Mas, inventamos “trocentas” desculpas para nossos déficits
e barbáries morais. Em face disso, é urgente uma insurreição moral,
entronização do cultivo da honestidade, destruição do status do embuste, o fim
da vulgaridade inebriante, notadamente a que tange para a degeneração ética
através de permissões para a pilhagem, a falcatrua, a corrupção em todos os
covis institucionais do País.
Acredite se puder, mas
recentemente decifrei uma “pesquisa” garantindo que os brasileiros, na sua
maioria, são “honestos”. Isso mesmo, honestos! Seria cômico se não fosse
trágico tal resultado. É risível confiar em tal “pesquisa”! Os questionários
abordavam circunstâncias como não devolver o troco recebido a maior, sonegar
imposto de renda, estacionar na vaga destinada a idosos e deficientes físicos,
apossar-se de canetas, lápis, borrachas, elásticos e envelopes da empresa ou
órgão público onde trabalha, ficar com o dinheiro de uma carteira achada na
rua, “furar” a fila no embarque do ônibus, exceder o limite de velocidade ou
avançar o sinal de trânsito, usar cópia ilegal de softwares de computador,
dirigir quando bebeu acima do limite permitido etc, etc, etc, etc, etc...
Tal “pesquisa” realizada no
“Coração do mundo”(!?) concluiu que os brasileiros são mais honestos que os
europeus submetidos à mesma “pesquisa”. É óbvio que tal “pesquisa” no Brasil
não é a radiografia da realidade: os brasileiros, com as justas ressalvas, são
capazes de múltiplos atos desonestos. Ora, num país em que ainda impera a
chamada “Lei de Gerson” em que o fim é obter vantagem, o meio utilizado não faz
diferença. As respostas dos “entrevistados” atestam um fato inquietante que
além de desonestos os “entrevistados” são ao mesmo tempo mentirosos.
Impossível negar que a grande
maioria dos brasileiros praticam os pequenos atos de desonestidade contidas nas
perguntas da “pesquisa”, porém, raros são capazes de admitir que o cometeriam.
Diante de tantas evidências, seria justo hastearmos a bandeira de um povo
incorruptível?... E como transformar essa conjuntura? É elementar, meu caro
Watson!, diria Sherlock Home, é necessário que assumamos a consciência de que
não somos sinônimo de reputação “NOTA DEZ”, em seguida, cultivarmos as
transformações necessárias em nossa índole comportamental. Desonestidade é,
especialmente, desrespeito pelo próximo e todo ato desonesto provoca algum tipo
de prejuízo à sociedade.
No país em que o valor máximo da
vida pode ser depositado em instituições financeiras, onde o sensualismo e o
culto ao corpo físico substituíram os valores do espírito, onde a honestidade é
desmoralizada sem piedade pelo indesejável “jeitinho”, continuaremos bem longe
da harmonia social. Apesar disso, é preciso confiar no futuro. Importa
assumirmos sincera confiança nos homens que vivem nestas plagas abençoadas e no
porvir edificarmos os alicerces do edifício do Evangelho de Jesus na Pátria do
“Cruzeiro do Sul”.
Tudo no Universo encontra-se em
constante metamorfose e aprimoramento, por isso o progresso é uma das
finalidades da vida. Na natureza não ocorrem saltos. Algumas etapas devem ser
percorridas para ser possível atingir-se a fase subsequente. Tais conquistas
não são obras do acaso e nem brotam de um momento para o outro. Todavia, a
honestidade é justamente uma das primeiras virtudes a serem conquistadas por
quem deseja a paz e a felicidade na sociedade.
Ser honesto implica confirmar
fidelidade em todos os aspectos da existência. O homem honesto realiza as
tarefas que lhe cabem, com ou sem testemunhas e aplausos, até porque, ao agir
honestamente, ninguém faz mais do que a obrigação.
[1] Notícia publicada na BBC Brasil, em 17 de junho de 2015.
[2] Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em
18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em
Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados),
Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.
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