sábado, 18 de julho de 2015

Cirurgias Espirituais[1]

João de deus


DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

            Cirurgias que intrigam.
Há milênios, as cirurgias mediúnicas, ou espirituais, têm sido feitas! Existem relatos de descobertas no Egito e Grécia, além de vestígios da remota época do homem neolítico, também chamada Idade da Pedra Polida, época na qual, segundo se presume, eram efetuadas delicadíssimas trepanações, em alterado estado de consciência. Sempre existiram médico-feiticeiros entre chefes ou maiorais dos lamas do Tibete, dos xamãs da Sibéria, Bornéu, Melanésia, Sumatra e Polinésia. Só que as “cirurgias com corte” popularizaram-se nas Filipinas em 1940, através do médium Eleutério Terte. Até onde se sabe, no século 20, nas ilhas do sul do Pacífico, Ásia, ocorreram as primeiras cirurgias com incisão.
Segundo George Meek[2], o fenômeno das cirurgias ficou conhecido desde que os aborígines das Filipinas, os aetas, receberam influência dos povos das Ilhas da Polinésia e da Índia. Uma parte das crenças desse povo referia-se à ideia de que as enfermidades eram motivadas pelo desforço. Ao utilizar-se da feitiçaria, a pessoa, por vingança, valia-se dos malefícios de um bruxo que tivesse a capacidade medianímica de transpor no corpo do inimigo algum objeto, por efeito da desmaterialização e rematerialização.
Esse procedimento seguiu inalterado e ainda prevalece nas grandes ilhas do sul, regiões dos campos de arroz, situadas na área norte-central de Luzon. A referida crença e prática continuaram ao longo da primeira metade do século 20, período em que as cirurgias eram mais executadas por fenômenos de efeitos físicos; em geral, costumava-se retirar do corpo do paciente, sem abri-lo nem fechá-lo, os citados objetos de feitiço, ou seja: fibras de coqueiro, folhas de tabaco, farpas de madeira, espinhos etc. Já as cirurgias com cortes profundos ou superficiais tornaram-se exatamente conhecidas e difundidas no ano de 1950.
Elas aconteceram no começo dos anos cinquenta e, conforme dados de Meek, pessoas de países ocidentais foram as primeiras a recorrer aos médiuns filipinos que surgiram depois de Terte. Diga-se de passagem, antes, Terte prestara valioso auxílio às forças do Exército Americano, quando da 2ª. Guerra Mundial, ao atuar como guerrilheiro e médium curador. Meek acha possível que, durante a guerra, tenha se desenvolvido nele aptidões semelhantes às observadas no trabalho de outro médium famoso, o brasileiro José Pedro de Freitas, Arigó, que chegava a atender individualmente de 300 a 400 pessoas em cada sessão de cura. Dr. Andrija Puharich o viu realizar “cirurgias incríveis”, consoante palavras suas, utilizando-se de faca ou de canivete, sem causar dor, ou algum tipo de prejuízo aos milhares de pacientes que atendeu.
Novamente, relativo às Filipinas, outro médium digno de nota é Antonio Agapoa, ou Tony Agapoa, por sinal, vítima de calúnias, da intolerância, de demandas. Após Terte, cerca de uma década antes do médium brasileiro que também experimentou os mesmos dissabores, Agapoa principiou a fazer incisões com objetos que cortam. A Dra. Sigrun Seutemann, médica alemã, médium vidente, uma das testemunhas oculares da notável capacidade mediúnica do filipino, disse ter ficado impressionada com as cirurgias: ela contou que viu desmaterializar-se e rematerializar-se partes dos membros superiores de Agapoa enquanto o corpo dele irradiava energia para o corpo do paciente.
Contras e prós — No entanto ainda há resistências, e já foi muito pior! Geralmente, aqueles que se basearam em fraudes e em trabalhos escolhidos por eles mesmos, a fim de confirmarem suas convicções, são os que mais oferecem resistência, daí, debates, julgamentos apressados, e tacham as cirurgias de ineficazes ou de produto de farsa. Por outro lado, um bom número de pesquisadores reputa o fenômeno legítimo e sugere que o conheçam a fundo sem ideias preconcebidas, tendo em vista, conforme eles, a comprovação da sua eficácia para o bem da própria Ciência e da Humanidade.
Outros pesquisadores, além disso, entenderam que as cirurgias espirituais são inúteis e que apenas pacientes com “transtornos somatoformes” obteriam efeito positivo. Há, contudo, quem relate curas de doenças graves, sem aprofundarmos o fato de que alguns estudiosos verificaram casos de diagnósticos complexos feitos com precisão por médiuns pesquisados antes do diagnóstico do médico convencional.
Existe ainda quem diga que as cirurgias só servem para propiciar “suposta cura do operado e dos que assistem às operações”, numa referência ao argumento do efeito placebo. Consoante autores de um artigo da Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB)[3] , a ideia do efeito placebo é alvo de inúmeras polêmicas e não há concordância entre os médicos sobre um diagnóstico do que seria ou não seria mero efeito de natureza psicológica.
Mais um objeto de controvérsia é o da necessidade de fé do paciente para o bom êxito de uma cirurgia espiritual. Há entre médicos e demais pesquisadores concordância quanto à necessidade da fé, ao passo que uma parcela deles a julga desnecessária. O professor Edvaldo Kulcheski[4], estudioso do assunto, considera a fé essencial. Conforme ele, além da fé, a cura se processa de acordo com o merecimento. Ou seja, é o que todos os pesquisadores precisam assimilar em vez de ficarem no campo do achismo prolixo.
No parecer de Kulcheski, as doenças graves e constantes têm a ver com a Lei de Causa e Efeito. Todavia, pode-se conseguir, segundo ele, o alívio ou a cura, dependendo do mérito do paciente e de suas necessidades evolutivas. Comentou: “A Doutrina Espírita não prega o conformismo, logo, é lícito buscarmos a cura de nossos males, mas sem exigi-la, por estarmos sujeitos à atração e fixação dos fluidos curadores”. Disse mais: “Devemos tentar o que for possível, sem esperar que, de repente, aconteça um milagre”.
Por falar na Doutrina, a maior parte dos dirigentes e dos divulgadores espíritas não aceita médiuns nem mediunidade de cirurgias espirituais com ou sem corte; se tanto, toleram o que denominam “passe de cura”, não permitindo quaisquer atividades daquela espécie em suas instituições, segundo dizem, “orientadas por Allan Kardec”. Reconhecem a procedência das cirurgias sem, no entanto, considerá-las um trabalho espírita. Seja dito de passagem, esse tipo de trabalho não pode ser feito por qualquer um, ainda que se considere “médium de cura”, pois é mediunidade raríssima de médiuns físicos e de incorporação inconsciente, por isso, aconselho: nem tente; sequer cogite imitá-los.
As cirurgias espirituais têm produzido muito interesse nos círculos médicos ortodoxos. Mais cedo ou mais tarde, no parecer dos próprios pesquisadores que a comprovaram, resultará em releitura da prática médica. Há charlatães e charlatanismo, e aplaudo os autores do artigo da RAMB, Cirurgia espiritual: uma investigação, resultado de uma pesquisa acerca do médium de Goiás, João Teixeira de Freitas, o famoso João de Deus, ou João de Abadiânia. Escreveram os articulistas: “Como se busca o alívio e, se possível, curadas as enfermidades, o que é útil deve ser incorporado à prática médica (...). Com estudos controlados, seria possível identificar os charlatães, possibilitando suas punições”. E acrescento eu: que essas “punições” sejam muito mais rigorosas, mais bem aplicadas a médicos inábeis, aéticos, causadores de enormes prejuízos a pacientes.
Por fim, cirurgias espirituais, ou mediúnicas, não implicam milagres nem supõem algo milagroso, tampouco deveriam ser objetos de tabu. Assim como existem médiuns charlatães, existem médiuns honrados, sérios, como João de Abadiânia. No que concerne aos médicos, a mesma asserção: pelo fato de existirem negligências e erros médicos e, de vez em quando, alguns deles abusarem sexualmente de suas pacientes, não se segue que devamos sair por aí dizendo ou escrevendo que todo médico é incompetente, imoral.
Que não tardem a admitir isto como certo: tudo, a medicina, a ciência, as religiões, inclusive os médicos e o seu ofício, estão sob rigorosas leis divinas. Que os fracassos dos médicos ante as doenças clinicamente fatais, a proliferação dos efeitos secundários adversos de drogas receitadas por eles, façam perceber que há positivos meios de terapia, os quais muito têm para oferecer, visando a mais amor e respeito às dores do próximo, apesar do preconceito, da tola e ridícula vaidade da ciência e da religião.


[1] Revista O Consolador, Ano 6 - N° 272 - 5 de Agosto de 2012
[2]MEEK, George W., As Curas Paranormais “Healers and the Healing Process”), 10ạ ed. São Paulo, Editora Pensamento, 1995. Capítulo 10ọ, p. 112.
[3] Vide in Revista da Associação Médica Brasileira, volume 46, nọ 3, edição julho/setembro de 2000: Cirurgia espiritual: uma investigação. Acessado em 12 de fevereiro/09, às 23 horas em: <http://www.ramb.org.br>.
[4] Edvaldo Kulcheski, químico industrial, formado em Teologia Espírita com ênfase em Ciência do Espírito, lecionou durante cinco anos o curso: Mediunidade Sem Preconceito.

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